SUMÁRIO
2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA E DE CONCEITOS
2.1 Conceitos Básicos
2.1.2 Escoamento Bifásico Gás-Líquido
Neste trabalho serão adotados os conceitos de escoamento multifásico em tubos para o estudo de bombas centrífugas operando com mistura gás-líquido. A terminologia que será adotada é baseada naquela proposta por Shoham (2006) e Rosa (2012). As variáveis de interesse do escoamento bifásico gás-líquido são estabelecidas por parâmetros dimensionais e adimensionais, muitos dos quais serão utilizados no decorrer deste trabalho e cujas definições são apresentadas a seguir. Os subscritos 𝐿 e 𝐺 representam a fase líquido e gás, respectivamente. Todas as variáveis são expressas em Sistema Internacional de unidades.
A vazão mássica da mistura gás-líquido 𝑚̇𝑀 é definida como a soma da vazão mássica das fases, assim:
𝑚̇𝑀 = 𝑚̇𝐿+ 𝑚̇𝐺 (2.30)
onde 𝑚̇𝐿 e 𝑚̇𝐺 são as vazões mássicas do líquido e do gás, respectivamente. A vazão volumétrica da mistura 𝑞𝑀 é definida como:
𝑞𝑀 = 𝑞𝐿+ 𝑞𝐺 (2.31) Sendo que: 𝑞𝐿 =𝑚̇𝐿 𝜌𝐿 ; 𝑞𝐺 = 𝑚̇𝐺 𝜌𝐺 (2.32)
onde 𝑞𝐿 e 𝑞𝐺 são as vazões volumétricas do líquido e do gás, respectivamente; e 𝜌𝐿 e 𝜌𝐺 são as massas específicas do líquido e do gás, respectivamente. No caso do estudo de bombas centrífugas, as massas específicas das fases são calculadas nas condições de temperatura e pressão da sucção.
As velocidades superficiais do líquido 𝑉𝑆𝐿 e do gás 𝑉𝑆𝐺 são definidas como sendo a vazão volumétrica da fase dividida pela área da seção transversal do tubo, conforme Equação (2.33). Fisicamente, 𝑉𝑆𝐿 e 𝑉𝑆𝐺 representam a velocidade média que cada fase teria se escoasse sozinha na tubulação.
𝑉𝑆𝐿 = 𝑞𝐿
𝐴𝑡 ; 𝑉𝑆𝐺 = 𝑞𝐺
𝐴𝑡 (2.33)
onde 𝐴𝑡 é a área da seção transversal ao escoamento.
A velocidade da mistura 𝑉𝑀 é dada pela soma das velocidades superficiais de cada fase, assim:
𝑉𝑀 = 𝑉𝑆𝐿+ 𝑉𝑆𝐺
(2.34) A fração de vazio 𝛼 é uma propriedade estatística do escoamento, medida localmente e que representa a probabilidade de existência de uma dada fase em um certo ponto no campo de escoamento. Em abordagens unidimensionais, a fração de vazio do gás 𝛼𝐺 é definida como a razão entre a área transversal ocupada pelo gás e a área da seção transversal ao escoamento.
𝛼𝐺 =𝐴𝐺 𝐴𝑡
= 1 −𝐴𝐿
𝐴𝑡 (2.35)
onde 𝐴𝐺 é a área ocupada pelo gás e 𝐴𝐿 é a área remanescente ocupada pelo líquido. De forma análoga para o líquido, tem-se 𝛼𝐿:
𝛼𝐿 = 𝐴𝐿
𝐴𝑡 (2.36)
A soma das frações de cada fase, ou a soma da probabilidade de ocorrência das fases deve ser unitária, portanto:
𝛼𝐺+ 𝛼𝐿 = 1
(2.37) A velocidade média local de cada fase é definida por:
𝑉𝐿 = 𝑞𝐿 𝐴𝐿
; 𝑉𝐺 = 𝑞𝐺
𝐴𝐺 (2.38)
Essas velocidades, também, podem ser escritas em função das velocidades superficiais e fração de vazio, assim:
𝑉𝐿 = 𝑉𝑆𝐿
𝛼𝐿 ; 𝑉𝐺 = 𝑉𝑆𝐺
Essas são as velocidades médias reais das fases líquido e gás, que são maiores que as velocidades superficiais.
