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O conceito de operações indiano448 é baseado na concentração449, na massa, na velocidade450, no envolvimento451 e na batalha de aniquilação452. Embora manifestem, no plano conceitual, algumas inovações próprias da guerra informacional, por exemplo, operações de guerra que não guerra e congêneres, no essencial a doutrina indiana segue rigorosamente os dez passos (leis) estabelecidos por Jomini no século XIX para a condução de operações militares.

Neste sentido, citando o próprio Jomini453, os indianos preconizam o uso de operações de armas combinadas454, envolvendo infantaria, blindados, preparação de artilharia, helicópteros e aviação de ataque.

Há ainda especial destaque dado às forças especiais455 e aerotransportadas às quais cumpre a função de infiltrar-se profundamente na retaguarda do inimigo cortando sua linha de retirada ou suprimentos, de todo modo causando pânico e desorganizando as comunicações456.

448 Todas as referências à doutrina indiana oficial feitas nas próximas sete notas foram extraídas de

INDIAN ARMY. Indian Army Doctrine, Parte II. (p.23). Cf.

http://indianarmy.nic.in/indar_doctrine.htm.

449 “Todos os objetivos no nível tático devem situar-se no ponto de culminação” (p.4).

450 “Todo o planejamento deve objetivar a mobilização dos exércitos no mais curto espaço de tempo

possível” (p.6).(...) “Forças ofensivas devem ser mobilizadas dentro do mias curto espaço de tempo possível para se manter no ambiente operacional dominante”.(p.9)(...) Uma ofensiva deve gerar tal ritmo que deve desequilibrar e paralisar o adversário”(p.10).

451 “A destruição das forças armadas do inimigo e a interrupção do seu desejo de combater são os

objetivos básicos da guerra” (p.11).” Planos defensivos em todos os níveis devem ser ofensivos em natureza”. (p.12). (...) “Isso também implica assumir ação ofensiva em todos os níveis como parte de um plano coordenado para extorquir a iniciativa do inimigo em todos os estágios durante a guerra”. (p.12)

452 “Operações ofensivas são uma forma decisiva de se ganhar uma guerra” (p.7). “O êxito deve ser

alcançado com assimetria esmagadora” (p.4). (...) “Superioridade esmagadora de combate ou assimetria vantajosa reduzem o tempo necessário para que se obtenha êxito” (p.10).

453 “Não é tanto o modo de formação como o uso combinado das diferentes armas que assegurará a

vitória” (p.17). Jomini, Precis de l’Art de la Guerre, 1838. “Sofrendo forte pressão à minha direita. Meu centro está cedendo. Impossível manobrar. Situação excelente, estou atacando.” Ferdinand Foch, Mensagem ao Marechal Joffre, Batalha do Marne, 1914. (p.13). “É igualmente legítimo combater um inimigo na sua retaguarda e no seu front. A única diferença é o perigo”. John S. Mosby, Lembranças de Guerra, 1887”. (p.16).

454 “O planejamento e a coordenação de operações devem, ser feitos em conjuntos para todos os três

ramos e cada um deve complementar as forças e compensar as vulnerabilidades do outro enquanto formula um plano conjunto” (p.8).

455 “Elas são versáteis, têm profundo alcance e podem fazer ataques preciosos sobre alvos de

importância crucial”. (p.14).

456 Pelo papel que é conferido a estas forças na doutrina, parece que os indianos conferem a estes

destacamentos função análoga a que os soviéticos dão aos Spetsnaz. As unidades Spetsnaz tinham como missão primaria tomar e destruir as bases de mísseis cruzadores da OTAN na Europa; realizar operações de sabotagem; destruir postos de comando e controle; eliminar lideranças políticas e militares do inimigo. Na ex-URSS e na Rússia de hoje, eram conhecidos como super-soldados e seu padrão de treinamento era semelhante ao dos atletas olímpicos. Aliás, muitos atletas soviéticos mais

