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Incentivar o uso dos equipamentos do teatro é uma forma de familiarizar o discente com a iluminação. Dar-lhes oportunidade de experimentar manusear a mesa de luz e mostrar o funcionamento na prática de um refletor e suas aplicações interferem no modo de pensar do discente sobre o que é preciso para compor seu trabalho cênico. Dessa forma, conseguimos chegar próximo ao entendimento dele sobre o que pensa sobre iluminação e trazer uma discussão da importância do mapa de luz para realização de um trabalho ou cênica dentro de um espaço teatral.

O contato com o fazer teatral é uma etapa importante no processo de aprendizado do estudante, não apenas do teatro, mas da dança também. Cada um faz parte do mesmo universo, atuando em linguagens diferentes e que às vezes se encontram em forma híbrida. Mesmo assim, está sob o mesmo processo, o da montagem cênica. No laboratório de prática teatral, todas as pessoas da comunidade acadêmica têm o mesmo tratamento em relação ao uso do aparelho. Essa medida foi tomada para garantir o acesso a todos os usuários, de forma que o equipamento fosse usado com a supervisão do técnico responsável, o coordenador do laboratório ou o professor da disciplina ministrada no espaço. Para que isso fosse implementado, se fez necessária a criação de um regimento aprovado em assembleia plenária

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departamental, esclarecendo as normas de uso do espaço, de forma que garantisse o uso a todos os usuários democraticamente.

O Laboratório de Teatro não é apenas um espaço de apresentação teatral. Nele, há diversas atividades ligadas a atividades acadêmica e administrativa. É um espaço multiuso. Sendo o único espaço do departamento com funcionalidades de teatro. Apesar dessa abertura para outras atividades, o foco do uso do espaço é para atividades acadêmicas voltadas a prática de ensino, onde os discentes possam experimentar os ensinamentos que receberam de seus professores e utilizar em seus trabalhos da maneira como sua criatividade direcionar.

Costumamos ver o Laboratório de Teatro como um espaço de troca de conhecimento. Nele se aprende fazendo e se faz aprendendo, ou como Paulo Freire (1997) diria “quem ensina aprende ao ensinar e quem aprende ensina ao aprender” de forma que há uma troca de aprendizado e ensinamento no diálogo daquele que faz e daquele que observa. O diálogo entre as pessoas, seja ela professor-aluno, aluno-professor ou aluno-aluno, só caminha para um resultado, o conhecimento.

A comunicação entre as pessoas é a melhor forma de transmissão de conhecimento e o diálogo é o meio mais curto e eficaz de se chegar a esse objetivo. O jeito mais usual de transmissão de ensino é o oral. Isso é usado por todos nós, desde que o ser humano articulou as primeiras palavras. Algumas pessoas sentem dificuldades em entender o que é transmitido por outras e às vezes se faz necessário demonstrar, de forma prática ou até desenhando. É dessa maneira que dialogamos no teatro. Por mais entendimento que uma pessoa tenha sobre seu trabalho e explique sua ideia ao técnico, esse precisa enxergar o pensamento do outro em um papel ou esquema de computador.

Perez (2007) exemplifica nosso pensamento ao dizer que:

O desenho de iluminação não tem apenas caráter de informação técnica. Pelo contrário, mapas são executados com a preocupação primordial de fazer com que as ideias poéticas das cenas sejam entendidas no seu universo psicológico. É possível então, através de indicações precisas, dar instruções mais elaboradas dessas condições de “clima” psicológico da iluminação. Não existem regras fixas para a construção de mapas de iluminação, portanto, fica sempre a cargo dos desenhistas adicionarem, ao desenho, essas informações. (PEREZ, 2007, p. 102).

Foi a partir desse contexto que decidimos partir para essa pesquisa, pois julgamos importante que o discente tenha conhecimento sobre desenho de mapa de luz, de forma que possa transmitir seu pensamento a alguém, no caso, o técnico, assim como, emitir opinião sobre seu ponto de vista, durante as explanações dos professores na aula. O desenho do mapa

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de iluminação facilita não só a execução do trabalho do técnico que irá montar a luz, mas dos outros envolvidos no trabalho, pois agiliza o andamento do processo.

