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ERA COM SANGUE, SUOR, DOR, ESCRAVOS, TRAFICANTES E MUITO

2 ATAR NÓS, ESTREITAR LAÇOS: MOBILIZAÇÕES AO REDOR DE PEDRO

2.3 ERA COM SANGUE, SUOR, DOR, ESCRAVOS, TRAFICANTES E MUITO

A receita não era nova. Quem quisesse fazer, do filho, um doutor coimbrão, era necessário muito dinheiro e boa dose de ótimos relacionamentos com gente importante. Muitos jovens cruzaram o Atlântico; entretanto, nem todos findaram o curso. Retornavam ao Brasil com fama de diplomados; todavia, não possuíam papel. Era preciso poder, cativos, influência. Araújo Lima se faria doutor em Coimbra alicerçado no açúcar paterno e na amizade e negócios com os comerciantes de escravos.

Em 4 de agosto de 1817, ano da Revolução que assolou Pernambuco, Pedro de Araújo Lima recebeu o bacharelado em Cânones. Em 1819, se doutorava. A família não esteve ao lado dos revolucionários: ficaram do lado de Luís do Rego, o repressor. Foi a esse último nome que Pedro de Araújo Lima dedicaria uma “composição literária”, como dito por Araújo Bastos, em 1866, na Câmara dos Deputados330. Ou seja: os Araújo Lima mantinham-se do lado contra- revolucionário até mesmo quando o governador lançava a mão de ferro sobre os pernambucanos.

Maria Beatriz Nizza da Silva propôs que os estudantes que iam à Coimbra eram diversificados, quando observam-se os números entre as capitanias, por 1772 e 1807. Os pernambucanos enviavam menos estudantes que baianos, cariocas e mineiros. A mesma historiadora apontou outro dado importante: existia o “abandono dos estudos por alguns ao fim de um ou dois anos de frequência331”. Indicou: dos 96 pernambucanos presentes na Universidade de Coimbra entre 1770 e 1808, 36 não findaram os objetivos. Diz ela: “impossível conhecer as razões que os levaram a abandonar os estudos universitários332”. Entretanto, pelo que vamos observando no caso Pedro de Araújo Lima, leva-nos a crer: era necessária uma

330 CASCUDO, Luis da Câmara. O Marquez de Olinda e seu tempo (1793 – 1870). Op.cit., pp. 42 – 45. 331 SILVA, Maria Beatriz Nizza da. Pernambuco e a cultura da ilustração. Recife: EdUFPE, 2013, p. 44. 332 Idem, p. 50.

intrincada junção de fatores, como bons relacionamentos e muito dinheiro, para haver a completude dos estudos. Alguns desses não possuíam e voltavam. Araújo Lima conseguia findar o doutoramento em Cânones alicerçado no poder das relações do comércio de gente, do latifúndio e do açúcar: fatores de antiguidade de Pernambuco.

José Murilo de Carvalho já havia lembrado da necessidade da elite política portuguesa de “reproduzir na colônia uma outra elite feita à sua imagem e semelhança.” Desta forma, a “elite brasileira” da primeira metade do século XIX, principalmente, foi estudar em Coimbra, investindo na formação jurídica333. Era esse treinamento que abria portas ao emprego público, “procurado sobretudo como sinecura, como fonte estável de rendimentos334.” Além de tudo: “a educação era a marca distintiva da elite política335”. Araújo Lima será mais um nesse caminho educacional, comum, buscando em Portugal a oportunidade do treinamento. Entretanto, se o grupo dos políticos brasileiros era tão bem treinado, não temos como quantificar. E preferimos a observação de Nizza de Silva, de que, nem todos que iam Coimbra terminavam seus cursos. Mesmo assim, o conhecimento dos sujeitos, entre si, fazia deles um grupo coeso e forte. Nisso, Carvalho tem razão, ainda mais quando informa quem foram os sujeitos contemporâneos de estudos em Coimbra, pela década de 1810, quando Bernardo Pereira de Vasconcellos por lá chegava: Costa Carvalho, João Bráulio Muniz336, Caetano Maria Lopes Gama, Manoel Antônio Galvão337, Miguel Calmon, Montezuma, Pedro de Araújo Lima, dentre outros338.

