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2.3 Escolas do Direito Penal

2.3.3 Escola positiva

No final do século XIX, as ciências sociais, cresciam em ritmo vertiginoso e a antropologia, psiquiatria, psicologia, e outras ciências ganhavam espaço e concomitantemente a escola positiva também.

Neste sistema, que teve grande influência das ciências que acabavam de surgir, o delinquente deixou de ter um papel primordial no sentido de sua defesa abandonando aos poucos o método dedutivo.

Como foi abordado anteriormente, a corrente clássica tinha o objetivo de ressocializar o indivíduo, porém, sofreu alteração, passando a ter uma orientação diferente, buscando priorizar o corpo social.

Com o afastamento do método dedutivo, passou-se a utilizar a metodologia indutiva e observacional. Agora, tinha como ponto mais elevado o crime como entidade jurídica e não mais o delinquente como pessoa, segundo André Estefam (2013, p. 58).

Com esta situação em tela, o delinquente deixava de ser visto como estatística, onde era analisada sua morfologia e psicologia.

Manuel Grosso Galvan, (1980), apud Bitencourt (2016, p. 103), analisando o tema em tela, discorre de forma leve e simples.

A corrente positivista pretendeu aplicar ao Direito os mesmo métodos de observação e investigação que se utilizavam em outras disciplinas (biologia, antropologia e etc.) No entanto, logo se constatou que essa metodologia era inaplicável em algo tão circunstancial como a norma jurídica. Essa constatação levou os positivistas a concluírem que a atividade jurídica não era científica e, em consequência, proporem que a consideração jurídica do delito fosse substituída por uma sociologia ou antropologia do delinquente, chegando, assim, ao verdadeiro nascimento da Criminologia, independentemente da dogmática jurídica.

Porém ainda não explica o afastamento da escola clássica onde foi dominada pela escola positiva e isso se deu com a primeira escola, onde não conseguiu diminuir o número da criminalidade, tornando-se desacreditada, logo foi inevitável somando-se a isso a ideia de um Estado mais positivista e atuante.

Neste ínterim, três grandes figuras se destacaram sendo eles Cesare Lombroso, Enrico Ferri e Rafael Garofalo

Lombroso não era jurista, mas sim um médico. Considerado o fundador do positivismo, acreditava que conseguiria explicar a criminalidade a partir de observações e pesquisas realizadas por ele, o que acabou por chamar atenção para si.

Pregava o fundador do positivismo, que o delinquente já trazia em seu íntimo a propensão para cometer delitos, sendo então um criminoso nato, homens voltados para o crime, onde a menor alteração no seu ambiente alteraria suas atitudes.

Aníbal Bruno, (1967, p. 113), esclarece a ideia de Lombroso afirmando que “para ele, o criminoso verdadeiro é uma variedade particular da espécie humana, um tipo definido pela presença constante de anomalias e fisiopsicológicas”.

Acreditando nessas anomalias psicológicas, apregoava ainda que o criminoso era como um pré-humano, um ser ainda não evoluído o suficiente para a sociedade a qual se encontrava, como se suas características biopsicológicas fossem retrógradas em excesso.

Apesar de ver-se obrigado a retratar muitas vezes sobre suas teorias e observações, não deixou de ser considerado um pioneiro, já que demonstrou o âmago de sua reflexão, onde ainda o infrator era um criminoso, e agora, criador de estudos mais sérios e profundos, qual seja, a antropologia criminal, que é o estudo do homem considerado na série animal sob o ponto de vista criminológico e ainda a psicologia criminal, que é o ramo da psicologia que observa de forma racional o comportamento criminal do indivíduo.

Enrico Ferri teve um papel fundamental dentro desta escola, já que em seu trabalho intitulado Sociologia Criminal, demonstra a adoção das teorias de Lombroso com a intimidação geral e Garofalo, com sua prevenção especial, resultando em orientações para esta escola.

