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Tribunais de Justiça

No documento MESTRADO EM DIREITO SÃO PAULO (páginas 133-138)

4.2 Análise dos critérios do merecimento nos Regimentos Internos

4.2.1 Tribunais de Justiça

Em primeiro lugar, é necessário ressaltar que a pesquisa realizada tem por escopo verificar o panorama geral do modo como o assunto vem sendo tratado pelos tribunais, sem a pretensão de aprofundamento ou esgotamento do tema nos Tribunais de Justiça. Isso porque, para ampliar a investigação, precisaríamos de uma quantidade maior de fontes, além dos Regimentos Internos disponibilizados na internet.

Vale ressaltar que alguns tribunais optaram por não regulamentar o tema estudado em seus Regimentos Internos, mas o dispuseram em outros atos normativos. É o caso dos Tribunais de Justiça de Alagoas, Amazonas, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais e Roraima.

Também é bom enfatizar que a sistemática de pesquisa e citação dos tribunais foi feita em ordem alfabética.

Dividimos assim os regimentos dos tribunais a partir de seis enfoques, abaixo explicitados:

NORMATIZAÇÃO DOS CRITÉRIOS DE AFERIÇÃO DO MERECIMENTO

ENFOQUE Número de

Tribunais

TRIBUNAIS Explicitaram os critérios, com

pontuação

7 Amapá, Mato Grosso do Sul, Maranhão, Minas Gerais, Paraíba, Paraná e Roraima Mencionaram e explicitaram os

critérios, porém para fins de convocação para o TJ

3 Ceará, Distrito Federal e Territórios, Espírito Santo

Explicitou os critérios, sem atribuir pontuação

1 Acre

Mencionou os critérios e explicitou superficialmente

1 Amazonas

Mencionaram os critérios, mas não explicitaram

6 Bahia, Mato Grosso, Rondônia, Santa Catarina, e Sergipe

Não mencionaram os critérios 9 Goiás, Pará, Pernambuco, Piauí, Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul, São Paulo e Tocantins

A partir daí, podemos tecer algumas observações.

Mesmo sem atribuir pontuação, menos da metade dos tribunais; ou seja, apenas onze deles explicitaram os critérios de aferição do merecimento.

Em relação aos sete tribunais que explicitaram os critérios de verificação do merecimento, com os respectivos pontos, cinco deles praticamente transcreveram o teor da Resolução n. 106 do CNJ, a saber: Amapá, Maranhão, Paraíba, Paraná e Roraima. Muito embora o Mato Grosso do Sul também tenha usado a mesma escala de pontuação do Conselho Nacional de Justiça, estabeleceu subcritérios e pontuações próprias, inclusive desenredando melhor a parte do aperfeiçoamento técnico. Além disso, tomou uma medida muito interessante e útil para auxiliar o processo de avaliação: estabeleceu no Anexo da Resolução 570, de 9 de dezembro de 2010287, quais comarcas eram consideradas similares para fins de apuração da produtividade e presteza, a teor dos artigos 6º, parágrafo único, e 7º, § 2º, da Resolução n. 106 do CNJ.

O Tribunal de Justiça de Minas Gerais também tem disposições diferentes e aparentemente democráticas. O artigo 9º, IX, do seu Regimento Interno288 estipula a organização do tribunal em onze comissões permanentes, a saber: a) Comissão de

287 Disponível em: <http://www.tjms.jus.br/sistemas/biblioteca/legislacao_comp.php?lei=26943>. Acesso em: 30

jul. 2015.

Organização e Divisão Judiciárias; b) Comissão de Regimento Interno; c) Comissão de Divulgação da Jurisprudência; d) Comissão Administrativa; e) Comissão Salarial; f) Comissão de Orçamento, Planejamento e Finanças; g) Comissão de Recepção de Desembargadores; h) Comissão de Recepção de Autoridades, Honraria e Memória; i) Comissão de Ética; j) Comissão de Promoção; e, k) Comissão Estadual Judiciária de Adoção. A Comissão de Promoção é composta do presidente, vice-presidente, corregedor-geral e mais oito desembargadores, sendo quatro titulares e quatro suplentes, eleitos pelo Tribunal Pleno entre aqueles que não integram o Órgão Especial.

