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Processo de avaliação e eficiência

No documento MESTRADO EM DIREITO SÃO PAULO (páginas 34-37)

O processo de avaliação é um dos grandes propulsores da educação e, por via reflexa, da sociedade.

A avaliação é muito mais do que uma medida que tenta situar o avaliado em um universo de atributos quantitativos ou qualitativos. Devemos considerar a epistemologia e a

70 BRASIL. Conselho Nacional de Justiça. Justiça em números 2015: ano-base 2014. Brasília: Conselho

Nacional de Justiça, 2015. p. 56. (Disponível em: <http://www.cnj.jus.br/programas-e-acoes/pj-justica-em- numeros>. Acesso em: 23 out. 2014).

71 ASSOCIAÇÃO DOS MAGISTRADOS BRASILEIROS (AMB). Judiciário Brasileiro em perspectiva:

análise da Associação dos Magistrados Brasileiros baseada em relatórios do Supremo Tribunal Federal, do

Conselho Nacional de Justiça e do Banco Mundial. Disponível em:

<http://www.amb.com.br/portal/docs/pesquisa/Judiciario_brasileiro_em_perspectiva.pdf>. Acesso em: 23 out. 2015.

72 Incluídos nesse cômputo apenas os juízes federais, trabalhistas e estaduais e excluídos os juízes militares,

metodologia das avaliações, pois elas são representações construídas por alguém, do valor escolar ou intelectual de um indivíduo.73

E a avaliação, que nos acompanha em toda a vida escolar, segue adiante, em quase todos os aspectos da vida em sociedade, com amplo destaque no campo profissional.

Mesmo o ensino jurídico em si não escapou da avaliação, já que, por exemplo, a Lei n. 9.131/95 alterou a Lei n. 4.024/61 (Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional) para instituir o exame nacional de cursos e com isso avaliar os cursos superiores. O chamado “provão” foi confirmado pela nova lei que definiu as diretrizes e bases da educação nacional (Lei n. 9.394/96)74, demonstrando que avaliar deixou de ser um processo verticalizado, tornando-se cada vez mais circular e introjetado em todos os aspectos da sociedade.

Ao concebermos a avaliação como fenômeno sociológico presente na educação e replicada na vida profissional, em especial na aferição meritocrática, não podemos deixar de considerar que o poder exercido pelo avaliador é um dos seus principais aspectos. Isso porque quando houver a menor possibilidade de um indivíduo ou organização preponderar sobre uma pessoa, está presente o poder75. Daí porque se buscam critérios para as avaliações, já que o poder do avaliador tem consequências de várias ordens.

Assim, segundo José Dias Sobrinho76, além de seu aspecto técnico, a avaliação possui também sua faceta política:

A avaliação instrumentaliza as reformas educacionais, produzindo mudanças nos currículos, na gestão, nas estruturas de poder, nas configurações gerais do sistema educativo, nas concepções e prioridades da pesquisa, nas noções de reponsabilidade social, enfim tem a ver com as transformações desejadas não somente para a educação superior propriamente dita, mas para a sociedade que se quer consolidar ou construir.

73 PERRENOUD, Philippe. Avaliação: da excelência à regulação das aprendizagens: entre duas lógicas.

Tradução de Patrícia Chittoni Ramos. Porto Alegre: Artmed, 1999, Reimpressão em 2007. p. 57.

74 PÔRTO, Inês da Fonseca, Ensino jurídico, diálogos com a imaginação: construção do projeto didático no

ensino jurídico, cit., p. 81-82.

75 FERREIRA SOBRINHO, José Wilson. Metodologia do ensino jurídico e avaliação em direito. Porto Alegre:

Sergio Antonio Fabris, 1997. p. 88.

76 DIAS SOBRINHO, José. Avaliação ética e política em função da educação como direito público ou como

mercadoria? Educação & Sociedade, Campinas, SP, v. 25, n. 88, p. 706, out. 2004. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/%0D/es/v25n88/a04v2588.pdf>. Acesso em: 24 out. 2015.

Podemos citar, adentrando no tema central deste trabalho, que a sociedade brasileira, ao esmiuçar mais os critérios das promoções por merecimento a partir da Emenda Constitucional n. 7/77, em um ritmo progressivo com a Constituição de 1988 e a Emenda Constitucional n. 45/2004, fez uma opção política, utilizando a avaliação como instrumento.

Com efeito, todos os Estados que procuram hoje realizar importantes mudanças no setor público, na administração e nas formas de organização e produção da sociedade acabam elegendo a avaliação como o seu principal motor.77

Daí porque, em consonância com os artigos 205, caput, e 1º da Constituição Federal, a avaliação deve ser ética e justa. Reconhecer a avaliação como um fenômeno plurifacetado e de responsabilidade social significa admitir sua complexidade. Ao atribuirmos valor absoluto de verdade e objetividade a um critério avaliativo, como notas, testes e estatísticas, devemos aceitar que o campo social e o poder exercido na avaliação é penetrado por valores, interesses e conflitos78. Porém, assim como na educação de um modo geral, se a avaliação tem como atributo ser um dos principais – senão o principal – fomentadores das reformas educacionais, ela também é instrumento de transformação da sociedade, em prol da igualdade de oportunidades, ética, exercício da cidadania e da democracia.

Na busca por critérios objetivos, a avaliação tem inclusive um aspecto de controladora

de mercado. Ao equivaler as noções de qualidade e desempenho à produtividade e eficiência, traduzindo-os como valores avaliativos, restringe-se a criatividade do capital humano. Ao tornar a accountability (prestação de contas, responsabilização, responsividade) em critério central da avaliação, os avaliadores conseguem direcionar o mercado e suas restrições econômicas.79

Nesse aspecto andou bem a Constituição, em mesclar os critérios de merecimento sem preponderar a produtividade, contrabalançando-o com outros parâmetros. A produtividade certamente é importante, tanto para regular a produção, avaliar o juiz e também zelar pela

77 DIAS SOBRINHO, José, Avaliação ética e política em função da educação como direito público ou como

mercadoria?, cit., p. 709.

78 DIAS SOBRINHO, José, Avaliação ética e política em função da educação como direito público ou como

mercadoria?, cit., p. 722.

79 DIAS SOBRINHO, José, Avaliação ética e política em função da educação como direito público ou como

imagem do Judiciário, dando uma resposta objetiva e quantitativa à sociedade80. Porém, não é o único critério.

Por fim, vale destacar a avaliação como bem público, produção de sentidos e reflexão sobre valores e significados. Tanto em relação ao ensino jurídico superior, ingresso na magistratura, como também na atuação das Escolas de Magistratura, devemos trabalhar com a pluralidade e diversidade de forma responsável. Conforme arremata José Dias Sobrinho:81

Se a finalidade essencial da educação é a formação, em seu sentido pleno e não restrito à capacitação técnica, então a avaliação deve se realizar como um processo e um projeto, continuamente em construção, que, fundamentalmente, coloca em foco de conceituação e questionamento os significados da formação que se vão produzindo no conjunto das práticas institucionais, pedagógicas, científicas e sociais. Então, a avaliação educativa deverá tratar, em última instância, dos valores da existência humana, que uma instituição prioriza em suas atividades formativas.

A avaliação não é mais representada por um boletim e seu aspecto informativo. Através dela o educando pode aprender e se transformar.

O que se busca, enfim, na educação é uma avaliação para formar, e não para excluir. Com isso se conquistarão os objetivos educacionais constitucionais e a efetividade do direito, da democracia e da cidadania.

No documento MESTRADO EM DIREITO SÃO PAULO (páginas 34-37)