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A escolha do termo récit de vie

Um dos primeiros empecilhos com o qual nos deparamos ao estudar materiais autobiográficos é sua própria nomenclatura. Relato, memorial, diário, autobiografia, narrativa de si, história de vida e tantos outros são conceitos utilizados de acordo com a pesquisa que se busca desenvolver. O termo autobiografia, por exemplo, pode ser encontrado como uma obra literária acerca de determinada pessoa famosa ou como a tentativa de narração da vida inteira

de uma pessoa. O diário está associado à ideia de um caderno, datado, no qual cada página é dedicada ao registro de um dia da vida do indivíduo que o escreve7.

Em seu trabalho sobre o caráter memorialista em Memórias do cárcere, de Graciliano Ramos e em Em liberdade, de Silviano Santiago, Wander Melo Miranda (1992) realizou uma discussão das diversas conceituações da autobiografia, os motivos de sua ocorrência na literatura ocidental e suas possíveis relações com outras formas narrativas.

Esse interesse pelo individualismo dataria, no mundo ocidental, da época da Declaração dos Direitos dos Homens e Cidadãos. Seria uma necessidade de configuração ideológica até então não percebida. É na autobiografia que a manifestação de pessoa encontra um dos meios mais adequados para vir à tona. Em sua obra, Miranda (1992) buscou averiguar se os limites do texto autobiográfico estavam alienados à vida concreta do autor ou à estrutura textual do material. Para a verificação e atribuição de veracidade a esse material, ele cita Lejeune (1975) e seu pacto autobiográfico, que considera que “a partir de análise, no nível global da publicação do contrato implícito ou explícito do autor com o leitor, o qual determina o modo de leitura do texto e engendra os efeitos que, atribuídos a ele, parecem defini-lo como uma autobiografia. (pp. 29 e 30)”. A autobiografia é considerada aqui como a retrospectiva da história completa da vida de um sujeito. Esse sujeito, então, reafirmar-se-ia através da reevocação do passado: numa mescla dos fatores tempo e identidade, não será contado apenas o que aconteceu em um tempo pretérito, mas como aquele sujeito do passado setransformou no sujeito narratário presente.

Uma das primeiras diferenciações que o autor faz é entre a autobiografia e o romance. Como sua obra Corpos escritos tem por objetivo estabelecer as relações existentes entre a autobiografia e a ficção, ele atribui a responsabilidade dessa primeira distinção a esse pacto prévio realizado entre autor e leitor.

Em relação ao diário íntimo, a autobiografia distingue-se em virtude da mínima separação entre o momento vivido e o registro desse momento. O diário, enquanto registro escrito, permite uma maior exatidão de descrições da experiência real. A autobiografia recorre a uma seleção da memória, e esse momento de seleção contribui para uma ordenação dos fatos vivenciados, ao passo que o diário é fragmentado.

O autorretrato, por sua vez, aproximar-se-ia tanto da autobiografia quanto do diário. No primeiro caso, essa aproximação acontece devido à busca pelo autoconhecimento. No segundo, o objetivo do autorretratista é o mesmo do diarista: deixar registradas suas

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impressões sobre si mesmo. Porém, o autorretrato está ligado à experiência de morte: o indivíduo obriga-se a produzir um resumo de sua vida, resumo esse de caráter confessional e realizado quando se sente já muito próximo do final.

No que tange ao memorial, Miranda considera essa a distinção mais complicada de perceber. Alega, então, que essa diferenciação residiria na escolha dos fatos narrados. O tempo inteiro, durante a narrativa, o memorial é permeado por acontecimentos externos que passam a ser privilegiados. Esse gênero não possui o mesmo enfoque da autobiografia, que seria a vida individual de um sujeito.

Essa situação clássica da autobiografia - a de narrativa que contempla os episódios de uma vida inteira de uma celebridade – é modificada em meados dos anos 60, quando narrativas de camponeses, operários, prisioneiros etc., são publicadas em forma de livro. Essa mudança promove também a revisão de procedimentos técnico-formais dessa escrita autobiográfica.

