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5 RESULTADOS E DISCUSSÃO

5.2.5.1 ENVOLVIMENTO EMOCIONAL E COOPERAÇÃO

Para o desenvolvimento de novos modelos de atividade colaborativa entre as instituições, duas forças são necessárias para a experimentação das possibilidades de desenvolvimento. Uma é o envolvimento emocional dos participantes para a mudança das práticas correntes e a outra é a cooperação. Uma pessoa envolvida emocionalmente mobiliza- se na busca de soluções de problemas como também influencia o grupo a cooperar nessa busca (VIRKKUNEN; NEWNHAM 2015). As verbalizações dos atores foram consideradas evidências que identificaram estas forças, expressas por meio de ações agentivas, durante e após a intervenção do LM.

Os participantes do LM iniciaram o processo envolvidos emocionalmente com os problemas das instituições. Eles exteriorizaram sentimentos como: rejeição institucional, gratidão, indignação e indiferença. Propositalmente as frases escolhidas como primeiros estímulos, apresentadas na primeira sessão do LM, tinham potencial de mobilizar emocionalmente os participantes.

Os recortes das verbalizações obtidas por meio das entrevistas expressavam que alguns atores consideravam como sendo “deficiências” do CSGPS, mas também expressavam o que alguns sentiam como “rejeição” e como “falta de reconhecimento” por parte da FSP/USP pelos serviços e pela ajuda dada no passado à FSP/USP. Essa era a visão dos atores sobre a crise antes da intervenção (multivocalidade). O discurso do funcionário, “somos bonitos, mas ninguém quer namorar com a gente ...” mostrava uma reflexão sobre sua prática e como a FSP/USP a avaliava, ou seja, essa frase expressava, num primeiro momento, uma situação de “impedimento” ou duplo vínculo nos termos conceituais, onde reconhecer a existência do impasse e a legitimidade da demanda é passo estratégico para o aprendizado organizacional e o desenvolvimento coletivo do sistema (ENGESTROM, 2016). Esta expansão significa em outras palavras: será que somos tão bons, vamos olhar para nós mesmos?

O comprometimento em tomar medidas concretas destinadas a mudar o modelo de atividade e as consequentes ações práticas para que isso se concretizasse foram verbalizadas durante, entre e após as sessões do LM, manifestando a intenção de ir além da discussão (ENGESTRON, 2011b). O trecho abaixo traz um exemplo de expressão de agência transformadora.

[...] a gente (docentes e funcionários do CSE) precisa sentar porque eu quero estruturar estágios dos alunos de Nutrição e Saúde Pública, juntos, no centro de saúde (Docente, sessão LM, 2015).

Quando o LM na modalidade Interfronteiras está focalizado em ultrapassar as fronteiras entre os sistemas, sua característica é se concentrar no desenvolvimento de colaboração e comunicação entre duas atividades interligadas que estão servindo os mesmos clientes ou que fazem parte de um objeto mais amplo (VIRKKUNEN; NEWNHAM, 2013).

[...] pensando nessa proposta de avançar mais rápido com a graduação [sugere- se] que o curso de graduação discutisse e pensasse alguma proposta para apresentar estágios nos nossos laboratórios de saúde pública, dentro do CSE, como plano para o segundo semestre de 2016 [...] (Docente FSP/USP, reunião sobre os CSEs, 2015).

Além de ações agentivas, a cooperação entre gestores e entre os sujeitos envolvidos na concretização da nova atividade é outra força necessária para se testar possibilidades de desenvolvimento (ENGESTROM, 2004). No excerto abaixo, a proposta para planejamento das ações de colaboração institucional é um exemplo dessa força.

[…] a comissão de graduação articula um pouco essas discussões com os diretores, [...] e a equipe que está trabalhando com essas concepções (atividades de colaboração) [...], dentro da comissão tem que ter um processo todo de uma discussão, e trazer isso de uma forma organizada [...] (Docente, reunião sobre os CSEs, 2015).

