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A epidemiologia da doença renal crónica

No documento Inflamação na doença renal crónica (páginas 54-62)

CAPÍTULO I – Doença Renal Crónica Caracterização e Relevância

3. A epidemiologia da doença renal crónica

Os registos da doença renal apresentam apenas dados dos doentes que iniciam ou estão sujeitos às várias terapêuticas substitutivas da função renal, não existindo informação precisa referente às fases mais precoces da doença (K / DOQI, 2002b). Verifica-se actualmente, a nível dos países ocidentais e também em alguns em vias de desenvolvimento, um aumento progressivo de doentes incidentes e prevalentes em técnicas de depuração extra-renal. Segundo Port (1992), este aumento deve-se a uma liberalização dos critérios de admissibilidade em programas de diálise

a um aumento real da prevalência das doenças renais. O envelhecimento da população é também um factor importante, até porque a incidência da doença renal terminal é mais frequente nos grupos etários mais avançados.

A referência de alguns dados epidemiológicos sobre a doença renal tem como objectivo mostrar a dimensão do problema, tanto mais que o aumento dos doentes renais tem sido constante nas últimas décadas, prevendo-se um crescimento mantido nos próximos anos. Os dados apresentados são os fornecidos pelos vários Registos Nacionais, havendo no que se refere à Europa algumas deficiências, pelo facto de nem todos os Países Europeus os terem fornecido na totalidade.

a. A Doença Renal Crónica na Europa

Os últimos dados da doença renal a nível da Europa que podem permitir uma visão global reportam-se aos anos noventa. No entanto, devido ao facto das respostas aos diversos inquéritos serem voluntárias, esses “dados globais” ficaram incompletos, fazendo com que a credibilidade dos relatórios fosse posta em causa. Em 1996, o Registo Europeu foi interrompido por questões diversas, tendo sido retomado apenas em 2000. A não obrigatoriedade de resposta mantém-se, pelo que os últimos relatórios dizem respeito apenas a alguns países e/ou regiões, não existindo actualmente dados Europeus globais credíveis. Em 1995, os dados do Registo Europeu, com uma percentagem de respostas de 84,3%, mostram que na UE-15 o número de doentes incidentes em técnicas de

(Berthoux et al, 1999). No que diz respeito à Europa, houve um crescimento anual médio do número de doentes que iniciaram tratamento substitutivo da função renal de 4,8%, entre 1990 e 1999 (Strengel et al, 2003). Este aumento da incidência deve-se sobretudo a um aumento de doentes diabéticos e de doentes de causa hipertensiva e vascular renal. Aliás, dados mais recentes de 2003 referentes a 12 Países Europeus, confirmam que a diabetes é a principal causa de insuficiência renal terminal em todos estes países, com excepção da Noruega (EDTA-ERA Registry, 2005). O trabalho de Strengel e colaboradores (2003) mostra que os idosos são particularmente susceptíveis, verificando-se que acima dos 75 anos a incidência da doença renal terminal é cerca de 7 e cerca de 2 vezes superior à incidência de doença renal nos grupos etários de 20-44 e de 45-64 anos, respectivamente.

Nos próximos anos o número de doentes renais continuará a crescer paulatinamente a nível da chamada “Europa dos 15”. A nível da “Europa dos 25”, sobretudo nos últimos países a aderirem à Comunidade Europeia e nos outros que não pertencem à Comunidade, este crescimento será mais marcado, pelo aumento da oferta (com consequente aumento da procura) e pelo facto da incidência actual ainda ser relativamente baixa.

b. A Doença Renal Crónica nos EUA

Os dados referentes aos EUA são originários do USRDS (United States

Renal Data System) que, sendo de envio obrigatório, tornam este Registo

reflecte-se também a nível dos dados respeitantes à doença renal crónica. Em termos globais, os EUA são o segundo País, após Taiwan, com o maior número de doentes incidentes em técnicas de substituição da função renal. Mesmo tendo havido em 2003 uma ligeira descida, desde 1997 a incidência é superior a 300 doentes/p.m.p./ano (USRDS, 2005). Neste registo, a maioria dos doentes tem também uma idade elevada e como patologia de base a diabetes e a HTA, verificando-se que a incidência de doença renal terminal é mais elevada nos afro-americanos e nos hispânicos, apesar do número absoluto de caucasianos ser superior (USRDS, 2005). É ainda constatável que os caucasianos entram em tratamento da doença renal terminal numa fase menos avançada, reflectindo a desigualdade socio-económica existente (USRDS, 2005). Em resumo, os EUA apresentam uma grande incidência de doença renal terminal, explicável por uma elevada proporção de doentes idosos e diabéticos. Por outro lado, a incidência é particularmente alta em determinados grupos étnicos (USRDS, 2005).

c. Comparações Internacionais da Incidência da Doença Renal Terminal

Pretende-se também abordar a incidência da doença renal terminal a nível Mundial. Os dados são originários do relatório de 2005 do USRDS e abrangem 38 registos nacionais e regionais. Em Taiwan, EUA, Jalisco (México) e Japão (apenas diálise) a incidência de doença renal com

É digno de nota o facto dos Países do Norte da Europa apresentarem uma baixa incidência, em comparação com outros países desenvolvidos. Por outro lado, é previsível que nos próximos anos esta incidência aumente sobretudo nos Países do Leste da Europa, pois a capacidade de oferta de tratamento irá seguramente aumentar. Quanto à etiologia da doença de base, a diabetes é a patologia preponderante, sobretudo nos países mais desenvolvidos (USDRS, 2005).

