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3.3 OS PRINCÍPIOS CONTRATUAIS

3.3.2 Princípios sociais

3.3.2.2 Equivalência material

O princípio da equivalência material, também conhecido como princípio do equilíbrio contratual, indiscutivelmente adotado pelo Código Civil de 2002334, revela-se um

332 PINHEIRO, Rosalice Fidalgo. Abuso do direito e as relações contratuais. Rio de Janeiro: Renovar, 2002, p.178-179.

333 SANTOS, Eduardo Sens do. O Novo Código Civil e as cláusulas gerais: exame da função social dos contratos. In: NERY JUNIOR, Nelson (coord.). Revista de Direito Privado. Ed. Revista dos Tribunais. Ano 03. Abril – Junho/ 2002, p.28-29.

334 Aliás, Camila Lemos Azi explica que o diploma civil atual adotou uma série de dispositivos que visam coibir a prática da lesão, entre outras regras que permitem a revisão contratual em razão de onerosidade excessiva superveniente (AZI, Camila Lemos. O princípio da equivalência material das

dos marcos teóricos que mais se aproximam da influência da sistemática jurídica atualizada, que reascende a preocupação com o estudo dos princípios, sobretudo os novos princípios contratuais.

O fundamento de equilíbrio dos contratos, por si só, não é suficiente para garantir a renovação deste ramo do direito, posto que absolutamente todos os princípios contratuais devem atuar conjuntamente nessa tarefa. Entretanto, não há como negar a influência do princípio da equivalência material na possibilidade de revisão e resolução dos contratos. A despeito de tais considerações, segundo a autora acima referenciada, são

fundamentos constitucionais do princípio da equivalência material o princípio da equivalência material a dignidade da pessoa humana - já que o contrato, enquanto mecanismo de circulação de bens, “colabora para a promoção da dignidade da pessoa humana não sendo um

instrumento de disseminação de desigualdades, tanto que o art. 170 da Constituição, ao tratar da ordem econômica, estipula que o objetivo precípuo desta é o de assegurar a todos

existência digna”335 - e o princípio da igualdade, que “tem por fim assegurar a todos

existência digna, conforme os ditames da justiça contratual, e buscar, dentre outros objetivos, a redução das desigualdades sociais e regionais”336.

Expressa-se o princípio da equivalência material na promoção do equilíbrio real de direitos e deveres no contrato, antes, durante e após sua execução. De fato, somente os princípios contratuais sociais revelam-se capazes de manter o vínculo de dependência recíproca entre as partes de um contrato bilateral, estejam elas movidas por interesses contrapostos ou paralelos.

O princípio em referência tem lugar quando se analisa que, em contraposição ao clássico, o direito civil moderno finalmente se volta à preocupação com o equilíbrio entre os sujeitos nas relações interprivadas. Assim, se antigamente bastava a igualdade formal entre os contratantes para alcançar uma suposta justiça contratual (já que a celebração do contrato era fruto da livre convenção negocial das partes), contemporaneamente já não se aceita mais esta realidade diante das diversas formas de desigualdade social e econômica presentes na

sociedade.

Assim, ao dar início a um verdadeiro processo de revalorização do indivíduo, abandonando aos poucos os aspectos puramente patrimoniais, finalmente se percebeu que para que uma relação obrigacional seja social e juridicamente compatível com o novo contexto civil-constitucional, é necessário que os interesses dos contratantes estejam em harmonia e que haja equilíbrio entre as prestações e contraprestações convencionadas. É nesse raciocínio que se infere a importância do princípio da equivalência material, já que em razão deste e de algumas intervenções do Estado nas relações contratuais, atualmente o Código Civil possui uma série de dispositivos que promovem efetiva igualdade entre as partes.

prestações no novo Código Civil. Dissertação (Mestrado em Direito). Faculdade de Direito, Salvador, 2004).

335AZI, Camila Lemos. O princípio da equivalência material das prestações no novo Código Civil.

Dissertação (Mestrado em Direito). Faculdade de Direito, Salvador, 2004, p.108. 336 Ibidem, p.110.