O acompanhamento de um processo de montagem de iluminação no Laboratório de Teatro é sempre um momento de aprendizado em que nos damos conta de que é preciso parar um pouco para conversar sobre a proposta de criação da iluminação do mesmo. É preciso também organizar o tempo e dividir os equipamentos para todas as cenas, pois nem sempre é possível dispor de todos os refletores solicitados pelos discentes. Por exemplo, numa mostra de trabalhos cênicos chega a ter de cinco a oito apresentações de trabalhos. Sendo que isso tudo ocorre no período de um turno de aula. Por isso, é importante o discente ter ideia da luz do seu espetáculo e trazer um mapa, por mais simples que seja, pois nem todos sabem utilizar programas específicos. Aconselhamos sempre aos discentes desenharem, nem que seja manualmente, seus mapas e nos entregarem antes, para organizarmos o teatro, de modo que possamos contemplar a todos ou, pelo menos, grande parte do grupo.

Às vezes, esse desenho é feito de maneira improvisada, mas se faz necessário que contenha algum detalhamento do espaço, principalmente em relação a posição dos refletores, varas de luz e pontos de eletricidade; como expõe Araújo (2005), ao descrever uma atividade desenvolvida por ele, com alunos dos cursos de Teatro, apresentada a seguir:

Os mapas foram esboçados em folhas de papel ofício ou folhas de caderno comum, para, em seguida, serem comparadas a uma planta baixa contendo toda a distribuição da rede elétrica do nosso teatro. Foi surpreende notar o quanto os alunos conseguiram apreender uma síntese esquemática daquela rede e o quanto seus esboços se aproximaram do desenho técnico da planta elétrica do teatro. (ARAÚJO, 2005, p. 143).

Esse relato da experiência do autor com os alunos serve para ressaltar que ainda hoje essa prática é muito comum entre os discentes. Apesar do passar dos anos e as turmas não serem mais as mesmas, o processo em relação a construção do mapa de iluminação permanece da mesma forma. Temos algumas suposições sobre esse fato, mas não podemos afirmar com clareza. O diálogo com os discentes no Laboratório de Teatro parece se repetir a cada exercício de disciplina realizado por eles. Mas notamos avanços na postura de alguns, quando nos propomos a dialogar e mostrar que, para fazermos o melhor por eles, precisamos que eles nos deem o seu melhor também.

Durante a montagem de uma cena, propomos aos discentes que entrem na cabine de iluminação para observarem os equipamentos e como funcionam. Assim, podemos mostrar a eles o que funciona ou não na cena, pois conforme Araújo (2005).

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Durante a montagem das propostas de luz para as cenas, todos perceberam o quanto dependemos do bom funcionamento do equipamento, além do que, o manuseio do equipamento exige certos cuidados que se não forem devidamente estudados, não farão nenhum sentido e, portanto, não serão adotados. (ARAÚJO, 2005. p. 146).

Nessa troca de conversa, nos fazemos entender e entendemos os anseios dos discentes em relação a proposta do seu trabalho e, da melhor maneira, orientamos na construção do mapa de luz e auxiliamos na montagem e execução, inserindo o discente no contexto da operação da iluminação como forma de exercício do aprendizado, no qual, há uma troca de experiências entre os próprios protagonistas da ação cênica, onde quem atua são os próprios discentes, tanto no palco, quanto na operação da iluminação em um processo de colaboração que corrobora com o aprendizado da turma inteira. Apesar do professor responsável pela disciplina se encontrar no teatro, fazemos parte da aula, enquanto técnico, auxiliando no processo.

