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6 INTERPRETAÇÕES E REFLEXÕES: IDENTIFICAÇÃO,

6.1 ESCOLHA PELA PROFISSÃO (1ª CATEGORIA

A escolha pela profissão determina a entrada do sujeito num cenário de profissionalização de uma determinada profissão, e demarca a trajetória de conhecimentos profissionais a serem veiculados no âmbito da formação universitária. A

escolha nem sempre se ancora numa vontade e idealização profissional desejada por um sujeito, as vezes essa escolha ocorre por motivos outros, tais como: familiar, possibilidade de trabalho mais rápido, baixa concorrência ou simples desejo de adentrar no ensino superior.

Os dados dos questionários, em conjunto com as análises dos grupos focais, evidenciaram que a escolha por esse curso não ocorre ainda como primeira opção para a maioria dos alunos ao ingressar no ensino superior, uma vez que uma grande parte dos estudantes, ao adentrarem ao curso não têm clareza da atuação profissional e da habilitação proposta pela Licenciatura em Pedagogia. Vejamos o que indicam as falas:

Na verdade, eu nunca quis Pedagogia. Pedagogia estava na minha décima opção (Risos). Eu sempre quis de verdade Enfermagem, desde pequena meu sonho era ser enfermeira. Mas, minha mãe é pedagoga e o sonho dela era ter uma filha formada em Pedagogia também. Eu costumo dizer que eu não escolhi Pedagogia, a Pedagogia que me escolheu. Porque eu fiz o vestibular sem expectativa nenhuma de passar e passei. (Graduando 2.1)

Minha primeira opção sempre foi Pedagogia. Terminei o Ensino Médio, fiz magistério, né? E tinham algumas questões assim que foram levantadas, tipo assim, no decorrer do Ensino Médio que eu gostaria, assim, de conhecer mais, assim no universo das crianças. Então, fiz sete vestibulares, no sétimo passei, sempre Pedagogia. Apesar de algumas críticas e de algumas questões, assim... De desvalorizar o profissional de educação, mas eu sempre quis isso e não liguei para as críticas e fiquei firme no meu objetivo. (Graduando 3.1)

“Escolhi Pedagogia por opção mesmo, porque eu fiz magistério e no período do estágio, eu sei lá, eu me apaixonei pela turma. Também a Pedagogia foi escolha pelo fato da minha casa, mais ou menos sete pessoas são formadas em magistério e professor, trabalha nessa área também. (Graduando 5.1)

{...}eu não conhecia o que exatamente era Pedagogia (Risos). Então, eu tentei letras porque eu era apaixonada por uma professora de Português e eu queria fazer Letras. Aí eu tentei fazer o vestibular de letras, o primeiro vestibular que eu fiz aqui e não passei. Depois eu conheci uma pedagoga que era amiga da minha mãe. E aí ela começou a me explicar o que o curso realmente era... Aí ela me explicou sobre o curso de Pedagogia. (Graduando 1.1)

Eu, na verdade eu caí de pára-quedas no curso. Por quê? Porque eu nem sabia que existia curso específico com esse nome “Pedagogia”. Eu vim saber depois, lá quando tinha aquela lista de que me inscrever,

porque na verdade, eu tentava para Engenharia de Alimentos. Aí algumas pessoas da minha família deram a sugestão de eu fazer para Pedagogia. Mas, eu nem sabia, ao certo o que é que fazia, o que era, com quem. Acho que a gente tem na escola, mas não sabia o Pedagogo... É professor... Tudo é professor ou diretora. Eu sou diretora, não aquele nome específico, o Pedagogo. O que faz, o que deixa de fazer. (Graduando 2.3)

Assim, eu também não sabia o que era Pedagogia. Não sei se vocês vão rir da minha cara. Eu achei que Pedagogia era o médico de criança (risos). {...} e meu irmão falou assim: “você escolhe Pedagogia que é mais fácil”. Mais fácil entrar que Medicina, dos outros cursos. (Graduando 5.3)

De seis graduandos, dois afirmaram ter escolhido a Pedagogia como a primeira opção e quatro como segunda. De certa forma, isso evidencia ainda um desejo por parte dos alunos em exercerem a profissão. Entretanto, a grande maioria evidenciou que a escolha pelo curso de Pedagogia não se deu de forma tão harmônica, sendo determinada por questões familiares, falta de opção, em outros cursos, e necessidade de trabalhar.

