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ESCOLA DE EDUCAÇÃO BÁSICA JUREMA CAVALLAZZI Figura 11 Atividade cultural na escola Jurema Cavallazz

AS UNIDADES DE ENSINO ASSOCIADAS À COMISSÃO DE EDUCAÇÃO DO FÓRUM DO MACIÇO DO MORRO DA CRUZ

3.2. ESCOLA DE EDUCAÇÃO BÁSICA JUREMA CAVALLAZZI Figura 11 Atividade cultural na escola Jurema Cavallazz

Fonte: HORTA NATUREZA (2011)

A escola de educação básica Jurema Cavallazzi está localizada na Rua professor Aníbal Nunes Pires, no bairro José Mendes, próximo às comunidades do Morro da Queimada e Prainha (v. Figura 9). Os dados relacionados ao número de servidores, professores e estudantes podem ser observados no Quadro 11 a seguir.

Quadro 11 - Dados da escola Jurema Cavallazzi

Alunos Turmas Servidores Administrativo Professores

(total) Efetivos ACTs

384 19 40 1 31 18 13

De acordo com Henning (2007 p. 40-41), 33% dos/as estudantes atendidos por esta escola moram na comunidade do Morro da Queimada; 24% residem na Prainha; e 17% são provenientes do bairro José Mendes. Todavia, há também estudantes originários da comunidade do Morro do Mocotó, totalizando 11%. A composição final dos/as que estudam nesta escola se dá a partir de outras localidades não pertencentes às comunidades dos morros do maciço.

Tendo por referência o PPP (2004) da escola, a mesma foi criada pelo decreto 119/SE de 14 de fevereiro de 1974 e a sua denominação foi uma homenagem do então governador de Santa Catarina daquele período – Colombo Machado Salles – à educadora Jurema Cavallazzi. A arquitetura da escola é bastante semelhante à da escola Lúcia do Livramento Mayvorne, embora as janelas das salas de aula sejam maiores e a quadra de esportes seja descoberta.

Nos últimos anos, mesmo com a apresentação de relatórios180 sobre as condições estruturais da escola para a Gerência Regional de Educação (GERED) e para a SDR (Secretaria de Desenvolvimento Regional) da Grande Florianópolis, nenhuma obra de grande impacto foi concretizada nesta unidade de ensino. Nesta direção, a comunidade escolar fez o seguinte levantamento das condições estruturais de trabalho no ano de 2003: a) sanitários com problemas na descarga, ausência de portas e cestos de lixo, além de sabonete líquido e papel higiênico insuficientes; b) bebedouros quebrados e com problemas em seu sistema de filtragem, ocasionando diarréia nos/as estudantes; c) pintura externa e interna comprometida; d) poucos ventiladores de teto e em grande parte danificados; e) cortinas rasgadas e muito claras, prejudicando a projeção de slides ou transparências; f) fiação elétrica comprometida devido à umidade e às goteiras em dias de intensa chuva; g) algumas salas de aula insalubres, com pouca ventilação; h) readequação do espaço físico da biblioteca escolar; i) cozinha e refeitório escolar insalubres, não apresentando as condições adequadas de higiene; j) ausência de profissionais na área de orientação educacional; k) sala de vídeo pedagogicamente inadequada, com assentos impróprios, ventilação insuficiente e equipamentos de áudio e vídeo precarizados; l) ausência de latões de lixo reciclável; m) inexistência de sala de educação artística; n) e ausência de peças de

180 Relatório que foi apresentado durante a gestão democrática 2003-2006, da qual fiz parte como diretor-adjunto (2003-2004).

reposição para a máquina de cortar grama, máscaras e luvas para manipulação de substâncias químicas pelos servidores da escola181.

Atualmente, algumas destas demandas foram parcialmente solucionadas, o que não significa que as condições de trabalho de funcionários, professores/as e estudantes tenham significativamente alcançado um patamar que consideramos minimamente satisfatório para todas as ações pedagógicas realizadas em seus diferentes espaços de convívio.

No que se refere aos pressupostos filosóficos ou concepções de aprendizagem, o PPP da unidade de ensino – ainda que prescritivamente – fundamenta-se no materialismo histórico, onde todas as áreas do conhecimento devem se dirigir numa perspectiva de ‘universalidade’. Logo, a concepção de aprendizagem é a sociointeracionista, baseada nos estudos de Vygotsky. Os/as professores em tal concepção teriam uma função mediadora entre o conhecimento historicamente construído e aquilo que o/a estudante traz de sua realidade social. Contudo, na versão aqui analisada deste documento182, não há qualquer menção ao projeto de formação continuada proposta pela Comissão de Educação do Fórum do Maciço do Morro da Cruz, o que denota um descompasso entre a intencionalidade prescritiva e o que efetivamente ocorre neste espaço escolar.

