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Fazemos aqui a caracterização da escola A, campo de pesquisa de origem, que foi a escola de fato escolhida para a realização da pesquisa:

 Estrutura física

A caracterização do prédio da escola foi realizada no mês de maio/2011. A escola era grande e com uma estrutura física visivelmente boa, porém com problemas estruturais antigos, que mesmo com a reforma por qual passou em 2010, não foram resolvidos, tais como o problema na eletricidade e a falta de

cobertura da quadra de esportes. Os alunos ficavam no sol ou na chuva para poder realizar as atividades esportivas.

Os alunos voltam suados demais, porque fazem o esporte no sol e quando chovem não fazem, a professora junta duas, três turmas para fazer a aula, aí acabam brigando, uma loucura, eles ficam eufóricos e imagine só depois voltar para a sala, eles já estão cansados e não querem fazer mais nada, reclamam logo se eu fizer atividade, já falei com a direção para colocar a educação física por última, mas aí outra turma que foi contemplada, daí eu faço atividades mais leves após a educação física deles, é o jeito, pelo contrário eles não conseguem fazer (fala de Maria no mês de maio de 2011 no final de uma aula que estava sendo filmada). Havia ainda outros pontos negativos referentes à estrutura, tais como, a sala de leitura que ficava fechada por não ter funcionário responsável. O acervo de livros era bem variado e de ótima qualidade, mas permanecia sem uso. O laboratório de ciências também vivia fechado e sujo, com muitos materiais com prazo de validade vencido, que deveriam ter sido usados pelos alunos, mas que aparentemente nunca haviam sido manipulados. O retroprojetor estava sempre quebrado. A copiadora raramente tinha tinta. A sala de vídeo estava ocupada guardando materiais escolares, servindo de almoxarifado. A sala de informática não funcionava porque quando os computadores estavam ligados, a energia da escola não suportava a carga e desligava todo sistema elétrico da escola. Na reforma realizada em 2010 foram refeitas a parte elétrica da escola, mas o problema não foi solucionado.

São ótimos os livros que tem na biblioteca daqui, tem livros superinteressantes, mas ficam lá nas estantes porque a biblioteca vive fechada né e eu fiquei impressionada com a sujeira que estava no laboratório de ciências, sem falar que a maioria dos produtos estava fora da validade. Isso é um absurdo, porque não é toda escola que tem um laboratório e o daqui até que é bom, eles deviam aproveitar isso já que tem, é colocada uma burocracia e ninguém quer quebrar, a própria coordenadora devia fazer uma organização a favor de atividades que utilizassem tanta a biblioteca como o laboratório, mas até a copiadora tem limites para o uso e os professores deixam para lá (Fala de uma das bolsistas do PIBID que estagiava na sala de Maria no mês de maio de 2011).

A escola possui turmas do 3º ano do ensino fundamental até o ensino médio. Segundo a política educacional adotada no Estado de Alagoas, a pretensão era que as escolas municipais de Maceió ficassem responsáveis pelos anos iniciais do ensino fundamental e que as escolas estaduais se responsabilizassem do 6º ano ao ensino médio. Dessa forma 2011 foi o último ano na escola que teve o 3º ano do ensino fundamental, sendo em 2012 a última turma a formar de 4º ano e em 2013 consequentemente a última de 5º ano, até finalizarem todas as turmas dos anos iniciais do ensino fundamental na escola A, pertencente à rede estadual de educação. Esse fato explica a grande quantidade de Monitores e sugere que o Estado de Alagoas não deve realizar concurso efetivo para docentes dos anos iniciais do ensino fundamental, a não ser que haja alguma mudança nesse acordo.

Eu não sei como vai ficar de fato minha situação, porque quando aqui só tiver mesmo a partir do 6º ano eu vou ter que ensinar história e eu não queria, eu nunca ensinei história e nunca ensinei adolescentes, mas minha graduação foi em história porque foi pela oportunidade de fazer, só que eu entrei no Estado com o magistério para ensinar o fundamental menor (Fala de Maria em maio de 2011).

Maria se encontrava numa situação se insegurança e incertezas. Ela demonstrava irritação por não saber como seria seu futuro profissional.

 Professores da escola

A maioria do corpo docente no ano de 2011 era composta por professores Monitores (contratados temporariamente e sem vínculo empregatício). A maior reclamação deles era o fato de mudarem muito de escola e de não possuírem direitos como os professores efetivos. A professora participante da pesquisa é uma das professoras da escola que é realmente efetiva da rede estadual. Esse problema vem se agravando no estado por falta de concurso público na educação, decorrente de um acordo com os municípios que gradualmente se responsabilizarão pela educação infantil e o ensino fundamental I, saindo do âmbito do governo estadual. Tem sido realizada seleção apenas para Monitores, ocorrendo assim, o desmonte do magistério em Alagoas.

A professora de educação física dava uma aula para 3 turmas ao mesmo tempo por falta de outro professor.

Eu sou quem menos gosto dessa situação, porque só quem é professor sabe o que é passar por isso, me formei para ser uma boa profissional e não para brincar de ensinar e educação física não é brincar como muitos pensam. A diretora pede para juntar, eu aceito em nome dos alunos, mas na verdade isso é um desrespeito a eles (Fala da professora de educação física no dia 16 do mês de maio de 2011).

A professora de educação física ficava chateada com a falta de respeito com sua profissão e sua disciplina. Por esses motivos disse achar melhor dar aulas em academias de musculação.

Tem um dia na semana que minha filha vem para escola só para ter aula de inglês, porque não tem professor aqui nessa escola e nós moramos longe. Isso não é justo, ela tem que ficar esperando o ônibus (transporte escolar do estado) sair de 11h30min ou então eu tenho que vir buscar (Fala do pai de uma aluna do 6º ano do ensino fundamental na portaria da escola para professora Maria na hora da saída no dia 16 do mês de maio de 2011).

Toda essa situação precária de professores reflete no comportamento dos pais e dos alunos.

A pior coisa moça é a esse negócio de troca de professor, quando a pessoa vai se acostumando com um, ele sai e vem outro. Isso é uma presepada, porque teve um que já chegou fazendo prova, aí a gente bagunça mesmo (Fala de uma aluna do 6º ano do Ensino Fundamental no intervalo do dia 16 de maio de 2011).

Esse era o clima na escola, sempre havia uma professora, um pai de aluno ou aluno reclamando de alguma coisa. Essa vem sendo a realidade das escolas estaduais em Alagoas desde a década de 90.