Para escoamentos bifásicos em tubos verticais ou inclinados ascendentes, a fase menos densa e/ou menos viscosa tende a escoar com maior velocidade. Em escoamentos gás- líquido, o gás escoa mais rápido que o líquido exceto em escoamentos descendentes. A diferença entre as velocidades locais das fases resulta no escorregamento de uma fase em relação a outra (Govier e Aziz, 1972). A velocidade de escorregamento 𝑉𝑆𝐿𝐼𝑃 (slip velocity) entre as fases é dada por:
𝑉𝑆𝐿𝐼𝑃 = 𝑉𝐺− 𝑉𝐿 (2.40)
Alguns escoamentos bifásicos apresentam um arranjo topológico coerente com os princípios de uma mistura homogênea. Esses escoamentos são chamados de homogêneos, e idealmente, não apresentam escorregamento entre as fases. Portanto, a velocidade da fase líquida é igual à velocidade da fase gasosa. De modo geral, essa condição é válida para o escoamento de pequenas bolhas dispersas carregadas por uma fase líquida continua que ocorre comumente em escoamentos com elevadas vazões de líquido.
Para escoamentos homogêneos podemos reescrever as Equações (2.35) e (2.36), considerando 𝑉𝐺 = 𝑉𝐿. Isto é: 𝛼𝐺 =𝐴𝐺 𝐴𝑡 = 𝐴𝐺𝑉𝐺 (𝐴𝐺+ 𝐴𝐿)𝑉𝐺 = 𝑞𝐺 𝑞𝐺 + 𝑞𝐿 = 𝜆𝐺 𝛼𝐿 = 𝐴𝐿 𝐴𝑡 = 𝐴𝐿𝑉𝐿 (𝐴𝐺+ 𝐴𝐿)𝑉𝐿 = 𝑞𝐿 𝑞𝐺 + 𝑞𝐿 = 𝜆𝐿 (2.41)
onde 𝜆𝐺 e 𝜆𝐿 são conhecidas como frações homogêneas de gás e líquido, respectivamente. A velocidade de deslizamento (drift velocity) das fases é definida como sendo a velocidade relativa a um referencial que se move com a velocidade do centro de volume da mistura. O termo deslizamento significa a magnitude do desvio da velocidade da fase em relação a velocidade da mistura 𝑉𝑀. Assim:
𝑉𝐷𝐿 = 𝑉𝐿− 𝑉𝑀 ; 𝑉𝐷𝐺 = 𝑉𝐺 − 𝑉𝑀 (2.42)
onde 𝑉𝐷𝐿 e 𝑉𝐷𝐺 representam as velocidades de deslizamento das fases líquido e gás, respectivamente.
A velocidade de deslizamento superficial das fases (drift flux), ou velocidade de difusão da mistura, é outro importante parâmetro em escoamentos bifásicos que tem origem na diferença de velocidade entre as fases. As velocidades de deslizamento superficiais para o líquido e o gás são definidas por:
𝐽𝐿 = 𝛼𝐿(𝑉𝐿− 𝑉𝑀) ; 𝐽𝐺 = 𝛼𝐺(𝑉𝐺 − 𝑉𝑀) (2.43)
onde 𝐽𝐿 e 𝐽𝐺 representam as velocidades de deslizamento superficial das fases líquido e gás, respectivamente.
2.1.2.1 Modelo de Deslizamento (Drift-Flux)
O modelo de deslizamento ou Drift-Flux Model foi proposto originalmente por Zuber e Findlay (1965). Esse modelo cinemático considera o deslizamento e a não uniformidade de distribuição das fases na seção transversal da tubulação. A formulação do modelo de deslizamento parte da representação local das variáveis do escoamento, seguido do processo de média. O valor médio de uma variável 𝜓 na área da seção transversal 𝐴 do tubo é definido por (Rosa, 2012):
〈𝜓〉 = 1
𝐴∫ 𝜓𝐴 𝑑𝐴 (2.44)
onde 〈𝜓〉 representa a média da variável 𝜓 na área transversal do tubo.
