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A doutrina encontra-se divergente quanto à classificação das espécies de alimentos. Diante desta celeuma, esclarece-se que será adotada a classificação majoritária, a qual divide os alimentos quanto à finalidade, quanto à natureza/extensão, quanto à causa jurídica, e por fim, quanto ao momento da reclamação.

3.4.1 Quanto à finalidade

Quanto à finalidade, classificam-se os alimentos em definitivos ou regulares, provisórios e provisionais.

“Definitivos são o de caráter permanente, estabelecidos pelo juiz na sentença ou em acordo das partes devidamente homologado, malgrado possam ser revistos”. (GONÇALVES, 2007, p. 44).

Também assim define Diniz (2009, p. 595) que os alimentos definitivos ou regulares são “estabelecidos pelo magistrado ou pelas partes (p. ex., no caso de separação judicial consensual), com prestações periódicas, de caráter permanente, embora sujeitos a revisão”.

Os alimentos provisórios são fixados incidentalmente pelo juiz, como explica Nader (2009, p. 431):

São concedidos precariamente pelo juízo ao inicio de uma lide, onde se pleiteiam alimentos em caráter definitivo. Com o julgamento definitivo nas ações de separação e alimentos requer tempo, enquanto as necessidades de subsistência são inadiáveis, o legislador viu-se forçado a criar alimentos provisórios, para atender aos postulantes, exigindo-lhes apenas um inicio de prova. Dado seu caráter provisório, a obrigação pode ser suspensa a qualquer momento, dependendo das informações carreadas nos autos.

Cahali (2006, p. 26) sustenta que os alimentos provisórios “são concedidos para a manutenção do suplicante, ou deste e de sua prole, na pendência do processo, compreendendo também o necessário para cobrir despesas da lide”.

Por fim, os alimentos provisionais “são aqueles fixados no curso de uma medida judicial de natureza acautelatória, isto é, para preservação dos interesses do alimentando, ante a presença do fumus boni iuris e do periculum in mora”. (LISBOA, 2009, p. 35).

Com o mesmo entendimento, afirma Monteiro (2004, p. 376):

Os alimentos provisionais são tratados pelo Código de Processo Civil nos arts. 852 a 854. São pedidos por meio de ação cautelar, até que se julgue a ação principal, em curso ou a ajuizar-se. Seu conteúdo engloba não só o que é necessário ao sustento, habitação e vestuário, mas também as despesas para custear a demanda, como estabelece o parágrafo único do art. 852.

Conforme as ponderações, entende-se que todas as espécies de alimentos, sejam elas, definitivas, provisórias ou provisionais, visam garantir as necessidades do requente ou de sua prole, as quais são inadiáveis por colocar em risco a subsistência de quem os pleiteia.

3.4.2 Quanto à natureza/extensão

Na classificação referente à natureza, os alimentos dividem-se em naturais ou necessários e civis ou côngruos.

Os alimentos naturais ou necessários são “aqueles que possuem alcance limitado, compreendendo estritamente o necessário para a subsistência”. (VENOSA, 2010, p. 356).

Exemplifica Cahali (2006, p. 18) que abrangem “a alimentação, a cura, o vestuário, a habitação, nos limites assim do necessarium vitae”.

Em contrapartida, os alimentos civis não são restritos como os alimentos naturais, compreendendo outras necessidades.

Alimentos civis “se concernem a outras necessidades, como as intelectuais e morais, ou seja, educação, instrução, assistência, recreação”. (DINIZ, 2009, p. 595).

Assim, menciona Nader (2009, p. 430):

Os alimentos civis ou côngruos não se limitam a suprir as carências fundamentais da pessoa, mas propiciam melhor qualidade de vida, atendendo às condições sociais as partes, observado o binômio necessidade-possibilidade. Ao fixar a verba alimentar, ao juiz cabe averiguar tanto a necessidade do credor quanto a possibilidade do devedor. Se este é assalariado e percebe o salário mínimo, dúvida não haverá de que os alimentos serão naturais. Tratando-se, porém, de um magnata, com altas rendas, os alimentos deverão ser os civis ou côngruos, ressalvadas as exceções legais (§ 2º do art. 1.694 e parág. único do art. 1.704).

Portanto, para a concessão dos alimentos naturais e civis, deve-se observar o binômio possibilidade-necessidade das partes envolvidas na lide, para que se posa estabelecer uma prestação proporcional na relação jurídica, suprindo as necessidade do alimentado de acordo com as possibilidades econômicas do alimentante.

3.4.3 Quanto à causa jurídica

No tocante à classificação quanto à causa jurídica, os alimentos dividem-se em voluntários, indenizatórios ou ressarcitórios e legítimos ou legais.

