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2.2 HISTÓRICO DA IMPLEMENTAÇÃO E EVOLUÇÃO DE ESCOLAS

2.2.4 Brasil Republicano (Idade Contemporânea)

2.2.4.3 Escolas Industriais e Técnicas (1942)

Durante a Era Vargas (1930-1945), houve a Reforma Capanema que, por meio de Leis Orgânicas, comandada pelo então ministro Gustavo Capanema, instituiu que o ensino profissional pertenceria ao Ensino Médio. Os Liceus Industriais – criados em 1937 pela conversão de Escolas de Aprendizes e Artífices – passaram a ser Escolas Industriais e Técnicas (ver Figura 5) de nível pós-primário no ano de 1942. De acordo com o Portal CONIF19, tais instituições recém-criadas passam a ser subordinadas ao Ministério da Educação e Saúde.

Figura 5 - Fotografia de uma Escola Industrial e Técnica

Fonte: CONIF (2018)20.

A formação profissional obtida era de nível secundário (o equivalente ao Ensino Médio). De acordo com Peterossi (1994), a Lei Orgânica do Ensino Industrial, de 1942, consagrou-se como uma primeira medida em integrar as escolas do ensino industrial ao Sistema Nacional de Ensino Médio, uma vez que no país ainda não havia uma legislação nacional dessa modalidade de ensino.

19 Disponível em: <http://portal.conif.org.br/br/rede-federal/historico-do-conif>. Acesso em: 11 jan.

2018.

20 Disponível em: <http://portal.conif.org.br/br/rede-federal/historico-do-conif>. Acesso em: 12 dez.

Conforme pontua a autora, o ensino técnico nesta época, assim como em outros momentos da História:

[...] permanecia como um ramo de ensino conducente unicamente à formação do profissional demandado pelo sistema produtivo, sendo assim um ramo terminal do ensino. Essa terminalidade confirmava o caráter dual do sistema educacional – ensino técnico x ensino secundário, reforçado pela própria legislação. (PETEROSSI, 1994, p. 39)

Para exemplificar a dualidade presente no corpo do texto legal, Peterossi (1994) explica que se o aluno realizasse o primeiro ciclo industrial, automaticamente só poderia ingressar no segundo ciclo industrial. Ademais, se cursasse o ensino industrial, só poderia ingressar no ensino superior nessa área de formação. É como se estivesse “preso” a esta área de atuação eternamente. A classe trabalhadora, que provavelmente foi a que frequentou os cursos de ensino técnico, com uma formação voltada preponderantemente aos aspectos manuais, não tinha assim a possibilidade de ter uma formação integral. Havia pouco acesso aos conhecimentos de formação básica e ênfase nos técnico-específicos.

No ano de 1942, além do Decreto-Lei 4.073/42 (BRASIL, 1942a) que organizou o ensino industrial, tivemos ainda outros dispositivos legais que demonstravam o interesse do governo em formar mão de obra para o mercado: o Decreto-lei 4.048/42 (BRASIL, 1942b) para estabelecer o SENAI, o qual foi, segundo Santos (2016), instituído em função da demanda de formação de mão de obra para atender a expansão industrial; o Decreto-Lei 4.244/42 (BRASIL, 1942c) para organizar o ensino secundário em dois ciclos (o ginasial, com duração de quatro anos, e o colegial, com duração de três anos) e o Decreto-Lei 6.141/43 (BRASIL, 1943) que reformou o ensino comercial. Segundo Ciavatta e Ramos (2011, p. 29-30), com relação às Leis Orgânicas do Ensino Industrial do Ensino Secundário, bem como a criação do SENAI, “[...] determinam a não equivalência entre os cursos propedêuticos e os técnicos, associando os currículos enciclopédicos à formação geral como expressão concreta de uma distinção social mediada pela educação”.

Por meio das Leis Orgânicas, a formação profissional, puramente instrumental e destinada aos trabalhadores, agora se configurava como alternativa de nível médio de 2º ciclo, mas que, no entanto, não davam ao estudante o direito de ingressar no ensino superior. Logo, os cursos técnicos agrotécnico, comercial técnico, industrial técnico e o normal (magistério) equivaliam a um segundo grau, mas por serem de

natureza essencialmente técnica, com foco na operacionalização de uma determinada ocupação no mercado de trabalho, sem articular a conhecimentos mais amplos, impossibilitavam, legalmente, o ingresso de quem o cursou ao ensino superior.

A partir dos anos 40, a dualidade estrutural fica, então, cada vez mais evidente,

pipocando um grande número de escolas e cursos que pudessem atender às novas

possibilidades de ocupação no mercado, mas que, no entanto, eram destinados à classe trabalhadora e sem preocupação com a sua formação geral. Ao passo que à elite era reservada uma formação propedêutica, oportunizando-lhes a prosseguir nos estudos. As forças produtivas da sociedade tinham duas funções: intelectuais ou instrumentais (KUENZER, 1999, p. 89):

A estas duas funções do sistema produtivo correspondiam trajetórias educacionais e escolas diferenciadas. Para os primeiros [funções intelectuais], a formação acadêmica, intelectualizada, descolada de ações instrumentais; para os trabalhadores, formação profissional em instituições especializadas ou no próprio trabalho, com ênfase no aprendizado, quase que exclusivo, de formas de fazer a par do desenvolvimento de habilidades psicofísicas.

