• Nenhum resultado encontrado

CAPÍTULO 3: ABORDAGEM METODOLÓGICA

3.4 Instrumentos de pesquisa

Uma singularidade da investigação qualitativa, dita por Alves-Mazzotti e Gewandsznajder (2004), é o caráter multimetodológico desse tipo de pesquisa. A variedade de procedimentos e de instrumentos permite ao investigador o registro dos dados por diferentes ângulos, o que qualifica a análise, interpretação e descrição dos resultados. Selecionamos como instrumentos de coleta de dados a observação, a entrevista e o diário de campo. A escolha da gravação de vídeos como recurso metodológico garantiu o contato permanente com os dados e análises semióticas e intersubjetivas da dinâmica discursiva em sala de aula.

3.4.1 Observação

A observação é uma técnica de coleta de dados capaz de reunir informações do que se pretende estudar e de aguçar os sentidos para a obtenção de aspectos da realidade e do comportamento. Observar é estar atento, cuidadoso a cada gesto, palavra ou expressão. É registrar o que se vê e o que se ouve, no tempo e espaço real. O pesquisador, inserido no ambiente de estudo, examina os sujeitos e suas respectivas inter-relações, buscando explicações para o fenômeno em questão (MARCONI; LAKATOS, 2003). Atentos a essas premissas, nos posicionamos como observadores do ambiente escolar, no período de 09 de abril de 2015 a 02 de julho de 2015. No total, registramos 11 aulas e relatos extraclasse.

95

3.4.2 Entrevista

Na sua obra Bogdan e Biklen (1994) apresentam a entrevista como o fruto da intenção. É quando um diálogo se estabelece fundamentado em um propósito: buscar informações. Nesta pesquisa, é um instrumento significativo e complementar, imprescindível para o trabalho de campo. Através dos registros realizados via entrevista, foi possível descrever os sujeitos envolvidos, os caminhos que levaram a escolha do livro didático e as perspectivas e percepções da professora participante.

A forma como as entrevistas foram realizadas nesta investigação é descrita por Alves- Mazzotti e Gewandsznajder (2004, p. 168) como “pouco estruturadas, sem um fraseamento e uma ordem rigidamente estabelecidos para as perguntas, assemelhando-se muito a uma conversa”. Semanalmente, na sala dos professores, a pesquisadora e a docente tinham um momento para o esclarecimento de dúvidas, conversar sobre as práticas e o planejamento. É importante ressaltar que esse espaço é efetivamente um local de encontro dos docentes e que estes, atendendo a solicitação da professora participante, expuseram e/ou complementaram informações coletadas via entrevista. Destacaram-se duas professoras, Estela e Lenir, que também lecionavam a disciplina de Ciências. Alguns relatos dessas professoras levaram-nos à compreensão do processo de escolha do livro didático e aos desafios de sua implantação, visto sua proposta diferenciada de trabalho, sendo estas informações relevantes para este estudo. Estela, presente na sala dos professores nos momentos de entrevista, complementava uma ou outra fala da professora participante ou exprimia suas percepções sobre o tema em questão. Lenir, por sua vez, cedeu-me uma entrevista, sendo esta registrada a parte nesta seção.

A cada encontro, em média trinta minutos eram destinados a essa atividade. Em algumas datas, devido às atribuições da professora, as conversas se desenrolavam enquanto a mesma organizava seus materiais ou consultava seus arquivos no computador da escola. A professora participante mostrou-se sempre receptiva a esses momentos, compartilhando suas experiências, opiniões e informações importantes para a construção deste estudo. No acervo constam aproximadamente 1 hora e 30 minutos de áudios, sendo que os mesmos foram gravados em quatro datas diferentes. As gravações de áudio estão ordenadas por data. No diário de campo estão registrados os temas abordados em cada áudio e seu respectivo tempo de gravação, facilitando a identificação e acesso aos dados à medida que estes foram inseridos neste trabalho.

96

3.4.3 Diário de campo

O diário de campo é um espaço de relato escrito que abriga as impressões do pesquisador baseando-se no que ele observa e compreende, sendo um instrumento enriquecedor por seu caráter descritivo e reflexivo. Dele emergem ideias, estratégias, reflexões e palpites, fruto da coleta de dados. É uma fonte de informação constante e permanente, que aproxima o investigador do ambiente de estudo e das suas vivências (ALVES-MAZZOTTI; GEWANDSZNAJDER, 2004; BOGDAN; BIKLEN, 1994).