A divisão em comissões, se realmente aplicada, é bem profícua para melhor distribuição das tarefas. Em primeiro lugar, porque concede mais uniformidade à gestão administrativa do tribunal; e, em segundo lugar, porque a Comissão de Promoção atende à mais moderna doutrina de avaliação meritocrática, ou seja, a avaliação de desempenho por

múltiplas fontes.

Outro ponto bastante positivo tribunal mineiro, disposto na Resolução n. 495/2006289, que versa sobre o provimento de cargos da magistratura de carreira, é que o sistema de pontuação não é engessado. O sistema é propício porque entendemos que o Conselho Nacional de Justiça e a magistratura brasileira como um todo ainda não amadureceram o modo de avaliação por desempenho da ascensão vertical meritocrática. Assim, muitas vezes no afã de objetivar, pode engessar o processo avaliativo e acabar por promover magistrados menos interessados na prestação jurisdicional.

Em relação à produtividade, ao invés de optar pelo sistema da pontuação, o Anexo I da Resolução n. 495/2006 do Tribunal de Justiça de Minas Gerais estabeleceu requisitos

mínimos de produção, divididos por varas de comarcas de entrância especial, segunda entrância e primeira entrância. Estas foram subdivididas pela competência da respectiva vara, para estabelecer o padrão mínimo de produção, como, por exemplo: tribunais do júri (presidentes) − 15 julgamentos por mês; tribunais do júri (sumariantes) − 23 sentenças de mérito por mês; varas de Fazenda Pública Estadual − 92 sentenças de mérito por mês; varas de precatória cível − 150 audiências designadas por mês; e assim por diante.

289 TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE MINAS GERAIS. Resolução nº 495/2006 (Alterada pelas

Resoluções nº 582/2009 e nº 742/2013). Dispõe sobre o provimento de cargos da Magistratura de carreira. Disponível em: <http://www8.tjmg.jus.br/institucional/at/pdf/re04952006.PDF>. Acesso em: 30 jul. 2015.

Quanto ao cotejo do aperfeiçoamento técnico, o Anexo II da referida Resolução estabeleceu treze critérios referenciais para avaliação da frequência e aproveitamento em

cursos de aperfeiçoamento e especialização: pós-doutorado em direito; doutorado em direito; mestrado em direito; especialização em direito; orientação em curso de formação inicial de magistrados; instrutor em cursos da Escola Judicial para servidores do Poder Judiciário; participação em encontros regionais de estudos jurídicos; participação em encontros e seminários da Escola ou outras entidades; conferencista, palestrante ou debatedor nesses mesmos encontros; cursos de extensão em área jurídica; artigo jurídico; obra de literatura jurídica; e trabalho de realce na comarca que represente inovação institucional e seja modelo na área abrangida.

É também significativo que cabe ao magistrado candidato a promoção enviar à Escola Judicial os títulos viáveis para a comprovação do aperfeiçoamento técnico. Além disso, também se mostrou bastante democrática a possibilidade de o magistrado recorrer à Comissão de Promoção após ser cientificado da não computação de determinados títulos (art. 14, §§ 1º e 3º, da Resolução n. 424/2006).

Como já afirmamos, o Tribunal de Justiça de Minas Gerais acabou por ampliar de modo igualitário os avaliadores do desempenho, além de propiciar transparência e maior participação do candidato. Nesse sentido, aliás, é salutar que o candidato saia da posição passiva de apenas fazer sua inscrição e esperar pelo resultado e possa selecionar ele mesmo os elementos que contribuiriam para a sua ascensão. Isso nada mais é do que de certa forma uma autoavaliação, cada vez mais presente nos processos de avaliações pedagógicas, fundamental para a tomada de consciência do indivíduo sobre si próprio.

