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DO ENTUSIASMO HUMANISTA AO ALARME CONTRA-REFORMISTA: AS DUAS CARAS DA COROA

Antes de entrar no estudo analítico do corpus epistolar é importante observar alguns dos principais fatos históricos que marcaram as primeiras décadas da colonização do Novo Mundo. Alguns desses fatos foram já ressaltados ao longo da tese, mas faz-se necessário retomá-los como pontos de previa reflexão à análise.

- Os primeiros anos (1524-1530): os três primeiros franciscanos e o grupo dos doze

Depois das várias solicitações de Fernão Cortês ao monarca para que fossem enviados religiosos à recém-conquistada capital dos Nahuas, em 1523, chegaram três padres da ordem franciscana, procedentes de Flandres: Frei Pedro de Gante, Frei Juan de Tecto e Frei Juan de Aora. Eles tinham o propósito específico de evangelizar os nativos e, ao mesmo tempo, informar à Coroa sobre os avanços nesse sentido.

Em 1525, os companheiros de viagem de Frei Pedro juntaram-se ao Marquês do Vale na sua expedição às Hibueras e morreram durante a campanha. Frei Pedro ficou entre os nativos para apreender a sua língua e começar a evangelização. A sua extensa vida foi dedicada integralmente a esse trabalho. Uma de suas primeiras tarefas foi a edição de um catecismo, conservado até hoje, a partir da iconografia mostrada nos códices pré-hispânicos.

Não pretendemos aqui repetir o que outros já têm falado, porém vale ressaltar que o exemplo de trabalho de aproximação à cultura dos indígenas de Frei Pedro é um importantíssimo passo na introdução da palavra de Deus de um modo menos violento e que tentava suavizar o impacto do choque cultural que significou a chegada dos espanhóis e a apresentação de uma nova crença. A evangelização visava substituir o culto dos nativos que estava fortemente arraigado em seus hábitos. O mesmo não se podia dizer dos espanhóis com relação ao cristianismo, pois seu culto era bem mais teórico do que prático.

- Chegada de Juan de Zumárraga, primeiro bispo do México

No mês de dezembro de 1528, ocorre um dos acontecimentos mais relevantes dentro da cronologia franciscana na Nova Espanha: a chegada de Frei Juan de Zumárraga, designado

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urgentemente sem a consagração de seu cargo como primeiro bispo do México, responsável por colocar ordem na colônia. Ele foi nomeado pelo próprio imperador como o protetor dos índios, cargo que deveria colocar um fim nos maus-tratos praticados pelas autoridades e colonos contra os indígenas.

Encontramos aqui mais um bom exemplo da grande distância que existia entre a teoria e a prática quando referimo-nos aos assuntos relativos à implantação das leis peninsulares nas terras do Novo Mundo. A vinda do bispo tinha como objetivo colocar um pouco de paz no convívio entre os nativos e os espanhóis, porém, desde os primeiros momentos, Frei Juan de Zumárraga entendeu que não seria fácil cumprir seu cargo com todos os poderes que havia recebido do monarca. O poder colonial, através das autoridades locais, lhe aconselhava não interferir nos assuntos que não tivessem relação com a alma dos indígenas, assim, a protegê- los foi algo praticamente impossível. Diante dessa situação, Zumárraga tentou enviar notícias sobre os fatos ao Monarca, todavia, como já vimos, a correspondência era freqüentemente interceptada. Em agosto de 1529, finalmente o bispo conseguiu informar ao monarca sobre as dificuldades pelas quais passava a colônia depois da primeira audiência, e, sobretudo sobre a atitude de seu presidente, Nuño de Guzmán. A conseqüência dessa carta e das futuras denúncias foi, como dito anteriormente, a criação do vice-reino e o envio de integrantes para uma segunda audiência.

As desavenças entre o poder eclesiástico e o poder civil resultaram em uma mudança no tom das cartas enviada para a corte no decurso das décadas: as primeiras missivas na década de 1520, que possuíam uma função meramente informativa – ainda que houvesse sempre alguma observação sobre o trabalho dos espanhóis e o seu trato com os indígenas –, passaram a ser cartas de denúncia e aviso de que se o processo colonizador continuasse do mesmo modo, em pouco tempo não existiriam mais índios para proteger.

