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4 METODOLOGIA

4.1 A escolha do tema

Na tentativa de amenizar o problema específico de dotar o aluno da variedade padrão escrita, esta pesquisa justifica-se porque pretendo, através dos exercícios tradicionais feitos por jornalistas, como se verá na análise dos dados, mostrar que esses tipos de exercícios não levam ao domínio da variedade padrão escrita e, desse modo, escrever textos bem estruturados do ponto de vista dos princípios da textualidade, das meta-regras e dos princípios reguladores. Procuro investigar até que ponto o conhecimento da doutrina gramatical explícita contribui para a prática da escrita dos jornalistas.

Portanto, em resumo, a hipótese aventada é a de que os jornalistas, embora escrevam, cotidianamente, textos na variedade padrão, evidenciando, pois, um domínio dessa variedade, não conhecem a doutrina gramatical explícita, ou seja, desconhecem os conceitos, as classificações e as nomenclaturas da gramática tradicional.

De acordo com os estudos da Lingüística Textual, sabe-se que a construção de um texto não se resume aos fenômenos estritamente lingüísticos, mas envolve outros conhecimentos de ordem pragmática e discursiva, por exemplo. Nessa perspectiva, a hipótese inicial leva a outra hipótese que consiste no fato de que a prática da escrita dos jornalistas pode estar ligada aos princípios da textualidade, às meta-regras e aos princípios reguladores, com ligação do aspecto lingüístico dos textos produzidos a esses princípios e aos caracteres prototípicos do gênero e do tipo textual. Todos esses fatores – princípios da textualidade, meta-regras, princípios reguladores, gêneros e tipos textuais – provavelmente são os aspectos determinantes na construção dos textos e na prática da escrita dos jornalistas. Pelo fato de os textos dos jornalistas

servirem de base para a variedade padrão escrita, pela veiculação de vários gêneros textuais nos jornais e devido à proposta dos PCN (1998) para o ensino do português, o jornal pode ser considerado uma das importantes fontes para a atuação dos professores no ensino de Língua Portuguesa.

Na tentativa de comprovar as hipóteses, a escolha de jornalistas, para realizar a pesquisa, ocorreu pelo fato de esses profissionais lidarem com a escrita padrão diariamente e pela ampla divulgação que os jornais têm na sociedade. Conforme já referido, no segundo capítulo, os gêneros textuais do domínio jornalístico são fontes atuais para servirem de modelo às regras do padrão escrito. Nesse sentido, faz-se necessário ressaltar que a escolha de textos jornalísticos justifica-se pelo fato de jornais como o Estado de Minas, por exemplo, ocuparem um espaço considerável na sociedade mineira, sendo alvo de leitura por parte das pessoas de diversas camadas sociais. Além disso, vários estudiosos consideram o jornal uma fonte atual para servir de modelo para a escrita padrão. Autores como Possenti (1996, p. 41), Sena (1986, p. 91) e Rocha (2002, p. 67) referem-se, nesta ordem, ao domínio jornalístico como a fonte de modelo para a variedade da língua portuguesa adotada para o desenvolvimento deste trabalho.

Haveria certamente muitas vantagens no ensino de português se a escola propusesse como padrão ideal de língua a ser atingido pelos alunos a escrita dos jornais ou dos textos científicos, ao invés de ter como modelo a literatura antiga. Falo em literatura antiga porque, na moderna, se nós a lêssemos, encontraríamos muitas formas condenadas pelas gramáticas.

Temos, pois, uma língua escrita uniforme (para as ciências, para a imprensa e para os documentos oficiais) de que se servem habitualmente os brasileiros de bom

nível de instrução, na qualidade de leitores e, em menor escala, como produtores de textos.

... tanto os textos em língua “oficial” quanto os textos em língua jornalística, apesar da diferença de estilo que os separa, caracterizam o que se pode chamar de língua padrão do português contemporâneo e é desses tipos de texto que devem ser extraídas as abonações que servirão de base para fixação das regras gramaticais que descreverão a língua culta escrita do português do Brasil.

A afirmação de que os textos jornalísticos também são exemplos da variedade padrão escrita atual encontra respaldo na pesquisa desenvolvida por Lima (2003, p. 22), em que a lingüista analisa as regras que os jornalistas usam para escrever os textos:

Defendemos como mais apropriado tomar como referência, no estabelecimento de tal norma, o texto técnico-científico e o jornalístico, formas de expressão amplamente utilizadas, no mundo atual, pelas pessoas comuns, escolarizadas, em suas leituras mais freqüentes e, no caso do técnico-científico, em suas eventuais escritas.

Os textos dos jornalistas são exemplos para a escrita padrão, além de serem modelos de textos bem elaborados do ponto de vista da coesão/coerência, da informatividade, da situacionalidade, da intertextualidade, da intencionalidade, da aceitabilidade, da adequação, da eficácia e da eficiência. Inseridos em gêneros e em tipos textuais diversos, os textos têm como alvo principal o leitor que fará funcionar todas as condições de produção. Portanto, o leitor é peça fundamental na relação interacional jornalística, pois através da compreensão dos enunciados bem estruturados sintaticamente, fará valer os princípios da textualidade, as meta-regras e os três princípios reguladores, em um texto bem articulado.

Para finalizar as justificativas para o tema escolhido, é imprescindível (re)afirmar que pretendo provocar reflexões sobre o ensino da escrita padrão para que se possa, com métodos eficazes, contribuir para uma prática docente mais produtiva.