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Epistemologia da cibercultura

CAPÍTULO V – EPISTEMOLOGIA DA CIBERCULTURA

3. Epistemologia da cibercultura

Existe, ainda, outra possibilidade para articular esses conhecimentos e propor uma epistemologia da cibercultura e que envolve a opção de considerar que a epistemologia da cibercultura seria uma epistemologia regional, que articula elementos da Comunicação, mas de forma específica, integrando os três objetos anteriormente citados – que passam também a ser os objetos da cibercultura: interação comunicacional, meios de comunicação e cultura de massa.

Sendo esses os objetos de estudo da cibercultura, o passo seguinte deveria identificar o objeto de estudo da epistemologia da cibercultura. Este, por sua vez, só pode existir como produto da reflexão sobre os primeiros. Uma das possibilidades para empreender tal reflexão seria a partir do conceito de “gesto epistemológico”. De acordo com Wilton Barroso Filho, é o gesto epistemológico que pergunta o que é possível saber sobre do objeto, decompondo e

procurando regularidades, procedimentos formais, em suma, um fundamento ou princípio geral (2003, p. 4). Na obra do autor citado, essas questões emergem do texto literário; para nosso estudo, a investigação deve se debruçar sobre cada um dos objetos de estudo da cibercultura. Ou seja, na análise das interações comunicacionais, dos meios de comunicação e da cultura de massa, deveriam ser investigadas as regularidades, processos formais similares e princípios gerais acerca dos quais pudessem ser feitas algumas afirmações sobre a cibercultura numa perspectiva mais cientifica.

Seria possível “testar” essa proposição por meio da análise das obras dos autores da cibercultura: para cada objeto de estudo privilegiado da Comunicação, perguntaríamos o que é possível saber sobre este objeto, por exemplo, a interação comunicacional e, por outro lado, questionaríamos aquilo que já se sabe, dentro de nossa proposta de reorganização dos conhecimentos, buscando conferir um olhar crítico ao conteúdo aí produzido. Posteriormente seria necessário empreender uma reflexão em busca de generalizações ou, pelo menos, algumas regularidades observáveis. Entendemos que essa ação poderia beneficiar a própria produção das pesquisas dentro da área, uma vez que serviria para a organização dos debates e redução da dispersão, permitindo elevar o grau de cientificidade na forma de estudar a comunicação.

Desse procedimento resultaria uma epistemologia da cibercultura que pode, de fato, contribuir com o debate da comunicação, ao analisar o conjunto de conhecimentos produzidos em torno de seus objetos. De acordo com essa perspectiva, deveríamos investigar as obras dos autores que se dedicam ao estudo da cibercultura e procurar padrões de abordagens, de análise das situações estudadas.

Essa proposição encontra algumas dificuldades que devemos anunciar logo de início. Uma delas é que os autores que desenvolvem seus trabalhos sobre internet, cultura digital etc., nem sempre se colocam dentro de uma perspectiva declarada da cibercultura. Até aqui, nenhum grande problema, uma vez que poderíamos estabelecer critérios para classificar suas obras, de forma vinculada aos objetos, ou seja, se o autor escreve sobre interação comunicacional (CMC), internet como meio de comunicação e cultura de massa, teríamos como estudar seu trabalho na perspectiva da cibercultura.

A situação inversa talvez seja mais problemática: um autor declaradamente alinhado com o campo da cibercultura que não escreva sobre um dos objetos de estudo previamente elencados. Seria necessário um estudo abrangente para verificarmos quais seriam esses temas “marginais” abordados pelos estudiosos das dinâmicas do ciberespaço e entender se estas não poderiam mesmo ser enquadradas nos temas anteriores e, ainda, se seriam suficientes para expandir os objetos da cibercultura.

Como uma última reflexão sobre nossa proposição, é provável que o melhor caminho seja, ainda, uma interação entre as duas proposições, integrando a visão dos objetos de estudo com a complexidade, ainda que para alguns essa interação possa parecer problemática, uma vez que correntes mais contemporâneas de reflexão sobre o conhecimento tem defendido a necessidade de desprendimento de estruturas sobreviventes da modernidade, como a delimitação de campos de estudo, objetos de pesquisa etc.