No âmbito operacional, deve-se acrescentar o uso da aviação de longa distância (Jaguar e Mirage-2000) para realizar missões de interdição. Embora os indianos tenham aderido à doutrina de não serem os primeiros a usarem armas nucleares (no first use), seus manuais deixam claro a possibilidade de operações ofensivas conduzidas em ambiente QBR (NBC). Os indianos acreditam que a velocidade da manobra é essencial para estabelecer maciça superioridade local457, realizando rupturas decisivas, cercando e aniquilando forças inimigas, de modo a cortar-lhes o caminho da retirada, penetrando profundamente no país. Seus vetores AEW/AWACS sugerem que, tal como na doutrina soviética, podem utilizar bases inimigas para suas próprias aeronaves, carregando consigo, desse modo, a rede C4ISR. Neste sentido, o manual indiano dá especial ênfase à necessidade da rede de comunicações e controle acompanhar a rapidez do avanço das tropas, bem como sua rede de suprimentos. A experiência indiana real em operações no curso das diversas guerras que manteve com o Paquistão e daquela que sustentou com a China em 1962 não serve para ilustrar os conceitos operacionais preconizados pela doutrina indiana.

No que se refere ao uso ofensivo de armas nucleares por parte da Índia, contra alvos exemplares, isto é, guarnições militares e bases aéreas, na esfera das operações, cumpre salientar dois níveis de dificuldade. O primeiro diz respeito à natureza e à intensidade da réplica chinesa. O segundo, de sua eficiência em termos estritamente operacionais.

No que diz respeito ao primeiro, não é certo que o uso de armas nucleares táticas ou de batalha por parte da Índia gere uma resposta massiva, de contra valor, isto é, contra cidades, por parte da China. Aqui entra em questão o aludido na introdução desta tese acerca do papel dos valores e da anti-guerra na criação da vitória militar sustentada. Parece pouco crível que a China responda a ataques na faixa quiloton dirigidos contra alvos militares com a destruição de grandes cidades indianas. Cumpre salientar que a resposta chinesa, sendo igualmente exemplar, trará dificuldades maiores à Índia, onde a concentração da logística é maior para sustentar o ataque do que a própria China. Por exemplo, a Índia pode atacar com duas ou três ogivas a cidade chinesa de Chónqìng458, sede do 13º Grupo de Exércitos e sofrer, como retaliação chinesa, um ataque contra a cidade de Leh459. Enquanto os chineses perdem cerca

tarde forma identificados como membros de unidades Spetsnaz. Cf. WALMER, Max. Tropas de Elite: Táticas, Armas, Missões e Equipamentos dos Melhores Soldados do Mundo. São Paulo, Nova Cultural, 1991. pp. 134-139.

457 “Forças ofensivas devem ser mobilizadas dentro do mais curto espaço de tempo possível para se

manter no ambiente operacional dominante”. INDIAN ARMY. Indian Army Doctrine, Parte II. (p.9). Cf. http://indianarmy.nic.in/indar_doctrine.htm.

458 Chónqìng foi a capital chinesa na época da resistência anti-japonesa na Segunda Guerra Mundial.

Fica a 2.000m de altitude no planalto de Yunnan-Guizou.

459 A cidade de Leh possui uma base aérea (34° 08’ 08” N 77° e 32’ 52” E), a 2.712m de altitude. Sua

de duas divisões motorizadas (37ª e 149ª), a destruição da base aérea indiana destrói, não somente a base e as unidades de combate, mas toda a cadeia logística. Uma única ogiva chinesa destruiria aeronaves e suprimentos de munição que estavam estocados para o esforço da invasão ao Aksai-Chin. Ou seja, o ataque nuclear indiano à China não decide o resultado das operações, mas a recíproca pode não ser verdadeira. (Veja Mapa com Leh, fig.4).