Outra definição fundamental para o desenvolvimento do modelo de deslizamento é o processo de média ponderada pela concentração da fase na seção transversal. A média da propriedade 𝑓 da fase 𝑘 ponderada pela fração de vazio 𝛼𝑘 desta fase, representada por 〈𝑓𝑘〉𝛼, é definida por: 〈𝑓𝑘〉𝛼 = 1 𝐴 ∫ 𝛼𝐴 𝑘𝑓𝑘 𝑑𝐴 1 𝐴 ∫ 𝛼𝐴 𝑘 𝑑𝐴 (2.45)
Aplicando a definição de média a Equação (2.45), tem-se:
〈𝑓𝑘〉𝛼=
〈𝛼𝑘𝑓𝑘〉
O processo de média pode ser aplicado em ambos lados da Equação (2.42), resultando na velocidade de deslizamento média ponderada pela fração da fase 𝑘. Considerando-se a fase gás, tem-se:
〈𝑉𝐷𝐺〉𝛼= 〈𝑉𝐺〉𝛼− 〈𝑉𝑀〉𝛼 (2.47)
onde 〈𝑉𝐷𝐺〉𝛼 é a velocidade de deslizamento média ponderada do gás, 〈𝑉
𝐺〉𝛼 é a velocidade média ponderada do gás e 〈𝑉𝑀〉𝛼 é a velocidade média ponderada da mistura.
As velocidades médias ponderadas 〈𝑉𝐺〉𝛼 e 〈𝑉𝑀〉𝛼 podem ser calculadas aplicando- se a definição da Equação (2.46). Isto é:
〈𝑉𝐺〉𝛼= 〈𝛼𝐺𝑉𝐺〉 〈𝛼𝐺〉 = 〈𝑉𝑆𝐺〉 〈𝛼𝐺〉 (2.48) 〈𝑉𝑀〉𝛼 = 〈𝛼𝐺𝑉𝑀〉 〈𝛼𝐺〉 (2.49)
Substituindo as Equações (2.48) e (2.49) na Equação (2.47), tem-se:
〈𝑉𝐷𝐺〉𝛼= 〈𝑉𝑆𝐺〉
〈𝛼𝐺〉
−〈𝛼𝐺𝑉𝑀〉
〈𝛼𝐺〉 (2.50)
Introduzindo o parâmetro de distribuição 𝐶0 chega-se a: 〈𝑉𝑆𝐺〉 〈𝛼𝐺〉 = 𝐶0〈𝑉𝑀〉 + 〈𝑉𝐷𝐺〉𝛼 (2.51) sendo: 𝐶0 = 〈𝛼𝐺𝑉𝑀〉 〈𝛼𝐺〉〈𝑉𝑀〉 (2.52)
O parâmetro de distribuição 𝐶0 é introduzido devido à Equação (2.50) possuir uma média de um produto. É conveniente expressar essa equação por meio do produto das médias em vez de média de produtos, o que é feito introduzindo o 𝐶0. O parâmetro de distribuição 𝐶0 depende, exclusivamente, do perfil de 𝛼𝐺 e 𝑉𝑀 na seção transversal.
Zuber e Findlay (1965) verificaram, experimentalmente, que 𝐶0 e 〈𝑉𝐷𝐺〉𝛼 eram constantes para os padrões bolhas e intermitente no escoamento vertical. Para o escoamento em bolhas, tem-se: 𝐶0 = 1,2 − 0,2√𝜌𝐺 𝜌𝐿 (2.53) 〈𝑉𝐷𝐺〉𝛼 = 1,53 [ 𝑔(𝜌𝐿− 𝜌𝐺)𝜎 𝜌𝐿2 ] 0,25 (2.54)
onde 𝑔 é a aceleração da gravidade e 𝜎 é a tensão superficial.
Para o escoamento intermitente vertical 𝐶0 = 1,2 e 〈𝑉𝐷𝐺〉𝛼 é dado por:
〈𝑉𝐷𝐺〉𝛼 = 0,35 [ 𝑔𝐷𝑇(𝜌𝐿− 𝜌𝐺)𝜎 𝜌𝐿 ] 0,5 (2.55)
onde 𝐷𝑇 é o diâmetro da tubulação.