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Tendo em vista o estudo em questão e levando em conta a complexidade que envolve a finalidade de compreender a atuação e o alcance da ação do coordenador pedagógico em escolas públicas do Distrito Federal, adotou-se como fundamento teórico-metodológico a Epistemologia Qualitativa, defendida por González Rey (2005a, 2005b).

De acordo com essa perspectiva epistemológica, a investigação torna-se um processo vivo, dinâmico, em que a interatividade, a motivação e a intencionalidade são mobilizadoras de ações, partindo-se do pressuposto de que o imprevisível é um desafio permanente.

Nesse sentido, a Epistemologia Qualitativa se propõe a ser uma alternativa na produção do conhecimento, articulada aos momentos concretos da pesquisa. Uma alternativa que visa superar o instrumentalismo e a reificação do empírico e favorecer a reflexão sobre uma realidade de forma a possibilitar a construção do conhecimento no decorrer da investigação (GONZÁLEZ REY, 2005a).

A potencialização da capacidade reflexiva requer uma epistemologia que possibilite o exercício dialógico e teórico ao se fazer pesquisa.

Quando optamos por uma trajetória a percorrer na busca de respostas para nossos questionamentos, não fazemos uma escolha aleatória. Escolhemos de acordo com o que somos, com nossa história de vida, nossas experiências, com nossos objetivos, as circunstâncias pelas quais estamos envolvidos; enfim: não existe neutralidade. Assim, o percurso que escolhemos revela a concepção de homem, sociedade e de educação que elaboramos a partir das relações que fomos desenvolvendo ao longo da nossa constituição histórica.

Na perspectiva defendida por González Rey (2005a) o pesquisador está conectado com seu objeto de pesquisa e vai se tornando um produtor de ideias no processo de construção do conhecimento. Ele vai assumindo a autoria dos resultados, o que faz com que assuma os riscos de que pensar exige escolhas, exige hipotetizar, exige proximidade com o objeto de pesquisa, exige produção teórica.

Portanto, assumir a Epistemologia Qualitativa no desenvolvimento de uma pesquisa envolve assumir os riscos de uma postura reflexiva e de desenvolver uma “reflexão aberta e sem âncoras apriorísticas em relação às exigências e às necessidades de produzir conhecimento em uma perspectiva qualitativa” (GONZÁLEZ REY, 2005a, p. 5). Sendo assim, é importante destacar três princípios da Epistemologia Qualitativa, que serão adotados no decorrer desta investigação:

 Caráter construtivo-interpretativo do conhecimento: assume uma dimensão em que é o pesquisador que vai tecendo as elaborações, cruzando ideias, questionando os saberes que vão permeando a pesquisa, criando-se condição de produzir o conhecimento que vai sendo significado. Nesse sentido, a realidade se coloca para ser interpretada como um objeto de conhecimento a ser construído, sendo produzido pelo indivíduo. Assim,

O conhecimento é um processo de construção que encontra sua legitimidade na capacidade de produzir, permanentemente, novas construções no curso da confrontação do pensamento do pesquisador com a multiplicidade de eventos empíricos coexistentes no processo investigativo. (GONZÁLEZ REY, 2005a, p. 7).

Dessa forma, ao dar ao conhecimento o status de construção humana, o autor destaca a importância de que, nesse processo construtivo do conhecimento, os espaços de inteligibilidade sejam produzidos, o que vai propiciando oportunidades de mobilização de saberes, conflitos, experiências, em que teórico e empírico se imbricam, constituindo-se em conexões com o novo, o que vai sendo ressignificado, resultando num novo saber.

 A legitimação do singular como instância de produção do conhecimento: as informações vão surgindo através das ideias constituídas, através de casos singulares, que ganham legitimidade pelo que representam para o modelo teórico em construção, sendo responsável pela construção do conhecimento na pesquisa (GONZALEZ REY, 2005a).

Desenvolver a pesquisa empírica com um pequeno grupo de coordenadores pedagógicos não invalida cientificamente a produção de conhecimento que vai se tecendo. Na Epistemologia Qualitativa as informações ou ideias que vão sendo construídas por meio de um caso singular adquirem legitimidade pelo que representam para o modelo teórico em construção, o que respalda e fortalece o conhecimento produzido no processo de investigação.

 Compreensão da pesquisa como um processo de comunicação, um processo dialógico: esse princípio realça a importância do processo interativo entre pesquisador e pesquisado, em que a comunicação constitui- se em mecanismo privilegiado de implicar os indivíduos no problema pesquisado, definindo assim os eixos da construção do conhecimento. Nesse sentido,

A ênfase na comunicação como princípio epistemológico está centrada no fato de que uma grande parte dos problemas sociais e humanos se expressa, de modo geral, na comunicação das pessoas seja direta seja indiretamente. (GONZÁLEZ REY, 2005a, p. 13).

Daí vem a importância atribuída aos momentos de busca de informação no processo de desenvolvimento da pesquisa, o que enriquece e potencializa todo o processo de construção do conhecimento. Há que se valorizar o caráter dialógico da

pesquisa na qualificação da informação que vai sendo produzida (GONZÁLEZ REY, 2005a). Essa centralidade do diálogo no processo de pesquisa é condição fundante para dar à Epistemologia Qualitativa a vivacidade requerida e os encaminhamentos pertinentes ao seu desenvolvimento.

Dessa maneira, compreender a atuação do coordenador pedagógico e o alcance de sua atuação implica nos envolvermos ativa e interativamente no espaço de pesquisa, para proceder aos momentos de construção de informações, buscando as entrelinhas da expressão dos indivíduos e apresentando uma análise interpretativa sobre o investigado.

Na Epistemologia Qualitativa, a técnica e os instrumentos caminham lado a lado com a teoria, “o processo de construção teórica é um processo vivo no qual o pesquisador se converte em um núcleo gerador de pensamento que é parte inseparável da pesquisa” (GONZÁLEZ REY, 2005a, p. 34).

Para o desenvolvimento da nossa pesquisa, escolhemos acompanhar 6 coordenadoras pedagógicas, 3 professores e os gestores atuantes em 2 escolas da Rede Pública de Ensino do Distrito Federal. Organizamos nossas ações com instrumentos que nos permitissem conhecer o alcance da ação desses atores, de acordo com os objetivos propostos.