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Escola Nacional de Formação e Aperfeiçoamento de Magistrados – Enfam

No documento MESTRADO EM DIREITO SÃO PAULO (páginas 61-65)

Enfam

De acordo com a nova sistemática constitucional, a formação continuada passa a ter peso fundamental na carreira da magistratura.150

Sedimentou-se com o tempo, desde a primeira Reforma do Judiciário de 1977, a importância dos cursos para os magistrados, tanto para o seu ingresso, como para a seu progresso na carreira.

A ideia de uma escola de âmbito nacional foi idealizada pelo ministro do Superior Tribunal de Justiça Sálvio de Figueiredo Teixeira, juiz de carreira com trajetória pautada pela fé na imprescindibilidade do aprimoramento da formação profissional dos magistrados. Após quase dez anos à frente da Escola Nacional da Magistratura (ENM) vinculada à Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB), já como ministro do Superior Tribunal de Justiça, Sálvio de Figueiredo Teixeira foi um dos maiores defensores da criação daquilo que seria a Enfam, motivo pelo qual seu nome foi escolhido para representar a Escola Nacional.151

150 DINO, Flávio et al. A reforma do judiciário: comentários à Emenda nº 45/2004. Niterói, RJ: Impetus, 2005.

p. 117.

151 Disponível em: <http://www.enfam.jus.br/institucional/idealizador-da-escola/>. Acesso em: 24 out. 2015.

Sálvio de Figueiredo Teixeira aposentou-se em 2006 e faleceu em 15.02.2013 (Morre ministro aposentado do STJ Sálvio de Figueiredo Teixeira. Disponível em: <http://g1.globo.com/politica/noticia/2013/02/morre-ex- ministro-do-stj-salvio-de-figueiredo-teixeira.html>. Acesso em: 24 out. 2015).

Criada pela Emenda Constitucional n. 45/2004, a Enfam, com um pouco mais de dez anos, realmente já se firmou no Judiciário brasileiro como a credenciadora de cursos e eventos das Escolas de Magistratura. Como ainda não foi editada a Lei Orgânica da Magistratura Nacional, a lhe conferir suas feições institucionais, ela própria foi se construindo através dos anos.152

Sua proposta didático-pedagógica preza pela formação integral do magistrado, aliada a inciativas educacionais baseadas na problematização da realidade, que atendam às necessidades resultantes das complexas e contínuas mudanças sociais.153

A Enfam ainda não tem estrutura para suprir eventuais falhas e lacunas do ensino jurídico superior. Por enquanto, o que se espera é que o próprio rigor do concurso público de ingresso na magistratura faça com que o candidato a juiz procure suprir as eventuais lacunas deixadas pelo ensino superior, seja com o estudo autônomo, ou seja com o auxílio de cursos preparatórios.

A Escola Nacional tem por escopo fundamental ajustar as aulas e cursos à realidade do Judiciário, porém no Brasil ela não é equivalente – e nem tem condições de ser ainda − como o Centro de Estudos Judiciários de Portugal, a École Nationale de la Magistrature da França ou o Centro de Estudos de Formação (Stichting Studien Centrum), como referimos.154

E essa impossibilidade parte já da própria divisão constitucional do Judiciário brasileiro: Justiça Federal e Justiça Estadual, como responsabilidade da Enfam; Justiça Trabalhista a cargo da Enamat; e as Justiças Eleitoral e Militar com seus respectivos centros de estudos. Ao todo, estão ligadas à Escola Nacional de Formação e Aperfeiçoamento de Magistrados trinta e dois tribunais, sendo vinte sete Tribunais de Justiça e cinco Tribunais Regionais Federais.

152 RODRIGUES JUNIOR, Otavio Luiz. Artigo 105, parágrafo único. In: BONAVIDES, Paulo; MIRANDA,

Jorge; AGRA, Walber de Moura (Orgs.). Comentários à Constituição Federal de 1988. Rio de Janeiro: Forense, 2009. p. 1.435.

