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3.2. O PLANEJAMENTO DA INFRAESTRUTURA VERDE

3.2.3. Princípios do Planejamento da Infraestrutura Verde

O planejamento da Infraestrutura Verde propõe princípios para as suas soluções, buscando garantir sua adequação ao longo do tempo. Assim, segundo Benedict e McMahon (2002), deve-se buscar o planejamento proativo, antecipando uma visão de linha do tempo futura no sentido de projetar a expansão das áreas urbanas com base na proteção, recuperação e projeto da Infraestrutura Verde interconectada. Nesse contexto, quanto mais sistematizado e holístico o diagnóstico territorial, mais alinhadas serão as proposições do planejamento com a vocação para o uso e ocupação do solo local, consi- derando ainda a importante interligação de ecossistemas fragmentados. Tendo a bacia hidrográfica como unidade territorial de análise, as propostas devem abranger o âmbito de várias escalas espaciais e procurar ampliar os seus benefícios por meio da criação de espaços multifuncionais. Com base nessa caracterização, os mesmos autores sistemati- zaram dez princípios para o planejamento da Infraestrutura Verde em “Green Infras-

Tabela 3.1: Princípios da Infraestrutura Verde

Princípios para o Planejamento da Infraestrutura Verde

Princípio Caracterização

A Conectividade é o fundamento

O conhecimento científico evidencia que os processos ecológicos não podem funcionar sem as conexões naturais. Os hubs sem comunicação tendem ao empobrecimento de sua biodiversidade e declínio ecossistêmico.

O Contexto é importante

Cada local apresentará indicações diferentes para o planejamento. Devemos avaliar os caracteres de fauna e flora para planejar ligações desejáveis, evitando migrações ou trocas gênicas que possam afetar os processos ecológicos. Isso se refere também ao meio antró- pico. Por exemplo: (1) nas periferias podem o foco pode ser o plano de infraestrutura

verde para evitar a expansão horizontal e os problemas correlatos; (2) Em áreas cen-

trais os benefícios como saúde mental e física em ter espaços abertos disponíveis para o lazer; (3) Onde o abastecimento de água é limitado a infraestrutura verde pode ajudar a purificar a água; (4) Em áreas propícias a enchentes, a proteção contra enchentes por sistemas naturais pode ser o foco.

Baseada em conhecimentos transdisciplinar

A base de conhecimento da Infraestrutura Verde é transdisciplinar, formada pela interação de diversas disciplinas. Teorias e práticas de biologia da conservação, ecologia da paisa- gem, planejamento urbano e regional, arquitetura paisagística, geografia, engenharia am- biental e civil contribuíram para a evolução dos sistemas de Infraestrutura Verde.

Funcionamento em rede para conservação e desenvolvimento

O resultado desejado é a criação de redes de espaços que funcione como um todo ecológi- co e não como um agrupamento aleatório de partes não relacionadas. A conexão entre diferentes componentes do sistema - parques, reservas, zonas úmidas áreas ribeirinhas e outros espaços naturais - é fundamental para manter a vitalidade de serviços ecossistêmi- cos e à manutenção da biodiversidade. Além disso, para sua sustentabilidade ao longo do tempo, os sistemas de Infraestrutura Verde necessitam do envolvimento de vários atores nos setores público e privado de modo a se construir esforço conjunto de gestão.

Planejamento e proteção prévios

Deve-se ter em mente que o tempo para a efetivação de ações na Infraestrutura Verde é maior que na infraestrutura cinza, tanto para ações de fortalecimento quanto para mitiga- ção de danos ambientais. Em função disso, a recuperação de sistemas naturais é mais cara do que a proteção e preservação dos existentes. O planejamento prévio da Infraestrutura Verde pode fornecer, no âmbito do ordenamento territorial, a estrutura ecológica para o uso sustentável, sendo essencial identificar e proteger processos ecológicos, sempre que possível, antes da alteração advinda do desenvolvimento. Quando em áreas já ocupadas

e consolidadas, é importante avaliar onde recuperar a Infraestrutura Verde para obter benefícios para a população e para processos ecológicos, identificando as prio- ridades de recuperação para reconectar habitats isolados e oportunidades relaciona- das à sustentabilidade de Infraestruturas construídas.

Investimento público prioritário

A implementação do planejamento da Infraestrutura Verde reduz a necessidade de infraes- trutura cinza, liberando fundos públicos para outras necessidades da comunidade. Também reduz os riscos de inundações, incêndios e outros desastres naturais. Considerando esse cenário, o fornecimento de financiamento adequado é passo importante.

Benefícios para natureza e população

A base do planejamento da Infraestrutura Verde está na manutenção dos processos ecoló- gicos voltados aos serviços ecossistêmicos, o que beneficia não apenas a natureza, mas também a população que ainda poderá usufruir de espaços multifuncionais para recreação.

Respeito às partes envolvidas

A incorporação das experiências de diversos parceiros públicos e privados é importante para orientar as atividades que viabilizarão as ações para implementação da Infraestrutura Verde. Nesse sentido, é fundamental o envolvimento da comunidade porque o seu apoio da comunidade é duradouro e sensível à valorização econômica local. Para o êxito, as iniciativas devem estimular a população com a criação de uma visão compartilhada para conduzir o processo e favorecer o consenso.

Compromisso de

longo prazo

O planejamento da Infraestrutura Verde demanda por processos naturais cuja característica envolve ciclos temporais de processos naturais ligados à flora, à fauna, recursos hídricos e processos físico-químicos que, por sua vez, dependem do controle de condicionantes de uso e ocupação do solo e das atividades antrópicas em longo prazo.

Benedict e McMahon (2002) afirmam que a Infraestrutura verde pode obter mais êxito, funcionando em múltiplas escalas. Ahern (2007) considera que a abordagem mul- tiescala é a chave para a aplicação dos princípios da infraestrutura verde voltados ao planejamento de cidades sustentáveis no sentido do estabelecimento de processos eco- lógicos com base na conectividade funcional dos elementos projetados. De certa forma, ao observarmos os princípios elaborados por Benedict e McMahon (2002), é possível identificar que em todos existe a presença do conceito de análise multiescalar. Podemos inferir que a importância de se pensar em várias escalas é intrínseca ao planejamento da Infraestrutura Verde por causa da necessidade de conexão entre os componentes do sis- tema, inseridos em contextos diversos no uso e ocupação do solo, necessitando, portan- to, de ações diferenciadas.