Acreditamos que mapear a produção acadêmica e literária, os pontos de vista e as abordagens sobre a cibercultura nos apresenta um retrato do que o campo de estudos da cibercultura “é”. Refletir sobre a constituição de uma área de estudos sobre as tecnologias digitais de comunicação e a possibilidade de elencar objetos preferenciais está no plano do que a cibercultura “deveria ser”. Para que possamos evoluir em nossos estudos seria preciso unir, colocar em interação dinâmica, essas duas perspectivas. Só assim poderemos transitar por objetos, teorias, fenômenos e, a partir disso, propor hipóteses e testá-las, enriquecendo o referencial teórico e verdadeiramente constituindo um estudo comunicacional de nosso tempo em bases mais sólidas e epistemologicamente coerentes.

Após todas essas questões, vislumbramos que a forma mais adequada de entender a cibercultura não seja estritamente como uma construção abstrata ligada às tecnologias da comunicação e nem mesmo como uma cultura alternativa formada por usuários da internet, mas sim uma área de estudos com objetos próprios e que permite a elaboração de pesquisas em Comunicação. Nesse sentido, seria preciso uma avaliação mais adequada do ponto de vista semântico, ou seja, um campo de estudos pode ser denominado por uma palavra com o radical “cultura”? Se esta construção não for a mais adequada, quais seriam as alternativas? Seria o caso de retornarmos com a proposição da cibernética como o campo de estudos capaz de englobar

todas essas perspectivas? Essas são questões que escapam à nossa proposta neste trabalho, mas são questionamentos que certamente surgirão para aqueles que fizerem uma leitura mais dedicada de nossas proposições.

Além disso, o fato de considerarmos a cibercultura como um campo de estudos é reconhecer algo que já vem sendo feito na prática; muitos autores, estudantes e pesquisadores já vêm desenvolvendo pesquisas que ligam comunicação e cibercultura, aparentemente tomando esta última como um “subcampo” da Comunicação. Com isso, queremos dizer que as definições de cibercultura (termo) que apresentamos no capítulo 3 continuam válidas, mas um conceito é insuficiente para dar conta de tudo que está hoje vinculado à cibercultura, todas as dinâmicas, perspectivas, fenômenos, pontos de vista e, por que não, expectativas. Precisamos de algo mais do que uma definição etimológica para dar conta do que significa toda a massa crítica gerada em torno da ideia de cibercultura. E nossa proposta é configurar um campo de estudos vinculado aos objetos da comunicação.

Os resultados de tal opção ainda estão por ser completamente mapeados. No entanto, em termos de perspectivas para os estudos dos temas relacionados à comunicação mediada por computadores, entendemos que nossas discussões e ideias aqui postas servem como um bom ponto de partida, qualquer que seja o tema ligado à cibercultura e seus objetos, a partir de um referencial teórico em expansão. Acreditamos, ainda, que a forma aqui proposta, favorece-nos a perceber o que há de comunicacional nos estudos que têm sido desenvolvidos e essa clareza na forma de enxergar e interpretar os fenômenos, os objetos e as teorias da comunicação é fundamental para uma discussão epistemológica.

Note-se que neste trabalho procuramos, tanto quanto possível, mantermo-nos afastados de algumas polêmicas que envolvem os estudos da cibercultura. Entre elas, as críticas que o termo tem recebido quanto ao declínio de sua utilização e substituição por outras acepções como cultura digital ou estudos de internet. Não entraremos no mérito aqui dessas polêmicas e nem procuraremos dar respostas a elas, mas já deve ter ficado claro que, sabendo de tais questões e, ainda assim, tendo optado por sugerir uma epistemologia para a cibercultura, significa que entendemos que o vigor de produção de conhecimento em torno da comunicação supera essas dúvidas.

4. Considerações Finais

Entendemos que o mais importante a ser destacado aqui é se conseguimos fechar o ciclo, ou seja, avaliar se foi possível levar a cabo a proposta inicial deste trabalho que era de propor elementos para uma epistemologia da cibercultura. Do lugar de onde vemos, entendemos que sim, ainda que tenhamos plena consciência de que se trata de uma proposição bastante inicial. Contudo, percebemos coerência na proposição e, especialmente, um vigor característico de tudo aquilo que está começando e, neste sentido, carente de formulação em todos os níveis. Apesar de a internet ter mais de 20 anos de história, observamos que ela é, ainda, rica em produzir novas situações, novas possibilidades de interações etc.