O histórico da comunidade local é muito abrangente e os dados apresentados no PPP são muito restritos, o que impossibilita compreender com que público a escola efetivamente trabalha. Assim, o dinamismo no espaço escolar nem sempre é acompanhado pelas atualizações do PPP, gerando um documento que se apresenta mais como ‘intenção prescritiva’ do que propriamente como ‘intenção propositiva’, o que demandaria esforços conjuntos de seu corpo pedagógico na elaboração e reelaboração de seus pressupostos filosóficos. Todavia, a escola de educação básica Jurema Cavallazzi apresenta uma importante tradição histórica no que se refere à discussão dos seus critérios de avaliação, além de garantir os conselhos de classe participativos (com a presença dos/as estudantes e familiares), assim como a aposta em suas instâncias coletivas (conselho deliberativo), embora não tenha atualmente um grêmio estudantil devidamente organizado.

181 Realidades também presentes nas demais unidades de ensino associadas à CE/FMMC. 182 Os PPPs, via de regra, são constantemente reformulados, daí se dizer que se trata de um ‘documento em movimento’. Contudo, a essência de seus propósitos filosóficos se mantém, o que não nos permite afirmar categoricamente que suas determinações prescritivas correspondam ipso facto ao que ocorre no território escolar.

Para Nacur (2002, p.14), entretanto, a escola de educação básica Jurema Cavallazzi, apesar de todos os esclarecimentos possíveis sobre a realidade social da comunidade local, ainda apresenta um corpo docente indiferente a esta realidade, reveladas numa prática discursivo- pedagógica que responsabiliza unicamente as famílias pelas atitudes de violência e dificuldades de aprendizagem dos/as estudantes. Além disso, ao não se conseguir trabalhar com tal público, os/as professores/as exigiriam o afastamento de estudantes que apresentam ‘comportamentos inadequados’, utilizando-se da estratégia do ‘prêmio’ e do ‘castigo’ para se resolver os ‘distúrbios comportamentais’. Nacur destaca também (Idem, p. 37) que apesar da unidade de ensino contar com um conselho de classe participativo, seu processo de avaliação ainda é estanque, certificativo e desvinculado dos pressupostos contidos no PPP.

Para a atual secretária da CE/FMMC e educadora da escola Jurema Cavallazzi183 o processo de gestão escolar é muito importante para uma intervenção/articulação pedagógica mais eficiente, principalmente no que se refere a um projeto de formação continuada comum. Ainda não haveria, segundo a educadora, uma ‘cultura comunicacional’ na escola que permitisse que todos os/as professores/as tivessem acesso às atividades propostas pela CE/FMMC e o porquê de sua importância estratégica no atendimento do público escolar originário das comunidades dos morros:

As reclamações que eu tenho dos professores [das escolas] Padre Anchieta e Celso Ramos [em minha atual condição de] secretária é de que não acontece o repasse [das reuniões da Comissão de Educação]. E eu não acredito que seja uma coisa intencional, de não repassar. Mas, não existe também uma prioridade. [...]. Fica uma [sensação] de que todo o ano tu tens que estar retomando e parece que tu dás um passo pra frente e dez pra trás [...]. [Temos] de ter sempre como prioridade a primeira semana de planejamento que a gente fez este ano, [...]. Lá na escola [Jurema Cavallazzi] sempre vão [duas representações nas reuniões da Comissão de Educação]. [...] às vezes a coisa fica muito ali na equipe pedagógica. [...]. Então, é uma coisa que tem que tá sempre batendo na tecla e retomando.

Por outro lado, a educadora compreende a importância de a escola poder articular momentos regulares de encontros pedagógicos com todos os seus professores e com representações da comunidade local:

Eu acho que a importância maior é a gente poder articular ações coletivas que surtam resultados para a escola e para a comunidade. [...]. Tu teres enquanto direção um apoio e um local para poder estar socializando estas angústias do dia a dia da escola, porque é [algo] necessário [...].