Nos países pobres ou em vias de desenvolvimento, são as infecções as responsáveis por uma grande parte da doença renal: a hepatite B na África do Sul, a hepatite C no Egipto e a infecção por HIV na África sub- Sahariana (Barsoum, 2006). Também as infecções por parasitas como a esquistossomíase, calazar ou malária contribuem de modo importante para a doença renal terminal (Barsoum, 2006).

Existem grandes variações do número de doentes incidentes, mesmo entre países desenvolvidos, onde não deixará de haver oferta de tratamento por razões económicas (USRDS, 2005). Esta variabilidade poderá ser explicada por vários factores: diferentes critérios de admissão, sistemas de saúde com diferentes políticas de reembolso e idade e prevalência da diabetes diferentes nas populações (Lebedo et al, 2001). No Chile, 80% dos doentes incidentes são diabéticos, enquanto na Noruega e em Itália a diabetes contribui com menos de 20% para a doença renal terminal (USRDS, 2005).

Nos países em vias de desenvolvimento, a disponibilidade da terapêutica poderá não ser total, pois sabe-se que em geral o custo do tratamento

dialítico é 5 vezes superior ao do tratamento conservador (Locatelli et al, 2004).

Independentemente das assimetrias observadas, as previsões apontam para um aumento de doentes renais a necessitarem de terapêuticas diferenciadas num futuro próximo, sendo este aumento previsivelmente maior nos países pobres ou em vias de desenvolvimento.

d. A Doença Renal Crónica em Portugal

Desde 1998 que o Gabinete de Registo da Insuficiência Renal Crónica da Sociedade Portuguesa de Nefrologia apresenta os dados anuais, sendo estes baseados em inquéritos que incluem apenas informação global das diferentes unidades. Apesar desta limitação, inexistência de dados individuais em relação à idade e patologia, esta informação tem a grande virtude de incluir desde o início respostas a 100%, ou seja, têm incluído todos os doentes que iniciam tratamento no País. Como se pode observar na Figura 2, tem havido um aumento de doentes renais a iniciar tratamento de substituição. Comparando-se estes com os dados internacionais, concluimos que Portugal tem uma das maiores incidências a nível Mundial e provavelmente a maior da Europa, (230 / p.m.p. em 2006) (Relatório do Registo Português da Doença Renal Crónica, 2006). Em relação à proporção de idosos na população em geral, Portugal encontrava-se, na altura, abaixo da média da Europa dos 15 (Statistiques

Figura 2. Incidência de novos doentes em técnicas de substituição em Portugal.

Doentes / p.m.p. /ano. (Gabinete de Registo da Insuficiência Renal Crónica da SPN – 2006)

Apesar de não existirem dados precisos respeitante à idade dos doentes nem à prevalência da diabetes, pode-se conjecturar que não existe limitação na capacidade de oferta de terapêutica nem restrição em relação aos critérios de admissibilidade.

e. A Doença Renal Crónica no Algarve

Desde que foi iniciada a hemodiálise crónica, em 1982, sob a responsabilidade do Dr. João Paulo Amorim, fundador do Serviço de Nefrologia de Faro, tem sido possível, por um lado, tratar os doentes renais da Região e ter, por outro lado, informação sobre a problemática da insuficiência renal crónica terminal. Não tem havido, desde essa altura, limitação de oferta nem restrição na admissão ao tratamento. Em

97 98 99 00 01 02 03 04 05 06 0 50 100 150 200 250 Nov os Doentes

relação à incidência, considerando-se uma população residente de 424 000 habitantes (Statistiques Demographiques, 2000), verifica-se que é superior à incidência global do País, tendo-se verificado entre 2003 e 2006 uma incidência média de 226,6/p.m.p./ano (Figura 3). Este facto poderá ser explicado pelo índice de idosos, que é de 28,7% no Algarve, superior ao mesmo índice de Lisboa e do Porto, que são respectivamente de 22,7 e de 16,8%, e pelo número de doentes renais a iniciar diálise com diabetes como patologia de base, que foi de 31,5% nos últimos dois anos (Dados do Serviço de Nefrologia do H.D. Faro).

0 50 100 150 200 250 83 - 87 88 - 92 93 - 97 98 - 02 2003-06 Doentes/pmp/an o

Figura 3. Incidência de novos doentes em técnicas de substituição no Algarve.

No documento Inflamação na doença renal crónica (páginas 54-62)

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