Assim, nossa pesquisa elegeu como corpus alguns escritos que narram determinados momentos do percurso de um indivíduo, acontecimentos que, em alguns casos, foram traumáticos e modificaram a trajetória de vida do narrador de alguma forma. Foi solicitado aos indivíduos participantes da pesquisa que escrevessem sobre o motivo pelo qual abandonaram a escola e por que haviam retornado. São escritos que enfatizam um acontecimento específico da vida do sujeito. A partir dele, a grande maioria realizou uma retrospectiva da própria vida, trilhando novamente o percurso que o levou ao ponto em que estava no momento em que escreveu o texto, na tentativa de encontrar no passado justificativas para as ações presentes. São escritos mais curtos que aqueles que encontramos sendo trabalhados pelas pesquisas autobiográficas.

A narrativa a que esses estudos fazem referência não é a tipologia / sequência textual como é descrita na Linguística, mas, sim, o processo mesmo de contar uma história, de elencar uma sequência de fatos que tem início, meio e fim e uma relação de causalidade. O presente estudo busca analisar os récits por esse viés, tentando identificar pontos de interseção e de diferença entre uma narrativa prototípica e uma, por assim dizer, narrativa autobiográfica. Para tanto, utilizaremos as categorias descritas por Barthes (1971, 2008), a saber, funções e índices8.

A autobiografia manifesta-se sob os mais variados estilos. Cada um deve ser adequado à escolha do sujeito que narra, pois só sua chancela interessa, e não é imputada nenhuma

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obrigatoriedade de seleção de gênero. Será sempre uma autointerpretação, que se constrói não apenas da relação do narratário com seu passado, mas também a partir do projeto que é forjado para dar-se a conhecer ao outro.

Com base em todas as leituras que realizamos das publicações sobre o método autobiográfico, é possível notar objetivos, teorias e abordagens das mais diversas. Um ponto em comum é a presença do sujeito enquanto autor que coloca em xeque o próprio processo de formação. Vale ressaltar que o termo “formação” aqui utilizado não faz referência ao mesmo processo de que tratam os trabalhos na área da Educação. O processo com o qual o sujeito se depara, nesse caso, é aquele que lhe é solicitado relembrar. Em nosso estudo, o mote para a feitura do récit de vie foi o abandono e o posterior retorno à escola e as motivações para que isso acontecesse. Ou seja, o processo, em nossa perspectiva de trabalho, resume-se a um evento (traumático ou não), passível de ser contado por meio de um recorte que o indivíduo efetua em seu percurso biográfico. Citando Formenti (2008, apud PASSEGGI, 2008)

O sujeito-autor (re) pensa o próprio processo de formação e descobre possibilidades e limites do narrar, da perspectiva que vê a própria vida, palavra e gramática que adquiriu para poder se contar. O sujeito torna-se um pesquisador que procura compreender o viver a partir de si, a partir do próprio saber. O sulco entre saber pessoal e saberes adquiridos atenua-se. (p. 53)

Sem confundir-se com a chamada pesquisa-ação, em que também é atribuído ao indivíduo participante da pesquisa o caráter de pesquisador, a pesquisa autobiográfica é participativa. Ela depende não apenas da aceitação do indivíduo em colaborar com o pesquisador; ela leva esse mesmo indivíduo a olhar para si mesmo, revivendo-se e revivendo as situações pelas quais passou. Esse momento faz com que ele reflita sobre essas vivências e, ainda que inconscientemente, vá atribuindo justificativas às decisões tomadas ou procurando explicações para o que aconteceu e não estava sob seu domínio. Ele toma consciência de suas próprias reflexões a partir desse novo ponto de vista em que se coloca. Para a Educação e as pesquisas que tem um caráter formativo, esse viés de pesquisa é bem vindo, pois faz com que esse fazer autobiográfico ganhe um caráter gerador de reflexões e de sentidos.

