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Juíza da 9ª Vara de Família e Sucessões: R Local: Fórum das Famílias

Data: 28 de julho de 2017 Horário: 09:30h

Duração: 14 min

1. Qual tempo a senhora atua em vara de família? R. Entre 15 (quinze) a 20 (vinte) anos.

2. Quantos processos estão tramitando atualmente na vara que a senhora atua? Tem estimativa de quantos são de divórcios litigiosos?

R. Atualmente temos uma média de uns dois mil e poucos processos. Diminuíram bastante. A quantidade de divórcio é muito grande, mas não posso precisar.

3. Com relação a ações de divórcio litigioso quanto tempo, aproximadamente, dura esse tipo de processo?

R. Não se pode precisar porque é muito relativo, as vezes, você marca uma audiência de conciliação consegue uma acordo em partes em relação a alimentos, guarda, regulamentação de visita. A dificuldade maior é sempre em relação aos bens (ao patrimônio) a divisão dos bens é mais difícil. Muitos não concordam com o valor da avaliação é tudo isso demora. Então um divórcio litigioso pode levar em média uns dois anos se não houver mágoa entre as partes.

4. Qual o percentual, aproximadamente, das partes conciliarem em uma ação de divórcio?

R. Quase em 80% dos casos eles conciliam em relação a tudo e os outros 20% que ficam com essa questão em relação a bens ou de visita quanto os pais estão brigando sobre a guarda do menor.

5. Qual a sua maior dificuldade no momento de presidir uma audiência de instrução de divórcio?

R. A maior dificuldade no divórcio são as mágoas ou ressentimentos que as pessoas trazem dentro de si que tornam elas irracionais, então, por exemplo,

elas têm dois bens que podem dividir, mas só porque estão magoados um com o outro, eles não acertam o valor do imóvel, eles não aceitam que o outro fique com aquele imóvel que gosta só para pirraçar, brigar, só porque estar magoado, normalmente, porque se trata de caso de adultério, traições. Então muitas e muitas vezes a maior dificuldade que a gente enfrenta é vencer esses sentimentos que as pessoas carregam dentro de si (mágoa).

6. Normalmente as partes envolvidas no processo de divórcio ficam satisfeitas com a sentença proferida?

R. Elas ficam porque é como se fosse um basta, um chega (não aguento mais), então quando tem uma decisão é um ponto final naquele litígio que eles estão fazendo perdurar por tanto tempo.

7. A senhora conhece ou já ouviu falar sobre mediação familiar? Em caso afirmativo, acredita que é um meio efetivo e mais adequado para resolução de conflito que envolvam casais em situação de divórcio, tendo em vista seu objetivo de restabelecer as relações sociais?

R. eu já ouvi falar da mediação, já tomei vários cursos sobre a mediação, considero a melhor forma de solucionar esse tipo de conflito. A mediação é excelente, é justamente trabalhar com todos esses conflitos. Por que as vezes o problema não é “vou dar tanto de pensão ou eu não posso dar esse valor”, na verdade, não é que ele não possa dar esse valor, mas ele não quer dar porque estar magoado com a outra pessoa, então na mediação você vai descobrir porque que ele estar magoado, vai conseguir ir mais fundo do que uma simples audiência de conciliação ou de uma mesa de audiência. Então, lá na mediação trazendo o casal várias vezes, conversando com eles individualmente, conversando com eles em conjunto, você consegue melhor resolver e solucionar esses conflitos. Muitos processos aqui quando a gente não consegue nada na conciliação, eu tenho encaminhado para a mediação.

APÊNDICE B

ENTREVISTAS COM JUÍZES DE VARA DE FAMÍLIA E SUCESSÕES

Juíz da 8ª Vara de Família e Sucessões: M Local: Fórum das Famílias

Data: 28 de julho de 2017 Horário: 10:35h

Duração: 32 min

1. Qual tempo a senhor atua em vara de família?

R. Já estou há 10 (dez) anos, especificamente, nessa 8ª Vara de família como titular. Com a temática de família já tenho muitos anos, desde que entrei na magistratura, pois já passei por diversas comarcas.

2. Quantos processos estão tramitando atualmente na vara que a senhora atua? Tem estimativa de quantos são de divórcios litigiosos?

R. Média de 6 (seis) mil processos a 5 (cinco) mil processos. Com relação de processos de divórcio é cerca de 30% do total ou menos. Processos de divórcio tem diminuído significativamente nos últimos anos, acredito porque há muita união estável.

3. Com relação a ações de divórcio litigioso quanto tempo, aproximadamente, dura esse tipo de processo?

R. Média de 03 (três) anos, pode ser mais um pouco ou menos um pouco, isso vai depender de patrimônio, do tamanho da mágoa. O que vai dar o tom e o grau da demora é o tamanho da mágoa. O juiz tem o princípio da colaboração, mas as pessoas que tem mágoas não querem colaborar, pelo contrário, elas ficam criando obstáculos e recorrem das decisões incidentais. Quanto tem patrimônio e um acha que o outro não tem direito, criando dificuldade, então além de envolver mágoa há também o interesse econômico (tentando subtrair do outro aquilo que o outro tem direito). Na maioria dos casos os homens, devido ao machismo, procuram subtrair muito mais do que as mulheres, eles acham que as mulheres não contribuíram com aquele apartamento, carro. Eles têm aquela visão de que ela era dona de casa e quem trabalhava era ele e não enxergam que ela trouxe alguma colaboração para o acréscimo do patrimônio. A mulher cria dificuldade no divórcio não pela questão patrimonial, mas devido a mágoa, pois muitas vezes ela se dedica muito ao casamento e por isso elas cobram muito, pois não se conformam com o divórcio. As mulheres dificultam, por exemplo, a citação para não comparecem a audiência, querendo retardar

o divórcio. Muitas não estão preparadas para o divórcio, fizeram faculdades, mas não exerceram a profissão se dedicando exclusivamente ao marido e filhos. É preciso entender que o divórcio é um direito, não tem sentido que você queira que o outro continue com você se o outro não quer mais. Hoje tem a liminar do divórcio e discutir a questão patrimonial e outros direitos.

