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A Constituição Federal de 1988 assegura, em seu artigo 5º, inciso XXX, o direito à herança. (BRASIL, 1988). E o Código Civil de 2002, por sua vez, disciplina o Direito das Sucessões em quatro títulos, que tratam, respectivamente, da sucessão em geral, da sucessão legítima, da sucessão testamentária e do inventario e partilha (BRASIL, 2002).

A sucessão, considerando sua fonte, pode ser legítima ou testamentária. Quando se dá em virtude de lei, denomina-se sucessão legítima, e quando decorre de manifestação de última vontade, expressa em testamento ou codicilo, chama-se sucessão testamentária (RIZZARDO, 2012).

3.2.1 Sucessão testamentária: breves considerações

O testamento “é o ato unilateral e revogável pelo qual uma pessoa dispõe, para depois da morte, de todos os seus bens ou de parte deles.” (LEITE, 2012, p. 152).

Nas palavras de Diniz (2008, p. 174), “a sucessão testamentária é aquela em que a transmissão hereditária se opera por ato de última vontade, revestido da solenidade requerida por lei.”

O parágrafo primeiro do artigo 1.857 do Código Civil preceitua: “Toda pessoa capaz pode dispor, por testamento, da totalidade dos seus bens, ou de parte deles, para depois de sua morte. § 1º. A legítima dos herdeiros necessários não poderá ser incluída no testamento”.

Assim, no testamento, permite-se apenas a disposição da metade dos bens, sendo a outra metade, denominada de legítima ou reserva legal, reservada aos herdeiros.

A esse respeito, assinala Gonçalves (2010, p. 43) que:

[...] havendo herdeiros necessários (ascendentes, descendentes ou cônjuge), divide-se a herança em duas partes iguais e o testador só poderá dispor livremente da metade, denominada porção disponível, para outorgá- la ao cônjuge sobrevivente, a qualquer de seus herdeiros ou mesmo a estranhos, pois a outra constitui a legítima, àqueles assegurada do art. 1.846 do Código Civil.

No entendimento de Figueiredo (2014, p. 651), “o testamento é negócio jurídico unilateral, gratuito, mortis causa, formal, revogável e personalíssimo.”. É unilateral, pois depende unicamente da manifestação de vontade do testador de dispor, sendo uma vontade livre, solitária e soberana. É um ato gratuito, pois não visa à obtenção de vantagens para o testador.

Ademais, tem eficácia mortis causa, eis que produz efeitos somente após a morte, e as disposições patrimoniais tem eficácia imediata. É um ato formal, exige uma forma prescrita em lei, sob pena de nulidade. E é um ato revogável de acordo com o artigo 1.858 do Código Civil, de modo que a qualquer tempo pode ser revogado, seja particular ou público um pode revogar o outro (GOMES, 2016).

No mais, é personalíssimo, porque só pode emanar, única e exclusivamente, da vontade do testador, declarada por ele próprio, pessoal,

indelegável e diretamente, não se admitindo a sua manifestação através de procuradores e representantes legais (HIRONAKA, 2007).

Com isso, a sucessão testamentária é o direito que revela com maior amplitude a autonomia da vontade privada. “O testador regula, em ato unilateral, a destinação dos seus bens para depois de sua morte, permitindo-o dispor de seu patrimônio para quem desejar, ressalvadas as limitações legais.” (DIAS, 2011).

3.2.2 Sucessão legítima: breves considerações

A sucessão legítima é a que se verifica quando o autor da herança não tenha disciplinado, em vida, a destinação, no todo ou em parte, de seus bens por ato de última vontade (GAMA, 2007).

Sendo assim, “a sucessão legítima é uma complementação natural, com a transferência do patrimônio adquirido em vida a certas e determinadas pessoas, nomeadas pela lei, sem qualquer interferência da vontade de seu titular.” (GAMA, 2007, p. 9).

Determina o artigo 1.788 do Código Civil que:

morrendo a pessoa sem testamento, transmite a herança aos herdeiros legítimos; o mesmo ocorrer quando os bens não forem compreendidos no testamento; e subsiste a sucessão legítima se o testamento caducar, ou for julgado nulo (BRASIL, 2002).

Os bens do de cujus são transferidos para pessoas indicadas pela lei, na ordem estabelecida no artigo 1.829 do Código Civil, in verbis:

A sucessão legítima defere-se na ordem seguinte:

I - aos descendentes, em concorrência com o cônjuge sobrevivente, salvo se casado este com o falecido no regime da comunhão universal, ou no da separação obrigatória de bens (art. 1.640, parágrafo único); ou se, no regime da comunhão parcial, o autor da herança não houver deixado bens particulares;

II - aos ascendentes, em concorrência com o cônjuge; III - ao cônjuge sobrevivente;

IV - aos colaterais.

Através do rol previsto no dispositivo legal supracitado, tem-se a lei protegendo o patrimônio do de cujus, transferindo seus bens às pessoas mais próximas do falecido, de acordo com uma presunção de afetividade feita pelo legislador ordinário.

Para Dower (2004, p. 15), “é a lei que prescreve as preferências que devem prevalecer entre os parentes que deverão herdar os bens deixados pelo de

cujus, passando o patrimônio deste às pessoas indicadas pela lei, obedecendo-se à

ordem de vocação hereditária.”

Sobre isso, assinala Gonçalves (2012, p. 42) que:

a sucessão legitima sempre foi a mais difundida no Brasil. A escassez de testamentos entre nós é devida a razões de ordem cultural ou costumeira, bem como ao fato de o legislador brasileiro ter disciplinado muito bem a sucessão ab intestato, chamando a suceder exatamente aquelas pessoas que o de cujus elencaria se, na ausência de regras, tivesse de elaborar testamento.

Costuma-se dizer que “a sucessão legítima representa a vontade presumida do de cujus de transmitir o seu patrimônio para as pessoas indicadas na lei, pois teria deixado testamento se fosse sua intenção.” (GONÇALVES, 2014, p. 42).

Ainda, de acordo com o artigo 1.810 do Diploma Civil, “na sucessão legítima, se o herdeiro renunciar sua parte acresce à dos outros herdeiros da mesma classe e, sendo ele o único desta, devolve-se aos da subsequente.” (BRASIL, 2002).

Entende-se que a parte do Direito das Sucessões que guarda mais intimidade com o Direito de Família é a sucessão legítima e, diante das transformações operadas no curso do Século XX no que se refere aos valores culturais, econômicos, políticos e sociais, logicamente a família não poderia deixar de ter recebido os impactantes reflexos das mudanças (GAMA, 2007).

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