3 Catando conchinhas nas narrativas... 3.1 O estudo da narrativa

Em sua consagrada obra Análise estrutural da narrativa (1971, VOZES), Roland Barthes assevera que

a narrativa está presente em todos os tempos, em todos os lugares, em todas as sociedades; a narrativa começa com a própria história da humanidade; não há, em parte alguma, povo algum sem narrativa; todas as classes, todos os grupos humanos têm suas narrativas.

Se são incontáveis as narrativas do mundo, como ousar, então, colocá-las ao abrigo de um mesmo rótulo, se essas narrativas são produto do homem ao longo do tempo e em diversas situações sociais, econômicas e históricas diferentes? Questões como essa nos fazem refletir incessantemente acerca das relações entre a história de vida e a narrativa construída a partir de histórias vividas.

Barthes admite que as histórias de mundo – que são inúmeras e nos mais variados gêneros - tendem a uma narrativização. Essa tendência advém da presença da narrativa na própria história do mundo, na forma oral ou na forma escrita, nas mais variadas épocas e sociedades.

Em seu estudo sobre a utilização da narrativa no gênero banco de dados, Tavares (2007) considera

A ideia de narrativa como algo que perpassa o tempo e se engendra em diferentes períodos da história, que ultrapassa fronteiras culturais e se faz onipresente em todas as civilizações, nos leva a pensar que talvez, ela, a narrativa, seja o melhor instrumento para tentar compreender o homem e sua jornada pelo mundo. Sob esse aspecto podemos pensar na narrativa, e em seus discursos, como uma forma de expressão do pensamento e das relações pessoais e sociais do homem com e em sua época. (p.10)

Continuando sua reflexão, Barthes indaga se essa enorme variedade de narrativas figuraria como um impedimento para o indivíduo que se propõe lançar-se nesta seara de desenvolver um estudo sobre essa estrutura. Essa variedade infindável de gêneros seria, portanto, um empecilho para a elaboração dessa análise narrativa? É impossível descrever um modelo comum a essas variedades narrativas, visto que seria inviável abarcar todos os gêneros através dos quais a narrativa de si se manifesta? Barthes dá prosseguimento a suas reflexões colocando a narrativa como polos de possibilidade distintos: no primeiro, a narrativa

seria uma simples “acumulação de acontecimentos” e a sua descrição estaria tão-somente relacionada à maestria do autor que a escreveu; a outra possibilidade seria a existência de uma “estrutura acessível à análise”, ainda que essa estrutura seja difícil de desvendar. Assumindo essa segunda posição, a narrativa dependeria, então, de uma combinatória de unidades e regras em um sistema implícito.

O autor propõe, então, que essa busca pela estrutura universal da narrativa parta de um procedimento dedutivo, de simples descrição. A partir daí, por comparação, verificar-se-ia a proximidade ou não dos textos chamados narrativos com esse modelo.

Nessa obra, a linguística é considerada como o cerne da significação para uma análise da estrutura narrativa. Toda unidade que se pretende analisar precisa ser descrita em diferentes níveis. Barthes retoma esse pressuposto dos níveis a partir do que foi proposto por Benveniste. Há dois tipos de relação possíveis: a distribucional, em que essas relações acontecem no mesmo nível, e a integrativa, quando essa relação acontece entre unidades que estão em níveis diferentes.

Retomando várias proposições de categorias de análise das estruturas narrativas, Barthes reúne as propostas de Todorov, Propp, Bremond e Greimas, resumindo assim sua proposta de análise, a partir da qual selecionaremos determinadas categorias para a realização do estudo aqui proposto:

Propõe-se distinguir na obra narrativa três níveis de descrição: o nível das «funções» (no sentido que esta palavra tem em Propp e em Bremond), o nível das «ações» (no sentido que esta palavra tem em Greimas quando fala dos personagens como actantes) e o nível da «narração » (que é, grosso modo, o nível do «discurso» em Todorov). Será bom lembrar que estes três níveis estão ligados entre si segundo um modo de integração progressiva: uma função não tem sentido se não tiver lugar na ação geral de um actante; e a própria ação recebe sua significação última pelo fato de ser narrada, confiada a um discurso que tem seu próprio código. (p. 27)

