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Uma tarefa de grande importância, durante a apresentação do espetáculo, é a operação de luz. Todo o trabalho de concepção do projeto de iluminação, realizado durante os ensaios, pode ter um resultado positivo ou negativo, dependendo de como a operação é realizada. Essa tarefa exige muita atenção e conhecimento do roteiro do espetáculo por parte do operador de luz. Sabemos que nem sempre é possível, em um grupo profissional ter uma pessoa que se dedique a essa função integralmente. Em grupos amadores é quase impossível que se tenha um operador de luz que se dedique somente a essa função.

Operar a luz é tão importante quanto criá-la. O diretor é a pessoa responsável por conduzir o andamento da peça. Ele define os papéis de cada ator e atriz e aprova os figurinos, a sonorização, maquiagem, cenário e iluminação. Ele junta tudo isso e transforma em um espetáculo para entregá-lo ao público. No entanto, o operador é quem conduz o andamento do espetáculo para que aconteça da mesma forma como foi criado e tantas vezes ensaiado. Se ele errar pode deixar um ator no escuro, ou até mesmo, a cena toda no escuro, fazendo com que a plateia perceba o erro, quebrando a continuidade e o encanto da quarta parede.

Em relação a isso, Eduardo Tudella (2013), fala que:

A luz lembra uma praga. Negligenciada, poderá se instalar e agir como uma maldição milenar. O iluminador tem a oportunidade, alguns diriam o dever, de tratar cuidadosamente de cada detalhe do seu trabalho e, mesmo num pequeno momento da cena, todos os artistas envolvidos reúnem-se em uma única pessoa, o performer, lidando inevitavelmente com a luz. Daí, cada pequeno instante exigirá grande atenção daquele artista que respeita integralmente a obra, que não aceita superficialidades sem função estética. Mesmo que se imponha um instrumento de corte, como a cortina ou o black- out, isso exige enorme atenção e precisão na elaboração da luz. (TUDELLA, 2013, p. 90).

Nas palavras do autor, conhecer o equipamento com o qual se trabalha é tarefa de cada profissional. No Laboratório de Teatro, a mesa analógica de 24 canais é de fácil manuseio. Isso permite tanto aos discentes quanto aos docentes manusear a mesa sem precisar conhecê-la perfeitamente com nossa orientação, o que a torna uma boa ferramenta de ensino para mostrar aos discentes os comandos básicos de uma operação de luz. Apesar de haver uma mesa digital no TLJF, o uso da mesa analógica serve como introdução à operação de luz.

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O fato de se ter duas mesas diferentes possibilita tanto ao professor quanto ao discente trabalhar o ensino/aprendizado da iluminação, de forma mais abrangente, pois o discente terá a sua disposição duas realidades, com as quais, poderá se deparar, quando estiver tanto em um grande Teatro ou em um pequeno.

Os alunos dos cursos de Teatro e Dança sairão da Universidade com o título de professores. Muitos desses irão ensinar teatro e dança em escolas que sequer têm uma sala adequada para as especificidades das aulas, quanto mais equipamentos. Por isso, é importante que esse discente aprenda que não vai encontrar uma escola perfeita, na rede pública, para dar aulas como idealizou durante sua formação. É importante ele aprender o básico sobre a operação de luz e seus equipamentos, o que lhe dará ideias, quando se deparar com uma situação em que precise usar luz nas aulas e não tiver equipamentos. Segundo Francisco Moreira Turbiane (2012), algumas soluções usadas por grupo é o uso de equipamentos não- teatrais na iluminação cênica, ou seja, utiliza-se algum fonte luminosa que não tem finalidade de uso na cena e a transforma para esse fim. “O iluminador, ao trabalhar com equipamentos luminosos não-teatrais, sejam lâmpadas desenvolvidas para o uso doméstico, industrial ou comercial, ou mesmo refletores criados a partir de restos de sucata, lida com algo novo, cujo resultado final não pode ser antecipado com total precisão.” (TURBIANE, 2012, p. 13)

Sabemos que as dificuldades encontradas nas escolas e universidades brasileiras acabam atrapalhando o processo de ensino e aprendizagem, pois, sem condições adequadas, os professores ficam limitados didaticamente na hora de exemplificar um conteúdo ou até tirar dúvidas dos alunos, de forma prática. Uma solução que pode ser usada pelos futuros professores de teatro é o uso de lanternas como fonte luminosa.

