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Escolha dos participantes e construção do cenário social da pesquisa

5. METODOLOGIA

5.2 Delineamento Metodológico

5.2.1 Escolha dos participantes e construção do cenário social da pesquisa

A perspectiva da Epistemologia Qualitativa atribui fundamental importância a construção do cenário social de pesquisa, entendido como “a fundação daquele espaço social que caracterizará o desenvolvimento da pesquisa e que está orientado a promover o envolvimento dos participantes.” (GONZÁLEZ REY, 2005, p. 83) Neste processo, as pessoas tomarão a decisão de participar ou não da investigação, sendo assim, é necessário que o pesquisador busque estabelecer uma relação de confiança com os participantes, não apenas para obter sua aceitação, mas principalmente sua efetiva participação em um clima comunicativo e reflexivo. A seguir apresenta-se como se deu a escolha pela escola e pelos participantes, bem como o início da construção do cenário de pesquisa.

Inicialmente, teve-se como delimitação a escolha por uma escola pública de uma Região Administrativa do Distrito Federal que atendesse as séries iniciais do Ensino Fundamental e tivesse o acompanhamento de professores atuando no Bloco Inicial de Alfabetização (1º ao 3º anos). A escolha pelo Bloco Inicial de Alfabetização se justifica pelo interesse pessoal da pesquisadora nesse nível de ensino e por ser este o momento inicial em que as relações entre professor e alunos se constituem numa maior formalização devido às exigências curriculares, já que antes dessa etapa - na Educação Infantil – há uma maior flexibilização do currículo. Apesar disso, consideramos que nesta fase há mais condições de haver maior envolvimento entre professores e alunos, visto que apenas um professor se encontra responsável pela turma diariamente. Entretanto, considerando a complexidade dos processos relacionais, destacamos que nem sempre isto acontece, já que estar presente em um mesmo espaço físico não garante o envolvimento ativo entre pessoas.

Após essas definições decidimos a princípio acompanhar duas professoras e suas turmas. Para proceder à escolha dos participantes da pesquisa iniciamos uma conversa com algumas professoras da Secretaria de Estado de Educação do Distrito Federal que haviam sido orientadoras do curso do PNAIC (Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa) e, devido a isso, tinham contato com diversos professores da rede pública de ensino. Nessa conversa inicial foram apresentados os objetivos da pesquisa e pedimos a indicação de possíveis colaboradores que se encaixassem nos seguintes critérios: professores que atuavam no Bloco Inicial de Alfabetização; professores que demonstravam ser abertos à participação em uma pesquisa; professores que durante o curso PNAIC demonstravam, de alguma forma, uma preocupação com a sua relação com os alunos.

Após a sondagem inicial e passado o período de greve e reposição das aulas, optamos por iniciar a pesquisa em uma escola que tinha pelo menos duas professoras que foram indicados e que se localizava numa região mais central da cidade de Planaltina, Distrito Federal. O contato inicial com a escola foi realizado na primeira semana de aula do ano letivo de 2016, no início do mês de março, a partir de uma conversa com a direção e a entrega de uma Carta de Apresentação (apêndice A). A pesquisadora explicou que tinha recebido a indicação de duas professoras para participarem da pesquisa, ao passo que a diretora informou que uma dessas professoras estava atuando com o 1º ano do Ensino Fundamental, mas que a outra indicada não estava atuando com turmas do Bloco Inicial de Alfabetização. Sendo assim, a própria diretora sugeriu outra professora, também de 1º ano do Ensino Fundamental, para participar da pesquisa. Em seguida, iniciamos uma conversa com as duas professoras indicadas onde apresentamos o estudo e esclarecemos aspectos da dinâmica da pesquisa. As duas professoras demonstraram, prontamente, interesse na participação. Com essa aceitação foi feito o registro no Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (apêndice B) e acordado a data para início das atividades.

As situações descritas demonstram apenas o início da aproximação com os participantes da pesquisa, entretanto, há que se ter em mente que o cenário social da pesquisa não é um momento estático e permanece em manutenção ao longo de todo o processo de investigação, a partir da construção de um espaço de relações (ROSSATO; MARTINS; MARTINEZ, 2014). Neste sentido, iniciamos a pesquisa acompanhando duas professoras de 1º ano do Ensino Fundamental e suas respectivas turmas, no entanto, no decorrer da investigação optamos por continuar com apenas uma professora e sua respectiva turma, por apresentarem mais elementos que nos auxiliavam na construção da informação, além de demonstrar um envolvimento maior com a pesquisa.

Faz-se necessário esclarecer que o referencial epistemológico adotado requer um envolvimento ativo do participante da pesquisa com o objeto de estudo, o que traz também ao pesquisador o desafio de buscar a construção de uma relação dialógica com os participantes. A partir do envolvimento inicial com as duas turmas, optou-se por prosseguir com apenas uma delas para permitir o maior aprofundamento das questões investigadas. Segundo González Rey (2005, p.111), no processo de pesquisa

[...] os sujeitos não são escolhidos ao acaso, mas eleitos entre os que tiveram uma participação mais significativa em relação aos objetivos da pesquisa. Os sujeitos individuais selecionados serão uma via essencial para o aprofundamento das informações implicadas no desenvolvimento do modelo teórico em construção.

Dessa forma, a pesquisa foi realizada a partir de um estudo de caso com uma professora, a quem demos o nome fictício de Alice, e sua respectiva turma de 1º ano do Ensino Fundamental. Esse estudo de caso permite o estudo da singularidade dos sujeitos envolvidos na pesquisa, bem como de um grupo social, que nos forneceu importantes informações sobre as subjetividades individual e social. Como salienta González Rey (2012), não é a quantidade de sujeitos estudados que legitima o conhecimento científico, mas a qualidade da sua expressão, em que as informações provenientes de um caso singular adquirem legitimidade pela construção do modelo teórico do pesquisador.

Consideramos, então, que o estudo de caso com uma professora sua turma seria a opção mais adequada para a investigação dos processos relacionais entre professor e alunos na sala de aula, visto que nos auxiliaria a ter uma compreensão mais aprofundada dos múltiplos aspectos que constituem este processo.