Assim, a teoria da imprevisão337 (artigos 317 e 478 a 480 do Código Civil) e os institutos da lesão338 (artigo 156 do Código Civil) e do estado de perigo339 (artigo 157 do Código Civil) permitem a constatação de que o princípio da equivalência material relativiza o clássico postulado do pacta sunt servanda, segundo o qual, uma vez estabelecidas as

condições do negócio, estas possuem força obrigatória e devem ser cumpridas a qualquer custo, independentemente da realidade fática apresentada. Em verdade, esta regra permanece, mantendo o contrato como obrigatório, desde que sejam respeitados os limites do equilíbrio material entre as prestações. Em outras palavras, o princípio da obrigatoriedade foi abrandado, mas não desapareceu340.

É de se anotar, diante do exposto, a lição de Paulo Luiz Netto Lôbo sobre o princípio social da equivalência material nos contratos e sua repercussão no princípio clássico do pacta sunt servanda:

esse princípio preserva a equação e o justo equilíbrio contratual, seja para manter a proporcionalidade inicial dos direitos e obrigações, seja para corrigir os desequilíbrios supervenientes, pouco importando que as

mudanças de circunstâncias pudessem ser previsíveis. O que interessa não é mais a exigência cega de cumprimento do contrato, da forma como foi assinado e celebrado, mas se sua execução não acarreta vantagem excessiva para uma das partes e desvantagem excessiva para outra, aferível

objetivamente, segundo as regras da experiência ordinária. O princípio clássico do pacta sunt servanda passou a ser entendido no sentido de que o

337 Aplicável tanto aos contratos de trato sucessivo, como aos contratos a termo, na teoria da imprevisão, na hipótese de superveniência dos acontecimentos imprevisíveis e extraordinários, que tornem a prestação excessivamente onerosa para um dos contratantes e extremamente vantajosa para o outro, é possível pedir a resolução do contrato (art.478) ou a revisão (art. 480) de seus termos, para restabelecer o equilíbrio econômico entre a prestação e a contraprestação.

338 Configura-se lesão quando uma das partes obtém uma vantagem desproporcional, em prejuízo da parte que contratou por inexperiência ou diante de uma necessidade urgente. Deve-se levar em conta as condições pessoais do lesado, sendo irrelevantes suas condições econômicas. Na opinião de Judith Martins-Costa, é nesta aplicação que se destaca a imediata correlação entre a revisão dos contratos e o princípio da boa-fé, tendo em vista que o instituto da lesão, conquanto previsto nas Ordenações Filipinas e regulado por Teixeira de Freitas na Consolidação das Leis Civis (art. 359), esteve ausente no Código Civil de 1916, tendo sido reincorporado no Código de Defesa do Consumidor (onde a boa- fé objetiva também mereceu previsão expressa) e, posteriormente, no Código Civil atual. Nas palavras da autora, acerca do instituto da lesão no novo Código: “a lesão introduzida pelo novo Código é um defeito que se instala no momento da conclusão do negócio, já impedindo a formação do sinalagma genético, razão pela qual, no meu entender, pressupõe contrato bilateral e comutativo, mensurando-se o desequilíbrio do contrato em sua totalidade, isto é, não devem ser consideradas apenas as prestações principais” (MARTINS-COSTA, Judith. A boa-fé como modelo (uma aplicação da teoria dos modelos de Miguel Reale). In: BRANCO, Gerson; MARTINS-COSTA, Judith. Diretrizes teóricas do novo Código Civil. São Paulo: Saraiva, 2002, p. 212).

339 Configura-se estado de perigo quando a parte, premida da necessidade de se salvar, ou de salvar sua família, de um grave dano conhecido pela outra parte, assume obrigação extremamente onerosa. Ou seja, o agente só assume a obrigação por encontrar-se (ou familiar) em perigo.

340 Aliás, isso nem seria possível em razão do valor da segurança jurídica que, ao lado dos valores éticos e sociais, refuta como de grande importância para a ciência do direito.

contrato obriga as partes contratantes nos limites do equilíbrio dos direitos e deveres entre elas341.

Acrescente-se, ainda segundo o autor, que este princípio desdobra-se em dois aspectos: subjetivo, que leva em conta o poder contratual das partes e a presunção legal e absoluta de vulnerabilidade (a exemplo do trabalhador, do inquilino, do consumidor e do aderente do contrato de adesão) e objetivo, que identifica o real desequilíbrio de direitos e deveres contratuais, ou mesmo na eventual mudança de equilíbrio em virtude de

circunstâncias supervenientes à celebração do negócio342.