Para esta pesquisa, um pequeno caderno esteve sempre a mão como forma rápida e constante de registro. Durante o acompanhamento das aulas ou em momentos posteriores, as suas páginas eram preenchidas com informações sobre a escola, a turma, a professora, a rotina e como o livro era utilizado no dia observado. Tinha-se ainda o cuidado de anotar a data, número de alunos em sala e alguns comentários feitos por eles. Todas as informações complementares, como histórico da escola, entrevistas realizadas, dúvidas e demais dados pertinentes a essa investigação, constam no diário de campo.

3.4.4 Gravação em vídeo

A gravação em vídeo foi o principal recurso metodológico desta investigação. Com o auxílio de uma câmera, captou-se imagens e sons dos alunos e professora ao longo de todo o processo de coleta de dados. A câmera ficou posicionada no fundo da sala, de modo que permitia a visão ampla da docente e da maioria dos alunos. A disposição dos móveis não permitia a movimentação da pesquisadora, que se assentava no corredor, ao lado de alunos que ocupavam a última posição das filas, controlando deste local, as gravações.

Antes de inicia-las, a pesquisadora frequentou algumas aulas para que os sujeitos da pesquisa se familiarizassem com a sua presença. A primeira gravação, inicialmente destinada a testes de som e imagens, foi igualmente analisada e transcrita, visto a boa qualidade dos dados registrados. Uma limitação desta prática foi o registro das imagens apenas com um campo de visão, pois não foi possível instalar um equipamento que registrasse a turma e suas ações considerando a organização da sala de frente para a câmera. Em alguns momentos, nem todas as vozes foram audíveis, devido às conversas simultâneas, ao dinamismo e às interações em sala de aula.

97 O acompanhamento das aulas na turma iniciou-se no dia 09 de abril de 2015. Das três aulas semanais, duas foram observadas. As gravações começaram efetivamente em 14 de maio de 2015, após a devolução dos Termos de Consentimento Livre e Esclarecido assinados pelos pais ou responsáveis, e finalizaram em 02 de julho de 2015. Algumas intercorrências como feriados, recessos, consultas médicas e visitas técnicas influenciaram no registro de dados. No acervo da pesquisa constam aproximadamente 7 horas de gravações de vídeos das aulas, todas ordenadas por data. As filmagens foram realizadas às quintas no segundo horário e às sextas na última aula. O QUADRO 4 apresenta as aulas que foram acompanhadas no período de coleta de dados.

Quadro 4 – Período de coleta de dados na escola pesquisada

Unidade temática Capítulos Mês Dias

A diversidade da vida

3. Conhecendo os invertebrados Abril 23*, 24* 3. Conhecendo os invertebrados Maio 14 4. A diversidade das plantas Maio 15, 21, 22

Visita técnica Junho 11, 12*, 19*

5. Nem bichos nem plantas: que seres são esses? Junho 25, 26, 5. Nem bichos nem plantas: que seres são esses? Julho 02

* Não foram realizadas gravações nestas datas.

Fonte: Dados da pesquisa

Todas as gravações foram transcritas. Os vídeos foram assistidos repetidas vezes, para que se preservassem no texto escrito os aspectos linguísticos e extralinguísticos do contexto. Para facilitar o processo de análise e escolha dos episódios, bem como adequar visualmente os dados e melhorar a compreensão dos mesmos, as transcrições foram realizadas baseando-se em adaptações realizadas por Almeida (2011) no sistema de convenções proposto por Marcuschi (2000):

Quadro 5 – Sistema de convenções para transcrição de falas

/ - interrupção (...) – pausa breve

[...] fala simultânea Maiúsculo: ênfase

T – turnos de fala Itálico – trecho de leitura do livro didático Fonte: Marcuschi (2000), apud Almeida (2011, p. 171)

98 As transcrições são apresentadas em quadros, formados por três colunas. Na primeira indicamos o turno de fala através de números, em ordem crescente. Atribuímos o número 1 ao primeiro turno de um episódio. Na segunda coluna, constam as falas transcritas e os enunciadores, sendo todos identificados por nomes fictícios. Na última coluna, acrescentamos os comentários textuais.