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CAPÍTULO 3: ABORDAGEM METODOLÓGICA

3.3 A escolha do livro didático Construindo Consciências pelo corpo docente

No ano de 2010 a escola recebeu alguns exemplares aprovados no PNLD para o triênio 2011-2013. Como premissa, os professores buscariam por uma coleção que atendesse

92 a matriz curricular proposta pela Secretaria Municipal de Educação de Belo Horizonte. A coleção Construindo Consciências foi a que mais se aproximou das propostas curriculares municipais. Além disso, uma professora do turno da manhã conheceu a coleção e os idealizadores do Grupo APEC enquanto fazia um curso de mestrado na UFMG, o que contribui para a escolha destes livros.

Mas esse momento significou mais que uma escolha. Foi a oportunidade de romper com os moldes tradicionais do ensino de Ciências, até então presentes na escola. Essa discussão foi importante não só pela escolha do livro didático, mas por permitir que os professores repensassem suas práticas e a aprendizagem dos alunos. Quem relatou, com detalhes, como se deu a escolha do livro Construindo Consciências foi outra professora da disciplina, que será identificada neste documento como Lenir. Sua entrevista foi áudio- gravada.

3.3.1 Com a palavra a professora Lenir

Pouco se sabia sobre esta professora. Seu nome foi citado pela professora Clara em uma das entrevistas. Em uma tarde, na sala dos professores, a pesquisadora aproximou-se, questionando sobre sua postura durante a escolha do livro didático. Lenir apresentou informações pertinentes que foram registradas por um gravador de áudio e no diário de campo. Depois de trinta e cinco anos em sala, considerava-se “macaca velha”. Ela justificou com esta expressão seus anos de experiência docente.

A professora Lenir afirmou que a coleção foi muito bem avaliada pela maioria dos docentes e que trazia uma proposta diferenciada de ensino, capaz de romper com o que ela chamava de ensino “estanque”. Para Lenir, a distribuição dos conteúdos por série de estudo era fragmentada e o último ano do ensino fundamental era frustrante. Tradicionalmente ensinava-se ar, água e solo no 6º ano, seres vivos no 7º ano, corpo humano no 8º ano e física e química no 9º ano. As dificuldades de professores e alunos com a abordagem de física e química causavam um desgaste e uma queda no rendimento escolar. Com a proposta da coleção Construindo Consciências, o conteúdo estaria diluído entre os anos do ciclo, facilitando o trabalho docente e a compreensão dos estudantes. Outro ponto positivo apontado por Lenir era o fato de que as provas sistêmicas cobravam o conteúdo de forma diversificada, e não nos moldes tradicionais, fragmentado. A nova abordagem poderia melhorar o desempenho dos alunos.

93 Na sua fala percebeu-se um pouco da resistência de alguns professores para a utilização do livro conforme a sua proposta pedagógica. Foi uma dificuldade inicial, que alguns conseguiram superar, mas que outros ainda são resistentes.

3.3.2 O livro didático sob a perspectiva da professora Clara

Ao longo da coleta de dados a professora Clara expôs suas impressões sobre o livro didático, relatou suas dificuldades iniciais e como fez para superá-las. Foi uma transição desafiadora, afinal, deveria romper com um modelo de ensino pautado na memorização que a acompanhava desde o início da sua carreira docente, ou seja, há aproximadamente 16 anos. Assim que a coleção foi implantada a dificuldade inicial foi abordar os capítulos na ordem proposta pelos autores por ser bem diferente do modelo de ensino anterior. A proposta pedagógica do livro deveria ser seguida, pois com o avanço dos capítulos, conceitos apresentados serviriam de base para a abordagem de outras temáticas ou até mesmo para relacionar conteúdos. Ao alterar a ordem das unidades, perdia-se a sequência didática sugerida, e ao longo da explicação era necessário fazer alguns adendos.

Após essa primeira tentativa, a professora Clara decidiu utilizar o livro do início ao fim, da forma proposta pelos autores, enfrentando suas dificuldades, tanto para se adaptar ao formato e disposição dos conteúdos, quanto para explorar, de forma mais eficiente, as atividades. Clara afirmou que a partir do momento que adotou o livro na sua íntegra e sequencialmente, teria facilitado o entendimento de conceitos e aplicações dos conteúdos.

Segundo os relatos da professora, o conteúdo do livro estava disposto por temas, aproximando-os do cotidiano do aluno, usando elementos conhecidos ou do seu convívio. Para isso deu exemplos do capítulo de plantas e dos vertebrados. A partir de uma espécie conhecida, como as samambaias e tartarugas, os autores expõem as características do indivíduo e depois acrescentam informações gerais que diferencia o grupo a que ele pertence. Outra preocupação era apresentar características evolutivas das espécies, evidenciando o que foi adquirido com o passar do tempo. Clara destacou a primeira página de cada capítulo, por começar com imagens que fomentam uma discussão inicial e que darão ao aluno a noção do próximo tema que será trabalhado. Quanto às atividades, a professora apontou as seções distribuídas ao longo de cada capítulo. São elas “Faça em seu caderno”, “Trocando ideias”, “Avaliando a leitura” e “Aplicando o que aprendemos”. Clara solicita a resolução de todos os

94 exercícios, sendo estes corrigidos, no quadro, com o auxílio dos discentes. Os vistos nas atividades fazem parte da avaliação trimestral do aluno.

De forma geral, a professora Clara utilizou o livro na sequência sugerida pelos autores, leu os textos e fez uso das imagens para exemplificar e abordar os temas, trabalhou todos os exercícios propostos pelo livro e analisou a viabilidade da seção “Vamos pesquisar”. Quando pertinente, orientou a turma a proceder com a pesquisa. Uma prática comum era o preparo de exercícios para serem respondidos através da consulta ao livro didático.