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CAPÍTULO VI – Individualização e caracterização das zonas de um perfil

6.4. Epigênese

Esta zona é constituída por interpretações de que a herança biológica não é restrita a uma abordagem exclusivamente genética, sedimentada na ocorrência de mutações. Pressupõe que padrões de herança e, eventualmente, os mecanismos de herança, vão além da herança genética. Aqui está o argumento de paridade causal, o qual rejeita a visão de que o DNA é exclusivamente informacional enquanto outros recursos herdados apenas fornecem suporte material para leitura ou interpretação de DNA. Opõe-se aos pressupostos de que a constância genealógica dos seres vivos é devida a uma essência genética interna, que a mudança ontogenética é causada por um plano interno e a mudança filogenética pela ação externa selecionadora. Abaixo, no quadro 6, estão os compromissos que foram relacionados e que estabilizam modos de pensar o conceito de herança.

Quadro 6 . Temas, categorias e compromissos que caracterizam a Zona 4 , Epigênese

TEMA SEMÂNTICO CATEGORIA COMPROMISSO

Ontologia Processo A herança é concebida como a

transmissão das características de uma geração a outra

Contribuição parental para a herança

b. contribuição diferencial

Atribui o desenvolvimento de traços fenotípicos à contribuição diferente de ambos os genitores

Fator causal c. Paridade Causal Atribuição de importância

causal a diferentes fatores genéticos, ambientais e epigenéticos envolvidos na herança e no desenvolvimento de traços fenotípicos.

Unidade de herança b. Potencial para a

característica

O que é herdado é o potencial para uma característica, a qual surge por meio do desenvolvimento do organismo.

Mediador de transmissão C. sistema

desenvolvimental

Os atributos dos indivíduos estão presentes nas células reprodutivas, nos gametas, que mediam sua transmissão através das gerações

Natureza da herança a.Herança tênue

(soft inheritance)

O material hereditário não é constante de geração a geração, porque características oriundas de condições às quais os parentais estão expostos durante a vida podem ser transmitidas às gerações seguintes. Admite-se plasticidade do material genético decorrente da incorporação de tais características, ou de seus potenciais, ou de seus determinantes.

Mecanismos c.Sistema de herança Herança que atribui diferentes

mecanismos, processos e fatores, pelos quais diferentes tipos de informações hereditárias são armazenados e transmitidos entre gerações.

Esta zona compartilha alguns compromissos com a zona anterior, entre eles a ideia de que a herança é mediada e/ou controlada por partículas que são transmitidas à prole, mas assume-se aqui o princípio da paridade causal (GRIFFITHS; KNIGHT, 1998), segundo o qual genes, fatores ambientais e, mais recentemente, fatores epigenéticos são igualmente importantes no

desenvolvimento de um traço. Isso implica importante diferença em relação ao determinismo do modo de pensar representado na zona anterior.

Como já mencionado anteriormente, a partir dos nossos dados empíricos coletados, não foi possível trazer trechos que expressem formas de falar presentes nos contextos investigados para essa zona. Um pequeno trecho retirado do questionário (ver apêndice D) com alunos do Ensino superior propõe explicações para um cenário que trata das causas de diferenças entre irmãos, que se aproximam desse modo de pensar, ao fazer referência à natureza multifatorial da herança. Entretanto, a resposta não apresenta argumentos que a sustentem e se distancia assim do que propõe esta zona:

Estudante - As características hereditárias se manifestam submetidas a diversos

fatores que o “manipulam”.

(Excertos de questionário de aluno ensino superior)

Os compromissos que individualizam esta zona são principalmente aqueles relacionados aos temas unidade de herança e fator causal. São eles, em especial, que nos permitem identificar a mudança mais fundamental no processo de significação do conceito de herança em relação à zona anterior, que é assumir o princípio da paridade causal.