O primeiro contato com os equipamentos do teatro é um momento de curiosidade e descoberta. Esse é o momento em que o discente passa a entender como funciona o mecanismo teatral na prática. Todo procedimento de uso do teatro é acompanhado por um responsável, na maioria das vezes, o técnico do espaço, para orientar os discentes na manipulação de todos os equipamentos, principalmente na cabine de iluminação que precisa seguir algumas regras, sendo a de não entrar descalço, a principal delas. Esse procedimento é necessário para evitar choque elétrico.

O cuidado com a segurança é primordial no exercício dessa atividade, por isso, não tivemos nenhum caso de acidente, envolvendo discentes, durante as aulas ou manipulação dos equipamentos do TLJF pelo fato de sempre haver um responsável presente, durante as aulas, seja ele técnico ou professor, orientando, ou até mesmo, executando as atividades em que os discentes não se sentiam seguros para desenvolver.

É possível ver na imagem abaixo as alunas Ariane Mendes (na parte inferior da foto) e Samara Salgueiro (na parte superior da foto) do curso de Dança Licenciatura, usando a mesa de iluminação. Esse exercício é um procedimento que faz parte do aprendizado dos discentes, que tem a oportunidade de testar o que aprendeu nas aulas teóricas. A figura em questão mostra apenas duas das alunas utilizando a mesa de iluminação analógica enquanto os outros alunos estão na área de cena esperando para usar a cabine. Não é recomendado que se ficasse mais de quatro pessoas na cabine pela limitação do espaço. Então era feito rodízio de forma que todos tivessem a oportunidade de manusear o equipamento.

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Figura 12: Discentes manipulando a mesa de luz durante um exercício de operação de luz.

Fonte: Arquivo pessoal do autor.

A nosso ver, essa é uma boa maneira de familiarizar os discentes com o uso da iluminação em seus exercícios, de forma que os mesmos passam entender como funciona uma mesa de iluminação e os tipos de refletores. Assim, no processo de criação de seus trabalhos, eles pensarão em como usar a iluminação a seu favor, passando a ver o projeto de iluminação como elemento constituinte da cena.

Como já mencionado, os equipamentos do Laboratório de Teatro são todos analógicos, com exceção da mesa digital, que foi posta em uso depois da reforma em 2017. No mais, os refletores são de simples manuseio e manutenção, o que favorece o ensino na prática sobre seu funcionamento. Na disciplina de iluminação cênica, anteriormente ministrada pelo Professor Mestre Ronaldo Costa, e, atualmente, ministrada pela Professora Mestra Laura Figueiredo, os discentes aprendem sobre a história da iluminação cênica e seu uso no palco, além da atmosfera criada pelo uso das cores e outros temas relacionados à tecnologia cênica.

Em um segundo momento, os discentes têm contato direto com os equipamentos, conhecendo sua composição através de aula expositiva, na qual, eles veem como funciona o refletor e como interagem com a mesa de comando. Esse momento é quando os discentes conhecem as possibilidades que o uso dos equipamentos de iluminação pode lhes proporcionar, na hora que for apresentar seus trabalhos de atuação ou encenação. Algumas vezes, os exercícios são apresentados fora desse espaço, o que limita o discente a quase não usar esses recursos pela falta de equipamento adequado para locais externos, como refletores de menor potência e mesa de luz dimerizada.

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Os discentes que cursaram essa disciplina devem sair conhecendo o espaço teatral e seu funcionamento e estarem aptos a elaborar um mapa de luz baseado na arquitetura do espaço e nos equipamentos disponíveis no rider técnico. Sendo assim, os discentes aprendem fazendo e vice-versa.

O ensino de iluminação no Deart é pensado para que o discente conheça os equipamentos usados, tanto no Teatro Jesiel Fiegueiredo, quanto fora dele. Dessa maneira, o conhecimento adquirido durante a formação acadêmica possa a acompanhar o aluno, durante sua vida profissional, fazendo com que ele se torne um formador ou incentivador de novos profissionais através do trabalho prático, como ocorre nas montagens dos espetáculos.

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