4. Qual o percentual, aproximadamente, das partes conciliarem em uma ação de divórcio?

R. Embora tenha dificuldade no divórcio litigioso há um grau de conciliação alto. A conciliação não é comum logo no início, acredito que é um dado da psicologia porque as pessoas precisam digerir os problemas, o juiz de família precisa ter essa visão, pois no final de qualquer relacionamento há uma dor e ninguém cura essa dor de uma hora para outra, é preciso ter um momento de bálsamo, de cicatrização, então se em uma ruptura recente, você colocar um processo logo para conciliação a probabilidade de conciliar é muito pequena porque ainda a dor e mágoa é muito grande, essa poeira precisa ser assentada. Por fruto da experiência, eu nunca marco uma audiência de conciliação muito rápida porque nesse caso as partes não tiveram tempo nem de pensar no que estão fazendo e vão chegar lá no impulso. Se o juiz marcar uma audiência de conciliação rápida demais, ele não estará dando oportunidade nem da pessoa desistir do processo porque a gente tem que dar um tempo para um caso de desistência/arrependimento, isso não é direito, é psicologia. A pressa e a celeridade que é o ideal na justiça em alguns casos a gente deve ter prudência para não captar exatamente o momento do impulso da parte. A celeridade é importante, mas há exceção que a celeridade pode prejudicar.

5. Qual a sua maior dificuldade no momento de presidir uma audiência de instrução de divórcio?

R. O depoimento pessoal. Porque geralmente o depoimento é uma repetição da petição inicial ou da contestação, ou seja, seria desnecessário. Em tese, eu sempre proponho a dispensa do depoimento pessoal, porque se ela vai repetir tudo que já estar na petição não é depoimento pessoal, mas sim uma terapia, pois a pessoa quer aproveitar o momento do depoimento pessoal para desabafar e dizer tudo que está na inicial e que o juiz já sabe, ou então falar coisa a mais que não tem nada a ver com o processo. Então esse momento é muito delicado porque as pessoas vão dizer mais do que disseram na petição inicial e situações especialmente reservadas do casal que ao juiz não interessa. Exemplo: um homem foi orientado por seu advogado a juntar cópias que dava um livro de mensagens do MSN da mulher com quatro amantes, no momento em que a direito de família já tinha extirpado a discussão da culpa no casamento, ou seja, para ele se divorciar ele não precisava juntar isso e nem o

juiz escutar isso, mas ele quis por mágoa para constranger a mulher. Por isso eu tento evitar o depoimento pessoal, pois isso pode eliminar a chance do acordo.

6. Normalmente as partes envolvidas no processo de divórcio ficam satisfeitas com a sentença proferida?

R. Não. Normalmente não, há vários casos em que nenhuma fica satisfeita, outros uma parte fica e a outra parte fica razoavelmente satisfeita. As partes criam uma “ilusão”, como se tivesse muito direito (não sei se é culpa de alguns profissionais), mas na verdade não tem direito quase nenhum. Então se o advogado criar uma expectativa muito grande a parte acaba se frustrando com o juiz. No acordo, por exemplo, acredito que as partes não saem satisfeitas, pois é uma palavra que dar ideia de felicidade, mas as partes saem conformadas, consoladas, aliviadas. Eu sempre falo se sair de minha sala de audiência depois de um acordo ou de uma mediação uma parte dando pulo de alegria e a outra não, eu errei em alguma coisa, sinal que foi um acordo que atendeu apenas uma parte e a outra não, e isso não é bom. O bom é quando elas sabem quietas, caladas, aliviadas, conformadas.

7. O senhor conhece ou já ouviu falar sobre mediação familiar? Em caso afirmativo, acredita que é um meio efetivo e mais adequado para resolução de conflito que envolvam casais em situação de divórcio, tendo em vista seu objetivo de restabelecer as relações sociais?

R. Sim. Acredito muito, venho defendendo isso há anos e posso dizer que há muitos anos não vejo um projeto interessante no Tribunal de Justiça, mas esse é (a mediação) um regramento que vem do CPC , um estímulo do CNJ, mas o Tribunal, na minha visão tem cumprido corretamente com essa etapa da implantação dos CESJUC’s (Centro Judicial de Solução de Conflitos) para conciliação e mediação. Eu acho que tem funcionado bem. Já tomei o curso na UNICORP (Universidade Corporativa), gostei muito do nível dos instrutores, realmente, são pessoas capacitadas, preparadas. Eu acho que o Tribunal está no caminho certo da mediação. Aqui especialmente tenho uma experiência muito boa, pois aqui valorizamos muito a mediação e começaram o projeto piloto aqui. Os primeiros mediadores para receberem os certificados, ou seja, para terem o título de mediador precisavam ter uma audiência real e iniciaram aqui na 8ª vara. Encaminhamos vários processos para a mediação com sucesso, inclusive, inventários que são processos difíceis já que envolvem patrimônio e houve êxito na mediação. Eu ofereço sempre a mediação até nos processos mais antigos. E digo que gosto muito da mediação. É uma novidade, tem ainda um certo receio, estranhamento, desconfiança doa advogados das partes.

APÊNDICE C