Em resumo, fundamenta-se o princípio da equivalência material, ou do

equilíbrio contratual, na percepção de que já não cabe mais falar em igualdade formal entre as partes de uma relação contratual, segundo a qual a celebração de um contrato implica na obrigatoriedade do seu cumprimento, sem sequer levar em conta as circunstâncias que por ventura impliquem em algum desequilíbrio entre elas. Em termos práticos, manifesta-se na possibilidade de revisão contratual a ingerência do princípio da equivalência material, que prima pela necessidade de preservação do equilíbrio econômico entre as partes contratantes, ainda que um possível desequilíbrio a ser corrigido decorra de um evento superveniente, previsível ou imprevisível.

Vale dizer, diante do exposto, que, embora o ordenamento brasileiro já tenha em muito evoluído na trilha por uma verdadeira justiça contratual, principalmente diante do paradigma renovado pela incidência exitosa dos novos princípios contratuais, ainda há muito que se fazer. Cabe aos operadores do direito a árdua, porém valiosa tarefa de por em prática as possibilidades abertas pelo legislador pátrio, sempre em busca de uma sociedade mais justa e solidária, onde os direitos e deveres possam ser pretendidos e exigidos conforme o ditame constitucional da dignidade humana. Não basta a existência de uma legislação protetiva em sua essência, mas também sua efetividade social.

3.3.2.3 Boa-fé

Os ideais éticos de lealdade, correção, cooperação, honestidade, veracidade e confiança, entre outros que a criatividade humana é capaz de acrescentar diante de cada situação concreta, compõem o princípio da boa-fé, presente no Código Civil de 2002. A verdade é que, segundo Teresa Negreiros, esse princípio geral repercute sobre os demais princípios contratuais, na medida em que todos eles “se assomam ao abuso da liberdade

341 LÔBO, Paulo Luiz Netto. Princípios sociais dos contratos no CDC e no novo Código Civil. Jus Navigandi, Teresina, ano 7, n.55. Disponível em <http://jus.uol.com.br/revista/texto/2796> Acesso em 17 jan.2011.

contratual a que tem dado lugar a ênfase excessiva no individualismo e no voluntarismo jurídicos”343.

Esclareça-se, a priori, que aqui está a se falar de um dos princípios mais importantes, não só do direito civil e do direito privado, mas do ordenamento jurídico em geral.

Obviamente, em relação aos contratos, não é diferente. O princípio da boa-fé se opera sob diversas roupagens e em todos os momentos da relação jurídica, desde a primeira etapa da negociação (fase pré-contratual), passando pela execução da obrigação pactuada, até o instante posterior à resolução do contrato (fase pós-contratual). Nestas fases, como se sabe, o princípio em referência revela-se como verdadeira fonte de deveres e de limitação dos direitos subjetivos dos próprios contratantes.

É de se registrar, nesse particular, que o legislador assumiu posição intermediária entre a proteção aos interesses individuais das partes contratantes e a imposição de

socialização e eticidade nos contratos, procurando sempre combinar as pretensões dos

primeiros às exigências do segundo. De fato, o legislador infraconstitucional preferiu valer-se de cláusulas abertas propícias a soluções amplas e coletivas capazes de promover verdadeira igualdade entre os contratantes, notadamente em razão da sua plasticidade e flexibilidade para aplicação no caso concreto344.

Não foi à toa que restou inserido o dispositivo correspondente ao princípio da boa-fé objetiva na letra do artigo 422 do Código Civil atual, imediatamente após a referência expressa à cláusula geral da função social dos contratos. Esta é a redação do artigo 422 do atual diploma civil: “os contratantes são obrigados a guardar, assim, na conclusão do contrato, como em sua execução, os princípios de probidade e boa-fé”.

Acrescente-se que o critério básico para solução de tamanha abertura é o comportamento social que honestamente se espera de um homem médio diante de uma dada situação. Ao destacar a ampla atuação do princípio da boa-fé na seara contratual, Carlos Alberto de Arruda Silveira faz questão de identificá-lo como fonte interpretativa dos contratos em geral. Segundo ele, a boa-fé contratual traduz-se no dever que tem cada contratante de agir conforme as legítimas expectativas da contraparte, devendo este comportamento prevalecer em absolutamente todas as fases do negócio, desde as tratativas, passando pela execução da avença, até a sua conclusão345.

