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A professora participante de nossa pesquisa e que estamos chamando ficticiamente por Maria9 é professora da rede estadual desde 1985. Tinha 45 anos 9 Nome fictício para preservar sua identificação. A história de vida da professora trazemos de

forma detalhada no 5º capítulo, na qual iremos discutir seu estilo docente e todas as transcrições encontra-se nos anexos.

de idade e 26 anos de experiência no magistério no período da coleta de dados da pesquisa. Era viúva e tinha 2 filhos, uma moça de 23 anos que já trabalha e um rapaz de 18 anos que fazia faculdade. Ela morava perto da escola, no mesmo bairro. Ela ia e voltava do trabalho usualmente a pé ou em carro próprio. A turma que lecionava era o 3º ano do ensino fundamental do turno matutino.

Durante as observações e filmagens da atividade docente de Maria, foi possível perceber que ela seguia um livro didático e notadamente procurava se adaptar às suas condições de trabalho. Exigia sempre resultados dos alunos e das alunas e constantemente questionava em sala de aula o papel da família dos alunos por não os acompanhar nos estudos. Avaliava os alunos frequentemente e tinha o hábito de dar presentes para seus/as alunos e alunas.

Maria circulava bastante pela sala de aula. Um fator que frequentemente atrapalhava o decorrer das atividades eram as interferências na aula de funcionários ou alunos que abriam a porta da sala, por motivos diversos. A professora Maria, a partir do segundo dia de contato com a pesquisadora passou a comentar com mais frequência seu descontentamento com as condições da escola, contando os fatos que ocorriam na escola e a situação geral que tanto lhe afligiam da educação no estado de Alagoas.

Maria parecia ser uma professora calma, mas durante as aulas observadas e filmadas, foi possível perceber que sempre demonstrava irritação quando precisa explicar várias vezes o mesmo assunto para seus alunos. Ela por muitas vezes acabou perdendo o controle e realizando sermões que responsabilizavam os alunos e seus pais pelos comportamentos que considerava que deveriam ser desejáveis para um bom andamento das atividades por parte dos estudantes, sem ser atendida. Reclamava constantemente, atribuindo como irresponsáveis tanto os alunos quanto os seus pais, por não os colocar para estudar e realizar as tarefas que ela destinava a serem feitas em casa. Maria reclamava por não ver progresso na aprendizagem de alguns de seus alunos e muitas vezes externou sua fala de forma agressiva diante de sua turma, que assistia passivamente. Esses episódios foram todos filmados.

O barulho que vinha do corredor da escola atrapalhava a aula. Os alunos do 6º e do 7º ano, como estavam sem professores em muitas disciplinas, brincavam no corredor. A professora, às vezes, precisava gritar para que os

alunos a escutassem. Quase todo dia tinha briga na escola entre alunos, inclusive entre os do 3º ano matutino.

Você está vendo como é né? Tem hora que eu preciso gritar por causa desse barulho que vem lá de fora. E essas brigas dos alunos são absurdas, mas sabe o que é isso, a escola é vista como um depósito, os pais jogam os filhos aqui, não educam e acham que nós temos que nos virar. Eu não digo que o professor tem que ser duro, mas sou a favor de ser rígido porque senão eles não deixam nem a gente trabalhar. Só sabe como é a rotina quem está dentro da sala de aula. Muitos acham que a professora é chata, mas só consegue realizar as atividades planejadas se houverem as regrinhas, por isso eu converso muito com eles, para poder entrar em acordos (MARIA, 2011).

A turma de Maria contava com duas bolsistas do Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência - PIBID10 da Universidade Federal de Alagoas -

UFAL. As duas bolsistas são importantes na turma de Maria porque apesar dela ter alunos deficientes não tem auxiliar de sala e as estudantes de Pedagogia bolsistas de PIBID ajudavam Maria a conduzir algumas atividades com esses/as alunos/as especiais. As bolsistas do PIBID serviam de ajudantes da professora por falta de auxiliares de sala, a própria professora afirmou isso e a seu pedido, as bolsistas dão reforço nos dias de sexta para os alunos que apresentam dificuldades de aprendizagem.

Tenho 3 alunos especiais. Um tem 13 anos e ainda não é alfabetizado e eu não tenho auxiliar de sala, então as meninas do PIBID me ajudam, mas depois que elas forem embora vai complicar demais (MARIA, 2011).

10 O programa oferece bolsas de iniciação à docência aos alunos de cursos presenciais que se dediquem ao

estágio nas escolas públicas e que, quando graduados, se comprometam com o exercício do magistério na rede pública. O objetivo é antecipar o vínculo entre os futuros mestres e as salas de aula da rede pública. Com essa iniciativa, o Pibid faz uma articulação entre a educação superior (por meio das licenciaturas), a escola e os sistemas estaduais e municipais. A intenção do programa é unir as secretarias estaduais e municipais de educação e as universidades públicas, a favor da melhoria do ensino nas escolas públicas em que o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) esteja abaixo da média nacional, de 4,4. Entre as propostas do Pibid está o incentivo à carreira do magistério nas áreas da educação básica com maior carência de professores com formação específica: ciência e matemática de quinta a oitava séries do ensino fundamental e física, química, biologia e matemática para o ensino médio. Os coordenadores de áreas do conhecimento recebem bolsas mensais de R$ 1,2 mil. Os alunos dos cursos de licenciatura têm direito a bolsa de R$ 350 e os supervisores, que são os professores das disciplinas nas escolas onde os estudantes universitários vão estagiar, recebem bolsa de R$ 600 por mês (Portal do MEC).

A professora Maria na maioria das vezes perdia muito tempo após o recreio para organizar a aula (aproximadamente 15 minutos), e o mesmo ocorria após as aulas após a educação física, em que a maioria deles chegava suada e eufórica. Ela conversava e acalmava os alunos. Segundo a própria professora, esse momento, que pode parecer um desperdício era importante para ela acalmar e trazer os alunos para o universo da sala de aula, exigindo foco e concentração.

Maria costumava realizar atividades de cópia no quadro antes do intervalo e após o recreio costumava utilizar o livro didático. Sua forma predominante de transmitir os conteúdos das aulas era expositiva, com exercícios na lousa.