É certo que há, ainda, muitas pontes a serem construídas, ou seja, muitos temas precisam ser objeto de um estudo mais dedicado, até mesmo os mais fundamentais como a ligação entre comunicação e cibercultura ou, ainda, a necessidade de insistir numa conceituação mais completa e de certa forma consensual para o termo cibercultura. E, também neste sentido, a perspectiva de estudo a partir dos objetos da comunicação e da cibercultura podem contribuir. Os elementos com os quais estamos contribuindo para o debate e a reflexão sobre os estudos em cibercultura visam exatamente permitir que o conhecimento na área seja desenvolvido já considerando uma instância reflexiva e epistemológica que permita uma autocrítica do conhecimento e, principalmente, de um ponto de vista que privilegia a comunicação, visto que trabalha e articula a partir de seus objetos. E, nesta linha, caberá ainda muitos estudos para melhor entender a dimensão e as propostas daquilo que se tem chamado de epistemologia contemporânea.

Alguns trabalhos recentes, inclusive de autores que escrevem sobre a cibercultura, têm atestado a “desintegração do objeto”, ou seu fim, como consequência da “morte do sujeito” e as necessidades contemporâneas de se desprender dessas estruturas impostas pela modernidade e que agora estariam dificultando a progressão dos conhecimentos. Se pudermos usar de certa licença poética, entendemos que seria o caso de ir ao necrotério e ver se o defunto ainda se encontra na geladeira, pois a questão nos parece um tanto quanto exagerada. Essas proposições sempre remetem de volta ao diálogo Popper-Adorno e às condições de existência de um debate epistemológico. Mas, antes de chegarmos ao extremo de contra-argumentar esse tipo de assertiva com a pergunta “Seria todo conhecimento produzido pela ciência até hoje uma fantasia?” é

importante também ter o interesse de dar atenção às assertivas mais fundamentadas que vão nessa linha e entender que elas podem ser sintoma de alguma discussão mais séria sobre os fundamentos do conhecimento que, agora que entramos neste mundo, devemos avaliar com a cautela necessária.

A seguir, faremos nossas conclusões sobre o trabalho, de forma que apresentaremos nossa visão geral sobre todo o seu percurso, de tentar distinguir elementos para uma epistemologia da cibercultura. Também daremos nossa visão de quais são as questões mais relevantes que estarão na pauta dos estudos ciberculturais nos próximos anos, não por um exercício de futurismo, mas por refletirem situações e dinâmicas sociais em curso e que precisam ser mais bem entendidas.

CONCLUSÃO

O principal motivo para a proposição e desenvolvimento desta pesquisa foi principiar um entendimento próprio sobre a cibercultura e que, consequentemente, pode servir como contribuição para os estudos atuais sobre este tema. O que desejávamos era encontrar a bibliografia mais sólida que nos permitisse entender o movimento que relaciona o computador e a internet com os diversos fenômenos contemporâneos de interação comunicacional: o bate- papo, a organização de movimentos sociais, a busca por informações, o ensino à distância, os plebiscitos online, a ligação de pessoas distantes, entre tantas outras.

Para chegar a esse objetivo, havia alguns caminhos possíveis. No princípio, optamos por selecionar uma das ferramentas mais populares utilizadas para interação na grande rede – um site de mídia social – e observar o comportamento dos usuários a partir de perspectivas como: suas motivações, interesses, popularidade, influência, formas de organização, discussões, profundidade dos temas etc. No decorrer desse percurso, no entanto, começamos a identificar uma série de questões relacionadas ao entendimento dessas dinâmicas, questões de abrangência tão vasta que demandavam um entendimento mais amplo de assuntos como: os estudos da técnica, a cibercultura, as teorias da comunicação (gênese histórica etc.), além de uma compreensão da epistemologia, tanto a geral como as regionais. Ou seja, percebemos oportunidades para estudo de aspectos mais fundamentais das tecnologias da comunicação e que permitiriam, a nosso ver, uma melhor capacitação para os debates aí contemplados.