O segundo nível de analise diz respeito à dispersão de alvos. A Região Militar de Chengdu conta com três grandes unidades que são, a guarnição do Distrito Militar de Lhasa, o 13º e o 14º Grupo de Exércitos, este último está situado na província de Yunnam, longe demais para atender a uma súbita invasão indiana no Aksai-Chin. Além disto, a altitude exige um hiato de tempo para aclimatação. Portanto, contam apenas as unidades subordinadas ao 13º Grupo e a guarnição de Lhasa. Dentre estas, apenas as que são dotadas de mobilidade que são 52ª e 53ª Brigadas de Infantaria de Montanha e o 54ª Regimento de Infantaria Mecanizado, podem fazer frente a uma invasão indiana. Alvejar a guarnição sediada em Lhasa implica na destruição de boa parte da capital do Tibete — o que seria de difícil sustentabilidade, tanto para o mundo quanto para os milhares de tibetanos que vivem na Índia. Existem ainda as brigadas 52ª e 53ª de Infantaria de Montanha, dispersas em guarnições, quase todas mecanizadas, sobre as quais a eficiência da arma nuclear tática ou de batalha, dada esta dispersão, é de beneficio duvidoso460. Entretanto como o Aksai-Chin fica sobre jurisdição da Região Militar de Lanzhou, é preciso inventariar sua unidades.

A Região Militar de Lanzhou é composta de duas grandes unidades, o 21º e o 47º Grupo de Exércitos. Ambos os grupos estão sediados em Shaanji, a milhares de quilômetros do Aksai-Chin. Neste caso, somente as unidades do Distrito Militar do Xinjiang podem ser mobilizadas na Ordem de Batalha. O distrito conta com três divisões motorizadas (4ª, 8ª e 11ª) e uma mecanizada (6ª). Também é o lar do experimento de guerra digital, da arma da infantaria da China, tendo sua participação confirmada em um exercício dessa natureza na Mongólia Interior. Como a Região Militar de Chengdu, a Região Militar de Lanzhou conta com seu regimento de forças especiais e o 3º Regimento de Aviação (helicópteros) do Exército. Portanto, não existe nenhuma grande unidade na fronteira da China com a Índia.

Na ausência de grandes bases, pode-se cogitar o uso de armas nucleares de batalha contra tropas em campo. Um artefato de rendimento de um quiloton destrói dois blindados. Uma arma nuclear tática de 20 kt, similar a jogada em Hiroshima, destruiria 12 blindados de mesmo tipo. Um batalhão de tanques possui entre 33 a 60 tanques. Isto mostra a ineficácia das

21Bis, 24º esquadrão com MiG-21Bis, 5º esquadrão com Jaguar S/1B e 14º esquadrão com Jaguar S/1B. Em 1999, no conflito de Kargil, foi o centro de suporte logístico do teatro de operações.

460 DUNNIGAN, James F. How To Make War: A Comprehensive Guide To Modern Warfare For The

armas nucleares na destruição das forças blindadas. Assim, essas Brigadas blindadas teriam de ser igualmente batidas por forças convencionais.

Restaria apenas o custo político de ter sido o primeiro país a romper o limiar nuclear, violentando sua própria doutrina de não usar em primeiro lugar, o que poderia ser desastroso para o esforço de guerra por si mesmo. Basta considerar a reação da opinião pública da Europa, dos Estados Unidos e a da própria Índia. A possível exceção seria para romper o oleoduto originado de Omsk (Rússia), que passa por Paslodar (Cazaquistão) até Alashankou (China). Porém, também neste caso a eficiência da medida é duvidosa.

Cumpre lembrar que a China produz metade do petróleo que consome, portanto, mesmo que ao evento nuclear não permitisse reparos ao oleoduto (o que é discutível, dada a quantidade de equipes de descontaminação461) um ataque nuclear não comprometeria definitivamente o esforço de guerra chinês. E, de todo modo, com o limiar nuclear rompido, fica aberta a possibilidade de uma réplica de igual módulo por parte da China. Como nos dois casos anteriores, o beneficio da ruptura do limiar nuclear fica extremamente dúbio e muito claro os custos para a própria Índia. Neste caso, parece que deve ser afastada a hipótese do uso de armas nucleares na esfera das operações.