Pode não chamar atenção do leitor despercebido o termo “Cânones”, na formação do nosso personagem. A palavra está diretamente ligada aos fundamentos do direito eclesiástico que Araújo Lima, desta feita, concorria para bem conhecer. Ainda é Nizza da Silva quem nos ajuda a compreender a causa dessa escolha: os cânones habilitavam o sujeito para problemas com a Igreja, as magistraturas e os tribunais seculares339. Portanto, se o objetivo-mor era a entrada na malha dos cargos públicos, esse curso era o que melhor integrava as expectativas.

Era ainda em 1813 que Pedro de Araújo Lima, sendo capitão de infantaria de ordenanças de uma das companhias do termo na Vila de Sirinhaém pedia ao capitão-mor Henrique Luis de Barros Vanderlei, seu padrinho de batismo, para conservar-se no posto, mesmo se ausentando

333 CARVALHO, José Murilo de. A construção da ordem / Teatro de sombras. Rio de Janeiro: Civilização

Brasileira, 2003, p. 37.

334 Idem, p. 56. 335 Ibidem, p. 79. 336 Regentes trinos.

337 Ministros. Lopes Gama é o Visconde de Maranguape.

338 CARVALHO, José Murilo de. Introdução. In: CARVALHO, José Murilo de (org.). Bernardo Pereira de

Vasconcelos. São Paulo: Ed. 34, 1999, pp. 11 – 12.

para “continuar [os estudos] maiores na Universidade de Coimbra, para se poder formar340”. E é claro: o padrinho informava que “a súplica do suplicante está nos termos de Vossa Excelência fazer a graça”: até para isso era necessária a relação direta com os sujeitos do poder. Araújo Lima mantinha seu posto militar, com patente firmada por “Vossa Alteza Real”. Não perdia, assim, benefício algum. E ficava tudo em casa. Nada saía dos eixos.

Depois de José Gonçalves Pereira e seu grupo ajudarem Manoel de Araújo Lima a manter o filho em Portugal, por volta de 1817, outros nomes se juntam nessa empreitada. Entretanto, precisamos indicar alguns número para esse momento. Entre 1801 e 1825, período que compreende alguns desses sujeitos aqui apresentados no comércio de africanos, Pernambuco recebia 170.000 cativos, enquanto o sudeste 500.000 e a Bahia 256.000341. E se pensarmos que, entre 1501 e 1867, Recife era o sétimo porto do mundo, em números, a receber escravos342, e o quarto das Américas, só ficando atrás do Rio de Janeiro, Salvador e Kingston (Jamaica)343, percebemos que o comércio transatlântico de gente movimentou um sem-número de pessoas e dinheiro. Claro que as informações estão nas estimativas. Os números podem, e devem, ser muito maiores. Desta forma, Pernambuco era o terceiro lugar, no Brasil, a receber escravos por esse tempo. Era um intenso comércio que fazia sofrer cativos e ganhar dinheiro a muitos comerciantes. Assim, o suor e sangue desses homens e mulheres aprisionados faria formar os políticos brasileiros do século XIX. E se paramos um pouco e pensarmos: o dinheiro de Manoel de Araújo Lima estava circulando entre o maior porto a receber cativos, o Rio de Janeiro, o sétimo, de Recife e tantos outros espalhados pelo mundo, integrados nesse comércio crudelíssimo, como Lisboa. Era um entrecruzamento de relações sociais sem fim. Ainda mais: como indicou Eltis e Richarson, depois das proibições de tráfico na década de 1810, os espanhóis, franceses e portugueses substituíram os norte-americanos, dinamarqueses e britânicos, no tráfico, fazendo subir as cifras de números de cativos anteriormente trazidos para as Américas. Brasil e Cuba ficavam sendo os maiores receptores de gente escravizada da África, com mais de três quartos desses escravos advindo do Sul do equador344. Portanto, enquanto Pedro de Araújo Lima esteve em Portugal, tomando contato com diversos traficantes, o comércio de carne humana, para o Brasil, estava, literalmente, de vento em popa. Entre 1816 e 1820, Pernambuco receberia, aproximadamente, 45.000 pessoas em trabalho forçado; a Bahia

