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2 TABAGISMO – UM PROBLEMA DE SAÚDE PÚBLICA

2.2 EPIDEMIOLOGIA DO TABACO

O tabagismo é amplamente reconhecido como uma doença epidêmica resultante da dependência de nicotina e classificado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) no grupo dos transtornos mentais e de comportamento decorrentes do uso de substâncias psicoativas, na Décima Revisão da Classificação Internacional de Doenças – CID-10 (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE, 1997). Essa dependência faz com que os fumantes se exponham continuamente a cerca de 4.720 substâncias tóxicas e com que o tabagismo seja fator causal de aproximadamente 50 doenças diferentes, destacando-se as doenças cardiovasculares, o câncer e as doenças respiratórias obstrutivas crônicas (ROSEMBERG, 2002).

O tabagismo também é a principal causa de morte evitável no mundo (5 milhões de mortes por ano), quando comparado a outras doenças e/ou problemas que levam à morte, por exemplo, as doenças ocupacionais e acidentes de trabalho (que, juntos, matam 2,2 milhões de pessoas/ano), a tuberculose (2 milhões de mortes/ano), os acidentes de trânsito (1,2 milhões mortes/ano), a malária (1 milhão de mortes/ano) e a obesidade mórbida (300 mil mortes/ano) (RESEARCH FOR INTERNATIONAL TOBACCO CONTROL, 2003; ROSEMBERG, 2003; INSTITUTO NACIONAL DE CÂNCER, 2004; FRAMEWORK CONVENTION ALLIANCE FOR TABACCO CONTROL, 2005; NACIONAL CANCER INSTITUTE, 2005; ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE, 2005).

Consome-se, anualmente, no mundo, a fabulosa quantidade de 73 mil toneladas de nicotina, contida em 7 trilhões e 300 bilhões de cigarros fumados (ROSEMBERG, 2008). De acordo com as estimativas da OMS, há, no mundo, aproximadamente 1,1 bilhão de fumantes, o que corresponde a pelo menos um terço da população mundial adulta (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2008).

O tabaco é considerado um fator de risco para as seis das oito principais causas de mortes no mundo, matando uma pessoa a cada seis segundos. De acordo com o

Relatório da OMS sobre a epidemia de tabagismo global, durante o século XX o tabagismo matou 100 milhões de pessoas e durante o século XXI poderá matar um bilhão de pessoas no mundo inteiro. O relatório mostra, ainda, que dois terços da população mundial de fumantes habitam em dez países e o Brasil figura entre esses países, ocupando a sétima colocação. Por essa razão, agir de forma a reverter a epidemia deve ser a prioridade para a saúde pública e dos líderes políticos de cada país do planeta (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2008).

No Brasil, aproximadamente, 200 mil mortes por ano ocorrem em consequência do tabagismo (PAN AMERICAN HEALTH ORGANIZATION, 2002; WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2002). De acordo com o II Levantamento sobre o uso de drogas psicotrópicas no Brasil, realizado em 2005, 10,1% da população brasileira de 12 a 65 anos é dependente de tabaco (CARLINI; GALDURÓZ, 2007). De 1996 a 2005, houve mais de 1 milhão de hospitalizações relacionadas ao tabagismo no SUS, com custos em torno de meio bilhão de dólares (BANCO MUNDIAL, 2007). O quadro da prevalência do tabagismo na população brasileira foi bem evidenciado por Monteiro et al. (2007). Os autores observaram, no período entre 1989 e 2003, uma queda total da ordem de 35%, ou seja, uma redução média de 2,5% ao ano, mais acentuada na população masculina. Porém, os dados do inquérito de 2008 indicam que houve inversão dessa tendência a partir de 2003, período em que o declínio de prevalência do tabagismo se tornou mais intenso entre as mulheres (28,8%) do que entre os homens (20%).

De acordo com o II Levantamento Domiciliar sobre o Uso de Drogas Psicotrópicas no Brasil realizado pelo Centro Brasileiro de Informação sobre Drogas - CEBRID em 2001 e 2005, a estimativa de dependentes de tabaco foi de 9,0% e 10,1% respectivamente. Na região sudeste, a estimativa de dependência de tabaco foi de 8,4% e 10,4%, em 2001 e 2005, respectivamente (BRASIL, 2009a).

Em 2008, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em conjunto com o Instituto Nacional de Câncer (INCA), Ministério da Saúde e instituições internacionais, conduziram o inquérito sobre tabagismo em maiores de 15 anos de idade, no qual foi evidenciada a prevalência de uso do tabaco fumado, em 17,2% da população brasileira, equivalente a 24,6 milhões de pessoas. No Sul, tem-se o maior percentual (19%) e, nas regiões Centro-Oeste e Sudeste, foram observados os

menores percentuais (16,6 e 16,7%, respectivamente). O Estado do Espírito Santo, nessa pesquisa, representado por uma amostra de 7.231 pessoas, apresentou uma prevalência de 17,8% de fumantes, sendo a maior do Sudeste (INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATISTICA, 2009).