Porém sobrepondo a responsabilidade social sobre a moral e sobre o tema, aborda Aníbal Bruno (1967, p. 116) concluindo que:

Todo homem é sempre responsável por toda ação anti-jurídica que pratica, unicamente porque vive em sociedade. A razão e fundamento da reação punitiva é a defesa social, que se promove mais eficazmente pela prevenção do que pela repressão dos fatos criminosos. Sugeriu, então, o que ele chamou substitutivos penais, isto é, certas medidas tendentes a

modificar as condições do meio, sobretudo sociais e econômicas, de evidente ação criminógena. Fim da medida penal é também a prevenção dos crimes, visando a pena, que deve ser indeterminada e ajustada à natureza do delinquente, não a puni-lo, mas a reajustá-lo às condições de convivência social.

Buscando dar efetividade a tudo que acreditava, elaborou um projeto de lei em 1921 para o Código Penal da Itália e encerrou sua carreira com a publicação do seu livro “Princípios de Direito Criminal” em 1929.

O último grande pensador da época foi Garofalo, sendo este realmente do mundo jurídico, se dedicou ao estudo da criminologia.

Grande seguidor do darwinismo, Garofalo entendia que o grau de periculosidade era fundamental na justificação da pena, buscando ainda a prevenção especial como intuito da repressão penal.

Resumidamente, a prevenção especial, consiste em buscar evitar a realização da prática de delitos, destinado ao delinquente para que não torne a reincidir.

Por fim, como seu fundamento era a defesa social, o jus puniendi tinha um papel mais gravoso o que deixou de realizar reabilitações de forma mais eficaz, formulando ainda, um conceito de crime natural.

Entendia que o delito era um sinal de um problema interno que poderia ser moral ou psicológico e com isso, não estava em condições de conviver em sociedade, necessitando assim, ser banido ou rechaçado com intensidade e robustez.

Bitencourt assevera que tal posicionamento tinha fundamentação no darwinismo chegando a se exaltar em alguns momentos, culminando no ápice de recorrer à pena de morte (2016, p. 106).

Partindo das idéias do Darwin, aplicando a seleção natural ao processo social (darwinismo social), sugere a necessidade de aplicação da pena de morte aos delinqüentes que não tivesse absoluta capacidade de adaptação, que seria o caso dos “criminosos natos”. Sua preocupação fundamental não era a correção (recuperação), mas sim a incapacitação do delinquente (prevenção especial, sem objetivo ressocializador), pois sempre enfatizou a necessidade de eliminação do criminoso. Enfim, insistiu na necessidade de individualizar o castigo, fato que permitiu aproximar-se das idéias correcionalistas. A ênfase que dava à defesa social talvez justifique seu desinteresse pela ressocialização do delinquente.

De maneira similar, mas não totalmente diferente, Aníbal Bruno (1967, p. 118), comenta sobre as ideias de Garofalo, afirmando que essa anomalia moral era a força motriz para o desencadeamento das atitudes criminais desmedidas, onde se deveria usar a intimidação para a sua não ocorrência, denominando como temibilidade:

Essa ideia do crime como produto de uma anomalia moral, isto é, uma força de origem psíquica que impulsiona o homem inelutavelmente para o crime, conduziu Garofalo a sugerir como critério determinante da medida penal o que ele chamou temibilidade, por ele definida como “a perversidade constante e ativa do delinquente e a quantidade do mal previsto que se deve temer por parte do mesmo delinquente”, periculosidade criminal, que ele reconheceu como “o princípio que transformará radicalmente a legislação.

Logo, podemos concluir que por imaginar que o delinquente era um ser que apesar de se encontrar nos tempos modernos, por algum motivo, tinha sua evolução retardada e que não conseguiria efetuar uma ressocialização eficaz o suficiente para que o indivíduo voltasse para o convívio em sociedade sem infringir novamente as normas de direito impostas a todos.