340 IHGB. Coleção Marquês de Olinda. Lata 211 Pasta 4 Papéis referentes a vida de Pedro de Araújo Lima –

Anotações do seu pai Manoel de Araújo Lima.

341 ELTIS, David; RICHARDSON, David. Atlas of the Transatlantic slave trade. New Haven/ London: Yale

University Press, 2010, p. 203.

342 Idem, p. 39. 343 Ibidem, p. 204. 344 Ibidem, p. 278.

aprisionaria 60.000, ficando depois do Sudeste, com 118.000. Muito provavelmente, mais de 258.000 pessoas foram forçadas a migrar para o Brasil saindo da África Central345. E se os traficantes que a família Araújo Lima contatava comerciavam entre Pernambuco, Lisboa e Rio de Janeiro, eles integravam esse circuito de grande volume da escravidão.

O primeiro sujeito a ser observado nesta parte do texto é o “Sr. Carvalho”. Lendo apressadamente a documentação paterna, parece que não há informação de quem seja. Entretanto, poderia estar em Pernambuco, fazendo a ponte com as terras lusas. Chegamos a tal conclusão por um dos registros paternos: “17 de abril de 1817 por via do sr. Carvalho mandei a Pedro 35 caixas de assucre [sic] entre estas ia 4 caixas de arroba e as mais de meia arroba a 1600 – 32#800”. Ou seja: o açúcar saía dos portos do Recife indo ao destino de Pedro de Araújo Lima: Portugal. Talvez por um erro de registro, indica, depois desse, de 1817, que em agosto de 1816, foram 24 caixas de doce a Pedro, pelo mesmo Carvalho (9#600). Volta para fevereiro de 1817: 30 meias caixas de açúcar com 15 arrobas a 1600 (24#000). Ainda em 1818 mandava, a 6 de fevereiro, 32 meias caixas de açúcar com 16 arrobas (32#000)346. Assim percebemos que enquanto José Gonçalves Pereira enviava doces e açúcar para Araújo Lima, através de Joaquim Elias Xavier, também o “Sr. Carvalho” o fazia, ao menos, entre setembro de 1816 e dezembro de 1819, gastando com esse elo 3:049#910, além de, em 2 de maio de 1820, por uma letra do Rio, ao Carvalho: 1:300#000: total de 4:349#910. Desta feita, o “Sr. Carvalho”, sabemos, era mais um comerciante a fazer a rota Brasil – Portugal, e, talvez, África. E se a nossa conjectura de que a imensa quantidade de doces enviadas a Araújo Lima era parte das armações de navios de tráfico, em Portugal, elas continuavam, e em várias frentes. Os elos eram diversos: se algum fraquejasse, o outro dava certo. Na verdade, eram negócios. E se um negócio não fosse mais adiante, o outro cobria as despesas. Dividir e balancear a quantidade de dinheiro em diversos sujeitos era uma estratégia paterna de inteligência: o filho não ficaria desamparado e ainda renderia alguns contos que Pedro de Araújo Lima deveria fazer em aplicações monetárias.

