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O Estudo de Impacto Ambiental - EIA e respectivo Relatório de Impacto Ambiental – RIMA, são instrumentos previstos pela Política Nacional do Meio Ambiente e foi instituído pela RESOLUÇÃO CONAMA28 N.º 001/86, de 23/01/1986, com o objetivo de promover o Licenciamento Ambiental, em nosso caso particular para a geração de energia elétrica acima de 10 MW de potência instalada. Nesse sentido, como previstos pelo CONAMA29, o licenciamento ambiental apresenta uma série de procedimentos específicos, inclusive realização de audiência pública, e envolve diversos segmentos da população interessada ou afetada pelo empreendimento.

Os EIAs e respectivos RIMAs dos empreendimentos AHE Corumbá III e IV pela resolução normativa do CONAMA 01/86, já citada junto à referência 24, destaca os seguintes impactos comuns às duas:

1) Impactos negativos

 Perda de terras em razão da formação do reservatório.

 Degradação ambiental pela implantação do canteiro de obras, caminhos de serviço, acampamento e a consequente produção de resíduos sólidos e esgotos sanitários.

 Ações predatórias como caça, pesca e retirada de madeira, pela interferência dos operários da obra.

 Degradação ambiental pela retirada de material de empréstimo e construção.

 Interferência nos recursos e ambientes hídricos, com o desvio do rio, modificação na velocidade das águas e alteração nas características físico-químicas e biológicas da mesma pelo enchimento do reservatório e oscilação de seu nível na fase de operação.

 Possibilidade de ocorrência de acidentes de trabalho nas frentes de obra.

 Produção de ruído, pó e vibrações que provocam danos à saúde da população.

28 < http://www.mma.gov.br/port/conama/res/res86/res0186.html > 29 < http://www.fepam.rs.gov.br/central/pdfs/eiarimainstabril2002.pdf >

39  Reassentamento involuntário de aproximadamente 480 pessoas.

 Perda de áreas produtivas e aproximadamente 360 benfeitorias rurais.  Perda de vegetação natural e animais (biodiversidade) pela submersão

de 16.800 ha, atingindo além de áreas já modificadas, matas, cerrado e mata de galeria.

 Aumento na necessidade de infraestrutura (energia, saneamento básico) pela ocupação marginal do reservatório e consequente aumento da ocupação populacional na região.

 Alteração no modo de vida da população rural, na área de influência, pela formação do lago.

 Interferência na infraestrutura implantada, em razão do enchimento do reservatório, sendo atingidos:

Impactos gerados no Sistema de captação de água da SANEAGO com 01 estação de captação e 5 Km de adutora de água:

 Interferência em sítios arqueológicos pela necessidade de salvamento de alguns e possível submersão de outros.

 Alteração paisagística pela submersão de parte da área atual e o surgimento do lago.

 Interferência na extração de recursos minerais, principalmente areia.  Remoção da camada orgânica do solo.

 Interferência nas espécies típicas do local, tanto da flora quanto da fauna.

 Alteração da dinâmica do fluxo das águas, nesta seção do rio, com alteração de águas rápidas para ambientes de águas lentas e interferência direta na migração dos peixes.

 Perda de ambientes especiais da fauna e da flora.

 Aumento da incidência de doenças transmitidas por animais (raiva, malária, dengue, fogo selvagem).

 Possibilidade de degradação da água do lago, em razão de lançamentos de esgotos urbanos.

 Probabilidade de ocorrência de raiva dos animais, pela transmigração natural forçada dos morcegos que se alimentam de sangue.

 Redução da vazão do rio Corumbá, abaixo da barragem, durante a fase de enchimento, prevista para cerca de onze meses.

 Aumento significativo de plantas aquáticas.  Perda de populações de espécies ameaçadas.

40 2) Impactos positivos:

 Oferta de emprego na área de construção civil.

 Incremento às atividades turísticas e esportes aquáticos pela presença do lago relativamente próximo as áreas densamente ocupadas no Distrito Federal.

 Aumento da oportunidade de emprego e da renda, pela dinamização das atividades econômicas, especialmente as ligadas ao turismo e lazer.

 Aumento da arrecadação municipal pelo incremento e dinamização da economia e a compensação financeira pela implantação da usina.  Melhoria da qualidade dos recursos hídricos na bacia do rio Corumbá

em razão do necessário tratamento dos efluentes urbanos que,

atualmente são lançados in-natura, mas não poderão mais sê-lo, pois o reservatório se prestará também ao abastecimento público.