Por fim, podemos ressaltar ainda que muitos tribunais estão desatualizados.

Por exemplo, o critério da segurança na aferição do mérito previsto na redação original da Constituição de 1988, e substituído pela produtividade na Reforma do Judiciário através da Emenda Constitucional n. 45/2004, ainda subsiste em alguns tribunais, como no Regimento Interno do Tribunal de Justiça do Acre (art. 276-A, I) e no Regimento Interno do Tribunal de Justiça de Rondônia (art. 243). Também subsiste o termo operosidade trazido pela Loman e não recepcionado pela Constituição Federal nos Regimentos Internos dos seguintes Estados: Rondônia (art. 243), Roraima (art. 68) e Sergipe (art. 113-B, § 1º).

Mais grave ainda, e esperamos que seja apenas um problema de mera desatualização normativa, é que alguns tribunais ainda preveem sessão e escrutínios secretos nos seus regimentos internos. São eles: Amazonas (art. 25), Goiás (art. 398) e Tocantins (art. 7º, XI).

Com efeito, mesmo que no futuro a questão das promoções ainda tenha um bom caminho a percorrer em um processo de amadurecimento, o fato é que a Constituição Federal, em seu artigo 93, inciso X, não deixou espaço para sessões secretas. E, nesse ponto, ambas as Resoluções do Conselho Nacional de Justiça, ns. 6/2005 e 106/2010, trouxeram contribuição positiva para referendar essa prática. Com isso, obedeceu-se também ao princípio constitucional da impessoalidade, reduzindo-se o risco de promoções ditadas por razões unicamente pessoais. Consoante Claudio Luiz Bueno de Godoy:290

Assegurando-se a transparência, permite-se que os interessados conheçam os debates e as razões do julgamento da promoção de um, e não de outro juiz. Depois, impondo-se a motivação, vincula-se o julgamento aos fundamentos expostos para a promoção, assim igualmente discutíveis por quem se sinta prejudicado e controláveis pelos órgãos próprios, no seu ápice – e na esfera administrativa – o Conselho Nacional.

Outro embaraço entre causa e efeito, já discutido anteriormente291, é a disposição da Loman, também não recepcionada pela nova ordem constitucional: número de vezes que

tenha figurado na lista como atributo para a promoção por merecimento. A previsão ainda remanesce nos Regimentos Internos de dois tribunais: Distrito Federal e Territórios (art. 327) e Roraima (art. 68).

Por fim, a notícia, também já referida anteriormente sobre o Tribunal de Justiça de São Paulo292 parece ser confirmada pelo teor do artigo 85 do Regimento Interno do Tribunal de Justiça: “Na promoção por merecimento, serão indicados os três juízes que obtiverem a

290 GODOY, Cláudio Luiz Bueno de, A promoção por merecimento e seus critérios de aferição: ainda um

desafio, in Dez anos de reforma do judiciário e o nascimento do Conselho Nacional de Justiça, cit., p. 125.

291 Ver item 3.2.1: “Merecimento sempre foi muito subjetivo. Como o notável saber jurídico exigido para certos

cargos da magistratura, ele às vezes parece ser o efeito da escolha ou inclusão em lista tríplice, quando deveria ser a causa.” (CRUZ, José Raimundo Gomes da, Lei Orgânica da Magistratura Nacional interpretada, cit., p. 118).

292 Ver, no início do Capítulo 3, a declaração do desembargador Antônio Mário de Castro Figliolia para o jornal

Folha de S. Paulo (Disponível em: <http://blogdofred.blogfolha.uol.com.br/2013/06/28/testemunho-sobre- promocoes-no-tj-sp/>. Acesso em: 24 jun. 2015).

melhor classificação na avaliação ou, não havendo, preferencialmente os de maior antiguidade.”293

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