As falas dos sujeitos ecoam ainda para uma análise que evidencia a falta de clareza quanto à profissão do Pedagogo no cenário social, onde muitas pessoas têm representações completamente difusas em relação à ação profissional do Pedagogo. Tal representação evidencia a falta de identidade no âmbito social em relação ao trabalho do Pedagogo.

Não há que negar que a falta de clareza em relação à escolha do curso reflete o processo histórico de idas e vindas em torno do objeto de trabalho do Pedagogo, bem como demonstra que a demarcação de habilitações propostas pela DCNP em 2006 a respeito do trabalho realizado por esse profissional, não é suficiente para definir a identidade do Pedagogo no contexto social.

Ora, tal premissa de estranhamento em relação a um objeto de trabalho pode parecer até normal para o aparecimento de algumas profissões que têm surgido recentemente, mas uma profissão que existe por volta de 85 anos, desde a criação oficial do primeiro curso, não pode ter seu objeto de trabalho como algo não identificado.

Assim, temos dois graduandos que explicitaram o desejo pelo curso e pela docência, por conta da influência familiar, revelando a forte tendência de escolha da profissão, a partir da inserção no curso por indução da família, além do contato anterior com o magistério. O imaginário que respaldava a hipótese dessa pesquisa seria o de encontrar na maioria dos estudantes que cursam a Licenciatura em Pedagogia um público de egressos do magistério, porém, conforme os dados apresentados no perfil dos estudantes, podemos evidenciar que os graduandos em Pedagogia advêm em sua maioria do ensino médio tradicional ou chamado de propedêutico.

Fica evidente que o trabalho do Pedagogo é visto com muitas imprecisões, somente prático ou direcionado ao trabalho como professor. A maioria dos graduandos não concebiam a pedagogia como opção profissional em primeira instância e enfatizam a escolha pelo curso em detrimento de influência familiar, baixa concorrência, falta de opção ou até mesmo o simples fato de adentar ao ensino superior.

Os dados apresentados em pesquisa intitulada de Atratividade da Carreira Docente no Brasil, encomendada pela Fundação Carlos Chagas e coordenada pela respeitada pesquisadora Bernadete Gatti (2009), validam os dados apresentados anteriormente e em tempo evidenciam uma discrepância em relação à escolha do curso de licenciatura.

Gráfico 2 – Escolha da profissão após conclusão do ensino médio - Escolha pela profissão no imaginário dos estudantes

Fonte: Gatti e Nunes (2009).

A indicação do curso escolhido para prestar vestibular no ano da pesquisa (2009), no questionário aplicado, explicita o distanciamento da carreira docente:

apenas 2% (31 de 1.501 dos alunos) indicaram, como primeira opção de ingresso à faculdade, o curso de Pedagogia ou alguma outra licenciatura (quando os alunos escreveram explicitamente “licenciatura” em alguma área). Esse gráfico apresenta também as indicações de cursos ligados às disciplinas da escola básica, sem explicitar licenciatura, como História, Física, Química, Matemática, Letras, Música, Filosofia, Sociologia, Biologia, Geografia, Artes Plásticas e Educação Física (a mais frequente), que, somadas, envolvem 9% dos jovens. É possível inferir que parte desses alunos tenha interesse em seguir a carreira docente a partir da área de conhecimento específico. No entanto, 83% optaram, claramente, por carreiras desvinculadas da atividade docente.

A realidade que a pesquisadora, enquanto formadora do curso de Pedagogia, e a socialização de outros professores em eventos nacionais têm demonstrado é que os estudantes em suas narrativas nas disciplinas de estágio supervisionado e didática, relatam que a escolha pelo curso de Pedagogia decorre em sua maioria por baixa concorrência, um custo menor, a idealização da família e possibilidade de ingresso mais cedo sob a perspectiva de estágio, ou seja, motivos financeiros.

Portanto, a realidade que se impõe nos cursos de pedagogia em relação à escolha pela profissão parece não ser uma idealização natural dos alunos pela profissão, mas advém de contextos outros (familiar, financeiro, falta de opção, baixa concorrência) que impulsionam esses sujeitos a ingressarem no curso.