 Reservação e suplementação ao abastecimento de água para o Distrito Federal e cidades do Entorno. Para Luziânia a necessidade futura seria de 2m3/s e para o Distrito Federal a estimativa da CAESB é de que até o ano de 2.015 sejam necessários mais 10m3/s.

 Disponibilização de 22030 MW de energia elétrica para o sistema.

Apesar da estimativa dos Estudos de Impacto Ambiental – EIA efetuados dentro dos critérios e rigores exigidos, a realidade sempre surpreende e impõe aos agentes envolvidos, ações substantivas para equalizar as demandas. Não por acaso o MPF atuou ostensivamente em desfavor de Corumbá Concessões S/A com Ação Civil Pública 2002.35.00.005210 – 1, pedindo a nulidade das licenças ambientais prévias e de instalação respectivamente e a paralisar imediatamente as obras da construção UHE Corumbá IV.

Ainda neste contexto, o jornalista Sinval Neto31 divulgou a informação de multa por danos ambientais no valor de R$3.500.000,00 contra a empresa Corumbá Concessões S/A por ter descumprido as exigências de resgate da fauna da região. Ainda, segundo o diretor interino de Licenciamento do Ibama, Luiz Felippe Kunz, a empresa está causando sério dano ambiental na região. Ele afirmou que a água do

30 Refere-se à soma da energia gerada pelo AHE Corumbá III e AHE Corumbá IV. 31 Jornal do Meio Ambiente

– CorreioWeb. Acessado em 25 de Agosto de 2011, do sítio: <http://noticias.correioweb.com.br/ultimas.htm?codigo=2631946>

41 lago já cobre a vegetação que deveria ter sido cortada antes do início dessa etapa. À época Kunz explicou que o enchimento antecipado do lago irá prejudicar a qualidade da água do futuro reservatório. A deterioração dos materiais orgânicos imersos em água poderá poluir a água que irá abastecer o Distrito Federal e cidades do entorno.

Exceto os movimentos sociais organizados, a população do entorno terá sabido de tudo isso (Figura 11)? Será que os impactos deixaram máculas na população? Será que os impactos positivos foram suficientes para empatar a relação custo/benefício para a população do entorno? O que será que a população abstraiu de tudo isso (Figura 12)? Será que teria alguma Disposição a Pagar – DAP, diante de tais fatos?

Figura 11 – Foto do Lago tomando todo o pasto de uma pequena fazenda do município de Luziânia

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Figura 12 – Foto de benfeitorias de Lazer particular, construídas sobre o Lago do Reservatório, próximo ao município de Luziânia.

43 POR QUE QUANTIFICAR O MEIO AMBIENTE?

Diante de tantas e tão propaladas controvérsias ambientais, a Valoração Ambiental surge como mais uma ferramenta de controle e de dominação do homem sobre o meio em que vive. Como artifício para trazer certa racionalidade aos múltiplos interesses de uma economia de mercado em detrimento do valor ambiental em si. É certo que, por isso mesmo, é utilizado como instrumento de economia ambiental e gestão ambiental, em razão de buscarem instrumentais que tenham o condão de disciplinar e orientar suas ações diante do dinamismo do desenvolvimento econômico e social.

Como afirma Mattos et al (2005), fato é que, o desenvolvimento econômico e social está indissoluvelmente vinculado à gestão ambiental. São, portanto, neste contexto, adaptações e acomodações do mercado às suas necessidades de sobrevivência diante da própria autofagia. Por outro lado, implicou também em uma tomada de consciência da autofagia imposta por esse modelo de economia de mercado. Surge então, o que se convencionou chamar de economia ecológica. Assim descrito, nas palavras de Mattos et al:

“Uma nova abordagem que representa uma evolução das formas de análise anteriores, englobando a problemática do uso de recursos naturais e as externalidades do processo produtivo, com ênfase no uso sustentável das funções ambientais e na capacidade dos ecossistemas em geral de suportar a carga imposta pelo funcionamento da economia considerando custos e benefícios da expansão da atividade humana.” (2005, p.251)

Aqui, começa-se a dar “ênfase no uso sustentável das funções ambientais”. Implicitamente recorre-se aos conceitos deixados por Teilhard de Chardin e seu mimetismo cosmológico ou de uma consciência espiritual ou religiosa ou, como destaca Capra (1983, p.148) “a física moderna também concebe, hoje em dia, o universo como essa teia de relações e, a semelhança do misticismo oriental, acabou por reconhecer que essa teia é intrinsecamente dinâmica”.