Interessante trazer a observação atenta de Kuenzer (1999, p. 89-90) com relação ao entendimento de que, para ingressar no Ensino Superior seria necessário o conhecimento das ciências, das letras e das humanidades, uma vez que estes saberes eram considerados “[...] os únicos socialmente reconhecidos como válidos para a formação daqueles que desenvolverão as funções dirigentes”, excluindo-se, assim, os saberes próprios que são desenvolvidos em um determinado campo de trabalho. Como somente a classe dominante tinha acesso a uma escola, cujos cursos médios de 2º ciclo, o científico e o clássico, desenvolviam esta perspectiva academicista, logo somente a elite teria acesso ao Ensino Superior.

Até 2016, bem pouco tempo atrás, no Brasil, bastava a prestação de um exame avaliativo, o ENEM, que seria o suficiente, caso o candidato fosse aprovado, para obter-se um diploma de Ensino Médio, o qual o certificaria a ingressar no Ensino Superior. Já na década de 1940, o estudante, geralmente oriundo da classe trabalhadora, que cursasse todo um curso técnico, independente de qual ramo fosse, teria um diploma de 2º Grau (hoje equivalente ao Ensino Médio), mas não poderia ter acesso ao Ensino Superior. Contradições essas que, felizmente, não mais vivenciamos. Essa impossibilidade que a Lei Orgânica impunha de não permitir o

acesso ao Ensino Superior de estudantes de Cursos Técnicos, só veio a se modificar com a Lei de equivalência nº 1.821 de 1953 (BRASIL, 1953).

A referida lei, no seu art. 1º estabelecia a possibilidade, até então não existente, do aluno que cursou o 1º grau em cursos profissionalizantes na área comercial, industrial, agrícola ou normal, poder ingressar no 1º ano, do equivalente ao 2º grau, cursos clássico ou científico. Até então esta possibilidade era restrita àqueles que haviam feito o 1º grau do tipo ginasial, destinado à classe dominante. No entanto, o legislador concebia haver carência de formação mais ampla no 1º grau profissionalizante e, por tal razão, estipulou, em parágrafo único, que a matrícula ao ensino clássico ou científico, dos estudantes oriundos dos cursos técnicos, se daria mediante sua aprovação em exames de disciplinas que eram ofertadas somente ao curso ginasial. Portanto, o 1º grau técnico e o 1º grau do curso ginasial, por meio da Lei, eram equivalentes até certo ponto, mas, ainda assim, a realidade educacional, com esta medida, ganhava avanços.

Com relação ao ingresso no ensino superior, em seu art. 2º, o novo entendimento era o de possibilitar ao candidato, oriundo tanto de um curso técnico de nível de 2º grau e do normal, quanto dos cursos clássico ou científico, desde que aprovados em exame vestibular, poderiam ingressar no Ensino Superior. Também em parágrafo único, a lei expressa que aqueles candidatos que não fizeram no curso ginasial e/ou no colegial (científico e clássico) as disciplinas típicas desses cursos, deveriam fazê-las, a fim de completar o curso secundário. A exigência, se não cumprida, impossibilitaria o candidato de ingressar no Ensino Superior, mesmo se aprovado em vestibular.

Em 1945 chegava ao fim o chamado Estado Novo, iniciado em 1930. A situação era convidativa aos educadores proporem mudanças na Lei Orgânica do Ensino Industrial, desde a equivalência entre os ramos de ensino profissional e secundário, até a extinção da dualidade (SANTOS, 2016), ou seja, que não houvesse escolas que diferenciassem trabalho intelectual do manual, sendo as primeiras destinadas à elite e as segundas à classe trabalhadora. Estavam caminhando rumo à formação integral do sujeito, mas, com tantos acontecimentos que estariam por vir, esta suposta eliminação da dualidade estava longe de se concretizar.

No ano seguinte, com a edição de uma nova Constituição, não houve referência específica ao ensino técnico, diferentemente do que fora observado na Constituição de 1937 (PETEROSSI, 1994). A partir da Constituição de 1946, até a promulgação da

lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, de 1961, são lançadas, conforme Peterossi (1994, p. 40):

[...] várias leis com o objetivo de valorizar o ensino técnico, equiparando-o ao ensino secundário. Nesse sentido, a lei 1.076 de 1950 vem assegurar aos estudantes que concluíssem o primeiro ciclo do ensino industrial, comercial e agrícola o direito à matrícula nos cursos clássico e científico do ensino secundário, mediante prestação de exames nas disciplinas não estudadas no primeiro ciclo do curso secundário.