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Perspectiva cibercultural

CAPÍTULO III CIBERCULTURA: HISTÓRICO E CONCEITOS

7. Perspectiva cibercultural

Considerando, ainda, os objetivos de uma pesquisa desta natureza, acreditamos ser importante avançar um pouco mais nas indagações e identificar, adicionalmente às contribuições já citadas, o que tais contribuições abrem de perspectivas e abordagens para o estudo da comunicação em nosso tempo que não seja objeto de estudo de outras áreas ou tradições de pesquisa. Ou seja, há contribuições e reflexões exclusivas daqueles que pesquisam as TICs (tecnologias da informação e comunicação) a partir de uma perspectiva cibercultura? Temos algumas breves contribuições sobre o assunto, advindas de nossa interpretação do referencial teórico e da análise temática.

De forma geral, verificamos que o estudo da cibercultura teve uma fase de grande expansão, entre os fins da década de 1990 e início dos anos 2000, em diversos países como Estados Unidos, França e também Brasil, quando autores dedicados à pesquisa acadêmica das novas tecnologias conseguiram reunir uma série de estudos, princípios teóricos e constatações advindas das CMCs. Esses estudos iniciais versavam especialmente sobre a história do desenvolvimento do computador e da internet, a formação de subculturas e grupos específicos especialmente influenciados por movimentos de contestação do monopólio da informação e que viram na computação uma nova forma de visibilidade (neoludistas, cyberpunks, hackers etc.). Outras obras versavam sobre a formação das comunidades virtuais e o entendimento de como as teorias de redes sociais existentes até então poderiam auxiliar na compreensão das relações desterritorializadas características do ciberespaço. Também havia espaço para as renovadas discussões sobre as relações entre o homem e a técnica que reavivaram a polêmica entre defensores e opositores da tecnologia; tínhamos, ainda, estudos sobre interação mediada, discursos e linguagem; simulação, identidade, capital social; corpo e extensão, cyborgs, inteligência artificial etc. Entendemos, dessa forma, que uma das grandes vantagens, se poderíamos dizer isso, dos estudos de cibercultura é considerar esse conjunto de acontecimentos e contribuições teóricas como interligado, um referencial teórico de onde se parte para

argumentar sobre a dinâmica comunicacional contemporânea, pela relação do homem com os computadores ligados em redes e das pessoas entre si, por meio desse aparato. Esses elementos da tradição de pesquisa da cibercultura, portanto, funcionam como arcabouço teórico de sustentação para as diversas inquirições possíveis, ainda que não tenham atingido um grau de formalização e um status de Teorias da Comunicação.

Uma observação da produção de livros escritos nos últimos 10 anos e que se destaquem como referência para o estudo das tecnologias da comunicação dentro de uma perspectiva estritamente da cibercultura revelará uma quantidade reduzida de títulos. Tal questão não se constitui atestado de que nada de interessante tem sido desenvolvido, mas pode indicar que aquelas obras iniciais foram as de maior repercussão e carga teórica, constituindo-se em clássicos do estudo da cibercultura e que, atualmente, encontramo-nos em momento de renovação da base teórica de pesquisa das tecnologias digitais de comunicação, ao menos no que se refere àquele ponto de vista destacado. Isso, de forma alguma, significa que os estudos sobre computadores e internet como meios de comunicação tenham arrefecido; basta ver a elevada produção de artigos das universidades brasileiras ou americanas, por exemplo. Entretanto, os temas e linhas de pesquisa não têm variado muito dentro dessas perspectivas mencionadas.

Outra das questões que percebemos é que diversos autores que não se enquadram como estudiosos da cibercultura costumam se utilizar dessas propostas teóricas mencionadas anteriormente, uma vez que não há latifúndios ou terrenos cercados quando falamos em conhecimentos. Além disso, essa é uma boa indicação de que as contribuições aportadas pelo debate da cibercultura são pertinentes e ajudam no desvelamento das relações sociais contemporâneas. Assim, os pesquisadores que procuram investigar as tecnologias da comunicação e, entrando em contato com as ideias dos estudos ciberculturais, acabam encontrando um aglomerado de ideias e estudos, uma tradição que, contudo, não se formaliza em teorias amplamente aceitas, ainda que boa parte das discussões iniciais sobre o novo estágio de interação mediada por computadores e tecnologias da comunicação tenha partido de acadêmicos que o faziam numa perspectiva de exploração do ciberespaço e da cibercultura.

8. Considerações Finais

Neste capítulo, procuramos estabelecer os marcos históricos que nos permitem mapear o surgimento da cibercultura e a forma como seu tratamento foi sendo alterado pela interação do conceito com a sociedade. Uma vez que as ideias são lançadas, apropriadas pela coletividade, elas atingem níveis de significação diferenciados e que retratam a forma de entender determinado fenômeno de uma Era.

Também tivemos como objetivo apresentar a entrada do debate sobre a cibercultura no Brasil, fato que está intimamente relacionado com outra ponderação feita aqui: sobre a aproximação, quase automática, feita entre comunicação e cibercultura. Principiamos uma avaliação sobre o motivo dessa identificação e em que bases ela pode ser entendida.

Apesar de alguns autores afirmarem que a cibercultura teria apenas seu nome vinculado tenuemente à cibernética, um estudo atento da obra de Norbert Wiener vai revelar o início de inúmeras discussões sobre a influência da tecnologia e da comunicação na sociedade, temas que ainda hoje despertam forte interesse de estudiosos das mais variadas especialidades. Tanto na amplitude de reflexão que permite, como na própria contribuição para a evolução de diversas tecnologias, especialmente a informática, a contribuição de Wiener e seu grupo foi decisiva.

Ao falarmos da contribuição da cibernética, entretanto, precisamos sempre colocar a contribuição da microinformática no mesmo patamar, pois foi um movimento que atuou em duas frentes com intuito de disseminar para toda sociedade a possibilidade do uso dos computadores: tanto foi um movimento ideológico de quebrar barreiras e lutar contra o monopólio da informação, como também foi um movimento de produção técnica e criativa de engenheiros e “micreiros” para desenvolver as ferramentas que permitissem os computadores tornarem-se pessoais, com interface amigável e simples manuseio para o cidadão comum.

O estudo desempenhado aqui em relação à cibercultura e suas bases teóricas, seu percurso histórico, suas relações com a técnica presente em computadores e na internet, e os aspectos relacionados às interações mediadas e dinâmicas da sociedade contemporânea são todos elementos que ajudam a construir não somente o quadro de referência, mas também favorecem a

articulação dos objetos de estudo da comunicação, em nosso caminho para a proposição de uma forma de pensar a epistemologia a partir da cibercultura.

No próximo capítulo, vamos continuar as discussões sobre a cibercultura, buscando tanto o entendimento do momento atual e dos fatores que influem decisivamente no fluxo de informações na sociedade, exigindo uma atualização do conceito e das abordagens de uma perspectiva centrada na cibercultura, como também procurando melhor entender essas variáveis que definimos aqui como: tecnologia, globalização e capitalismo.