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Capítulo II – Enquadramento Metodológico

2. Natureza e plano do estudo

O presente estudo é de natureza qualitativa e insere-se no paradigma interpretativo. A investigação qualitativa tem como fonte direta de dados o ambiente natural, partindo do princípio que as ações só podem ser compreendidas no seu contexto e no seu ambiente habitual. Por isso, neste tipo de investigação, os investigadores deslocam-se ao seu local de estudo. (Bogdan & Biklen, 1994)

Segundo os mesmos autores, na investigação qualitativa, os dados recolhidos são descritivos, rigorosos e em forma de imagens ou palavras, dado que tudo tem um potencial e nada é trivial, sendo o contexto abordado pelo investigador de forma minuciosa. Os investigadores qualitativos focam-se essencialmente no processo vivenciado pelos sujeitos e não apenas nos resultados ou produtos observáveis.

Neste tipo de investigação, os planos de estudo são abertos e flexíveis, permitindo alterações e reorientações com base nos resultados que se vão alcançando nas diferentes etapas. Tendencialmente, os dados são analisados de uma forma indutiva, desenvolvendo conceitos e chegando à compreensão dos factos a partir de padrões resultantes da recolha dos dados. (Bogdan & Biklen, 1994)

Na investigação qualitativa, o significado que os sujeitos dão aos seus atos é essencial para a compreensão desses mesmos atos. Os investigadores procuram compreender os sujeitos a partir da realidade e da perspetiva da globalidade dos sujeitos que estão a estudar, deixando de parte as suas convicções e perspetivas individuais. Neste sentido, o investigador deve manter-se imparcial e tentar compreender as perspetivas dos sujeitos que estão a ser investigados.

Bogdan e Biklen (1994) mencionam que a validade e a fiabilidade, na investigação qualitativa, dependem da objetividade, sensibilidade e conhecimento do investigador, na medida em que se procura que os dados recolhidos estejam de acordo com o que os sujeitos fazem e dizem. A triangulação de observadores, de fontes, de teorias e de métodos, permite o confronto entre interpretações e as observações, sendo realizadas em períodos prolongados, permitem a correspondência entre os resultados e o real.

Segundo os mesmos autores, a preocupação da investigação qualitativa não é se os resultados obtidos num contexto são generalizáveis, mas incide na possibilidade desses resultados constituírem hipóteses de trabalho noutros contextos, dado que os seres humanos são conscientes, autónomos, únicos e estão em evolução constante. Por isso, neste tipo de investigação, as amostras tendem a ser pequenas e não representativas, implicando procedimentos não estandardizados. O investigador deve manter, com os sujeitos, uma relação de empatia, igualdade, confiança e um contacto intenso.

Neste estudo, optou-se por uma metodologia de investigação qualitativa numa tentativa de aperfeiçoar a prática quotidiana dos educadores, através da investigação- ação (IA).

De acordo com Bogdan e Biklen (1994, p. 292), a IA “… consiste na recolha de informações sistemáticas com o objetivo de promover mudanças sociais.”, sendo utilizada para resolver problemas ou melhorar situações existentes. Este tipo de investigação estimula a inovação no ensino e na aprendizagem e contribui para o desenvolvimento de capacidades reflexivas e para o desenvolvimento de novas competências pedagógicas. A IA permite melhorar a interação entre o conhecimento praxeológico e o conhecimento científico e melhorar a interação entre práticos e investigadores. A IA é um meio que possibilita aos docentes fundamentar os acontecimentos de sala de aula e da escola.

Os mesmos autores afirmam que, um dos objetivos da IA é a procura de resultados que permitam a tomada de decisões práticas de acordo com alguns aspetos da vida dos sujeitos. A IA é aplicada com o intuito de precipitar ou de tentar modificar algo ou alguma situação concreta. Para os investigadores deste tipo de estudos, a objetividade relaciona-se com a integridade dos mesmos, com a honestidade dos relatos dos acontecimentos, com a recolha dos dados na fonte e com a obtenção das perspetivas de todas as partes envolvidas na situação.