343 NEGREIROS, Teresa. Teoria Geral do contrato: novos paradigmas. 2. ed. Rio de Janeiro: Renovar, 2006, p.116.

344 REALE, Miguel. Função Social do contrato. Disponível em:

<www.miguelreale.com.br/artigos/funscont.htm> Acesso em: 13 ago 2010.

A propósito, nada mais razoável neste momento da pesquisa do que destacar a explicação de Maria Helena Diniz, quando aduz a autora que se trata, na realidade, de uma “norma que requer o comportamento leal e honesto dos contratantes, sendo incompatível com quaisquer condutas abusivas”346. É neste sentido que a boa-fé objetiva visa consagrar, em toda e qualquer relação obrigacional, a confiança necessária ao equilíbrio das prestações pactuadas pelos agentes contratantes. Assim, acrescenta a autora, poderá haver uma justa distribuição dos riscos e encargos do negócio, evitando enriquecimento indevido ou mesmo que sejam divulgadas informações sigilosas pertinentes ao contrato pactuado, dentre outras questões. A verdade é que, com o passar do tempo, a conotação originária da boa-fé em seu sentido primordial – ou seja, subjetivo - é alterada e passa a ser utilizada para indicar diferentes situações. Tal alteração se dá principalmente em virtude da compilação de Justiniano (Corpus Iuris Civilis), que “dilui o conceito de boa-fé, tanto horizontal quanto verticalmente”347 Horizontalmente se deu, por exemplo, com a utilização da boa-fé no campo dos direitos reais, em sua compreensão como requisito do usucapião, para demonstrar o estado de ignorância por parte do beneficiário. Por outro lado, verticalmente, amplia-se o significado de boa-fé dentro do âmbito do direito obrigacional, já que trouxe em seu bojo exigências de justiça, equilíbrio, lealdade e honestidade348.

Assim, superadas as considerações iniciais acerca da amplitude do princípio da boa-fé, em especial nas relações contratuais, cumpre salientar que tal princípio admite desdobramentos. Na realidade, a boa-fé costuma ser dividida pela doutrina em boa-fé

subjetiva e boa-fé objetiva. Por hora, entretanto, cumpre-nos apontar as distinções entre elas, inclusive para fixação de alguns aspectos e distinções importantes.

No que tange à boa-fé subjetiva, vale dizer que sua aplicação sempre esteve prevista no ordenamento jurídico brasileiro à época do Código Civil brasileiro de 1916. De cunho marcadamente individualista, como já se sabe, o antigo diploma civil reservava a noção de boa-fé tão somente seu aspecto subjetivo, no sentido de conhecimento (ignorância) do indivíduo a respeito de determinada circunstância. Interessava, pois, de acordo com a noção subjetiva que se tinha da boa-fé, se o indivíduo tinha conhecimento ou não a respeito de determinada informação para, então, concluir pela boa ou má-fé presente em sua consciência no momento da prática de determinado ato.

Visualiza-se a boa-fé subjetiva no contexto de uma relação jurídica levando em conta o estado de ignorância do indivíduo diante de uma situação jurídica que se apresenta, levando-a a acreditar ser titular de um direito ou de uma posição jurídica que, na realidade,

346 DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro: obrigações contratuais e extracontratuais. 21. ed. São Paulo: Saraiva, 2005, p.44.

347 PADOIN, Fabiana Fachineto. Os direitos fundamentais nas relações contratuais. Porto Alegre: Nuria Fabris Editora, 2009, p.72.

348 MENEZES CORDEIRO, Antonio Manuel da Rocha e. Tratado de Direito Civil Português: parte geral. 2. ed. Coimbra: Almedina, 2000.

não tem, posto que só existe na aparência, na sua crença. Observa Fernando Noronha que esta situação de aparência “gera um estado de confiança subjetiva, relativa à estabilidade da situação jurídica, que permite ao titular alimentar expectativas, que crê legítimas”349.