No Brasil, a pesquisa por amostra de domicílio realizada em 2009, do total de 143 milhões de pessoas de 15 anos ou mais de idade, estimado em 2008, 24,6 milhões (17,2%) fumavam qualquer produto derivado do tabaco. Entre os homens, esse percentual foi de 21,6% (contingente de 14,8 milhões) e, entre as mulheres, de 13,1% (9,8 milhões). Na região Sudeste, de 2001 para 2005, houve aumento nas estimativas das prevalências de uso, na vida, de tabaco de 43,6% (2001) para 47,6%(2005). Nesta pesquisa, o Estado do Espírito Santo apresentou a prevalência de 17,8% de fumantes, sendo a maior do Sudeste (INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA, 2009). De acordo com a pesquisa realizada em 2010 pela Vigilância de Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (VIGITEL), em todas as capitais dos 26 estados brasileiros e no Distrito Federal, em adultos maiores de 18 anos, o percentual de adultos fumantes, em Vitória, foi de 12,7%, sendo maior no sexo masculino (16 %) do que no sexo feminino (10%). E o percentual de adultos (≥ 18 anos) que fumam 20 ou mais cigarros por dia foi de 3,6 % (BRASIL, 2010).

De acordo com o Relatório de Drogas (BRASIL, 2009a), o uso na vida de tabaco foi de 44%, sendo a média por idade, para o primeiro uso de 12,8 anos. Essa evidência sugere que sejam tomadas medidas de intervenção, com vistas a interromper este uso, uma vez que 90% dos fumantes iniciam o uso do tabaco até os 19 anos e 50% dos que experimentam um cigarro tornam-se fumantes na vida adulta (CINCIPRINI et al., 1997).

A exposição à poluição tabagística ambiental é outro fator importante nesse contexto, pois, além dos efeitos deletérios para os fumantes, os danos do tabaco podem atingir também os não fumantes expostos à fumaça, os denominados fumantes passivos, uma vez que as substâncias tóxicas ficam presentes no ar e se difundem pelos ambientes (ROSEMBERG, 1987). A poluição tabagística ambiental é a terceira maior causa de morte evitável no mundo, subsequente ao tabagismo ativo (INSTITUTO NACIONAL DE CÂNCER, 1998). A fumaça que sai livremente da ponta do cigarro acesa e que se espalha pelo ambiente contém, em média, três vezes

mais nicotina, três vezes mais monóxido de carbono e até cinquenta vezes mais substâncias cancerígenas do que a fumaça que o fumante inala (ROSEMBERG, 1987). Um estudo pioneiro, realizado no Brasil em 2008, relaciona o risco atribuível do tabagismo passivo ao aumento da mortalidade por doenças tabaco-relacionadas. Em suas conclusões, estima-se que 25 das mil mortes ocorridas por ano em áreas urbanas são devidas ao tabagismo passivo (FIGUEREDO, 2008).

Segundo dados do VIGITEL (BRASIL, 2010), no conjunto da população adulta das 27 cidades brasileiras, a frequência de fumantes passivos no domicílio foi de 11,7%, sendo maior entre as mulheres (13,3%). Já a frequência de fumantes passivos no local de trabalho foi de 11,4%, sendo mais do que o dobro entre homens (16,7%) do que entre mulheres (6,9%). Esses dados demonstram a importância dessa problemática, uma vez que os prejuízos causados não se limitam aos efeitos em curto prazo, por exemplo, cefaleia, irritação nasal e ocular, vertigem, tosse e problemas respiratórios, mas há doenças que se manifestam pela exposição contínua e se relacionam ao risco de câncer de pulmão, problemas cardiovasculares e outras doenças tabaco-relacionadas (CAVALCANTE, 2005). Dessa forma, os não fumantes frequentemente expostos à fumaça dos cigarros têm probabilidade de 20% a 30% de desenvolverem doença cardiovascular e 30% de desenvolverem câncer de pulmão, se comparados às pessoas não expostas à fumaça dos cigarros (SEIBEL; TOSCANO, 2004).

Outros fatores que podem influenciar o tabagismo, segundo a literatura, são a escolaridade e a renda. Alguns estudos mostram que o tabagismo está mais concentrado entre os grupos populacionais com menor escolaridade e que podem também ser os mais pobres (INSTITUTO NACIONAL DE CÂNCER, 2007; IGLESIAS, 2008). Constata-se que a prevalência do tabagismo é de 1,5 a 2 vezes maior entre aqueles que possuem pouca ou nenhuma educação, em comparação com os que possuem mais anos de escolaridade (IGLESIAS, 2008). Dados do VIGITEL, em 2010, também indicam que a frequência de fumantes é maior entre os que têm menor escolaridade (18,6%) do que entre os que têm maior nível de escolaridade (10,2%).

Contudo, mesmo diante de inúmeros estudos e evidências científicas do tabagismo como fator de risco para várias doenças para os fumantes e não fumantes e das

problemáticas geradas pelo seu consumo, o tabagismo continua sendo um grave problema de saúde pública, comprometendo a saúde física e mental da população, a economia do país e a qualidade do meio ambiente.