Como as listas de nomes e gastos feitas pelo pai de Pedro de Araújo Lima é bastante fragmentária, e com repetições de despesas, parece que o mistério do “sr. Carvalho” pode ser muito bem desvendado, inclusive, comparando-se os valores enviados e gastos. Um dos registros assemelha-se muito com as informações já ditas no parágrafo acima: “Assistência que faz o senhor Manoel de Carvalho Medeiros ao meu filho Pedro de Araújo Lima de setembro de 1816 até dezembro de 1819 dinheiro que recebeu em Coimbra e Lisboa importa –

345 ELTIS, David; RICHARDSON, David. Atlas of the Transatlantic slave trade. Op. cit., p. 278.

346 IHGB. Coleção Marquês de Olinda. Lata 211 Pasta 4. Papéis referentes a vida de Pedro de Araújo Lima –

3:049#910347”. Além de “Maio 2 de 1820 por uma letra que sacou do Rio de Janeiro a Manoel de Carvalho para pagar no Recife Antonio José de Amorim – 1:300#000”.

Já conhecemos Antonio José de Amorim como um dos devedores do inventário de Dona Rita Florência, na década de 1830. Ou seja: Amorim estava entrelaçado aos negócios dos Araújo Lima, ao menos, desde a década de 1820, nesse circuito de pessoas, comerciantes e traficantes que faziam girar o dinheiro a chegar em Pedro de Araújo Lima. Mas, quem seria Manoel de Carvalho Medeiros, que, no meio da revolução de 1817 era o homem a fazer as conexões entre Pernambuco e Portugal, por parte dos negócios e víveres de Araújo Lima?

Manoel de Carvalho Medeiros era um sujeito que sabia fugir. Não sabemos se era medroso ou estrategista. Fiquemos com a última palavra: é menos ultrajante. Ao menos em 19 de julho de 1817, recebia passaporte para voltar a Pernambuco. Dito isso, é mais um negociante da Praça de Pernambuco, como se identificava na petição, suplicando voltar para os seu negócios. Entretanto, no caso do “Sr. Carvalho” não foi bem assim. “Em razão do infeliz sucesso de seis de março se retirou para o Maranhão”, indo, de lá, para Lisboa348. O documento enviado do Maranhão - dado na secretaria do governo, aos 15 de abril de 1817 - é mais indicativo: “... fugido dali [Pernambuco] com a sua família por causa do funesto acontecimento do dia 6 de março, que para arranjo dos seus negócios precisa retirar-se a Cidade de Lisboa com a sua dita família”. As pessoas a irem com ele eram: um filho menor de idade (José Candido Carvalho), duas filhas (Candida e Joanna), dois netos (Galdino e José), um genro (Gaudino Agostinho de Barros) e uma escrava (Cattarina preta), além dele mesmo (Manoel de Carvalho Medeiros, Negociante da Praça de Pernambuco). Pretendia ir na Galera Conceição Esperança, “na qual veio com toda a sua família fugido para esta Cidade349”. Talvez, se o “sr. Carvalho” não tivesse tomado a atitude de “fugir” para o Maranhão e, de lá, para Lisboa, Araújo Lima ficasse sem seus mantimentos abundantes. Na verdade, Carvalho ia ganhar muito dinheiro salvando os negócios da gente de Pernambuco, correndo para as bandas de lá do Atlântico. E, como já vimos, os Araújo Lima não compartilhavam das ideias dos revoltosos de 1817, e devem ter investido na viagem do “fugitivo”, mandando algum ouro e dinheiro que tivessem em casa, a ser salvo dos saques no engenho. E não custa nada lembrar: o dia 06 de março é, exatamente, o início da revolução. E para não passar em branco: o genro do Sr. Carvalho, Gaudino

347 IHGB. Coleção Marquês de Olinda. Lata 211 Pasta 4. Papéis referentes a vida de Pedro de Araújo Lima –

Anotações do seu pai Manoel de Araújo Lima.

348 (PRBRB). AHU_ACL_CU_015, Cx. 278, D. 18770. 349 Idem.

Agostinho de Barros, entrou na lista dos “traficantes pernambucanos mais proeminentes”, indicada por Marcus Carvalho350.