Nesta zona, a contribuição parental para herança é diferencial, atribuindo o desenvolvimento de traços fenotípicos à contribuição diferente de ambos os genitores. Este compromisso é compartilhado com a segunda zona, fatalismo pelo sangue, porém o contexto de explicação é diferente. Na zona anterior, a contribuição diferencial refere-se à ideia de que apenas um genitor pode contribuir com a herança, pressuposto que está fortemente alicerçado em um valor sexista que perpassa a história do conceito, referindo-se a estereótipos de papéis na sociedade de acordo com o sexo, e assim, constatamos a dimensão axiológica presente nesse contexto. Na zona “Epigênese”, o caráter diferencial da contribuição parental para a herança está relacionado à herança citoplasmática, extranuclear. Reconhece-se a existência de características que, em geral, são herdadas apenas de nossas mães, ou das mães de todos os organismos sexuados. São características citoplasmáticas, herdadas do citoplasma do óvulo que deu origem ao zigoto, e dentre as organelas citoplasmáticas de eucariotos, as mitocôndrias se destacam por possuir um DNA próprio. Assim, a contribuição diferencial é

materna, pois no processo de fecundação, apenas o núcleo do espermatozoide penetra no óvulo, e com isso, todas as organelas citoplasmáticas, bem como o próprio citoplasma, são herdados da fêmea (YOTOKO, 2008).

A constituição das zonas vai além de um processo de categorização, embora tipicamente envolva este procedimento (MORTIMER, SCOTT; EL- HANI, 2009). A caracterização das zonas propostas foi estruturada a partir da combinação dos compromissos ontológicos, epistemológicos e axiológicos que fundamentam modos de pensar e formas de falar sobre a herança biológica. Sepulveda (2010) indica que os compromissos não são formulados “diretamente por declarações ou proposições escritas ou faladas, mas sim a partir de hipóteses constantemente reformuladas à medida que promovemos um diálogo entre as diferentes fontes de dados” (p. 181).

Embora as zonas apresentadas acima tenham sido individualizadas através de um conjunto determinado de compromissos ontológicos, epistemológicos e axiológicos, no quadro 7, que se segue, é possível notar que há um compartilhamento de compromissos entre as quatro zonas.

A zona “naturalização pelo nascimento” compartilha compromissos axiológicos com a segunda zona, “fatalismo pelo sangue”. A ideia de que o comportamento da mãe pode afetar diretamente o feto, causando danos está presente nas duas zonas, mas na primeira zona com a distinção da ausência de explicação, enquanto que na zona 2, algumas explicações são encontradas e relacionadas a fatores de natureza ambiental para justificar os danos ou alterações aos fetos, sem no entanto prevalecer o argumento de paridade causal, em que o ambiente aparece com o fator causal da herança igualmente importante a fatores genéticos e epigenéticos.

A segunda zona, fatalismo pelo sangue, é a que mais compartilha compromissos com as demais. Além de compartilhar o compromisso axiológico, impressão materna, com a primeira zona, acima mencionada, compartilha outro compromisso axiológico, categoria conformismo, tanto com a primeira, quanto com a terceira zona, “preformacionismo genético”. Enquanto na segunda zona a ideia de conformismo está ligada à ideia de fatalismo, com a causalidade da herança atribuída a um determinismo por desígnio, que interpreta a herança como um acontecimento que se interpõe ao destino dos genitores e antepassados, transmitida pelo sangue, na zona

“preformacionismo” genético, o conformismo é relacionado à ideia de determinismo genético e parte do princípio de que as características são determinadas apenas pelos genes. Assim, ideia de conformismo é justamente sustentada pela ausência de interpretação do fenômeno da herança biológica relacionada ao compromisso de paridade para o fator causal, e também por não interpretar que a unidade de herança é o potencial para a característica, a qual surge por meio do desenvolvimento do organismo.

A segunda zona compartilha com a zona epigênese o compromisso de que ambos os genitores contribuem de maneira diferencial para o desenvolvimento de traços fenotípicos. A distinção entre essas zonas é que no primeiro caso, a categoria contribuição diferencial atribui a um dos genitores, geralmente ao pai, a maior parte dos traços herdados, sendo esta atribuição normalmente caracterizada por uma forte influência de valores, dimensão axiológica, relacionada, por exemplo, por um valor sexista. Já para a zona epigênese, a ideia de contribuição diferencial é a visão aceita cientificamente na atualidade e está relacionada à herança citoplasmática, recebida apenas de nossas mães.