Esse clima de denuncia, provocará como já vimos a promulgação da Bula pontifícia

Sublimis dei em 1537 e as Leis Novas de Índias em 1542.

- A nova postura da Coroa e a chegada da ordem jesuítica

A partir da segunda metade do século, coincidindo com o advento do novo monarca e com a mudança de mentalidade na Coroa Espanhola, os conflitos entre religiosos e espanhóis, assim como a já difícil situação dos indígenas, agravaram-se. Essa tensão evidencia-se, como veremos posteriormente, no tom, cada vez mais grave, das cartas trocadas entre os dois lados do Atlântico.

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O câmbio de mentalidade no processo de evangelização dos indígenas traduziu-se numa serie de mudanças que irão pouco a pouco restando importância a obra das ordens mendicantes. O controverso tema do dizimo vai trazer sérios problemas para o clero regular que irá perdendo força para um cada vez mais presente clero secular. O pensamento contra- reformista vai se traduzir, entre outros aspectos, no impedimento dos religiosos de continuarem estudando as culturas locais. Tais estudos, em um primeiro momento, foram bem vistos e até exigidos pela Coroa. O pensamento humanista que reinava na Corte instigava para que o próprio homem, então centro de todas as atenções, fosse examinado para alcançar o conhecimento sobre a sua própria essência. Porém, esse entusiasmo inicial dos estudos antropológicos e ritualísticos sobre os indígenas, que converteram padres como Frei Bernardino de Sahagún e Andrés de Olmos, entre muitos outros, em pioneiros de áreas do conhecimento que só encontrariam maior relevância muito tempo depois. Com o passar do século e, principalmente, como já vimos, durante o mandato do Monarca Felipe II, esses estudos da natureza dos indígenas foram mais um motivo de reclamação contra os religiosos e provocaram que, em 1572, a Coroa Espanhola decidisse permitir que outra ordem religiosa fosse às Índias para dar início a uma nova forma de evangelização dos naturais. Esta imposição será outro duro golpe contra os regulares. A proibição de administrar sacramentos ou os graves enfrentamentos com alguns prelados também não ajudaram muito na relação entre os mendicantes e as autoridades civis e eclesiásticas.

Os jesuítas haviam ganhado notoriedade depois do Concílio de Trento e sua postura de afinidade com o Estado e, principalmente, com o Papado, com o qual mantinham uma questionada fidelidade, garantiu-lhes uma importante participação no futuro processo de colonização americana. Apesar da hesitação inicial de Felipe II de mandar esses fiéis seguidores do Papa, conhecidos pela sua independência para tomar decisões, para o Novo Mundo, o monarca finalmente decide permitir o traslado do primeiro grupo de quinze missionários. A solicitação de irmãos da ordem de Jesus para cuidar da educação dos indígenas partiu, ainda que possa parecer irônico, de membros da ordem de São Francisco.

Com a chegada desses religiosos, anunciavam-se os novos rumos do processo de colonização que se evidenciaria no fim de um período que, para muitos historiadores, foi considerado como a Idade de Ouro da evangelização americana. No século seguinte, o padre franciscano Frei Juan de Torquemada se encarregaria, então, de redigir seu particular balanço do período no seu monumental livro Monarquia Indiana, publicado em 1615.