Foi então que aprofundamos o trabalho de levantamento da bibliografia das obras e autores que estudam a cibercultura e, ao mesmo tempo, iniciamos estudos relacionados à discussão do objeto, estatuto, teorias e campo da comunicação, momento em que começamos a indagar a possibilidade de que esses estudos sobre a cibercultura pudessem contribuir para a discussão epistemológica da comunicação: havíamos, então, articulado os conceitos e problemáticas que compõem o “núcleo duro” de nossa pesquisa. Nossa forma de contribuir com os estudos de comunicação foi, portanto, propor uma discussão epistemológica sobre a cibercultura.

Não foram poucas as dificuldades do trabalho e boa parte delas poderiam ser resumidas numa alternância entre, por um lado, o excesso de pontos de vista e a vastidão da bibliografia em alguns momentos – como no estudo das reflexões sobre epistemologia; e, por outro lado, na escassez de materiais previamente desenvolvidos, quando tratávamos das relações entre a cibercultura e os objetos de estudo da comunicação, apenas para citar um exemplo. Por esse motivo, o trabalho além de percorrer um caminho expositivo, evidenciando algumas aquisições teóricas para a compreensão dos temas centrais (objetos da comunicação, conceitos e pontos de vista sobre a epistemologia e o histórico da cibercultura), também possui um caráter propositivo, quando buscamos, no último capítulo, prestar nossa contribuição ao ilustrar caminhos possíveis para se pensar, ao mesmo tempo, epistemologia e cibercultura. E uma das principais afirmativas que este trabalho de pesquisa nos permite fazer é que há, sim, muito a dizer e pensar a partir da união dessas problemáticas – cibercultura e epistemologia.

Essa constatação, por um lado, ilustra uma riqueza temática e novo ânimo possível para um estudo epistemológico sobre a comunicação contemporânea. Evidentemente, não o único esforço, pois muito tem sido pensado – inclusive no Brasil – sobre conhecimento, comunicação mediada e interações pela internet. As motivações para essas pesquisas são várias, desde o aspecto comercial – hoje já existem ferramentas de venda de produtos por meio de mídias sociais – até motivações acadêmicas que buscam exatamente aquilo que nos motivou a principiar o trabalho, ou seja, a tentativa de compreensão das dinâmicas comunicacionais atuais e todas as variáveis que aí têm colocado sua influência.

Por outro lado, nossa constatação anterior – riqueza na articulação epistemologia/ cibercultura – também aponta para um problema considerável: o caráter incipiente tanto de nossas assertivas, como das produções que chegam a considerar tal articulação. Talvez pela característica de dispersão natural ao campo da comunicação, a centralidade da discussão epistemológica em relação à atualidade da dinâmica comunicacional ainda não tenha despertado o interesse de tantos pesquisadores. É certo que há, ainda, muitas pontes a serem construídas, ou seja, muitos temas precisam ser objeto de um estudo mais dedicado, até mesmo os mais fundamentais como a ligação entre comunicação e cibercultura ou, ainda, a necessidade de insistir numa conceituação mais completa e de certa forma consensual para o termo cibercultura.

Ainda assim, temos observado trabalhos solidamente construídos e que, pelo questionamento do estatuto disciplinar da comunicação – incluindo a discussão de um objeto de estudo próprio, uma visão de mundo particular – têm conseguido evoluir em importantes reflexões e, vislumbramos, há um futuro de pesquisa em tecnologias da comunicação que se dedicará à reflexão epistemológica. E, também neste sentido, a perspectiva de estudo a partir dos objetos da comunicação e da cibercultura pode ser útil. Isso porque os elementos com os quais acreditamos estar contribuindo para o debate e a reflexão sobre os estudos em cibercultura visam exatamente permitir que o conhecimento na área seja desenvolvido já considerando uma instância reflexiva e epistemológica que permita uma autocrítica do conhecimento e, principalmente, de um ponto de vista que privilegia a comunicação, visto que trabalha e se articula a partir de seus objetos. Assim, temos com esta pesquisa, uma obra verdadeiramente aberta, seja para reflexões futuras próprias, seja para o complemento, crítica ou oposição, por outras pesquisas.