O advento do Modernismo ocorreu, para fins de didatismo histórico, após a revolução francesa, com a crença do homem em um mundo melhor, resultado dos benefícios trazidos pelo progresso. Sua consagração enquanto movimento artístico, no final do século XIX e início do século XX, propiciou, dentre outras mudanças, a conceituação da narrativa enquanto acontecimento. As obras produzidas nesse período buscaram romper com os cânones literários anteriores, quando um modelo preestabelecido era seguido por todos os autores que se propunham a escrever sob o rótulo de determinada estética. A partir de então, surgiu uma nova maneira de escrever e compreender um texto: ao leitor, foi dada a possibilidade de

interagir com o texto; ao escritor, foi dado espaço para que sua escrita fluísse sem amarras, levando a interpretações das mais diversas.

Sobre esse período, interessam-nos sobremaneira as modificações causadas na estruturação da narrativa: se coube ao leitor a responsabilidade de realizar a leitura da forma como lhe parecia melhor, a organização começo – meio - fim da narrativa clássica começa a sofrer abalos.

Essa linearidade, estudada por Aristóteles em sua narrativa da tragédia, supõe uma ordem lógica, de causa e efeito, fechada em si e que não admite ações que não foram previamente anunciadas. A história ou acontecimento vai se construindo à medida que uma ação é realizada. Eis uma das primeiras mudanças perceptíveis nas narrativas modernas e pós- modernas: a possibilidade de o texto começar ou terminar em qualquer ponto, ou seja, o acontecimento ocorre no momento mesmo que o leitor vivencia aquela história.

Para nosso estudo, admitimos os récits de vie como um recorte realizado pelo narratário em sua trajetória pessoal. Em nossa situação de pesquisa, o indivíduo não necessitou estabelecer sua genealogia, infância, adolescência etc. para justificar o que o levou a tomar determinada atitude ou situar o acontecimento historicamente. Quando o tema foi proposto, ele pôde começar sua narração a partir do ponto que considerou mais adequado para responder ao que lhe era colocado, do mesmo modo que pôde também findá-la no instante em que considerasse sua narração coerente o suficiente, sem preocupações com o entendimento que o leitor-pesquisador teria do que lhe foi contado. Sobre isso, concordamos com Martins (2008), quando essa autora diz que "em face do caráter fluido do que seja a contemporaneidade, torna-se também fluida a análise do que seja a narrativa contemporânea. (p. 29)".

Na continuidade, a autora admite que essa seria uma das características mais marcantes da narrativa contemporânea: sua não linearidade. Ela argumenta que isso talvez ocorra por conta da multiplicidade de gêneros produzidos hoje. Esses gêneros buscariam enfatizar pontos na narrativa que lhe parecessem mais importantes, daí tal diversidade. Nesse sentido, a narrativa contemporânea constitui uma espécie de afronta aos modelos tradicionais e às narrativas pré-existentes, dada a sua heterogeneidade.

Essa descontinuidade na narrativa leva-nos a uma segunda característica verificável nos récits de vie: a quebra do tempo cronológico durante os relatos. Isso é visível e esperado em nosso corpus, visto que a recuperação do passado por meio da memória é muitas vezes falha e o sujeito organiza esses eventos do modo como melhor lhe parece, para ficar mais bem posicionado perante a lente daquele que o escuta ou para esconder fatos que prefere não

divulgar. Assim sendo, é ofício do indivíduo narrador operar recortes, selecionar passagens, recriar eventos, criar situações e, à medida que realiza esse exercício, ir tecendo suas memórias frente àquele que o escuta.

A emergência de um autor atende a diversas necessidades, conscientes ou não. Por vezes estamos sob o jugo da coerção – acadêmica, escolar, profissional - ou a escrita surge como forma de dar vazão a algo que nem conhecemos pelo nome. Aqui, não trabalharemos com o surgimento desse autor, mas com o texto por ele produzido nessa sua nova condição.

