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Envelhecimento e Estado de Bem-Estar a nível internacional

CAPÍTULO I REVISÃO DA LITERATURA

2. Política Social à luz da perspetiva “Life Course”

2.2. Envelhecimento e Estado de Bem-Estar a nível internacional

As orientações políticas a nível internacional, em particular na União Europeia, foram recentemente abordadas por Pinto (2011). A autora começa por fazer referência ao Ano Europeu de Combate à Pobreza e Exclusão Social, em 2010, que foi celebrado no pico da maior crise em décadas vivida pelas sociedades europeias (embora com intensidades muito diferentes entre Estados-Membros). Apesar do reconhecimento da crise, a Comissão Europeia (2010) salienta que o efeito poderia ser pior caso as intervenções nos “mercados” e nos “sistemas de proteção social” existentes não fossem feitas atempadamente.

A preocupação com a pobreza e exclusão social, em 2010, levou ao reconhecimento das profundas desigualdades na União Europeia, especialmente na educação, emprego/trabalho e saúde. A pobreza e a exclusão social traduzem-se em desperdícios de capitais (humanos, económicos e de recursos materiais e energéticos). Sobre este assunto, a Comissão Europeia realça a ideia da simbiose e interdependência entre a dimensão económica e a Política Social, sendo a defesa desta interligação de realimentação mútua que fundamenta as opções e orientações para o espaço comunitário. A pobreza e a exclusão social levam a que o estatuto de cidadania não seja o mesmo para todos os cidadãos, havendo um grande esforço socioeconómico e

político para combater estes fenómenos. Dados referidos por Pinto (2011), do Eurostat, para 2008 referem que o indicador de risco de pobreza2 na UE-27 era de 17% para o geral da população, ou seja, cerca de 80 milhões de pessoas em risco de pobreza após transferências sociais, sendo maior em crianças e jovens (20%) e em adultos com 65 ou mais anos (19%; homens - 16%; Mulheres – 22%). Existem diferenças entre os Estados-Membros, no que se refere ao risco de pobreza, com Portugal a apresentar 18%.

O grau de desigualdade na distribuição dos recursos3, outro indicador de vulnerabilidade social, em 2008, na UE-27, era de 5,0. Em Portugal o valor (6,1) foi mais próximo das maiores desigualdades entre os Estados-membros da UE.

Outra dimensão essencial das Políticas Sociais a realçar ao nível da UE é o peso no Produto Interno Bruto das despesas sociais, nomeadamente com os cuidados de saúde e com as pensões sociais (despesas com velhice e sobrevivência). Em 2007, o total das despesas sociais revelou um peso médio para a UE-27 de 26,2%. Portugal apresentou um valor de 24,8%, abaixo da média da UE-27. Tendo em conta aspetos da dependência individual, convém salientar que a percentagem das despesas com a saúde, o valor médio foi de 7,4% do PIB na UE-27. Os valores para Portugal foram, de 6,6%, abaixo da média na UE-27. Quanto às despesas com benefícios na velhice e sobrevivência, na UE-27 o valor foi de 11,7%, valor igual ao registado em Portugal, mas de realçar que existem 20 países da UE-27 com valores mais baixos. Note-se, sobre este assunto, os instrumentos mais normativos de Política Social passam pela legislação europeia (hard law) e pelo Método Aberto de Coordenação (MAC). Este último tem proporcionado grandes avanços em termos de Políticas Sociais na UE.

2

Indicador que representa a percentagem de pessoas com um rendimento equivalente disponível inferior a 60% do rendimento equivalente mediano nacional, sendo o valor de referência português, em 2008, de 4878€ para o agregado de uma pessoa (Pinto, 2011)

3

Indicador referente ao rácio do rendimento social recebido pelos 20% da população com maior rendimento em relação ao rendimento total recebido pelos 20% da população com menor rendimento

2.2.1. A Coordenação da Proteção Social na União Europeia

De acordo com Pinto (2011), no seguimento da Cimeira Extraordinária de Lisboa 2010, a inclusão/exclusão social, como tema de interesse comum comunitário, passou a integrar-se no Processo de Coordenação da Proteção social, operacional desde 2006. O Método Aberto de Coordenação veio permitir maior coerência e diversidade nas Políticas Sociais paralelamente a um reconhecimento das diferentes situações existentes nos Estados-Membros. No âmbito do MAC da Proteção Social passou a ser lançado anualmente, a partir de 2005, um relatório conjunto sobre a Proteção Social, cobrindo as áreas da inclusão social, das pensões e dos cuidados de saúde.

No que diz respeito à inclusão social, os elementos principais do Método Aberto de Coordenação são: objetivos e indicadores de avaliação comuns, elaboração de planos nacionais que concretizem esses objetivos, elaboração de relatórios conjuntos sobre a inclusão social e implementação de programa comunitário de ação. Referindo os objetivos e indicadores comuns é visível a referência ao acesso de todos aos recursos, direitos e serviços necessários a uma participação ativa na sociedade, à inclusão social ativa de todos, através da promoção da participação no mercado de trabalho e da luta contra a pobreza e exclusão social e o reforço da governança das políticas de inclusão social. Relativamente aos Planos Nacionais de Ação para a Inclusão (PNAI), foram elaborados por cada Estado-Membro, ao longo da década de 2010, sendo referido o princípio da subsidiariedade: a luta contra a exclusão da responsabilidade dos Estados-Membros e sobretudo das autoridades regionais e locais, e dos parceiros sociais e civis, fazendo referência também aos cuidados de proximidade. São ainda elaborados relatórios conjuntos sobre a inclusão social, para uma regular monitorização e avaliação de todo o processo. A Proteção Social e do Emprego desempenham papéis importantes neste processo. O MAC integrou ainda o Programa Comunitário PROGRESS que visou acompanhar e apoiar a ação dos estados membros, em cinco áreas de intervenção prioritárias: emprego, inclusão e proteção sociais, condições de trabalho, não discriminação e igualdade de género. Do Programa de Ação Comunitário PROGRESS (2007-2013), destacam-se os seguintes objetivos: (a)

melhorar o conhecimento da situação social dos estados-membros, através de estudos, avaliações e acompanhamento das políticas; (b) apoiar e acompanhar a aplicação da legislação comunitária e de objetivos políticos nos estados-membro e; (c) promover o estabelecimento de redes, a identificação e divulgação de boas práticas e de práticas inovadoras a nível comunitário.