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2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.2 Educação Ambiental

2.2.4 Escolas como Espaços Educadores Sustentáveis

A partir desse entendimento ampliado dos processos de aprendizagem na escola, é possível entender melhor a relevância do conceito de Espaço Educador Sustentável (EES), proposto pelos Ministérios da Educação e do Meio Ambiente como política norteadora para inserção da Educação Ambiental nas escolas e demais estabelecimentos de ensino brasileiros. O conceito, embora já tenha aparecido timidamente em políticas públicas anteriores como o Programa Mais Educação, ganhou maior expressividade com o amplo “Processo Formativo em Educação Ambiental: Escolas Sustentáveis e COM-VIDA” (TRAJBER; SATO, 2010) e com a publicação “Vamos cuidar do Brasil com escolas sustentáveis: educando-nos para pensar e agir em tempos de mudanças socioambientais globais” (BRASIL, 2012a). Nesta:

Espaço Educador Sustentável é um espaço onde as pessoas estabelecem relações de cuidado uns com os outros, com a natureza e com o ambiente. Esse espaço cuida e educa para a sustentabilidade de forma deliberada e intencional, mantendo coerência entre o discurso, os conteúdos, as práticas e as posturas. Além disso, assume a responsabilidade pelos impactos que gera e busca

compensá-los com tecnologias apropriadas. (BRASIL, 2012a p.14)

Ou conforme duas autoras envolvidas no processo formativo citado:

Espaços educadores sustentáveis são aqueles que têm a intencionalidade pedagógica de se constituir em referências concretas de sustentabilidade socioambiental. Isto é, são espaços que contribuem para repensarmos a relação entre os indivíduos e destes com o ambiente. Compensam seus impactos com o desenvolvimento de tecnologias apropriadas, permitindo assim, mais qualidade de vida para as gerações presentes e futuras. (TRAJBER; SATO, 2010, p.71)

Dessa forma, tornar uma escola um espaço educador sustentável, e aqui a sustentabilidade anão é entendida apenas em relação à questão ambiental, mas também as dimensões social, econômica, cultural e espiritual e tem no cuidado uma premissa essencial, significa:

romper com a lógica que orienta a dinâmica social atual. Num sistema que valoriza o individualismo em detrimento da coletividade, a competição em vez da colaboração, a hierarquia ao invés das redes cooperativas, as escolas sustentáveis surgem como possibilidade de mudança qualitativa no cenário da educação. Como “incubadoras” de mudanças, as escolas sustentáveis estabelecem elos entre o currículo (o que se ensina e se aprende na escola), a sua gestão (isto é, a forma como a escola se organiza internamente para funcionar), e o seu espaço físico (considerando o tipo e a qualidade das edificações e o seu entorno imediato).(BRASIL,2012a, p. 11).

Ainda, de acordo com o Manual Escolas sustentáveis (BRASIL, 2013), a transição para a sustentabilidade nas escolas deve ser promovida a partir de três dimensões inter-relacionadas: espaço físico, gestão e currículo.

 Espaço físico: utilização de materiais construtivos mais adaptados às condições locais e de um desenho arquitetônico que permita a criação de edificações dotadas de

conforto térmico e acústico, que garantam acessibilidade, gestão eficiente da água e da energia, saneamento e destinação adequada de resíduos. Esses locais possuem áreas propícias à convivência da comunidade escolar, estimulam a segurança alimentar e nutricional, favorecem a mobilidade sustentável e respeitam o patrimônio cultural e os ecossistemas locais.

 Gestão: compartilhamento do planejamento e das decisões que dizem respeito ao destino e à rotina da escola, buscando aprofundar o contato entre a comunidade escolar e o seu entorno, respeitando os direitos humanos e valorizando a diversidade cultural, étnico- racial e de gênero existente.

 Currículo: inclusão de conhecimentos, saberes e práticas sustentáveis no Projeto Político- Pedagógico das instituições de ensino e em seu cotidiano a partir de uma abordagem que seja contextualizada na realidade local e estabeleça nexos e vínculos com a sociedade global. (BRASIL, 2013, p. 2)

Aqui é importante ressaltar, como apontado pela professora Sueli Andrade a partir de sua experiência na Secretária de Educação do Município de Florianópolis8, que a dimensão de Gestão não envolve apenas os procedimentos administrativos do funcionamento escolar, mas o cuidado e cultivo das relações interpessoais no dia-a-dia da escola, indispensável para a harmonia e a efetividade dos esforços para tornar a escola um EES.

Outro instrumento fundamental e estratégico para isso é o Projeto Político-Pedagógico (PPP) da escola. O PPP, explicado em simples termos, é o:

guia de atuação da escola, construído com base nos sonhos, objetivos e metas do coletivo escolar, bem como dos meios para realizá-los[...] É político, porque considera a escola um local destinado à formação de cidadãos críticos, conscientes e criativos. É pedagógico, porque se

organiza em forma de atividades que conduzem à aprendizagem (BRASIL, 2012a, p. 12).

Portanto um PPP elaborado pelo coletivo escolar, que manifesta o interesse da escola em caminhar em direção à sustentabilidade, é de grande importância para a institucionalização dos esforços para a transição para a sustentabilidade enquanto política permanente da escola.

Outra dimensão importantíssima de um espaço educador sustentável é sua relação com a comunidade de entorno. Buscar ser referência em sustentabilidade exige que a escola deixe “de ser uma ‘ilha’, passando a fazer parte de uma comunidade mais ampla, que propõe respostas criativas para a crise socioambiental e de valores que a humanidade atravessa atualmente” (BRASIL, 2012a, p. 13)

A resolução dos problemas ambientais locais carrega um valor altamente positivo, pois foge da tendência desmobilizadora da percepção dos problemas globais, distantes da realidade local, e parte do princípio de que é indispensável que o cidadão participe da organização e gestão do seu ambiente de vida cotidiano... Participação, engajamento, mobilização, emancipação e democratização são as palavras-chave. O Contexto local é uma ferramenta da educação ambiental que permite o desenvolvimento da qualidade dinâmica nos educandos, despertando o sentimento da visão crítica e da responsabilidade social, vitais para a formação da cidadania. (LAYRARGUES APUD TOZONI-REIS, 2006)

Concluindo, trabalhar pela Educação Ambiental, embora implique considerar que a concepção de educação vigente desconsidera o ambiente (GRUN, 2002), não significa criar uma educação que traga consigo o adjetivo “ambiental”, mas contribuir para a ressignificação da educação “a tal ponto que o adjetivo possa ser omitido, uma vez que, na sua própria concepção (e execução), já [se] explicite todas as exigências que ele pudesse carrear” (SANTA CATARINA, 1998, p.).