Em uma oficina básica de iluminação ministrada pelo Iluminador Ronaldo Costa em 2016, ele mostra como se pode ensinar iluminação cênica, a partir de uma fonte luminosa, como uma lanterna caseira ou de celular e um objeto a ser iluminado e uma folha de papel. São recursos que podemos encontrar em qualquer lugar, o que facilita a explicação por parte do professor na sala de aula. Outra forma de ensinar sobre a iluminação é através de recursos de audiovisual, nos quais, é possível analisar a luz de peças de teatro e filmes, instigando a observação dos discentes sobre os ângulos de incidência da luz e, até mesmo, o tipo de refletor que está sendo usado para iluminar a cena através da sombra e do recorte da luz no espaço e nos objetos da cena.

De forma bem didática, ele explica sobre incidência de luz sobre o objeto, ângulos, natureza da luz e mistura de cor, mostrando que com esses objetos, é possível ministrar uma

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aula de iluminação aos futuros profissionais, tanto iluminadores quanto professores, como vemos na imagem abaixo.

Figura 9: Oficina básica de iluminação cênicaministrada pelo iluminador Ronaldo Costa ministrada no Barracão Clowns de Shakespeare.

Fonte: Arquivo pessoal do autor. 2016.

As oficinas, como já mencionamos, são tão importantes para a formação quanto o próprio curso regular. Esse espaço acaba se tornando um local de troca entre instrutor e participante, onde o dinamismo é uma constante no processo de aprendizagem e a teoria é um complemento desse exercício prático. Não que as oficinas não tenham teoria, mas como o conteúdo precisa ser sintetizado, por conta do curto tempo, o foco se dá mais na prática.

Todo tipo de aprendizado é válido. Qualquer coisa que se aprenda pode ser utilizada por nós, em determinada situação, fora do esperado. Ter referência de uso de equipamentos simples como uma lanterna de celular proporciona ao futuro professor uma maneira didática e simples de ensinar sobre o universo da iluminação cênica em sala de aula, estimulando a capacidade criativa dos alunos para que possam entender que, no teatro, existem outros elementos que compõem a cena, além dos atores e atrizes.

A iluminação cênica, presente e perceptível nos espetáculos, é um componente que ocupa uma posição tão importante na cena quanto o próprio ator/atriz. Ela interage na cena, complementando e realçando o cenário e os atores/atrizes, dando vida e características aos

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objetos de cena para que se cumpra a proposta de criação do grupo ou diretor. As nuances da luz dependem da forma como ela será operada, sendo o responsável por essa tarefa a pessoa que conduzirá a magia do espetáculo. Em outras palavras, a luz “(...) pode ser uma extensão do corpo do operador de iluminação, que presentifica suas vontades, sentimentos e pessoalidades em cena, por meio da manipulação da fonte luminosa, sem dar vida à luz, mas se revelando por meio dela”. (BRACCIALLI, 2015. p. 70).

A manipulação de uma mesa de luz é tarefa do operador, mas nem sempre esse profissional está presente nos grupos, de maneira específica, sendo que qualquer integrante pode assumir a função mediante treinamento e ensaio, durante o período de construção do espetáculo.

Costumamos dizer que a operação de luz é um trabalho de caráter técnico, talvez sem muito envolvimento com a construção ou criação artística. Pode até ser verdade, mas isso depende da pessoa que está na mesa de luz. O operador de luz pode ser qualquer integrante do grupo ou uma pessoa convidada para isso. A operação de luz depende muito do roteiro elaborado pelo iluminador e/ou diretor do espetáculo. Dessa maneira, o operador irá fazer as marcações na mesa e gravar as cenas, se a mesa for digital, ou fazer anotações no texto e na própria mesa como mostra a imagem abaixo.

Figura 10: Mesa analógica de iluminação do TLJF.

Fonte: Arquivo pessoal do autor. TLJF, 2015

Essas marcações, na mesa juntamente com as deixas no texto, guiarão o operador na tarefa de executar os comandos de luz. Estamos falando de uma situação ideal de montagem e operação de luz de um espetáculo, onde há todos os equipamentos necessários para a

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realização da tarefa. Porém, há outras situações em que nos deparamos com trabalhos que são realizados fora da caixa italiana e que demandam do iluminador „jogo de cintura‟ para que possa dar conta da tarefa. Estamos falando sobre os espaços alternativos em que as dificuldades de montagem são uma constante, por não sabermos o que iremos encontrar no local.

Perez (2007) fala sobre a importância de o iluminador estar preparado e informado sobre o local da apresentação. Pois,

Quando o iluminador se defronta com espaços alternativos para montagem de sua iluminação, precisa saber muito bem como determinar a carga elétrica total exigida pelos equipamentos. Embora isso seja de responsabilidade específica dos profissionais de eletricidade, o profissional de iluminação não pode deixar esses limites técnicos e de segurança para segundo plano, sob pena de seu trabalho não poder ser realizado conforme planejado. (PEREZ, 2007, p. 48).