São alimentos voluntários os devidos por força de uma declaração de vontade, desta maneira:

Voluntários são os que se constituem em decorrência de uma declaração de vontade, inter vivos ou mortis causa; resultantes ex dispositione hominis, também chamados obrigacionais, ou prometidos ou deixados, prestam-se em razão de contraro ou disposição de última vontade; pertencem, pelo que, ao Direito das Obrigações ou ao Direito das Sucessões, onde se regulam os negócios jurídicos que lhe servem de fundamento. (CAHALI, 2006, p. 21).

Complementa Gonçalves (2007, p. 443):

Os alimentos voluntários, que resultam da intenção de fornecer a uma pessoa os meios de subsistência , podem tomar a forma jurídica de constituição de uma renda vitalícia, onerosa ou gratuita; de constituição de um usufruto, ou de constituição de um capital vinculado, que ofereça as vantagens de uma segurança maior para as partes interessadas.

Os alimentos indenizatórios ou ressarcitórios “resultam da prática de um ato ilícito e constituem forma de indenização do dano ex delicto”. (GONÇALVES, 2007, p. 443).

Elucida Nader (2009, p. 431) da seguinte forma:

Quanto aos indenizatórios, a Lei Civil prevê (art. 948, II), em caso de homicídio, além de outros reparos, a prestação de alimentos às pessoas a quem o morto devia, considerando-se a provável sobrevida da vítima. Entre os beneficiários incluem-se os nascituros. Para a hipótese de lesão ou diversa ofensa à saúde, o responsável sujeita-se à prestação de alimentos “correspondente à importância do trabalho para que se inabilitou, ou da depreciação que ele sofreu”. É a dicção do art. 950.

Por conseguinte, destinam-se a indenizar vítimas as quais sofreram com os resultados do ato ilícito cometido pelo então alimentante.

Denominam-se legítimos os alimentos “impostos por lei em virtude do fato de existir entre as pessoas um vínculo de família” (DINIZ, 2009, p. 596).

Exemplifica Cahali (2006, p. 21):

Como legítimos, qualificam-se os alimentos devidos em virtude de uma obrigação legal; no sistema do nosso direito, são aqueles que se devem por direito de sangue

(ex iure sanguinis), por um veículo de parentesco ou relação de natureza familiar, ou em decorrência do matrimônio [...]

Cumpre salientar, por fim, que somente os alimentos considerados legítimos inserem-se no Direito de Família, enquanto os voluntários e os indenizatórios possuem sua regulamentação no Direito das Obrigações e Sucessões.

3.4.4 Quanto ao momento da reclamação

Quanto ao tempo em que são concedidos, os alimentos podem ser pretéritos, atuais e futuros.

“São pretéritos quando o pedido retroage a período anterior ao ajuizamento da ação”. (GONÇALVES, 2007, p. 446).

Os alimentos são considerados atuais quando “pleiteados forem a partir do ajuizamento da ação”. (DINIZ, 2009, p. 597).

Em consequência, os alimentos futuros “se prestam em virtude de decisão judicial de acordo, e a partir dela”, (CAHALI, 2006, p. 26), ou seja, “são aqueles a serem pagos após a propositura da ação”. (VENOSA, 2010, p. 363).

Gonçalves (2007, p. 446-447), faz importante observação no que diz respeito aos alimentos pretéritos:

O direito brasileiro só admite os alimentos atuais e os futuros. Os pretéritos, referentes a período anterior à propositura da ação, não são devidos. Se o alimentado, bem ou mal, conseguiu sobreviver sem o auxílio do alimentante, não pode pretender o pagamento de alimentos relativos ao passado (in praeterium non vivitur). [...] E, na prática, os alimentos pretéritos (alimenta praeterita) têm sido confundidos com prestações pretéritas, que são as fixadas na sentença ou no acordo, estando há muito vencidas e não cobradas, a ponto de não se poder tê-las mãos por indispensáveis à própria sobrevivência do alimentado, não significando mais que um crédito como outro qualquer, a ser cobrado pela forma de execução por quantia certa, com supedâneo no art. 732 do Código de Processo Civil.

Também adota o citado posicionamento o doutrinador Venosa (2010, p. 363), cujo entendimento fica evidenciado quando argumenta:

Em nosso sistema, não são possíveis alimentos anteriores à citação, por força da Lei nº 5.478/68 (art. 13, § 2º). Se o necessitado bem ou mal sobreviveu até o ajuizamento da ação, o direito não lhe acoberta o passado. Alimentos decorrente de lei são devidos, portanto, ad futurum, e não ad praeterium.

Por fim, a distinção dos alimentos referente ao momento os quais são pleiteados possui relevância para determinar o tempo em que se tornam exigíveis.

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