A própria escolha que fizemos pela definição de epistemologia, ilustra essa perspectiva de trabalho e a forma como vemos o assunto, especialmente do ponto de vista de uma ciência da Comunicação: ou seja, a epistemologia seria a disciplina que se preocupa com o estudo do desenvolvimento do conhecimento científico e toma por objeto especialmente as ciências em via de se fazerem, em seu processo de formação e de estruturação progressiva. Além disso, entre as demais perspectivas elencadas para o estudo da epistemologia, destacamos a ideia de epistemologia complexa (e os princípios da complexidade de forma geral) como bastante adequada e rica para contribuir com a discussão epistemológica para a comunicação. Trata-se de um conceito que, apesar de incorporar parte do entendimento anterior sobre a epistemologia procura, sob diversos aspectos, integrar novos elementos à dinâmica de construção do conhecimento, de certa forma colocando o campo científico e acadêmico em interação mais direta com fatores externos e com a sociedade de maneira geral.

Se, como visto no decorrer do trabalho, fizemos a opção de considerar alguns objetos de estudo específicos para a comunicação, é porque entendemos que é necessário, em algum momento, certo consenso para que os estudos possam evoluir na direção da disciplinarização do campo. Essa é uma perspectiva, aliás, discutida por muitos autores, que remonta à noção de campo social. Ou seja, é impossível alcançar níveis mais elevados de cientificidade em qualquer

área, sem uma organização interna adequada (institucional e teórico-metodológica), bem como sem um mínimo de consenso em torno de alguns conceitos-chave ou axiomas fundamentais. Aqui, então, fizemos uma das relações mais importantes para nossa pesquisa, ao integrar a visão de alguns autores e adotar como objetos de estudo preferenciais da Comunicação, as seguintes temáticas: meios de comunicação, interação mediada e cultura de massa. E, ainda, observarmos que o debate da cibercultura está relacionado tanto às questões que envolvem os estudos dos meios de comunicação, visto que o fator “técnica” faz parte dos debates dos autores dedicados à cibercultura e ao ciberespaço; como também aos estudos que tratam dos aspectos da “cultura de massa” e das diversas formas de “interação comunicacional mediada”. Dessa forma, consequentemente, consideramos a cibercultura uma perspectiva rica para o debate sobre os objetos da comunicação na sociedade contemporânea e o estudo do conhecimento gerado em torno dessa dinâmica, a partir de uma perspectiva e de uma metodologia científicas.

Aliás, se historicamente a cibercultura teve inspiração em conceitos lançados pela cibernética de Wiener e pela microinformática da década de 1970, é preciso perceber que hoje os elementos que influenciam no desenvolvimento das redes telemáticas e das formas como as pessoas interagem no ciberespaço atingem essa complexidade global, assimilando num amálgama virtual elementos como tecnologia, estética, capitalismo, política, entre outros. A mudança do patrocínio do desenvolvimento tecnológico – dos experimentos militares para a iniciativa empresarial, ainda nos Estados Unidos das décadas de 1950 e 1960 – resultou numa evidente busca por pesquisas cujos resultados pudessem ser revertidos em vantagens competitivas e lucro.

Tudo isso para explicar que chegamos ao final deste trabalho caracterizando a cibercultura em dois caminhos distintos e inter-relacionados: como campo de estudos que trata dos objetos da comunicação sob uma perspectiva metodologicamente orientada para refletir a nossa atualidade; e como representação daquilo que em nossa sociedade se relaciona com interação mediada, computadores e internet. Com isso, não estamos delimitando a cibercultura como um momento histórico (pois este invariavelmente tenderia a acabar); nem como espaço em que ocorrem as trocas, pois a este ambiente atribuiríamos a epígrafe de ciberespaço. Buscamos, então, caracterizar a cibercultura a partir de um recorte vivo e dinâmico da sociedade, em que se destacam variáveis como tecnologia, dinheiro e globalização, todas essas apresentando

interdependências fortíssimas com os rumos e apropriações em relação às tecnologias da comunicação. A nosso ver, na interação dessas variáveis temos o panorama definidor do aparato