A ideia de que o material hereditário não é constante de geração a geração, a herança tênue é um dos compromissos compartilhados entre as zonas fatalismo pelo sangue e epigênese. Na abordagem fatalista pelo sangue, essa ideia é relacionada à herança de caracteres adquiridos (HCA), a noção de que as modificações no corpo de um indivíduo provocadas por influências externas ao longo da sua vida podem ser herdadas pelos descendentes. Esta ideia tem sido utilizada para explicar a semelhança de descendentes com seus parentais desde a Grécia antiga. Para a zona epigênese, a categoria herança tênue, é relacionada à ideia de que variações epigenéticas podem surgir por estímulo externo, ambiental. A herança epigenética pressupõe a possibilidade de herança transgeracional estável de mudanças provocadas pelo estilo de vida do indivíduo (mesmo que sem alteração da sequência de DNA).

A seguir, um quadro síntese da caracterização das zonas propostas para o perfil de herança biológica.

Quadro 7. Caracterização geral das zonas de um perfil conceitual de herança biológica

ZONAS CARACTERIZAÇÃO

1. NATURALIZAÇÃO PELO NASCIMENTO

A herança biológica é interpretada como um fenômeno auto evidente. Um compromisso epistemológico que fundamenta esse modo de pensar é a ausência de explicação causal de natureza etiológica. O fenômeno da herança como um problema para o qual deve ser proposta uma solução sequer encontra-se construído. A herança em termos de propriedades corporais semelhantes aos pais biológicos é vista como uma implicação direta do nascimento. A herança é concebida como tudo aquilo que se herda e se transmite da geração parental para a prole.

2. FATALISMO PELO SANGUE

A origem das características de um organismo ao nascer e sua semelhança aos parentes é atribuída ao fatal e inevitável compartilhamento do sangue, veículo pelo qual são transmitidas as características, não só físicas e/ou comportamentais, como sua história de vida, seu destino.

3. PREFORMACIONISMO GENÉTICO

Atribui-se importância causal exclusiva às partículas que carregam o potencial para desenvolvimento de traços fenotípicos que aos demais fatores envolvidos na herança. Se essas partículas são genes, o determinismo genético é a ideia que estrutura este modo de pensar, partindo do princípio de que uma série de características, mesmo bastante complexas, como vários traços comportamentais, é determinada apenas por genes.

4. EPIGÊNESE Assume-se o princípio da paridade causal para o fenômeno

da herança biológica, segundo o qual genes, fatores ambientais e fatores epigenéticos são igualmente importantes no desenvolvimento de um traço. Neste contexto, o que é herdado é uma unidade dotada do potencial para uma característica, a qual surge por meio do desenvolvimento do organismo.

Abaixo quadro que mostra compromissos que são exclusivos e compromissos que são compartilhados pelas zonas propostas.

Quadro 8. Caracterização epistemológica das zonas de um modelo de perfil conceitual de herança biológica: compromissos distintivos e compromissos compartilhados entre as zonas

ZONAS Compromissos distintivos das

zonas

Compromissos compartilhados entre as zonas

Naturalização pelo nascimento

- O fenômeno da herança não é explicado e está relacionado ao nascimento;

- Herança como legado parental.

- Comportamento da mãe pode afetar diretamente e causar danos ao feto; - Atitude de se conformar, de acatar o que é herdado

Fatalismo pelo sangue

- Características são herdadas dos antecessores;

- Atribuição às deficiências genéticas à transgressão de regras de conduta pelos genitores que resulta em punições relacionadas à crença e à fé;

- Atribuição de sentimento de culpa dos genitores ao nascimento de crianças deficientes.

- Causalidade da herança é atribuída a um acontecimento que se interpõe ao destino dos genitores ou antepassados; - A característica é a unidade de herança, é o que se herda; - Os fluidos corporais são os mediadores de transmissão da herança;

- O mecanismo da herança é explicado pela mistura de materiais hereditários materno e paterno.

- Comportamento da mãe pode afetar diretamente e causar danos ao feto; - Atitude dos pais de se conformar, de se acatar o que é herdado;

- Ambos os genitores contribui de maneira diferencial para o

desenvolvimento de traços fenotípicos; - O material hereditário não é constante de geração a geração (herança tênue).