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A partir de la tercera década del siglo XVI, al objetivo de enriquecerse con el imperio a construir, el cisma en la cristiandad en Europa, obliga a un replanteamiento de las estrategias. En efecto, la rápida difusión europea de las ideas de la Reforma que limitaba la potestad vaticana a un porcentaje pequeño de los territorios Europeos (Italia, Francia, España e Irlanda), los vastos territorios americanos eran pues una pieza clave a conquistar para sostener el poderío político del papado. España asume un rol de liderazgo en la recuperación del catolicismo y junto a la Cía. de Jesús, se convierte así, en la avanzada de la contrarreforma. (…) Los jesuitas, optaron por el desarrollo intelectual como el mejor instrumento para enfrentar las herejías, confiando en la educación como medio para la formación del buen cristiano y su mantención dentro del rebaño. Como orden enseñante, podemos decir que la Cía. de Jesús fue la más exitosa y original. (Disponível em: <http://educacion.idoneos.com/index.php/198531#La_conquista_cultural_de _la_Am%C3%A9rica_Precolombina>)

No último terço do século, fortalecidas pela presença do Tribunal do Santo Ofício, as outrora desestimadas Leis de Índias mudaram radicalmente o modo de entender a cristianização dos indígenas e as relações com eles e com a sua tradição. Em 1577, a Inquisição proibiu a edição de novos livros e mandou retirar as obras de Frei Bernardino de Sahagún, bem como a obra de outros tantos autores. A referência a assuntos considerados como heréticos terminou condenando algo mais que os anos de estudo e os livros aos quais esses eruditos haviam dedicado grande parte de sua vida, pois esse ato simbólico marcou o fim de uma época na colonização do Novo Mundo e o início de outra com uma perspectiva muito diferente. A cultura indígena, principalmente no que diz respeito aos aspectos religiosos, passou a um segundo plano. Assim, todo o importante legado cultural registrado pelos religiosos foi considerado como heresia.

Cuando las obras de Sahagún estaban ya preparadas para imprimir, hubo un cambio notable en la política española: si en un principio se había dejado amplia libertad para que los religiosos educaran a los nativos, después ciertas apetencias materiales hicieron pensar que no convenía seguir con esa actitud. Algunos sostenían que si los indígenas conservaban escritas sus costumbres se afianzaría su idolatría. Esa política tuvo su expresión en una serie de dificultades para el colegio de Tlatelolco. La obra de Sahagún fue censurada. (TORRE, 1992, p.21)

- A obra franciscana: entre o coração e a cabeça

Segundo Phelan (1972, p.154), a Ordem Franciscana, desde a sua chegada às terras do futuro Vice-reino da Nova Espanha, atuou mais com a emoção do que com a razão, como se poderia esperar de uma empresa que, se por um lado pretendia considerar o indígena dentro

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de uma nova organização social, por outro, não deveria esquecer o objetivo comercial e político por trás da colonização da Coroa espanhola.

Assim, o plano idealista da Ordem para os antigos territórios mexicas, desde os primeiros anos, enfrentou os próprios interesses do projeto colonial e incomodou, sobretudo aqueles lobos, como diria Frei Martín de Valencia, que conviviam diariamente com as reclamações dos protetores dos índios.

A Coroa espanhola, desde a península, raciocinava de um modo diferente e durante os primeiros anos foi esse pensamento que prevaleceu. Por um lado, nesses anos, os tímidos, porém promissores, resultados obtidos com o trabalho de conversão dos nativos foram vistos com bons olhos por ser um efetivo meio de controlar as massas de trabalho e, por outro lado, a evangelização permitia mostrar diante dos olhos de Deus, do papa e, especialmente, das outras potências européias, que ansiavam por ter espaço no novo continente, o grande empenho da Coroa para evangelizar o novo território.

O projeto da Ordem de São Francisco, amparado pelo importante trabalho missionário levado a cabo na Europa e na Ásia nos séculos anteriores, apoiou direta e indiretamente os outros objetivos da Coroa espanhola, porém, nunca se identificou plenamente com eles. O sonho de uma nova cristandade, apesar de suas grandes contradições, e os desafetos fora e dentro da própria ordem dominaram no espírito franciscano e foram fortalecidos com a chegada de novos irmãos ao longo do século. Um desses ilustres irmãos foi o já citado Frei Jerónimo de Mendieta, o responsável por atribuir à missão da ordem seráfica conotações messiânicas e apocalípticas. O radicalismo desse ideário, situado entre a utopia e a quimera, foi infelizmente o canto final das ordens mendicantes na evangelização americana.

