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FIGURA 14 – CONTRADIÇÕES SECUNDÁRIAS IDENTIFICADAS NO SA DO CSGPS

5 RESULTADOS E DISCUSSÃO

FIGURA 14 – CONTRADIÇÕES SECUNDÁRIAS IDENTIFICADAS NO SA DO CSGPS

Contradição 1: Regras X Objeto – Teoricamente o centro se orienta por duas regras, uma é o estatuto da USP que contempla a prática de atividades de extensão como relação entre a universidade e a sociedade (usuários), a outra regra é determinada pelo contrato estabelecido entre CSGPS e SMS/SP para prestação de serviços em especialidades. A primeira, expressa a contradição entre a Regra (Estatuto - atividade de extensão) e o Objeto (usuário) porque a Universidade não aquilata a atividade de ensino-serviço, avalia e valoriza os docentes prioritariamente pelo ensino e pela produção de pesquisa e publicações científicas.

A contradição evidenciada entre a Regra (Contrato com a SMS/SP) e o Objeto (usuário/saúde) do CSGPS, se expressava pela maior demanda por assistência primária à saúde e não era remunerada pelo município. O CSGPS, enquanto unidade de saúde pública, cumpre precariamente o que determina a Constituição de 1988, que considerou a saúde um direito do cidadão e instituiu o SUS como política pública.

Respaldados nesse direito os usuários do CSGPS passaram a reivindicá-lo ao serviço, pressionando os funcionários a oferecer um atendimento de cuidado que contemplasse a assistência à saúde, de forma a se aproximar do conceito de integralidade, possível para as unidades que atuam no modelo de atenção do SUS, mas parcial para o CSGPS, que ainda não está totalmente conectado ao sistema, e carece de recursos humanos e de instrumentos para atender a necessidade da população.

Os conflitos na recepção, apresentados como demanda inicial da gestão do CSGPS para a investigação, são manifestações de distúrbios decorrentes das mudanças históricas dessincronizadas do sistema de saúde que não foram incorporadas pelo CSGPS e o impossibilita de oferecer, nos moldes municipais, a atenção a saúde garantida pela Constituição.

Contradição 2: Divisão de Trabalho X Objeto - o número de funcionários era insuficiente para atender às necessidades do serviço o que gerava reclamação dos usuários pela demora no atendimento. A divisão do trabalho contribuía para ocorrência de distúrbios (resultados indesejados) como desentendimentos entre os funcionários e entre esses com os usuários. Os funcionários tinham sobrecarga de trabalho, por necessidade de atender a demanda acabavam assumindo tarefas extras, que gerava insatisfação de alguns profissionais com a situação. As soluções anteriormente adotadas como os contratos precários e o deslocamento de funcionários de outros setores para auxiliar no atendimento de usuários na recepção geraram conflitos que sinalizavam a existência de contradições entre os elementos do SA, corroborado pelo trecho abaixo:

[...] as pessoas estão adoecendo na sua frente, estou falando de funcionários [...] a maior angústia é mandar de volta para casa doentes devido ao limite de 10 fichas de manhã e 4 à tarde – Não pode ser mais porque médicos e estrutura não dão conta. Tudo estoura aqui na recepção ... (Funcionário, entrevista, 2013).

Contradição 3: Sujeito X Objeto – o quadro de funcionários de profissionais de saúde, como médicos e enfermeiros, era insuficiente para atender a demanda de cuidado integral dos usuários (sociedade). A demora para atendimento e para o agendamento de consultas provoca a insatisfação dos usuários que cobram solução dos funcionários, que estão sobrecarregados e trabalham sobre grande pressão o que resultava em conflitos com usuários ou entre os funcionários.

A USP não fez uma atualização do dimensionamento do quadro de RH do CSGPS para que ele pudesse absorver o aumento da demanda da população do território. O objeto ampliado do CSGPS, sociedade, se expandiu quantitativamente, mudou o perfil epidemiológico e etário ao longo dos anos, que se traduziu na prática em diferentes demandas e a necessidade de acesso a outros serviços. Ao invés de expandir, houve uma diminuição do quadro de recursos humanos devido a aposentadorias, transferências, afastamentos de funcionários e etc., que não foram repostos devido à ausência de cargos na unidade. Recentemente, para agravamento da situação, oito funcionários aderiram ao PIDV.

Contradição 4: Sujeito X Instrumentos/Ferramentas – é evidenciada porque os funcionários do centro utilizam parcialmente o conhecimento produzido na FSP/USP na rotina e no cuidado com os usuários. A prática da assistência está geralmente desvinculada da teoria ensinada nas diversas unidades da universidade. Um exemplo é a inexistência de rede de referência, ou seja, o CSGPS não está formalmente inserido na rede hierarquizada do SUS, o que contraria o princípio da atenção integral do sistema de saúde.

[...] o profissional que se dispõe a trabalhar o cuidado ou atenção nessa perspectiva, [...] não basta só ele ter uma formação, o que ele está fazendo em prol do direito da universalidade, e do acesso? Ele tem que trabalhar esse objeto em rede, e ele aqui não tem a rede a qual possa se remeter, porque ele (CSGPS) está apartado. [...] ele ficou estacionado no tempo, não acompanhou a transformação do Sistema de Saúde (Docente, sessão LM, 2015).

Contradição 5: Instrumentos/Ferramentas X Objeto – as ferramentas disponíveis para o atendimento à saúde do usuário não são suficientes para favorecer a atenção integral. O CSGPS não possui a maioria das ferramentas do SUS, dispõe de um número de vagas menor de consultas em especialidades e de exames para seus usuários, se comparado com as destinadas às UBS da prefeitura, distribuídas pela Central de Regulação. O CSGPS não tem uma farmácia para distribuição de remédios gratuitos à população do território. Esta é uma das principais queixas e reivindicações dos usuários que requerem um serviço escola organizado na lógica da atenção do SUS.

A contradição quaternária foi caracterizada pelo afastamento entre a universidade e a sociedade (Figura 15) expressa pela falta de diálogo entre os dois SAs. Consideramos que o SA FSP/USP representa a universidade pública e o CSGPS, representa a sociedade. Na época da pesquisa, o resultado esperado do CSGPS (assistência à saúde), e o resultado esperado da FSP/USP (educação), não estavam sendo compartilhados, o que revelou a crise na relação de colaboração. Eles precisariam confluir em direção a formação e o campo de prática e de rede de cuidados em Saúde Pública. Essa hipótese foi comprovada a partir das falas dos atores.

[...] durante todo um processo que ficou muito claro nessa Linha do Tempo é que a faculdade estava fazendo uma coisa, estava caminhando para o mundo, e o centro de saúde estava localizado, tentando resolver seus próprios problemas do seu jeito (Docente, sessão LM, 2015).

[...] e quando todo o movimento dos professores (da FSP/USP) foi para a reforma universitária, para a reforma sanitária e para a implantação do SUS no Brasil, o CSE estava isolado deste processo em parceria com a SES, que também estava isolada do mundo [...] (Docente, sessão LM, 2015).

Figura 15 – Afastamento entre a Universidade e a Sociedade

A aprendizagem ocorrida nas sessões do LM foi promovida pela DE que pressupõe o uso de ferramentas que possibilitam a transformação de algo do campo das ideias para o concreto. O resultado de aprendizagem da fase de análise histórica foi o conhecimento sobre o processo sistêmico passado, de distanciamento entre a universidade e a sociedade representada pelo CSGPS.