É dentro dessa perspectiva que se apresenta, também, o conceito de desenvolvimento sustentável. Descrito no Relatório Brundtland, encomendado pelas

44 Nações Unidas, da seguinte forma: “A humanidade tem a capacidade de atingir o desenvolvimento sustentável, ou seja, de atender às necessidades do presente sem comprometer a capacidade das futuras gerações de atender às próprias necessidades”. A esta tomada de consciência urge a necessidade de uma nova ética. Como grita a “Carta da Terra”32, em seu preâmbulo:

“Estamos diante de um momento crítico na história da Terra, numa época em que a humanidade deve escolher o seu futuro. À medida que o mundo torna-se cada vez mais interdependente e frágil, o futuro reserva, ao mesmo tempo, grande perigo e grande esperança. Para seguir adiante, devemos reconhecer que, no meio de uma magnífica diversidade de culturas e formas de vida, somos uma família humana e uma comunidade terrestre com um destino comum. Devemos nos juntar para gerar uma sociedade sustentável global fundada no respeito pela natureza, nos direitos humanos universais, na justiça econômica e numa cultura da paz. Para chegar a este propósito, é imperativo que nós, os povos da Terra, declaremos nossa responsabilidade uns para com os outros, com a grande comunidade de vida e com as futuras gerações”.

Em contrapartida a esta dramática constatação acima descrita, sabe-se que o crescente desenvolvimento econômico e aumento descontrolado dos ideais de consumo, são, ainda, paradigmas sobre os quais está assentada esta terrível bomba relógio. Assim, na tentativa de mitigar os efeitos desastrosos desse padrão estabelecido pela economia de mercado, surge a economia ecológica sob a égide de um novo paradigma: a sustentabilidade.

Esta tal economia ecológica, muito embora surgisse em um contexto que amplia e distingue as mais arraigadas preocupações quanto à sustentabilidade, tem nos estudos e observações da economia do meio ambiente, seu foco de ação. Assim considerando, do texto “Áreas do conhecimento da economia do meio ambiente e da economia ecológica”, extraído do sítio < www.cnpma.embrapa.br >, em 23 de agosto de 2011, destacamos o seguinte recorte que muito nos ajuda a pensar o porquê da valoração econômica do meio ambiente:

Uma das principais questões debatidas atualmente quando se trata das relações entre os sistemas econômicos e os sistemas ecológicos ou ambientais refere-se ao processo de se associar valores econômicos aos bens e serviços ambientais. O processo de valoração econômica do meio ambiente tem-se constituído em um amplo e importante campo de pesquisas teóricas e trabalhos empíricos.

45 Mas, por outro lado, Gustafsson (1998 apud MATA e CAVALCANTI, 2002, p.172), enumera as dificuldades e preocupações que devem nortear o pesquisador ao tentar inferir valores de mercado na gestão ambiental:

(...) para sermos capazes de delimitar o escopo e os limites do mecanismo de mercado na gestão de recursos naturais e ambientais devemos considerar, em primeiro lugar, a função e os valores ambientais e, em segundo lugar, as condições e as propriedades institucionais de mercado, observando a extensão com que essas propriedades se compatibilizam entre si. Ele sistematizou o ambiente natural em quatro tipos de atividades que determinam a existência humana, quais sejam, regulação, carga, produção e informação, num complexo processo de agregação em componentes que determinam valores ecológicos, sociais e econômicos. Nesse caso, os valores de mercado são considerados subclasses dos valores econômicos, sendo alguns quantificáveis e outros, não. Para que um valor econômico seja qualificado de valor de mercado, ele deve originar- se de um processo alocativo espontâneo, em que a escolha e a informação sejam livres aos consumidores, a competição seja extensiva entre produtores e haja ausência de externalidades.

A seu turno, Motta (1997, p.7), introduz a discussão chamando a atenção para o fato de que o “valor econômico do recurso realizado no mercado geralmente representa uma subestimativa do seu custo de oportunidade social e, portanto, seu uso introduz ineficiência no sistema”. E isso, em sua ótica, deve originar a busca por um preço de equilíbrio ou que se internalizem o preço correto do recurso33 no sistema econômico. E, neste contexto, chama atenção para o fato de que o Brasil seja, senão o maior, um dos maiores credores ecológicos do planeta.