Segundo Ketelle e Roegiers (1999), a finalidade da IA é o aprofundamento da compreensão de uma situação e da resolução de um problema, através de procedimentos científicos. Também para Carmo e Ferreira (2003), a IA tem como intuito a resolução de problemas, utilizando processos científicos, que surgem na prática, atendendo a uma intervenção no contexto real e a uma análise dos efeitos dessa intervenção.

O desenvolvimento e a génese da IA foram influenciados, segundo James McKernan (1998), referido por Máximo-Esteves (2008), por cinco movimentos no campo da educação, que remetem aos finais do século XIX. O primeiro foi o movimento para o estudo científico da educação, salientando-se como expoentes máximos Rousseau, Pestalozzi e Herbart. O segundo movimento adveio, com referência para Dewey, do pensamento educacional experimentalista e progressista do início do século XX. O terceiro surge com Kurt Lewin e o Movimento da Dinâmica de Grupos. O período da “investigação-ação cooperativa” ou da “era Corey”, aquando a reorganização curricular no sistema educativo dos Estados Unidos, foi o quarto movimento. O quinto, e último, surge com as ideias de Lawrence Stenhouse e o Movimento do Professor-Investigador, salientando-se também o trabalho de John Elliot e Clem Adelman. (Máximo-Esteves, 2008)

Existem diversas perspetivas acerca dos princípios orientadores e das propostas metodológicas da IA, devido às tradições educacionais e à multiplicidade de fatores locais dos países onde a IA emergiu e se expandiu. No entanto, para Zeichner (2001), referido por Máximo-Esteves (2008), as tradições da IA educacional nos países de expressão inglesa, influenciaram as tendências de orientação que emergiram noutros países.

A IA, tal como refere Bell (2008, p. 22), “[n]ão é um método nem uma técnica. Consiste numa abordagem que se revela particularmente atraente para os educadores devido à sua ênfase prática na resolução de problemas.”. A partir desta abordagem, o investigador ou educador, após identificar um problema, investiga-o, de modo a permitir o aperfeiçoamento do seu desempenho e da sua ação, tentado resolver o problema.

Em síntese, sendo a IA uma investigação situacional, surge da identificação de um problema num contexto específico e da procura de soluções nesse contexto. É colaborativa, pois necessita de trabalho em equipa e é uma investigação participativa, dado não haver distinção entre observadores e observados. A IA é autoavaliativa, ou seja, de modo a regular e melhorar a situação, as mudanças ocorridas são constantemente avaliadas. (Carmo & Ferreira, 2003).

Segundo Máximo-Esteves (2008, p. 79),

“Para realizar um projeto de investigação-acção é necessário efectuar um conjunto de procedimentos, de acordo com os objectivos do mesmo: encontrar um ponto de partida, coligir a informação de acordo com padrões éticos, interpretar os dados e validar o processo de investigação.”

Este autor refere ainda que a IA concilia as necessidades específicas de cada sujeito com os conteúdos e temas da investigação nas ciências sociais, lidando com sujeitos específicos e com problemas reais.

Segundo Cohen e Manion (1994), citados por Bell (2008), a IA centra-se num problema concreto que se localiza numa situação imediata, ou seja, é um processo que nunca está terminado, mesmo quando o projeto termina, pois é controlado constantemente, durante diversos períodos, através de diversas técnicas, nomeadamente, questionários, diários, entrevistas e estudos de caso. Os dados recolhidos através destas técnicas possibilitarão que os participantes revejam, avaliem e melhorem a sua prática, procedendo a modificações, reajustamentos na intervenção e/ou nos atores. De acordo com Bogdan e Biklen (1994), a AI pode ser aplicada tanto nos métodos quantitativos como nos qualitativos, baseando-se, estes últimos, na entrevista aberta, no recurso a documentos e na observação.

Assim, o presente estudo é de natureza predominantemente qualitativa e desenvolve-se na lógica da investigação-ação, embora não reúna todas as características deste tipo de estudos, nomeadamente a colaboração e participação de diferentes atores no processo investigativo. Neste sentido, o trabalho apresenta-se sob a forma de um projeto de intervenção, cujo plano geral, apresentamos na figura seguinte:

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