Temos alguns exemplos de situações parecidas no Departamento de Artes em que alguns grupos construíram seus espetáculos para espaços alternativos. Alguns adaptaram a iluminação e outros criaram uma iluminação específica para o espetáculo, compondo o cenário também, como exemplo, podemos citar o caso do espetáculo “O Tombo da Rainha” do Grupo Pele de Fulô, que era composto por estudantes do curso de Teatro da UFRN.

O espetáculo foi todo pensado para rua e toda a estrutura era montada e desmontada pelos integrantes do grupo num trabalho coletivo. Esse espetáculo fez sua estreia no largo do Teatro Alberto Maranhão – TAM, na Ribeira em 2015. O espetáculo fez três apresentações no largo do TAM e circulou por mais três comunidades Quilombolas, no Rio Grande do Norte.

As apresentações de Natal ocorreram de forma normal e dentro do esperado, pois havia energia dimensionada para a realização do espetáculo. A mesa de iluminação era dimerizada, ou seja, bastava conectar o refletor de luz e acionar o potenciômetro para acender a luz. Esse tipo de mesa é ideal para grupos itinerantes pela simplicidade de montagem da iluminação, bastando ter um quadro de energia que forneça a quantidade necessária para suportar a luz do espetáculo.

As apresentações nas comunidades aconteceram diante de muita dificuldade, não sabíamos o que iríamos encontrar lá e a montagem era de minha responsabilidade. As informações fornecidas sobre os espaços eram muito incipientes o que demandou muita improvisação, na hora montar a luz, pois o equipamento de luz, que havia, era apenas os refletores, algumas extensões e uma gambiarra de luz que compunha o cenário.

Não havia mesa de iluminação, pois o grupo não possuía e não havia possibilidade de alugar uma mesa para fazer a circulação com o grupo, porque a verba não era suficiente para

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alugar o equipamento, durante toda a circulação. Como só sabíamos como seria a montagem da estrutura do espetáculo, quando chegávamos ao local; isso dificultava bastante nosso trabalho. Sobre isso, Perez (2007) avalia a necessidade de conhecimento prévio das estruturas do local de apresentação, dizendo que:

Se um determinado espetáculo varia de palcos durante as apresentações, e isso acontece muito nas companhias viajantes, os designers devem procurar conhecer antecipadamente as estruturas que encontrarão nos espaços que serão utilizados. Isso proporciona o tempo necessário para se repensar as dificuldades e tomar as devidas providências no sentido de adaptar as propostas para esses novos espaços. Essas adaptações vão desde mudanças na iluminação (dos tipos de equipamentos, estruturas, ângulos etc.) até mesmo mudanças na movimentação de cenografia, atores, dançarinos etc., por parte dos dirigentes das cenas. Isso é muito comum no Brasil e faz parte da rotina das companhias de teatro, dança e shows de um modo geral. (PEREZ, 2007, p. 50)

Concordamos com o autor com relação a essa antecipação sobre as condições do espaço em que o espetáculo irá ser apresentado. Essa seria a melhor forma de fazer possíveis correções, antes de chegar ao local e iniciar a montagem. No entanto, as dificuldades, que enfrentamos, eram de falta de comunicação entre o responsável pelo grupo e o responsável pelo espaço de apresentação, o que tornou nosso trabalho um pouco mais complicado. Sendo assim, precisamos improvisar e adaptar a iluminação para que ocorresse o espetáculo e a maneira que encontramos foi operar a luz, de forma mais artesanal e primitiva, acendendo, apagando e fazendo transição com uma régua de energia, onde colocávamos os plugs dos refletores. Vide abaixo fotos da montagem.

Figura 11: Montagem da peça “Tombo da Rainha” em Macaíba – RN, 2015.

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As imagens mostram o antes e o depois do espaço disponível para a montagem do espetáculo. A maior dificuldade encontrada por nós era encontrar a fonte de energia que pudéssemos utilizar, sem precisar acionar um eletricista, pois não dispúnhamos de dinheiro para isso, nem contávamos com um profissional habilitado a desempenhar tal função na equipe.

Apesar de todas as dificuldades encontradas, foi uma experiência bem diferente, já vivida e que serviu de ensinamento sobre o que se esperar durante uma circulação com grupo de teatro itinerante, principalmente quando não se tem os equipamentos necessários para executar a montagem e o operador é convidado a participar dos ensaios, na iminência da estreia. Mas isso é bem comum no Brasil (PEREZ, 2007), não só em relação ao operador de luz. Isso é comum também em relação ao iluminador, que tem a responsabilidade de criar a luz do espetáculo. Essa situação é observada de perto nos cursos de Teatro e Dança, durante os exercícios cênicos dos discentes em que eles se preocupam mais em recitar seu monólogo ou sua coreografia do que com luz ou com quem iria operar.

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