Com o passar do tempo, esse pensamento mudou notavelmente, passando do idealismo quase quimérico de uma mítica Idade do Ouro que nos remetia diretamente aos primeiros momentos da cristandade a um modelo prático e necessário para a os novos rumos que o projeto americano estava tomando. Tal concepção administrativa, no final do século, ganhou o respaldo do aparelho jurídico espanhol que definitivamente se instalava e trazia um novo modo de entender a participação dos nativos no desenvolvimento do Novo Mundo.

Si los franciscanos eran misioneros visionarios, los jesuitas fueron misioneros realistas. Su predominio en el siglo XVII fue resultado de su firme comprensión de las realidades sociales y políticas. Mucho mayor que los franciscanos que desde el siglo XIII fueron propensos a las facciones, los jesuitas también eran más cuidadosos en elegir a sus novicios y más celosos de su preparación. Los franciscanos fueron con el “corazón” de la empresa misionera en América. Los jesuitas fueron la inteligencia. Los hijos de San Ignacio de Loyola no tenían ilusiones de crear un reino milenario entre los

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indios, sino que trataban de fundar comunidades prosperas en las cuales los indios pudieran recibir una educación cristiana básica. (PHELAN, 1972, p.154)

- O projeto educativo franciscano e a autogestão indígena

Se considerarmos todos os empreendimentos levados a cabo pela Ordem de São Francisco na Nova Espanha, o mais ambicioso foi, sem dúvida, a inauguração em 1536 do Colégio de Santa Cruz de Tlatelolco. Apesar da Ordem já ter inaugurado outros locais de ensino em anos anteriores, tal fato estava carregado de simbolismo: o objetivo, em longo prazo, que estava por detrás do projeto dessa nova escola ia muito além do meramente educativo ou evangelizador. O alunado, escolhido entre a elite indígena, depois de passar por um período de formação que incluía disciplinas como latim, gramática e retórica, reuniria as condições plenas para integrar o tão desejado clero indígena que viria a ser a alma espiritual da “República dos índios” e, por sua vez, a esperança de formação de uma sociedade que incluísse os indígenas. Embora essa elite indígena tivesse a sua formação dentro dos padrões da ideologia então dominante, ela conservaria grande parte de seus costumes ancestrais; com exceção, é claro, das práticas religiosas, que foram substituídas pela fé crista. Pelo menos assim pensavam os religiosos. Esse louvável desejo dos franciscanos encontrou a rejeição imediata por parte dos espanhóis que enxergavam como um problema a inclusão do indígena dentro do novo modelo de sociedade almejado para Nova Espanha.

El colegio iba a ser la cabeza de toda su acción educativa, pues tenían la esperanza de que de él salieran los más firmes promotores y reproductores de su empresa de renovación cristiana fundada en una utopía basada en una sociedad igualitaria. Además, su principal finalidad era la de formar a los frailes franciscanos indios; en ellos confluirían las dos entidades que se habían encontrado mutuamente y necesitado para sustentarse a sí mismos, los franciscanos renovados y los indígenas cristianos. Este colegio, por ser el eje articulador del modelo educativo franciscano, fue el centro de los más fuertes ataques recibidos por esta orden en las siguientes décadas.

(ORTEGA. Disponível em: <http://biblioweb.dgsca.unam.mx/diccionario/htm/articulos/sec_17.htm>)

As críticas feitas tanto contra a instituição como contra os alunos evidenciaram, primeiramente, a dificuldade que os religiosos teriam que enfrentar para dar continuidade ao seu projeto de evangelização e integração dos indígenas dentro da nova sociedade. Alguns dos alunos do Colégio de Santa Cruz, assim como de outras instituições educativas, tiveram uma grande importância durante as décadas seguintes à fundação desses estabelecimentos de ensino. Alguns alunos destacaram-se nas letras e no latim, outros na teologia, porém, as

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dificuldades enfrentadas pelos alunos fizeram com que poucos deles encontrassem o tão desejado espaço na nova sociedade bicéfala. Tal modelo social tinha como objetivo, pelo menos por parte dos religiosos, que os indígenas chegassem a sua autogestão (CAYOTA, 1992, p.404) em projetos como as cidades-hospitais organizadas por Vasco de Quiroga na região de Michoacan ou nas próprias reduções franciscanas que se anteciparam em várias décadas às famosas missões jesuíticas.