Não era só no momento crítico de 1817 que o “Sr. Carvalho” representava os negociantes pernambucanos em Portugal. Parece ser um estrategista político, com o doce sabor de ficar sobre o muro toda vez que as situações apertavam. Em julho de 1822, com os entraves entre portugueses e brasileiros a adiantarem-se pelos intuitos independentistas, ele teria dado novas declarações: “disse que a maior parte dos Negociantes de Pernambuco, que se achavam nesta cidade fugidos daquela província, lhe disseram que no caso de ir uma expedição a Pernambuco, eles fariam os seus donativos”. Ora, estaria ajudando os portugueses, o Sr. Carvalho, com alguns pernambucanos? Talvez. Pois, “quanto a sua pessoa não oferece o Sr. Carvalho o donativo compatível com as suas circunstâncias debaixo de condição alguma”. Ele jogava com quem estivesse ganhando, na verdade. Tanto que “em qualquer caso de expedição para o Brasil, que proximamente se intenta mandar está pronto a contribuir com oito pipas de água-ardente de cana”. Entretanto, preferia ficar esquivado, tramando com os dois lados da moeda, ou, com os dois lados do Atlântico: “declarou mais que deseja, e até insiste que o seu oferecimento não seja publicado, por que ele o faz só por patriotismo, e não no intento de que se saiba351.” Manter o auxílio em segredo era a chave do negócio. Se algum brasileiro atrelado à causa do Brasil soubesse do intuito de ajudar os portugueses naquela manobra, tudo iria dar errado.

Ainda em 1825, parece que Manoel de Carvalho Medeiros estabeleceu residência em Portugal. Era Cavaleiro das Ordens de Cristo e da Conceição, permanecia negociante, estava com 60 anos. Declarou-se natural da Ilha de São Miguel e era morador na rua do Corpo Santo, n° 190. Mostrava que manteve seu relacionamento inabalável com o Brasil: “não tem impedimento pela polícia para passar como pretende ao Rio de Janeiro, levando consigo um escravo preto por nome Antonio352.”

Ao demonstrar querer enviar “oito pipas de água-ardente de cana”, se fosse, assim, necessário, talvez Carvalho estivesse, também, agregado ao sistema de tráfico. A água-ardente era uma das moedas de troca em África. Somado a isso, ao menos em 1816, possuía o Bergantim Triumpho do Mar, em sociedade com Agostinho Fernandes de Barros e José Manoel Fiúza, perfazendo o caminho Lisboa – Pernambuco – Lisboa353. Mas, devemos lembrar que essa era a

350 CARVALHO, Marcus J.M. de. Liberdade. Op.cit., p. 118. 351 (PRBRB). AHU_ACL_CU_015, Cx. 286, D. 19617. 352 (PRBRB). AHU_ACL_CU_017, Cx. 294, D. 20858. 353 (PRBRB). AHU_ACL_CU_015, Cx. 277, D. 18627.

rota declarada por Carvalho também em 1821: era Cavaleiro da Ordem de Cristo, negociante na Praça de Pernambuco, morador em Almada, e ia a Pernambuco354. E se em 1825 perfazia o caminho para o Rio de Janeiro, ia de encontro a maior praça de compra de cativos no XIX brasileiro, ou até, iria encontrar o traficante Antonio José de Amorim. É muito possível que Carvalho fizesse parte do sistema de negociação de gente. E não há nada estranho nisso.

Se Manoel de Araújo Lima nos revelou, em suas anotações, todas essas informações, Pedro de Araújo Lima nos indicaria mais nomes a ajudá-lo na intenção de formar-se. Foi nas “Despesas da minha formatura, que principiou no curso de 813 para 814 e findou no de 817 para 818355” que fez o levantamento de mais recursos empregados no intuito de findar o curso em Portugal. Já conhecemos Joaquim Elias Xavier, que também entra nesse rol (2:262#453 na forma da lei – 2:064#174 reduzido a metal). Não conhecemos Antonio Tavares (375#694 na forma da lei – 338#125 reduzido a metal), que pode ser Antonio Tavares Guerra, dono da escuna Borboleta, que fez viagens entre Bahia, Rio de Janeiro e Molembo, para buscar cativos. Em 1828, foram desembarcados 351 escravos no Rio de Janeiro356. Em 1829, a embarcação saía de Pernambuco, e fazia a travessia para Molembo, tendo parado na Bahia e no Rio de Janeiro, desembarcando 347 escravos357.