Preformacionismo genético

- Contribuição parental equivalente de ambos os genitores ao desenvolvimento dos traços fenotípicos;

- Determinismo por partícula é o fator causal;

- As partículas auto-reprodutoras transmitem toda a informação necessária para especificar as caraterísticas de um organismo. - Os gametas transmitem os atributos dos indivíduos através das gerações.

- O material hereditário é constante de geração a geração (herança dura);

- O mecanismo de herança é explicado pela mediação e/ou controle de partículas.

- Herança como processo de transmissão das características através das gerações - Atitude dos genitores de se conformar, e de acatar o que é herdado.

Epigênese - Diferentes fatores causais são

igualmente importantes na herança.

- A unidade de herança é o

- Herança como processo de transmissão das características através das gerações; - Ambos os genitores contribui de

potencial para a característica; - Uma variedade de recursos passados de uma geração para a outra estão envolvidos como mediadores de transmissão da herança

- Diferentes mecanismos, processos e fatores constitui o sistema de herança.

desenvolvimento de traços fenotípicos; - O material hereditário não é constante de geração a geração (herança tênue).

Segundo Sepulveda (2010), o compartilhamento de compromissos entre as zonas é coerente com o caráter dinâmico dos modelos de perfis conceituais, que “além de modelar a heterogeneidade do pensamento verbal, pretende modelar os processos de gêneses destes modos de pensar e falar sobre um conceito em determinados contextos sociais de produção de conhecimento”.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao longo dessa pesquisa, que culminou numa proposta de perfil conceitual de herança biológica, acreditamos ter delineado um modelo coerente para que seja usado em diferentes demandas do processo de ensino e aprendizagem de genética no Ensino Médio.

Propusemos um perfil conceitual de herança levando em consideração o caráter metodológico usado na construção de perfis, para que as investigações realizadas sejam de fato consideradas parte do programa de pesquisa. No nosso caso, isso se deu a partir do exame dialógico de informações advindas de estudos epistemológicos e históricos, da literatura em concepções alternativas, de dados empíricos obtidos em entrevistas, grupo focal e da análise de alguns episódios de interações discursivas em salas de aula da Educação Básica. Com essa metodologia nos alinhamos aos princípios metodológicos que orientam pesquisas para identificar possíveis zonas na construção de um modelo conceitual de perfil conceitual específico, considerando a proposição de Vygotsky, de que só é possível ter uma visão completa da gênese de um conceito quando esse é estudado nos diferentes domínios genéticos (Wertsch, 1985).

A partir do exame do desenvolvimento do conceito de herança biológica nos três domínios genéticos, sociocultural, ontogenético e microgenético, foi possível constatar o quanto este é um conceito polissêmico. Concluímos que certamente este é um conceito que apresenta variação conceitual não só histórica, mas também nos demais domínios.

Diante de grande polissemia apresentada pelo conceito de herança, ter optado por construir a ferramenta metodológica proposta por Sepulveda (2010; 2013), se constituiu um grande passo na organização dessa polissemia. Considero que a construção da matriz denominada “epistemológica” por Sepulveda e aqui nesta pesquisa, denominada de “semântica”, foi essencial na fase de organização dos dados e consequentemente para constituição de zonas para o modelo de herança.

Na matriz semântica construída, além mapear os temas, categorias e compromissos epistemológicos e ontológicos, baseados na proposta de Sepulveda, foi possível, pela constatação de uma peculiaridade do conceito,

também mapear aspectos axiológicos. Nesse contexto, a axiologia passou a fazer parte da matriz como tema semântico, sendo possível a derivação de compromissos axiológicos. Além disso, é proposto também na construção desse modelo (figura 1), que a axiologia é importante tanto na individualização das zonas, com a presença dos compromissos axiológicos combinados aos compromissos epistemológicos e ontológicos, como na modulação dessas zonas em contextos discursivos específicos.