A mudança no SA preconizada pela intervenção com o LM poderá ser construída através de articulação das duas instituições na construção de um PPP compartilhado que contemple atividades regulares e sistemáticas com alunos e docentes da FSP/USP utilizando o CSGPS como campo institucional de prática e ensino na área da Saúde Pública. Para que isso ocorra seria necessária uma adequação das ferramentas e dos recursos que o CSGPS dispõe hoje para acolher as exigências de saúde da população e, principalmente, contemplar as necessidades de atrelar institucionalmente o ensino e a pesquisa às práticas assistenciais realizadas atualmente, faz-se mister repensar seu objeto para ultrapassar a assistência em direção à atenção integral (vigilância, prevenção e promoção).

8ª Sessão - 05/11/15

Objetivo Principal:

Pensar em possibilidades futuras de desenvolvimento de atividade e de colaboração com FSP/USP. Esboçar uma visão da forma futura da atividade.

Elaborar e encaminhar e-mail apresentando um breve relato sobre o que foi realizado na 7ª sessão, anexo o resultado concreto produzido pelos atores, lista de atividades que poderiam ser desenvolvidas no CSGPS com a participação de alunos da FSP/USP. Encaminhamos como tarefa para dar prosseguimento na próxima sessão a reflexão sobre três possibilidades de cenários futuros para o CSGPS:

1 - Pensar no processo de trabalho considerando hipoteticamente o cenário onde o CSGPS estaria vinculado a FSP/USP e a Prefeitura, o Centro de Apoio a Faculdade de Saúde Pública (CEAP) funcionando como se fosse uma Organização Social de Saúde (OSS) que poderia fazer as contratações de RH e a administração recursos financeiros.

2 - Pensar no processo de trabalho considerando hipoteticamente o cenário onde o CSGPS estaria vinculado a FSP/USP e a Prefeitura de São Paulo, representada por uma OSS a ser escolhida.

3 - Pensar no processo de trabalho considerando hipoteticamente o cenário onde o CSGPS estaria vinculado apenas a Prefeitura, representada por uma OSS.

Planejamos essa sessão somente com a participação de alunos, funcionários e usuários do CSGPS.

Descrição da 8a Sessão:

Nesta sessão a maioria dos atores havia participado dos encontros anteriores, estavam presente dez pessoas: seis funcionários e dois usuários e um aluno do curso de aprimoramento do CSGPS e um aluno de pós-graduação da FSP/USP. Apresentamos como primeiro estímulo o quadro de cenários iniciado na 7ª sessão e como segundo estímulo, as seguintes questões: Quais seriam as mudanças no processo de trabalho? Quais as propostas possíveis de atividade em colaboração? Quais seriam as vantagens para o CSGPS e para os usuários?

A construção do cenário gestão CSGPS / FSP/USP + CEAP + Prefeitura foi concluída pelos participantes com algumas reservas referente a vinda de funcionários não USP. Diante do cenário gestão CSGPS / FSP/USP + OSS, os atores expressaram dificuldade em realizar a tarefa porque eles consideravam que para a sobrevivência da unidade, além da vinda de funcionários não USP, a consequente mudança no processo de trabalho seria inexorável. Durante a sessão, os atores elencaram os pontos positivos e negativos de cada cenário e consideraram totalmente improvável a terceira possibilidade, o CSGPS com funcionários USP sob a gestão da prefeitura, representada por uma OSS.

Os resultados concretos iniciados na 7ª sessão e concluído na 8ª sessão foi a construção dos quadros de cenários possíveis para retomar a relação de colaboração entre o CSGPS e a FSP/USP, que teve a Linha do Tempo e o discurso dos atores como base para auxiliar sobre a

reflexão e construção dos cenários futuros. O cenário 1 (Quadro 5) contempla a gestão do CSGPS e FSP/USP, tendo o CEAP representando uma OSS. O cenário 2 (Quadro 6) contempla a gestão do CSGPS/FSP/USP, com trabalhadores advindos de uma OSS escolhida pela Prefeitura. O resultado de aprendizagem foi a mudança de conceitos relativos ao processo de colaboração presente e futura e a aceitação de funcionários não USP e de mudanças no processo de trabalho representada em ambos cenários.