Concluindo, salienta-se que se pode continuar enumerando explicações e conceituações pertinentes dadas por diversos autores que possam convergir ou divergir entre si, em relação aos postulados da economia do meio ambiente e economia ecológica. Mas, até mesmo os pessimistas que fazem questão de apontar restrições sob o ponto de vista ético, a valoração ambiental é algo recomendado por todos – otimistas e pessimistas - independentemente da estratégia e dos fins a que se destinam. Por isso, quantificar o meio ambiente é um instrumento chave na gestão do meio ambiente, como bem salienta Falco (20l0), em seu artigo de título homônimo e ainda destaca:

A relevância de introduzir na determinação do valor do meio ambiente conceitos como a irreversibilidade da mudança, as incertezas no valor futuro do recurso, o custo de oportunidade da ação de degradar (ou preservar), bem como a flexibilidade de empreender a ação (FALCO, 2010, p.23).

46 VALORANDO O MEIO AMBIENTE

A importância da valoração ambiental não reside somente na determinação de um preço que expresse o valor econômico do meio ambiente. Pearce (1993,

apud PUGAS, 2006, p.33) destacou cinco razões que indicam a importância da

valoração de bens e serviços ambientais:

 Admitir que o meio ambiente faça parte do desenvolvimento estratégico de uma nação e, consequentemente, os danos ambientais provocariam impacto no produto nacional bruto – PNB;

 Seria incorporado ao PNB o valor dos danos ambientais, assim como o valor do estoque34 existente;

 A valoração ambiental serviria com instrumento de apoio na definição de prioridades no âmbito das decisões políticas;

 A complementação metodológica que a valoração ambiental fornece às metodologias convencionais, possibilitando estimativas de benefícios e custos sociais gerados por políticas, programas ou projetos;

 A Valoração Ambiental pode auxiliar no processo de avaliação do desenvolvimento sustentável.

Calderoni (2004 apud BRAGA, 2009) chama atenção para o fato de que, se aos recursos naturais, antes vistos como bens livres, e agora reconhecidos como recursos naturais escassos, forem atribuídos preços capazes de refletir a sua escassez, sua preservação será mais provável.

Por sua vez, Abreu (2008, p.35) assevera que a Economia, de maneira geral, tem se esforçado no sentido de agregar maior valor aos recursos ambientais, contribuindo para um melhor aproveitamento dos recursos naturais disponíveis. A tarefa de valorar economicamente um recurso ambiental consiste em inferir em quanto valeria o bem-estar das pessoas, devido a mudanças na quantidade e qualidade de bens e serviços ambientais, seja na sua apropriação por uso ou não.

Segundo Gazoni (2006), a teoria do valor pode ser considerada a pedra fundamental da economia, que considera que o valor é originado por intermédio dos indivíduos, por meio da revelação de suas preferências. O valor econômico de um

47 bem ou serviço ambiental pode ser definido como a expressão monetária dos benefícios obtidos com o seu consumo. Ou, em outras palavras, pela cultura de um povo traduzida por suas ideias de consumo podemos perceber e valorar facilmente seus impactos deixados para o meio ambiente.

O valor econômico de um bem se considera como a quantidade de dinheiro (ou de outro bem) que estamos dispostos a ceder para obter a mudança de uma determinada quantidade de bem ou recurso (MELO e DONOSO, 2005).

A teoria neoclássica, especificamente, a teoria da escolha do consumidor, provê o suporte necessário para a valoração dos recursos ambientais. Segundo esta teoria o consumidor toma as decisões, dentro das possibilidades de sua renda, em relação ao conjunto de bens e serviços (ambientais, culturais ou econômicos), baseados nas diferentes utilidades que estes apresentam (MOTA, 2001 apud GAZONI, 2006).

Buscando equacionar a questão prática de mensurar os danos ambientais em termos monetários, a abordagem neoclássica diz lançar mão do conceito de Disposição a Pagar – DAP que corresponde ao valor monetário que um indivíduo associa a um bem, ou seja, que estaria disposto a pagar por ele. No caso de bens ambientais, a DAP refere-se à disposição a pagar para garantir um benefício ou para prevenir um dano ambiental (AMAZONAS, 2001).

Mas, sobre o processo de valoração ambiental em si, Motta (1998, p.17) chama atenção para a questão da (in)sustentabilidade. Diz assim: quando os custos da degradação ecológica não são pagos por aqueles que a geram, estes custos são externalidades para o sistema econômico e, desse modo, os padrões de consumo das pessoas são forjados sem nenhuma internalização dos custos ambientais. O resultado é um padrão de apropriação do capital natural onde os benefícios são providos para alguns usuários sem que estes compensem os custos incorridos por usuários excluídos. Colocando-se aí entre os excluídos, inclusive, as gerações futuras.

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