• Nenhum resultado encontrado

3.2. O PLANEJAMENTO DA INFRAESTRUTURA VERDE

3.2.4. Escalas espaciais da Infraestrutura verde

Segundo Benecdict e McMahon (2002; 2006), os sistemas de Infraestrutura Ver- de devem conectar-se estrategicamente entre o meio urbano, seu entorno e paisagens rurais e áreas protegidas, dentro de escalas espaciais, como as exemplificadas (figura 3.10): (1) Escala particular que, para os autores, significa projetar áreas residenciais e comerciais ao redor de áreas verdes, nas quais se desenvolvam ações de conservação e inclua contexto recreativo para a população; (2) Escala local onde é possível criar cor- redores verdes ligando parques existentes ou a criação de parques na cidade; (3) Escalas estadual ou regional e a nacional nas quais pode se proteger grandes ligações paisagísti- cas que conectam florestas, biomas e outras áreas naturais extensas e relevantes para o funcionamento dos ecossistemas. Os autores salientam que mais importante do que no- mes dados às escalas e seu escopo exemplificativo, é a busca pelas oportunidades viá- veis para a criação da rede de Infraestrutura verde, considerando o cenário envolvido: “Em algumas áreas pode haver vocação clara para conservação na forma de hubs e

links. Em outras, a rede de Infraestrutura verde pode depender de terras que já foram, ou são, reservadas para outros usos.” (Benecdict e McMahon, 2006, tradução nossa).

Figura 3.10: Ilustração exemplificativa da interligação em escalas (adaptada). Fonte: https://cmap.illinois.gov/

Figura 3.11: Ilustração indicativa da análise multiescalar do planejamento da Infraestrutura Verde. (Firehock, 2014)

Firehock (2014), conforme ilustra a figura 3.11, considera que o contexto do planejamento da Infraestrutura Verde funciona no sentido da importância de cada escala em fornecer elementos para o desenvolvimento e integração dos aspectos ecológicos que numa visão uniescalar não podem ser captados. Em função dos processos naturais serem interligados por processos espaciais contínuos, a base do planejamento é manter ou estabelecer as conexões para não interromper os fluxos necessários para a prestação dos serviços ecossistêmicos e seus benefícios. Considerando o princípio “O contexto é importante” (item 3.2.3), para se efetuar interligações coerentes e desejáveis deve-se basear o planejamento na análise de cada escala, encontrando a melhor forma de transi- ção entre estas.

Nesse sentido, as paisagens podem ser consideradas sistemas hierárquicos com- paráveis às conexões dos sistemas viários na área de transporte, cada qual com certa dinâmica e a capacidade de tráfego. As paisagens, de forma análoga, cumprem funções semelhantes no que se refere ao controle dos processos ecológicos, em especial à migra- ção de espécies e aos processos hidrológicos. A abordagem multiescala envolve a avali- ação dessa hierarquia dentro da configuração espacial de padrões de paisagem e proces- sos ecológicos e de como esses interagem. Esta análise favorece a indicação de “ponto chave” para importantes interligações, sejam existentes ou que devem ser feitas. Em ambientes urbanos, as escalas apropriadas podem ser a região metropolitana, os bairros e os lotes. (Ahern, 2007).

Comier e Pellegrino (2008) consideram que uma escala regional, composta por “parques, corredores verdes e espaços naturais preservados” pode ser a base de um sistema de Infraestrutura Verde que, se expandido até a escala local, pode readequar

contextos da infraestrutura urbana implantada, em especial os relativos à drenagem sustentável. Em convergência com esta concepção, diversos autores incluem na escala local, dispositivos de sistemas de drenagem sustentável, como jardim de chuva, cantei- ro pluvial, biovaleta, lagoa pluvial, teto verde, entre outros, compondo a rede interco- nectada da Infraestrutura Verde (Yu e Padua, 2006; Comier e Pellegrino, 2008; Her- zog, 2010; Vasconcellos, 2011; Bonzi, 2015; Benini, 2015).

No entanto, Firehock (2010 e 2014) ressalta que há necessidade de diferenciar a “Infraestrutura Verde” de dispositivos construídos para o controle e manejo das águas pluviais no âmbito dos sistemas de drenagem urbana para não misturarem os seus conceitos. O “Low Impact Development” (LID) ou Desenvolvimento de Baixo Impacto é uma estratégia Norte-americana de design sustentável no âmbito dos proje- tos de drenagem com objetivo de simular o regime hidrológico de pré- desenvolvimento por meio das “Best Manegement Practices” (BMP) ou Melhores Práticas de Gestão das águas pluviais, em dispositivos e técnicas tais como aqueles citados acima pelos outros autores. Apesar de existirem autores que diferenciam a conceituação entre o LID e a Infraestrutura Verde, as duas abordagens estão integra- das, uma vez que o funcionamento das BMP tende a simular as condições hidrológicas anteriores ao desenvolvimento urbano, ou seja, visa explorar os mecanismos naturais para soluções de drenagem na transição entre o meio antrópico e o natural.

Belanger (2013) considera que a abordagem adaptativa na infraestrutura urbana com o desenvolvimento da infraestrutura verde pode ser implantada em locais públicos visíveis, propondo a convergência entre processos e serviços ecossistêmicos. Para Ah- ern, Pellegrino e Becker (2014), essa infraestrutura híbrida com abordagem paisagística busca compor serviços ecossistêmicos junto aos sistemas convencionais e à malha urba- na, apropriada para manter a integridade ecológica das paisagens das periferias urbanas. Com base nisso é possível identificar esse cenário de infraestrutura híbrida, na qual a infraestrutura cinza, as BMP e a infraestrutura verde funcionam integradas. Nesse senti- do é possível dizer que os sistemas de drenagem compostos pelas técnicas do LID, ao simular as condições de pré-desenvolvimento da área urbana, visam garantir que a va- zão a ser lançada nos corpos hídricos seja compatível com a capacidade de suporte da Infraestrutura Verde impactada. Por isso, infere-se que a utilização das BMP, propostas no LID, podem se constituir em soluções de drenagem urbana, visando garantir a sus- tentabilidade e a efetividade do funcionamento ecológico da Infraestrutura Verde.