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FIGURA 17 – CICLO DE TRANSFORMAÇÃO EXPANSIVA DA FSP/USP ANOS 80, 90 E

5 RESULTADOS E DISCUSSÃO

FIGURA 17 – CICLO DE TRANSFORMAÇÃO EXPANSIVA DA FSP/USP ANOS 80, 90 E

Historicamente, a criação da pós-graduação em 1970, a reforma universitária e as mudanças históricas na saúde (SUS em 1988/1990) e na educação (Lei de Diretrizes e Base da Educação em 1996) trouxeram maior ênfase à pesquisa científica e considerou a responsabilidade social como extensão. Isso resultou numa mudança na atividade dos docentes porque a pesquisa vinculada às agências de fomento é avaliada e valorizada, mas a atividade de campo-extensão vinculadas apenas ao ensino não eram e ainda não são devidamente valorizadas.

Os docentes passaram a considerar dois aspectos importantes. O primeiro foi a necessidade de produção científica expressa em publicações porque elas além de aquilatadas pela universidade, colaboram para a progressão na carreira acadêmica; o segundo aspecto importante é que a produção de pesquisas acadêmicas e publicação de artigos, entre outros fatores, era considerada para compor a classificação das universidades, com repercussão na melhora da avaliação dos programas de pós-graduação e acréscimo de bolsas e recursos, bem como para a manter a oferta de seus cursos (Lei 9394/96) o que influenciava e intensificava o investimento dos docentes em pesquisas e publicações científicas em detrimento da prática de atividades de ensino e extensão.

O desenvolvimento/transformação do SA da FSP/USP foi derivado de fatores internos e externos à instituição. As décadas de 1980 e 1990 trouxeram uma contradição para os membros da faculdade, ou seja, uma situação em que a pessoa é confrontada com duas exigências irreconciliáveis ou uma escolha entre dois caminhos indesejáveis da ação (ENGESTRÖM, 1987). Nesse período os professores tiveram que escolher entre a pesquisa, que era valorada em detrimento da extensão, sendo que a última significava colaboração com CSGPS. Desta forma, a situação de duplo vínculo (double bind) materializada na forma de tensões contrárias agindo no sistema da FSP/USP (Fase 2, Figura 16) foi sentida e superada pelos docentes da faculdade ao optarem pelas atividades de ensino e pesquisa. Isso entre outros fatores, influenciou na relação entre a FSP/USP e o CSGPS, evidenciando uma contradição quaternária, como sendo aquelas que surgem entre dois sistemas de atividade.

O SUS com seus princípios, ainda busca quebrar o paradigma da formação médico- centrada com o modelo de atenção integral à saúde. Isso tenciona na direção de criação de uma nova maneira de formar os profissionais desta área. Enquanto o CSGPS manteve-se alheio ao SUS e à necessidade de aderir ao novo modelo, os docentes da faculdade após vivenciarem o “double bind” (dilema entre maior foco nas atividades de ensino/pesquisa X atividades de extensão no CSGPS) seguiram nas fases do Ciclo de Transformação Expansiva. Podemos dizer que eles remodelaram a maneira de ensinar, testaram e implementaram um novo formato para ensinar os alunos, dentro da lógica do SUS, conforme as regras USP, das políticas públicas de saúde e de educação.

Esse ciclo teve início na década de 1990 e foi completado no ano de 2011 com a conclusão do PPP do curso de Nutrição (USP, 2011). Verifica-se desta forma, a ocorrência de transformação do sistema FSP/USP em função do objeto e das contradições internas no mesmo. Ao considerar sistemas de atividades, tais como organizações e instituições, a prática concreta de trabalho é conceituada como atividades sistêmicas onde o objeto coletivo, correspondente

às necessidades humanas, impulsiona tanto a motivação quanto a colaboração (SEPPANEN, 2002; VIRKKUNEN; NEWNHAM, 2013).

A evolução do SA do CSGPS deve ser avaliada considerando o contexto do desenvolvimento geral do SUS do Brasil, que na década de 1980 e 1990 era um modelo recém- testado e implementado que apesar de ter criado um estado de necessidade no SA do CSGPS, não foi aderido por ele. No entanto, esta decisão o tornou menos atraente para a faculdade, porque fora do SUS, ele não poderia satisfazer as obrigações educacionais da FSP/USP na formação prática dos alunos, como ocorria em 1925 quando mantinham uma relação forte e resultados esperados confluentes e objetos compartilhados (aluno e usuários).

A integração entre CSGPS e a FSP/USP nas atividades de ensino, pesquisa e extensão foram enfraquecendo ao longo dos anos por outras contingências como a extinção de cursos que utilizavam o CSGPS como campo de estágio e prática tanto para unidades da USP como para atendimento de demandas específicas do Estado, ao qual estava intimamente ligado desde sua criação, sendo frequentemente solicitado por ela, para atender às necessidades de formação em saúde em diversos campos. Como recordou um participante ao se referir à relação entre as unidades após o CSGPS sair do prédio da FSP.

[...] não existia uma relação porque o CSE saiu da faculdade, porque não tinha mais interesse em se relacionar com a faculdade, e ele mantinha uma relação direta com a Secretaria do Estado da Saúde (Docente, sessão LM, 2015).

As implicações práticas da reforma universitária (ênfase em pesquisa científica) e a implantação do SUS estavam sendo revividas pelos funcionários do CSGPS (Figura 18, fase 1 e 2). No momento em que a pesquisa estava sendo conduzida, as ameaças de desvinculação da universidade e o ingresso integral no SUS voltaram a apresentar uma situação de duplo vínculo (double bind), porque como funcionários da universidade ligados à FSP/USP, estavam engajados e atuavam nos pleitos que envolviam a educação, porém a maioria de suas atividades laborais não estavam relacionadas ao ensino ou para responder às questões de Saúde Pública do território, elas estavam totalmente voltadas para a prática da assistência, o que comprometia sua vinculação com a USP.

Houve muitas tentativas para resolver estas contradições, como as experiências de aproximação com base nas ações de criação do Clinut e do CRNutri, além dos esforços pessoais dos funcionários do CSGPS no período de questionamento sobre o afastamento da faculdade, mas estas tentativas não foram suficientes para fortalecer a relação institucional entre o CSGPS e a FSP/USP.

Como o serviço de saúde associado com o ensino ficou menor, houve crescimento e foco nas atividades de assistência no CSGPS. A falta de articulação entre os diferentes serviços da rede, demandada pelas necessidades do território se constituiu em um dos fatores que tornou o CSGPS desinteressante para os docentes da FSP/USP que ensinavam seus alunos dentro da lógica do SUS e do princípio de integralidade da atenção à saúde.

FIGURA 18 – COMPARAÇÃO DOS CICLOS DE TRANSFORMAÇÃO EXPANSIVA DOS SAS -