As visitas às comunidades dos morros, nesta direção, tornaram-se práticas regulares das escolas associadas à CE/FMMC até meados de 2006, servindo de importante instrumento de observação e posterior intervenção pedagógica184. Em março de 2004 professores e professoras da escola Jurema Cavallazzi realizaram uma ‘caminhada pedagógica’ na comunidade do Morro da Queimada, tendo como guia um professor de Geografia da referida unidade de ensino. O professor-guia, morador da comunidade José Mendes, relatou-nos que há poucos registros históricos sobre o bairro e que há uma fronteira social muito fulgente entre os moradores da ‘parte baixa’ (José Mendes) e os da ‘parte alta’ (Morro da Queimada). Os antigos moradores da localidade, como foi o caso de Manoel Sibrino Coelho, eram proprietários de imensos lotes de terra que abrangiam os territórios das duas comunidades elencadas, denotando práticas privatistas mesmo em regiões supostamente pauperizadas e aparentemente sem valor para o capital. Há relatos também de que determinados moradores do Morro da Queimada cobravam taxas de uso para a prática de esportes em seus espaços de convívio (DANTAS, 2010a).

A servidão185 que dá acesso ao Morro da Queimada só foi ‘lajotada’ na década de 1980. Antes disso, eram comuns os desmoronamentos de terra e acidentes graves envolvendo os moradores locais. O sistema de esgoto neste período era bem precário e clandestino em boa parte do morro. A designação da comunidade (Queimada) é resultado da queima do matagal e do lixo presente em determinados trechos da localidade para que as crianças pudessem brincar e jogar futebol. No início do Morro da Queimada é possível se avistar casas de alvenaria, contrastando com casebres de madeira sobre estacas ou casas

184 Aliás, esta era uma recomendação para todas as escolas associadas à CE/FMMC, objetivando mudanças nos PPPs e no processo de formação continuada.

com reboco à vista em sua área mais íngreme. Há ainda uma quantidade muito grande de terreiros de candomblé.

Após a ‘caminhada pedagógica’, os/as professores/as registraram as suas impressões em três segmentos: 1) Meio Ambiente; 2) Aspectos sociais e culturais; 3) Aspectos econômicos e renda. De uma maneira geral, os professores consideraram que a comunidade carece de uma coleta seletiva de lixo e tratamento de água e esgoto. Uma professora relatou que algumas crianças não têm banheiro e que fazem as suas necessidades fisiológicas num matagal. Apontaram também que as casas possuem uma construção frágil e que muitas estão em situação de risco (prestes a desabar), além de muitos dejetos orgânicos na localidade, sobretudo de cachorros. Constatou-se também que boa parte das crianças e jovens que residem na comunidade do Morro da Queimada e que são estudantes da escola Jurema Cavallazzi é negra, mas que há uma diversidade étnica muito grande, principalmente de famílias originárias da região oeste de Santa Catarina. Convivem permanentemente com a violência doméstica e o narcotráfico; há poucas áreas de lazer e, praticamente, todas as residências possuem pelo menos um aparelho de tevê. No segmento ‘trabalho e renda’, um professor comentou que já estão se realizando pesquisas de mercado nas comunidades dos morros de Florianópolis, objetivando o perfil de consumo destas comunidades.

Embora extenso, o relato da ‘caminhada pedagógica’ de 2004 representa um dos poucos registros históricos desta unidade de ensino sobre o perfil do público escolar atendido pela mesma. Nos últimos anos a escola tem sofrido decréscimo de matrículas, mesma situação das demais escolas associadas à CE/FMMC. Há poucas turmas no ensino médio noturno e o processo de evasão continua sendo uma questão séria a ser superada. No entanto, diferentemente da escola Lúcia do Livramento Mayvorne, não foi possível se ter acesso à sistematização dos dados do Sistema Estadual de Registro e Informação Escolar (SERIE ESCOLA) dos últimos cinco anos, concernentes às taxas de matrícula, aprovação/reprovação e abandono escolar.

Quadro 12 - IDEB da escola Jurema Cavallazzi

Fonte: Prova Brasil e Censo Escolar. Ensino Fundamental Metas Projetadas 2005 2007 2007 2009 2011 2013 2015 2017 2019 2021 Anos Iniciais - 3,3 - 3,7 4,1 4,4 4,7 5,0 5,3 5,6 Anos Finais 2,9 3,4 2,9 3,1 3,3 3,7 4,1 4,4 4,7 4,9

Mesmo que em relação à escola de educação básica Lúcia do Livramento Mayvorne os indicadores do IDEB da escola Jurema Cavallazzi sejam relativamente melhores, a referida unidade de ensino apresenta índices ainda muito baixos segundo a recomendação do MEC (v. Quadro 12). Mas, é possível perceber que os índices relacionados à projeção dos anos finais do ensino fundamental em 2021 são, praticamente, semelhantes nas duas unidades de ensino, evidenciando que as séries ulteriores do ensino fundamental representam verdadeiros ‘gargalos’ no que tange aos processos de retenção, reprovação e evasão escolares.

3.3. ESCOLA DE EDUCAÇÃO BÁSICA CELSO RAMOS