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O Escurecimento da Terra – E A Sombra das Ideias (“O Retorno à Idade das Trevas?)

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CAPÍTULO I – HISTÓRICO DA DESNATURAÇÃO DO PLANETA

1.1 A CRISE AMBIENTAL PÓS-REVOLUÇÃO INDUSTRIAL, O AQUECIMENTO E

1.3.2 O Escurecimento da Terra – E A Sombra das Ideias (“O Retorno à Idade das Trevas?)

A “sirene”, mais uma vez entra no “palco apocalíptico”: trata-se do Escurecimento Global. No ano de 2005, foi apresentado um documentário intitulado “O Mundo das Sombras”, que anuncia causas e consequências da redução da quantidade de irradiação solar na superfície terrestre. Segundo os cientistas, as nuvens estão cada vez mais carregadas de fuligens, poeiras, sulfatos, nitratos, formando gotículas que “barram” e refletem os raios como um gigantesco espelho, provocando o Escurecimento Global, fenômeno já exposto (v. supra n.1.1.3). Limita-se, portanto, esta parte do trabalho, à análise da construção e da divulgação, bem como dos instrumentos que circunscrevem, para moderar a evolução desse novo problema climático.

A questão da crise ambiental pode ser encarada como “o efeito do ponto de saturação e do transbordamento da racionalidade econômica dominante”. (LEFF, 1988, p.346). O progresso industrial e tecnológico, que fomentaram os processos de produção sem limites, provocaram a erupção do planeta, resultando nas duas ‘larvas’ da problemática da mudança

do clima (Aquecimento e Escurecimento Global). O saber ambiental aparece dando respaldo a uma lógica unificadora, que guia os destinos, de forma homogeneizante, rumo à sustentabilidade, num invólucro da racionalidade ambiental, propulsora, que legitima os novos direitos ambientais – regime jurídico da nova ordem econômica (Tratados Internacionais – Protocolo de Quioto, COP15 (Copenhague), e, a criação de instrumentos, como a Auditoria Ambiental43 para combater ou conter o Aquecimento e Escurecimento Global.

Entende-se que o mundo obedece à lógica da unidade da ciência e da universalidade do conhecimento. Os climatólogos divulgam que o aquecimento de 10°C, no extremo norte do planeta, pode lançar um reserva natural de GEEs maior que todas as reservas de óleo e carvão existentes no mundo. São milhões de toneladas de metano, concentrados abaixo dos oceanos sob a forma de hidratos de metano (que é o que mantém o metano sob forma congelada no fundo do oceano), que poderão se desestabilizar com o aquecimento, sendo liberados na atmosfera. Dez trilhões de toneladas de metano, um GEE 21 vezes mais forte do que o CO2, podem ser lançados na atmosfera.44

Toda essa complexidade de problemas ambientais que assola o planeta, deve ser entendida dentro de uma perspectiva, sobretudo, de mercado. Lembrando que “as ciências definiram conceitos e teorias para apreender a legalidade de seus processos, dando lugar às ciências da física, da biologia e da cultura” (LEFF, 1988, p.372).

Não deixa de ser óbvio o entendimento de que a própria ciência gerou um conhecimento que desemboca numa compreensão do real na dimensão do caos, da catástrofe e da probabilidade prognóstica.

43 Instrumento de múltiplo propósito e um dos mais antigos {...} ganhou repercussão e começou a crescer em meados do século 20 com parte dos trabalhos de avaliação de desastres de grandes proporções, envolvendo explosões e vazamentos seguidos de contaminações em fábricas, refinarias, gasodutos, terminais portuários etc. Foi a partir da década de 70 que esse importante instrumento de avaliação e controle de impactos ambientais se tornou autônomo na gestão ambiental, com o objetivo de averiguar o cumprimento das leis ambientais, cada vez mais rigorosas, principalmente após a Conferência da ONU sobre o Ambiente Humano (Estocolmo 1972) {...} ferramenta básica para identificação da saúde ambiental de empresas, indústrias usinas, e até mesmo fazendas. Instrumento eficaz para avaliação da segurança das plantas fabris, assegurar adequação das empresas às leis ambientais, identificar possíveis problemas relacionados com multas, indenizações e outras penalidades ou restrições contidas nas diversas Leis federais, estaduais, locais, legislação trabalhistas envolvendo segurança e saúde do trabalhador em relação a acidentes gerando danos ambientais provocados por indústria química. Disponível em <http://www.eco21.com.br/textos/textos.asp// ID=1618. Revista Eco21, edição 130, Rio de Janeiro. Artigo de Taís Carolina Seibt Rick. Acesso 24 de novembro de 2009.

44 Disponível em <http://www.eco21.com.br/textos/textos.asp// ID=1618. Revista Eco21, edição 130, Rio de Janeiro. Artigo de Taís Carolina Seibt Rick. Acesso 25 de novembro de 2009.