Nessa contenda indigenista, os antagonistas alegaram o peregrino argumento que o conhecimento do latim capacitava os nativos a conhecer os clérigos ignorantes. Mais surpreendente, desopilante, seria outro dos agora apresentados, que consistia em dizer que ao familiarizar-se com as Sagradas Escrituras os índios se confirmariam em seus costumes poligâmicos conhecendo a história dos patriarcas. (...) Os franciscanos tiveram que vencer ingentes dificuldades para manter o colégio de Tlaltelolco. As forças que lhes eram hostis foram minando-o até conseguir com o tempo seu objetivo, Tinham de acabar com “um colégio que convertia os índios em Cíceros” (CAYOTA, 1992, p.394)

O papel das cartas no projeto evangelizador franciscano

Uma vez relembrados alguns dos momentos mais importantes pelos quais passou a Ordem Seráfica no Vice-reino, no período entre a vinda dos primeiros irmãos e a chegada da Companhia de Jesus, vamos examinar o importante papel que o epistolário da Ordem teve para relatar as vicissitudes que o projeto evangelizador franciscano enfrentou e, por conseguinte, o plano de integração dos nativos dentro da sociedade nova-hispana que começava a ser construída nas primeiras décadas após a conquista da capital Nahua.

A literatura epistolar que naquele momento vivia um período de grande importância devido ao resgate do gênero pelos humanistas teria também um papel vital nas terras americanas como uma forma de persuadir tanto a Coroa como outros governantes peninsulares das dificuldades que enfrentava o Vice-reino.

Como já foi mencionado no capítulo anterior, o resgate da literatura epistolar aconteceu nos últimos momentos da Idade Média, prenunciado pela descoberta em diferentes bibliotecas antigas de algumas cartas manuscritas de autores clássicos como Cícero, Sêneca e Platão. A partir dessa providencial descoberta e da publicação das traduções desse rico acervo, o gosto pela cultura grego-latina foi ativado e, em pouco tempo, converteu-se em uma das principais peculiaridades da arte renascentista e, ao mesmo tempo, dos autores considerados humanistas.

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O humanismo voltou seus olhos para a cultura clássica, contudo, esse retorno histórico não pretendia encontrar na antiguidade a resposta para uma concepção do próprio homem, da sua relação com a natureza ou com o seu criador. Os humanistas atualizam os preceitos clássicos para a nova realidade. Desde o latinismo até o conceito de beleza ou de amor, tudo foi recuperado depois do longo esquecimento imposto pelo rigor da Idade Média.

Em nosso estudo, como forma de auxílio para empreender a análise posterior das cartas, adotamos a classificação proposta pelo professor Martín Baños na sua abordagem da epistolografia durante o período da Renascença. Partindo, pois, da classificação tradicional de Quintiliano, retomada no século XVI por Erasmo de Rotterdam, o autor propõe uma classificação que toma como base a sua intentio. Deste modo, as cartas serão analisadas a partir de uma perspectiva baseada na concepção renascentista de epistolografia, em uma intercepção entre a tradicional retórica estilística e a renovação formal e temática imposta pelos novos tempos. A importância da elocutio, assim como o papel que foi atribuído ao destinatário pelo remetente ao redigir a carta, determinou as principais mudanças que o humanismo trouxe para o gênero.

Pelas características comuns de todo o epistolário, as cartas serão contempladas a partir de uma perspectiva do seu caráter privado ou oficial, mas todas elas serão analisadas a partir do aspecto cronológico para ilustrar melhor o processo das relações estabelecidas entre os diferentes grupos envolvidos durante os primeiros momentos da colonização nos territórios que formaram pouco depois o Vice-reino de Nova Espanha.