Oportuna a ressalva, nesse particular, de que também na boa-fé objetiva existe confiança a se tutelar, ainda que sob um prisma distinto do que ora se observa.

É de se acrescentar a indagação de Fernando Noronha acerca da discussão sobre se para se caracterizar a boa-fé objetiva, basta a mera ignorância do interessado sobre a real situação fática ou deve-se exigir que estado de ignorância seja desculpável. Em verdade, não se pode olvidar que, no âmbito da concepção psicológica da boa-fé, o seu contraponto é justamente a má-fé. Ou seja, ou bem o indivíduo realmente desconhece a situação real na qual está inserido, agindo com boa-fé, ou não desconhece determinada informação, agindo de má- fé. Por outro lado, considerando o aspecto ético exigido no caso concreto, no sentido de uma ignorância ao menos desculpável diante da situação, Fernando Noronha entende que esta ignorância ou desconhecimento seria desculpável quando o indivíduo desrespeitasse os deveres de cuidado, de modo que ela estaria de má-fé mesmo quando se pudesse atribuir-lhe um desconhecimento meramente culposo (fruto do comportamento negligente e impulsivo do sujeito), simplesmente por que quem erra indesculpavelmente não poderá ficar na mesma situação de quem erra sem culpa. Nas palavras do autor:

a nosso ver, não tem de ser necessariamente a opção por uma só das concepções. Dependendo do interesse em jogo e dos valores envolvidos, pode ser que umas hipóteses se contentem com uma concepção meramente psicológica e que outras já exijam a concepção ética. Para destrinçar as hipóteses que caberiam numa e noutra situação, seria necessário fazer um estudo a partir de diversas manifestações concretas da boa-fé subjetiva350. Registre-se que o legislador, ao fazer menção da boa-fé no texto do código, ele não se ocupou de indicar qualquer referência expressa acerca do aspecto subjetivo ou objetivo da boa-fé. De fato, atualmente, tanto a boa-fé objetiva como a boa-fé subjetiva podem ser identificadas no texto do Código Civil atual. Não por outra razão, por conseguinte, reservou- se ao intérprete a tarefa de identificar sobre qual aspecto da boa-fé o dispositivo legal quer se referir.

Aliás, ainda no que tange à boa-fé subjetiva, Nelson Rosenvald escreve que não se trata de um princípio, tal como é possível classificar a boa-fé objetiva, “mas sim de um estado psicológico, em que a pessoa possui a crença de ser titular de um direito que em verdade só existe na aparência”351. Em termos práticos, é como se esta versão da boa-fé pudesse ser invocada em situações ímpares em que o indivíduo se encontra em estado de erro

349 NORONHA, Fernando. O direito dos contratos e seus princípios fundamentais: autonomia privada, boa-fé, justiça contratual. São Paulo: Saraiva, 1994, p.132.

350 Ibidem, p.135.

351 ROSENVALD, Nelson. Dignidade da pessoa humana e o princípio da boa-fé no Código Civil. Coleção Prof. Agostinho Alvim. São Paulo: Saraiva, 2007, p.79.

ou ignorância sobre a realidade dos fatos, mas que estes ocorrem simplesmente por desconhecimento subjetivo sobre circunstâncias que, na prática, fariam grande diferença.

Também ensinam Pablo Stolze Gagliano e Rodolfo Pamplona Filho que a boa-fé subjetiva “consiste numa situação psicológica, um estado de ânimo ou de espírito do agente que realiza determinado ato ou vivência dada situação, sem ter ciência do vício que a inquina”352. Marcos Bernardes de Mello complementa explicando o sentido que envolve tal instituto, quando escreve: “se refere à ignorância, ao desconhecimento de circunstâncias que envolvam certa situação jurídica”353.

A par disso, ressalte-se que na boa-fé subjetiva, dada a situação de desconhecimento pelo agente acerca de determinada informação relevante para a

formalização de determinado negócio jurídico, existe um vício que torna irregular a aquisição de um determinado direito. Aliás, é comum encontrar, entre os autores da área, exemplos da seara dos Direitos Reais, envolvendo o princípio da boa-fé subjetiva. Em termos práticos, a modalidade subjetiva da boa-fé admite, por antinomia, a conotação da má-fé, que pode ser