Assim, exige-se imperiosa cautela na análise do documentário “Mundo das Sombras”, trazendo-se a lembrança os estudos científicos apresentados na obra de Al Gore, “An Inconvenient Truth”, “uma farsa denunciada por cientistas em um documentário exibido uma única vez, na Grã Bretanha, intitulado “The Great Global Warming Swindle”. (LAMBERT, 2008, p.37).

Nessa tônica, acredita-se, o quanto a COP15 desvelou o caráter de interesses absolutamente político e mercantil. Ao analisar o comportamento dos atores do Norte, que deixaram bem claro a tão antiga “ divisão internacional do trabalho”- (lê-se, a seguir, esses interesses) ‘Nós poluímos porque precisamos manter o crescimento econômico, e a periferia mitiga as emissões dos GEEs, e abre-se a concessão do Sul ganhar, mas dentro dos parâmetros que, nós estabelecemos, nessa dinâmica do neoliberalismo ambiental.’

Nesse raciocínio, é oportuno expor o pensamento afiado de Leff:

As estratégias fatais do neoliberalismo ambiental resultam de seu pecado capital: sua gula infinita e incontrolável. O discurso da globalização aparece como um olhar glutão que engole o planeta e o mundo, mais do que como uma visão holística capaz de integrar os potenciais sinergéticos da natureza e os sentido criativos da diversidade cultural. Esta operação simbólica submete todas as ordens do ser aos ditames de uma racionalidade globalizante e homogeizante. Desta forma, prepara as condições ideológicas para a capitalização da natureza e a redução do ambiente à razão econômica. (LEFF, 1988, p.26)

A vida já não é mais vida. Não por causa da insegurança da vida cotidiana, da incerteza diante do futuro, da emergência da complexidade do mundo, da perda de referentes ônticos e dos sentidos existenciais anunciados pela era do vazio (LIPOVETSKY apud LEFF, 1988, p.371), mas porque a vida foi sitiada pela economia e sofreu a intervenção da tecnologia.

Impressionante é o discurso do desenvolvimento sustentável que:

inscreve as políticas ambientais objetivando os ajustes da economia neoliberal para solucionar os processos de degradação ambiental e o uso racional dos recursos ambientais; ao mesmo tempo, responde à necessidade de legitimar a economia de mercado que resiste à explosão da sua própria “ ingravidez” mecanicista. Assim, precipitamo-nos para o futuro sem uma perspectiva clara para desconstruir a ordem antiecológica herdada da racionalidade econômica e para caminhar para uma nova ordem social, orientada pelos princípios de sustentabilidade ecológica, democracia participativa e racionalidade ambiental.{...}

{...} O discurso oficial do desenvolvimento sustentável penetrou nas políticas ambientais e em suas estratégias de participação social. Dali convida diferentes

grupos de cidadãos (empresários, acadêmicos, trabalhadores, indígenas, trabalhadores rurais) a somar esforços para construir um futuro comum. Esta operação de cooperação busca integrar os diversos atores do desenvolvimento sustentável, mas dissimula seus interesses diversos num olhar especular que converge para a representatividade universal de todo ente no reflexo do argênteo capital. Dissolve-se assim a possibilidade de divergir diante do propósito de alcançar um crescimento sustentável, uma vez que este se define, em boa linguagem neoclássica, como a contribuição igualitária do valor que o capital humano adquire no mercado como fator produtivo. A cidadania global emerge da democracia representativa, não para convocar o cidadão integral, mas suas funções sociais, fragmentadas pela racionalidade econômica: como consumidor legislador, intelectual, religioso e educador. (LEFF, 1988, p. 29).

Diante de tamanha inquietação reflexiva, a partir da análise do fenômeno Escurecimento Global, com seus prognósticos alicerçados nos “andaimes” “científicos” e divulgado pelo documentário “Mundo das Sombras” - o saber para exercer o poder econômico é articulado em formações ideológicas ambientalistas heterogêneas, inscritas no discurso teórico das ciências, como economia , ecologia, antropologia e direito.

O “Mundo das Sombras” traduz uma crença fundamentalista e totalitária, destruindo o ser humano na sua mais nobre condição – a de pensante, aniquilando sua capacidade reflexiva e comissiva, conforme as condições da natureza, da vida e da cultura. Sendo assim, não se torna absurdo afirmar que a economização do mundo “cristaliza” “ a sombra das ideias” e regressa à Idade das Trevas.

E, por falar em Idade das Trevas, o espírito investigativo depara com fato histórico isolado, em relação à preocupação ambiental, no século XIV, com Eduardo I, (Decreto Real de Eduardo I), que proibiu o uso de carvão em fornalhas abertas, na região de Londres, para controlar a poluição do ar. (Damasceno, 2007, p.39).

Diante de tal fato, percebe-se que, na busca diacrônica da preservação ambiental, seu início não é propriedade absoluta do “Clube de Roma”.

CAPÍTULO II - DEGRADAÇÃO AMBIENTAL –PRIMEIROS ESTUDOS

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