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CAPÍTULO 2 POR ONDE TÊM TRANSITADO OS ESTUDOS

2.3. ESCOLA, CRIANÇAS, INFÂNCIA

2.3.2 Escola, criança(s) e infância em dissertações e teses

No banco de teses da CAPES, Batista (2006) localizou 410 produções33 sobre educação e infância34 defendidas em programas de pós-graduação do País no período de 1987 a 2003. A partir da análise de 324 resumos, realça as seguintes características gerais dessa produção (idem, p. 55):

a) Forte presença de pesquisas do âmbito da Educação Infantil – dentre as autoras, Rocha (1999)35; Strenzel (2000)36; Guthiá (2002)37, e Moraes (2005)38, do Núcleo de pesquisa sobre a Educação da Pequena Infância/UFSC (antes denominado de “zero a seis”);

b) Psicologia e Educação foram as principais áreas a realizar pesquisas sobre infância39;

c) As pesquisas que procuraram estabelecer relações entre criança e escola buscaram compreender limites e possibilidades da escola pública quanto ao atendimento do(a) aluno(a) do ensino fundamental, com destaque para as crianças de classes populares. Expressaram comprometimento com esta realidade social no contexto da trajetória da democratização do sistema educacional brasileiro – que, é sabido, historicamente não garantiu, lado a lado,

33 324 dissertações e 86 teses.

34 A autora anexa ao seu estudo lista dos títulos, respectivos autores e autoras e

data de defesa, favorecendo a realização de outros estudos que focalizem diferentes sub-temas eixos, articulações temáticas.

35 A Pesquisa em educação infantil no Brasil: trajetória recente e perspectivas de

consolidação de uma pedagogia (defendida na UNICAMP pela coordenadora do NUPEIN/UFSC).

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A educação infantil na produção dos programas de pós-graduação em educação no Brasil: indicações pedagógicas das pesquisas para a educação da criança de zero a seis anos, defendida na UFSC.

37 Currículos, propostas e programas para a educação infantil na produção

acadêmica brasileira (1990-1998).

38 Educação infantil: uma análise das concepções de criança e de sua educação

na produção acadêmica brasileira recente (1997-2002).

39 Com contribuições pontuais da Lingüística, Letras e Literatura; Antropologia

Social; História; Sociologia; Serviço Social; Artes; Educação Física, e Comunicação e Cultura, segundo a autora citada.

amplo acesso, permanência e qualidade de ensino em qualquer um dos seus níveis (Idem, p. 56).

d) O termo infância aparece, com grande freqüência, como sinônimo de criança, expressando imprecisão conceitual, observa Batista;

e) Falta rigor nos resumos, sobretudo quanto à explicitação e delimitação do problema de pesquisa e dos referenciais teórico-metodológicos – também reiteradamente assinalado em outras análises dos estudos do campo educacional (Warde, 1990; 1995; Sponchiado, 1997, Batista, 2006, etc).

O exame minucioso de oito dissertações40, compreendidas como um microcosmo do estrato qualitativamente representativo das fontes coligidas (Batista, 2006, p. 58) indicou que os estudos sobre a relação infância e escola só se fizeram presentes partir de 1990, e principalmente de 2000 – mesmo não tendo sido coberta toda a década, concentra-se nestes mais recentes anos 60% desta produção, sugerindo-a como temática candente. Foram realizados, sobretudo, em instituições das regiões Sul e Sudeste, nas linhas de pesquisa História, Sociedade e Educação; Filosofia e História da Educação; Psicologia da Educação; Processos de Ensino e aprendizagem; Sociologia da Educação, e Educação e Infância. São mulheres as suas autoras, o que se deve, muito provavelmente, à socialização que tende a se dar de acordo com as históricas expectativas em torno de cada gênero; e, se no nível do senso comum (também o educativo) ainda é facilmente naturalizada esta associação mais ou menos direta entre mulheres e educação das crianças [uma construção histórica de gênero], resulta do efetivo avanço na carreira que sejam principalmente elas (nós) a produzir conhecimento a respeito. Sobretudo porque não está distante o tempo em que apenas vozes masculinas eram ouvidas nos altos níveis da carreira acadêmica também nos campos tradicionalmente tidos como femininos – o educacional, inclusive. E há uma linha de pesquisa voltada aos estudos sobre Educação e Infância, no PPGE/UFSC, [único] programa em que foram defendidas duas das dissertações aqui pautadas: Flor (em 2003) e Pinto (em 2003), sendo do mesmo Programa a pesquisa de Batista (2006), como também o presente estudo.

40 A autora anexa à dissertação os resumos de tais estudos, um quadro analítico

por ela construído como parte do processo de exame das produções, além dos sumários e lista de autores e autoras utilizados em cada um desses estudos para abordagem do tema infância.

Os temas objeto de estudo das dissertações analisadas por Batista (idem) abordaram a relação infância e escola pela questão da socialização (em Gómez, 1994); das experiências do tempo na escola (em Correia, 1995); das representações sociais dos adultos (em Drumond, 1998); das representações sociais das crianças (em Costa, 2000); da posição social ocupada por meninos e meninas no processo de socialização familiar e escolar (em Breganholi, 2002); do processo histórico de escolarização paulista (em Rossinholi, 2002); das concepções de criança e infância presentes nos planos de ensino e de curso de formação de professoras/professores, e da condição social do brincar na escola (em Pinto, 2003). (Idem, p. 62). Como principais autores de referência, estas pesquisas citaram Bernard Charlot; Manoel Sarmento; Lev S. Vigotski e Valter Benjamim (idem, p.64-73).

A discussão teórica do campo educacional avançou na elaboração do conceito de criança, distanciando-se das concepções abstratas e considerando-a em suas condições concretas de existência; mas isso não se traduziu no modo de conceber e tratar as crianças na pesquisa de campo, conforme análises de Paiva et. al., 1998; Sampaio, 2004; Marin et. al., 2005, Carvalho, 2005; Batista, 2005, apreciadas também em Batista (2006, p. 68). E ainda que a construção social da infância fosse consenso, indica o estudo, “... o conjunto das subcategorias encontradas no corpus da amostra pouco diferenciam ou caracterizam quem é a criança de que se está tratando/abordando” (Batista, idem, p. 70). A maioria destas dissertações fez um apanhado histórico, demarcou o reconhecimento social da criança e a necessidade de sua orientação/formação/educação, e apenas duas realizaram estudo mais sistemático sobre a criança e a educação (idem, p.73).