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2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

3.2 Contexto Empírico da Pesquisa

3.2.3 Projeto Escola Lixo Zero

No ano de 2014, como já mencionado na introdução, o NEAmb decidiu focar sua atuação no Colégio de Aplicação da UFSC (CA). Essa decisão foi feita coletivamente diante da percepção da necessidade de uma maior integração entre os projetos desenvolvidos pelo Núcleo, mas especialmente com base no entendimento que se consolidava, de que não basta trabalhar a educação ambiental de forma pontual e fragmentada enquanto o resto da educação formal e da sociedade continua educando nos paradigmas e visões de mundo que estão no cerne da crise ambiental. Ficava clara para o Núcleo a necessidade de contribuir para a transformação da educação como um todo, para que as escolas se tornem Espaços Educadores Sustentáveis (EES). Essa era a motivação do NEAmb, e o CA foi escolhido para o desenvolvimento dessa nova forma de atuação por diversos motivos. Primeiro, a experiência de quatro anos de projeto com turmas dos anos iniciais no Colégio; segundo pelo fato de ser um Colégio de Aplicação, ou seja, um espaço aberto para a experimentação de trabalhos de ensino, pesquisa e extensão da Universidade; e por último a fim de honrar a premissa de

12 Apresentação feita a partir da experiência pessoal como membro do núcleo desde 2010 e de informações disponíveis em: <www.neamb.ufsc.br>

“pensar global e agir local” da qual deriva que, para um Núcleo dentro da Universidade, não havia nenhuma escola mais “local” do que o CA.

Isso resultou na proposição integrada de cinco projetos para o Colégio em 2014: Eco-Paideia, Cardápio de Saberes, Plantando Saúde, Escola Lixo Zero, e Pedagogia do Fanzine. O Projeto Eco-Paideia era o projeto contextualizador dessa ressignificação da educação, em seu nome invocando a noção existente na Paideia grega de uma educação holística e humanista voltada para a cultura e para a cidadania, porém agora ressignificadas pelo prefixo Eco, enquanto educação para uma cultura sustentável e para a cidadania ambiental, o que na prática refletia no objetivo de contribuir para a escola se consolidar como EES.

Dentre esses projetos é preciso apresentar melhor o projeto “Escola Lixo Zero”, proposto pela Maria Gabriela Knapp a partir de sua experiência com o Instituto Lixo Zero Brasil, e com orientação do Prof. Dr. Armando Borges de Castilhos, coordenador do Laboratório de Pesquisa em Resíduos Sólidos (LARESO) na Engenharia Sanitária e Ambiental da UFSC. O projeto “Escola Lixo Zero” apresentava objetivos ambiciosos, a exemplo de seu objetivo geral de:

Tornar o Colégio de Aplicação (CA) o primeiro Colégio Lixo Zero do Brasil, desviando do aterro sanitário resíduos recicláveis secos e orgânicos passíveis de reciclagem, encaminhando somente o rejeito gerado. (NEAMB, 2014)

E objetivos específicos como “Implementar novo modo de acondicionamento dos resíduos do CA”, “Criar a composteira permanente do colégio”, e “desenvolver uma gincana Lixo Zero”, que ludicamente envolvesse toda a escola na gestão dos resíduos.

Aqui é preciso destacar o caráter dessa chegada do NEAmb ao Colégio, hoje mais claramente entendido pelos seus membros como um dos fatores determinante da forma como as atividades decorreram, ou não, em 2014. O NEAmb, embora já tivesse uma história no CA e tivesse tomado o cuidado de dialogar amplamente com a escola na proposição dessa nova proposta de atuação, chega ainda com o caráter de um agente externo à escola, propondo transformações bastante significativas que, embora ressoassem com diversas experiências que o Colégio já desenvolvia e fosse ao encontro do interesse de muitos membros da comunidade escolar, ainda assim foram sonhadas pelo Núcleo e seus membros, e não pela escola. Na prática, apesar da grande

dedicação dada pelos membros aos projetos, isso resultou na dificuldade de atingir muitos de seus objetivos.

Todavia, essas dificuldades enfrentadas permitiram enormes aprendizados para o NEAmb, e uma nova dimensão no entendimento da dinâmica e dos desafios do contexto escolar. Entendimentos como o de que é preciso tempo e continuidade das ações para que estas tenham permeabilidade na escola. Entendimento de que as mudanças só ocorrem de dentro para fora, pelo envolvimento ativo da comunidade escolar, e que esse tempo necessário, talvez seja o tempo necessário para o desenvolvimento de relações de afeto e confiança, que vão imergindo esse profissional naquele plano de existência, a ponto de ele se tornar parte da escola, momento em que mutuamente esta também já faz parte da proposta por ele trazida, ou, mais precisamente, a proposta também se transformou nesse processo, se tornando uma proposta conjunta.

Portanto, embora com dificuldades, a experiência de 2014 foi fundamental, permitindo a inserção do Núcleo no Colégio, a construção de parcerias e de experiências fundamentais para a realização do presente trabalho em 2015. Mais do que isso, adentrar de vez na realidade escolar permitiu o surgimento de questionamentos que vieram a se tornar as questões da presente pesquisa, e percepções como a necessidade de inserir uma abordagem de governança.

Além disso, foram realizadas atividades piloto, que além de contribuir para essa inserção referida acima, tiveram resultados bastante interessantes, permitindo a experimentação de algumas ideias, e diversos aprendizados. Entre elas se destacou a Missão Lixo Zero, originada na ideia inicial do projeto de realizar uma gincana lixo zero. A Missão Lixo Zero foi uma forma de gincana colaborativa, realizada de forma piloto com os sétimos anos do Ensino Fundamental, série escolhida em diálogo com a escola. O objetivo da proposta era realizar de forma lúdica um diagnóstico participativo da problemática dos resíduos na Escola e envolver os estudantes na proposição e realização de ações que contribuíssem para torná-la lixo zero.

As atividades consistiram em tarefas semanais a serem realizadas por cada turma junto à equipe do projeto, em uma aula cedida por algum professor. As tarefas eram etapas do diagnóstico, como fotografar focos da problemática na escola, mapear as lixeiras e propor a alocação de novas, caracterizar a quantidade e tipo de resíduos produzidos, entrevistar a equipe de limpeza para descobrir como era feita a gestão dos resíduos, entre outras. A Missão Lixo Zero foi realizada em parceria com a professora Márcia Bernal, a psicóloga educacional Juliana Lopes e a assistente social Corina Espíndola, que trabalhavam com os sétimos

anos e acolheram e se integraram à proposta, auxiliando em sua orientação, viabilização e acompanhamento.

Figura 4: Atividades da Missão Lixo Zero em 2014

Esse grupo formado pela equipe do projeto com a professora Márcia, Juliana e Corina é exemplo perfeito da importância da atuação do Núcleo em 2014, tanto enquanto construção de parcerias quanto de

experiências, pois foi justamente a partir da reunião de avaliação realizada no início de 2015 com esse grupo, que se delineou elementos fundamentais para a concepção da metodologia do Desafio Lixo Zero.