Os objetivos deste trabalho não abarcam as pesquisas sobre autoria9, sendo esse último tão somente um exemplo de categoria que os estudos sobre a narrativa podem alcançar.

Buscamos a delimitação de uma noção de narrativa que abrangesse as narrativas de cunho autobiográfico que são produzidas, que – conforme uma das hipóteses da presente pesquisa – não são passíveis de classificação segundo a conceituação daquilo que é uma narrativa prototípica, aqui considerada como sendo um texto que conta uma história com princípio, meio e fim e que conjuga da linearidade aristotélica já citada.

Assim como o que foi afirmado por Freitas (2010), quando da eleição de um modelo que pudesse ser utilizado para a realização das análises do seu corpus - a saber, narrativas de viajantes -,o modelo estrutural de análise narrativa ora escolhido também é passível de aplicação ao estudo dos récits de vie, visto que um de seus interesses de pesquisa “[...] recai sobre a necessidade de identificar as regularidades constitutivas que caracterizariam o conjunto de textos que elegemos” (FREITAS, 2010, P. 48). Ao buscar uma abordagem discursiva para tratar seu corpus, a autora relata uma mesma dificuldade que já apontamos aqui: a de que a Análise do Discurso - no seu caso - não possui uma metodologia que contribuísse satisfatoriamente para uma análise da narrativa. Decide, portanto, enveredar pela análise narrativa que se baseia em categorias literárias.

Pela relevância do trabalho, reconhecido e tomado como base por grande parte dos estudiosos do texto/discurso, e por sua categorização de elementos da análise narrativa, consideramos que as categorias presentes no trabalho de Barthes e demais pesquisadores, ainda que tenham sido elaboradas tomando por base narrativas literárias, servem ao nosso propósito, visto que nosso objetivo maior é a identificação de determinadas estruturas que possam classificar o récit de vie no âmbito da tipologia narrativa.

Pensamos como Freitas (op. cit.), quando a autora diz que

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Ao adotarmos a perspectiva da análise estrutural para o exame das narrativas de viajantes, não estamos em busca de uma estrutura imanente que possa contemplar todas as narrativas, uma vez que, em nosso entendimento, cada narrativa é um acontecimento discursivo com contingências próprias, dada a inscrição dos sujeitos- narradores em um lugar sócio-histórico definido. (pp. 48 e 49)

Nosso objetivo geral firma-se na busca de atribuir, nos estudos linguísticos, a devida importância que o récit de vie possui, caracterizando essas narrativas como um tipo de narrativa diferente das que encontramos descritas e que ainda não foi devidamente caracterizada.

Genette (1979) atribui três designações diferentes a situações que podem alçar-se à categoria de narrativa. A primeira designação seria o “o enunciado narrativo, o discurso oral ou escrito que assume a relação de um acontecimento ou de uma série de acontecimentos.” (p. 23) A narrativa é, portanto, o acontecimento encerrado em si mesmo. A segunda se compõe da “sucessão de acontecimentos, reais ou fictícios, que constituem o objecto desses discursos, e as suas diversas relações de encadeamento, de oposição de repetição, etc.” (p. 24) A análise da narrativa consistiria, então, nos estudos de ações e situações consideradas nelas mesmas. Nossos estudos se enquadram, mais provavelmente, no terceiro sentido que Genette atribui ao conceito de narrativa: o momento, a situação, “que consiste em que alguém conte alguma coisa: o acto de narrar tomado em si mesmo” (p. 24).

Citando Levi-Strauss, Pinto (1971), na introdução de Análise estrutural da narrativa, admite que uma teoria que busca interpretar a estrutura narrativa, deve conter pelo menos dois componentes: a armadura e o código. A armadura seria uma espécie de esqueleto e, como tal, invariante, comum ao que o autor chama de narrativas-exemplo (PINTO, 1971). Nosso estudo buscou definir, dentre os outros objetivos anteriormente citados, como os récits de vie, enquanto produções narrativas, partilham dessa “armadura” das consideradas narrativas-exemplo. Sobre o código, diz Pinto que, “é, em última análise, um dicionário em

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