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1 A REVISÃO CRIMINAL NO DIREITO PÁTRIO

1.4 Escorço Histórico

Na legislação brasileira do Império, a revisão era chamada de revista, visto que era influenciada pelo direito português.

Assim que a Carta Constitucional do Império de 25 de março de 1824, criando o Supremo Tribunal de Justiça, atribuiu-lhe competência para “conceder ou denegar revista nas causas e pela maneira que a lei determinar” (Art. 164, § 1º).

Pimenta Bueno, citado por Jorge Alberto Romeiro,57 considerava tal atribuição daquela Corte de Justiça como a principal do nosso alto colégio judiciário.

Posteriormente, o respectivo processo foi determinado pela lei de 18 de setembro de 1828. Editou-se, em seguida a Resolução de 31 de agosto de 1829, que em seu Art. 6º, assim determinava:

Art. 6º: As revistas somente serão concedidas nas causas cíveis e crimes, quando se verificar um dos dois casos: manifesta nulidade ou injustiça notórias nas sentenças proferidas em todos os juízos em última instância.

Tivemos vários outros decretos sob a égide do Império, destacando-se entre eles os Decretos de 09 de novembro de 1830; 20 de setembro de 1833 e 17 de fevereiro de 1838.

O Código Criminal do Império também continha dispositivo sobre a revisão. Tal diploma, em sua concepção, não fora inspirado em um modelo legislativo único. Fora fruto da influência dos Projetos Mello Freire, reflexo do

Código Napoleônico de 1810, e Livingston para a Lousiana, apresentado em 1825. No entanto, no que refere às idéias que o inspiraram, moldaram a sua feitura os ideais iluministas da época.58

Neste contexto, como garantia individual contra o arbítrio do Estado, o legislador ordinário a época, em consonância com a Carta Constitucional do Império, consignou no Art. 86 e parágrafos,59 o instituto da reabilitação que, em verdade,

significava efeito de declaração de inocência, perante o Supremo Tribunal Federal, em conseqüência de revisão extraordinária de sentença condenatória.

No entanto, a revista neste período cabia tanto em relação à decisão condenatória (revista pro reo), como em relação à sentença absolutória (revista pro societate).

No império a revista foi mantida no Art. 130, do Decreto nº 5.618, de 02 de maio de 1874.

Já na fase republicana, o instituto passou a ser denominado revisão.

Dois textos normativos tratavam do tema, o Decreto nº 847, primeiro Código Penal Republicano, datado de 11 de outubro de 1890 que em seu Art. 86,60 e o Decreto de nº 848, também de 11 de outubro de 1890 que disciplinou a justiça Federal.

O Código Penal de 1890 fazia referência à agora revisão em seu Art. 86. A primeira Constituição republicana trazia preceito sobre a revisão criminal no Art. 81, segundo o qual, os processos findos, em matéria de crime, poderiam ser revistos a qualquer tempo, em benefício dos condenados, pelo Supremo Tribunal Federal, para reformar ou confirmar a sentença, atribuindo ao legislador a tarefa de

58 PIERANGELI, José Henrique. Códigos Penais do Brasil: evolução histórica. 2ª ed. 2ª tirag. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2004, p. 69.

59 Art. 86: A rehabilitação consiste na reintegração do comndenado em todos os direitos que houver perdido pela comndenação, quando for declarado inocente pelo Supremo Tribunal Federal, em conseqüência de revisão extraordinária de sentença condenatória.

§ 1º – A rehabilitação resulta immediatamente da sentença de revisão passada em julgado. § 2º – A sentença de rehabilitação reconhecerá o direito do rehabilitado a uma justa indemnização, que será liquidada em execução, por todos os prejuízos soffridos com a condemnação. A Nação ou Estado são responsáveis pela indemnização.

60 Art. 86: A reabilitação consiste na reintegração do condenado em todos os direitos que houver perdido pela condenação, quando for declarado inocente pelo Supremo Tribunal Federal, em conseqüência de revisão extraordinária da sentença condenatória.

apontar os casos e requisitos da revisão, vedando o agravamento da pena, sendo competente para conhecê-la e julgá-la o Supremo Tribunal Federal (Art. 59, inc. III: “[...] rever os processos findos, nos termos do Art. 81”).

Diferentemente da revista, a agora revisão não era recurso, tratava-se de ação, só tinha cabimento em relação a processos findos, dos quais não cabia recurso, podia ser promovida a todo tempo, mesmo após a morte do condenado.61

Sete eram as hipóteses de cabimento:

• 1 – quando a sentença condenatória for contrária ao texto expresso da lei penal;

• 2 – quando, no processo em que foi proferida a sentença condenatória, não se guardarem as formalidades substâncias do processo;

• 3 – quando a sentença condenatória tiver sido proferida por juiz incompetente, suspeito, peitado ou subornado, ou quando se fundar em depoimento, instrumento ou exame julgado falso;

• 4 – quando a sentença condenatória estiver em formal contradição com outra, na qual foram condenados como autores no mesmo crime outros réus;

• 5 – quando a sentença condenatória tiver sido proferida na suposição de homicídio que posteriormente se verificou não ser real, por estar viva a pessoa que se dizia assassinada;

• 6 – quando a sentença condenatória for contrária à evidência dos autos;

• 7 – quando, depois da sentença condenatória se descobrirem novas e irrecusáveis provas da inocência do condenado.

Neste período fervilhavam as idéias da escola positivista. Para Ferri, a proibição da reformato in pejus, sob sua ótica não devia mais subsistir. Buscando-

61 COSTA E SILVA, Antonio José da. Código Penal dos Estados Unidos do Brasil

se um maior equilíbrio entre os direitos individuais e sociais, as impugnações às decisões criminais condenatórias, interpostas pelos condenados, refletem a influência da escola clássica, com a excessiva proteção ao indivíduo, sem qualquer justificação, um excesso de sentimentalismo. Por tal razão Garofalo e Ferri são favoráveis à pro societate.62

Quanto à revisão, tanto a Constituição quanto o Código Penal e as demais normas que tratavam do tema mantiveram-se fiéis ao princípio que veda a reformatio in pejus, à escola clássica, aos ideais iluministas de garantia do indivíduo frente ao poder estatal.

As demais Constituições que se seguiram à de 1891, mantiveram a previsão do instituto, assim como a vigente.

62 FREITAS, Ricardo de Brito A. P. As razões do positivismo penal no Brasil. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2002, p. 198.