Consideramos que, com a constatação da dimensão axiológica, presente em todos os dados coletados e analisados para o conceito de herança, nos diferentes domínios e a decisão de incorporá-la na matriz tanto com a derivação de compromissos, quanto na modulação das zonas, um importante passo de contribuição ao programa de pesquisa em perfis conceituais, no que se refere à metodologia de construção dos modelos foi dado. Podemos considerar que a dimensão axiológica, que os valores e crenças presentes na significação do conceito, podem modular o nível de mobilização dos sujeitos na atividade de ensino/aprendizagem, isto é, determinam a motivação dos sujeitos, estabelecendo, assim uma forte influência na sala de aula.

Ainda em termos metodológicos, consideramos que o investimento na diversidade de diferentes instrumentos de coleta de dados para a construção do modelo proposto também se constitui numa contribuição à metodologia de construção de perfis. Foram entrevistas, questionários, filmagens de sala de aula em diferentes escolas, com diferentes professores, que geraram um grande volume de dados, e uma novidade na construção desses modelos, a incorporação do grupo focal.

A decisão de optarmos pelo grupo focal para coletar dados empíricos no Ensino Médio se deu já no final da coleta dos demais dados. Essa decisão também está relacionada à percepção do conceito ter a sua significação fortemente influenciada pela dimensão axiológica, a qual pode ser acessada, em grupos focais, uma vez que, como apontam Ressel e colaboradores (2008), o desenvolvimento dessa estratégia oportuniza a interpretação de crenças, valores, confrontos e pontos de vista. Ao final dessa coleta de dados e no momento da transcrição dos dados do grupo focal, foi possível perceber nas

narrativas dos estudantes que crenças e valores se revelaram facilmente naquele momento.

Em síntese, em termos da metodologia de constituição de zonas de um perfil, essa pesquisa apresenta as seguintes contribuições: (1) a proposição da incorporação da dimensão axiológica na construção do modelo, presente tanto na matriz semântica, tendo a axiologia como tema e derivando compromissos, quanto como proposta na modulação das zonas; (2) ampliação das fontes de dados empíricos coletados no estudo, incorporando a modalidade de grupos focais, com a expectativa de se constituísse uma estratégia importante na significação considerando a dimensão axiológica.

De posse dos oito temas propostos na matriz semântica, foi possível individualizar quatro zonas de um perfil conceitual de herança: (1) naturalização pelo nascimento; (2) fatalismo pelo sangue; (3) preformacionismo genético e (4) epigênese. Este modelo parece adequado para modelar a heterogeneidade de modos de pensar e formas de falar este conceito no contexto da produção de conhecimento biológico no Ensino Médio de genética.

Sobre o meu processo de formação durante o doutoramento e em especial no contato com a teoria dos perfis conceituais, relatarei um fato que considero que foi extremamente importante na minha trajetória profissional de professora da Educação Básica. Ao desenvolver essa pesquisa tive a oportunidade de investigar salas de aula de biologia do Ensino Médio, etapa de ensino na qual leciono há 17 anos. Naquele momento de filmagens de aulas de genética de uma colega, e já inserida nos estudos da teoria de perfil conceitual, inicio um processo de reflexão sobre a minha prática, sobre as minhas aulas de genética, já ministradas, sobre o conceito de herança presente na minha prática, foi possível perceber que quando identificamos padrões de interação ou certas dinâmicas discursivas numa sala de aula particular, é possível identificar mensagens e contextos que são válidos para outros professores envolvidos, e não apenas para aquele que teve sua aula pesquisada.

Naquele momento, e também durante todo o processo de transcrição e análise dos dados, uma pergunta sempre me perseguia - Como serão as minhas aulas de genética a partir de agora? - Essa pergunta causou inicialmente um desconforto grande em mim, e fez com que eu solicitasse da

coordenação da escola em que trabalho, quando retornei do meu afastamento, outra série para lecionar, que não fosse a terceira série, etapa que é trabalhado o conteúdo de genética. Esta decisão foi inicialmente conflituosa para mim, mas ao mesmo tempo contribuiu para que eu decidisse apenas voltar a lecionar naquela série ao final do processo de doutoramento e ao mesmo tempo encontrasse parceria para fazer um planejamento à luz dessa teoria e tendo como referencial este modelo de perfil aqui proposto.

Com essa decisão, foi feito o convite a alguns profissionais, colegas da educação básica e professores do ensino superior, para planejarmos uma proposta didática de ensino para trabalhar o conteúdo de genética na educação