Nos deteremos em mais dois nomes listados. José da Silva Borges é o primeiro, que, antes do sexto ano (818 – 819) passou-lhe a quantia de 306#666 na forma da lei – 276#000 reduzido a metal. Juntando esse dinheiro com o de Joaquim Elias Xavier e Antonio Tavares, resultava 2:944#813 na forma da lei e 2:678#299 reduzidos a metal. Entretanto, as despesas do sexto ano implicavam em 1:540#000 advindos de Silva Borges, e “mais que mandei de Lisboa para Coimbra para pagamento do resto da despesa do capelo: 210#000”. Só de despesas da formatura geravam mais de 4:600#000358.

José da Silva Borges era o proprietário da Galera Portuguesa Diligência, que ia para Pernambuco em, aproximadamente, 1817. Se preocupava com a “defesa contra os inimigos piratas do mar”, e desta forma, comprou artilharia, faltando algumas armas de calibre dezoito, e as pedia a D. João VI emprestadas359. Parece que no mesmo ano, sem informar como, a Galera Diligência era capturada, depois de ter deixado pranchões na fazenda real360. Talvez a

354 (PRBRB). AHU_ACL_CU_015, Cx. 284, D. 19436.

355 IHGB. Coleção Marquês de Olinda.Lata 211 Pasta 4. Papéis referentes a vida de Pedro de Araújo Lima –

Anotações do seu pai Manoel de Araújo Lima.

356 http://www.slavevoyages.org/voyage/805/variables . 357 http://www.slavevoyages.org/voyage/1035/variables.

358 IHGB. Coleção Marquês de Olinda. Lata 211 Pasta 4. Papéis referentes a vida de Pedro de Araújo Lima –

Anotações do seu pai Manoel de Araújo Lima.

359 (PRBRB). AHU_ACL_CU_015, Cx. 279, D. 18852. 360 (PRBRB). AHU_ACL_CU_015, Cx. 279, D. 18853.

Diligência estivesse implicada no tratado assinado entre Portugal e Inglaterra, instituindo a ilegalidade do tráfico ao norte do Equador, com promessa de repressão, dado em 1815361. E pega, não poderia declarar, ao próprio rei, que estava inclusa em criminalidade. Se for a mesma pessoa, ele estaria no Rio de Janeiro, por volta de 1830. No “Diário do Rio de Janeiro” era anunciado, à Rua da Praia do Vallongo, uma carta vinda de Benguela, remetida por Francisco Elesbão Correia Caldas, capitão do Bergantim Economia, ao senhor Francisco de Paula; ausente o senhor José da Silva Borges362. Ou seja: existia ligações dessa personagem direto com a África: o tráfico estava por ali, rondando os estudos de Pedro de Araújo Lima, posto que Silva Borges poderia traficar desde muito tempo.

Pedro de Araújo Lima aumentava a sua lista. Acrescentava o item “Dinheiros que recebi em Lisboa desde agosto até novembro de 819”. De José da Silva Borges vinha, na lei, 250#000, reduzido a metal 225#000. E mais uma quantia de 594#400. Nesse momento, apareceria mais um nome: José Bento d’Arº, ou seja, José Bento de Araújo, de quem recebeu 1:200 na lei e reduzido a metal e 1:080#000. No final, a contabilidade das despesas feitas em Portugal seria 6:327#299363. Entretanto, José Bento de Araújo também merece algumas linhas nesse texto, para algum esclarecimento.

Ao menos pelos idos de 1796 José Bento de Araújo já negociava com os pernambucanos, sendo negociante na Corte364. Por volta de 1807 declarava ser o proprietário