153 Anexo único da Resolução Enfam n. 11, de 7 de abril de 2015 (Disponível em

<http://bdjur.stj.jus.br/xmlui/bitstream/handle/2011/90106/Res_11_2015_Enfam.pdf?sequence=5>. Acesso em: 27 jul. 2015).

Além disso, a imensidão territorial brasileira impediria que a Enfam fosse a única formadora de magistrados no Brasil. As distâncias são enormes e o custo com viagens e deslocamentos seria imenso, se concebêssemos uma estrutura de escola de formação de magistrados com status de universidade, tal como na École Nationale de la Magistrature francesa.

Fora isso, a Enfam funciona junto ao Superior Tribunal de Justiça, por determinação constitucional (art. 104, parágrafo único, I, da CF), e apesar de contar com dotação orçamentária própria, a teor do artigo 27 de seu Regimento Interno155, sua autonomia financeira é relativa, pois ainda não é um órgão divorciado do Superior Tribunal de Justiça. Os servidores da Enfam ainda são do Superior Tribunal de Justiça, em clara relação umbilical, diferentemente, por exemplo, da Escola Superior do Ministério Público da União. De acordo com a Lei n. 9.628, de 14 de abril de 1998, a ESMPU tem natureza jurídica de órgão autônomo desde o artigo 172 do Decreto-Lei n. 200, de 25 de fevereiro de 1967, e inclusive se responsabiliza pelo concurso de ingresso. Essa diferença se dá também porque no Judiciário a criação de duas Escolas de âmbito nacional, como a Enfam e a Enamat, só ocorreu quase quarenta anos depois da ESMPU.

Ainda em relação à descentralização, observamos que as Escolas Judiciais e de Magistratura, a teor do artigo 7º da Resolução n. 159, de 12 de novembro de 2012, são unidades gestoras, com rubrica específica para o atendimento de suas necessidades. Elas devem remeter aos seus respectivos tribunais propostas orçamentárias com necessidades de planejamento de ações para inclusão no planejamento estratégico plurianual.

Além disso, as Escolas de Magistratura devem informar à Enfam seu planejamento anual, de acordo com o artigo 8º da Resolução n. 159.

Mesmo muito distante da realidade das escolas europeias ou da própria Escola Superior do Ministério Público da União, ciente de suas limitações física, orçamentária e organizacional, a Enfam estabeleceu suas diretrizes pedagógicas através da Resolução Enfam

155 Disponível em: <http://www.enfam.jus.br/wp-content/uploads/2015/10/Regimento-Interno-aprovado-pelo-

n. 11, de 7 de abril de 2015156. Com isso, ela assumiu seu papel de centro de excelência na formação e desenvolvimento técnico da magistratura (federal e estadual), em trabalho conjunto com as Escolas de Magistratura dos tribunais, diante da indispensável descentralização no processo de formação e aperfeiçoamento técnico do Judiciário. Nesse passo andou bem a Enfam em não deixar de lado a avaliação como parte vital do processo educacional. Contemplou as seguintes metodologias de avaliação: diagnóstica, formativa (ou de processo) e de resultados (ou somativa).

Certamente, nesse papel a Enfam não terá condições físicas de colaborar no processo de avaliação do aperfeiçoamento técnico para as promoções por merecimento, mas igualmente em relação às diretrizes pedagógicas, poderá auxiliar as Escolas de Magistratura a saírem do papel de meras informantes, para uma participação mais ativa, como uma das fontes de um processo avaliativo profissional de suma importância.

156 Disponível em:

<http://bdjur.stj.jus.br/xmlui/bitstream/handle/2011/90106/Res_11_2015_Enfam.pdf?sequence=5>. Acesso em: 24 out. 2015.

2 EVOLUÇÃO E IMAGEM DA MERITROCRACIA NO PODER

JUDICIÁRIO

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