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AS NECRÓPOLES

IV.2.3. Espólio funerário e limites cronológicos propostos

Nas diferentes coleções de espólio arqueológico a que pudemos ter acesso não se identificou a existência de materiais atribuídos ao arqueossítio de Nossa Senhora do Carmo. Esta evidência parece reforçar a ideia de que não se terão registado naquele local escavações ou recolhas de materiais, pelo menos da parte de António Dias de Deus e Abel Viana. Logicamente, dada a não identificação do arqueossítio e de eventual espólio, não nos é possível tecer quaisquer inferências de ordem cronológica, para além de uma hipotética atribuição genérica a época romana. Por sua vez, a sepultura escavada na rocha remete-nos para uma cronologia altimedieval.

152 Agradecemos ao Professor Doutor André Carneiro todas as informações facultadas em relação ao sítio de Nossa

Senhora do Carmo, e em particular os dados referentes à sepultura escavada na rocha. Tratam-se de dados até à data inéditos, mas que se encontram compilados desde os trabalhos de prospeção realizados naquela área geográfica no âmbito do projeto de Doutoramento do arqueólogo (CARNEIRO, 2014).

IV.3. A-DO-RICO (Nossa Senhora da Graça dos Degolados, Campo Maior, Portalegre. CNS 5749. CMP 386. N 39° 05’ 21.7’’/ W 7°09’ 83.4’’)

IV.3.1. O sítio, as intervenções arqueológicas e os dados conhecidos

Dada a ausência de evidências arqueológicas identificáveis no terreno, presume-se que o arqueossítio de A-do-Rico explorado por A. Dias de Deus e Abel Viana se localizasse na propriedade do Monte do Rico, conforme designação constante da Carta Militar de Portugal (n.º 386, 1: 25 000). Assim sendo, o sítio de A-do-Rico localiza-se numa zona de fronteira entre as áreas dos concelhos de Campo Maior e Arronches. A já mencionada ausência de vestígios de superfície que nos permitam uma localização inequívoca da área de implantação da necrópole romana e das sepulturas escavadas pela dupla Abel Viana e A. Dias de Deus dificulta o enquadramento administrativo deste sítio arqueológico. No entanto, com base na visita efectuada ao local e na informação publicada na década de 50 do séc. XX (DEUS, LOURO & VIANA, 1955, p. 574; VIANA, 1955d, p. 7; VIANA & DEUS, 1955b, p. 265), propõe-se que a referida necrópole integrasse o território do atual concelho de Campo Maior, na freguesia de Degolados. A este respeito registe-se que, tal como refere CARNEIRO (2014, II, p. 86, 05.04), ainda que se assuma a localização da necrópole no atual território da freguesia de Degolados, a habitação do monte agrícola de A-do-Rico localiza-se no atual território da freguesia de Assunção, no concelho de Arronches. É neste sentido que se devem considerar as duas localizações propostas por J. Alarcão para o arqueossítio em estudo (1988b, p. 152, 6/156). Em nosso entender, este desfasamento explicar-se-á pelo facto (já anteriormente enunciado) de estarmos perante uma zona de transição entre circunscrições administrativas e, portanto, passível de se prestar a alguma confusão quanto ao enquadramento do sítio arqueológico em questão; ou, por um eventual reajustamento dos limites e áreas destas mesmas circunscrições, operado entre a segunda metade do séc. XX e a atualidade.153 Trata-se de uma paisagem de relevo suave, com cotas que rondam os 270 metros de altitude, um coberto vegetal esparso e abundância de recursos hídricos. Os solos mediterrâneos pardos, de capacidade de uso limitada (classes C e D), prolongam-se até norte/noroeste de Degolados. Para além da Albufeira do Caia que delimita a sul este território do concelho de Arronches, o sítio de A-do- Rico encontra-se enquadrado por três linhas de água – a norte, o Ribeiro de Caga-no-Ninho, que vem a desaguar na barragem de Abrilongo, e, a oeste e a leste, duas linhas de água mais pequenas,

153A atribuição do arqueossítio em questão ao território elvense, e mais propriamente à freguesia de Assunção (atualmente

união de freguesias da Assunção, Ajuda, Salvador e Santo Ildefonso), conforme indicado na Base de Dados da DGPC –

subsidiárias da primeira, o Ribeiro das Taipas e o Ribeiro do Rico, respetivamente. Atendendo à toponímia local (em especial ao hidrónimo) e à descrição feita pelos ‘pesquisadores’, considera-se verosímil que o espaço funerário de cronologia romana identificado em meados dos anos 40 do séc. XX se localizasse no terreno sensivelmente a nascente do atual Monte, numa zona aplanada e moldada pela passagem de pequenos ramais do Ribeiro do Rico, à data da nossa saída de campo, sem caudal. Na visita efetuada ao local identificaram-se no terreno duas lajes de xisto, cuja configuração nos leva a colocar a hipótese de poderem ter sido utilizadas como tampas de sepultura, e dois fragmentos de tijolo, para além de um aglomerado de pedras aleatoriamente dispostas sob a forma de morouço, resultante da despedrega dos campos circundantes. Apesar de, conforme já mencionado, não nos ter sido possível a identificação segura do local dos enterramentos, e designadamente das sepulturas escavadas por Abel Viana e A. Dias de Deus, as características do sítio – encosta de declive muito suave, delimitada a N/NW e a E por duas linhas de água; bem como os achados de superfície, levam-nos a considerar verosímil que pudesse ser este o local de implantação do espaço funerário de época romana. De acordo com os autores supra-citados, a necrópole de A-do-Rico terá sido largamente destruída por enxurradas logo a partir dos anos 40 – “Esta necrópolis ha sido muy devastada por aguas torrenciales. Hace cerca de diez años, el pequeño

arroyo que pasaba al lado se desbordó y abrió nuevo cauce a través de ella, poniendo al descubierto, según informe de los pastores, unas doscientas vasijas de barro, que los chiquillos, en su juegos, se dieron prisa a destruir” (VIANA & DEUS, 1955b, p. 265). Constatando que, em caso de subida do nível

das águas, o ribeiro continuava a inundar e degradar o terreno, os autores terão procedido à abertura de uma sondagem, da qual resultou o aparecimento de duas sepulturas de incineração, as únicas exploradas (idem, p. 265).

A-do-Rico parece, pois, tratar-se de um exemplo paradigmático daquilo que foi a realidade de parte dos sítios arqueológicos identificados e/ou explorados por Abel Viana e A. Dias de Deus e que servem de amostra ao presente estudo – sítios identificados em contexto de emergência, muitas vezes já parcialmente destruídos e saqueados aquando da identificação e intervenção pelos autores, e quase sempre (se não mesmo sempre) apenas parcialmente escavados, resultando desta intervenção um conhecimento parcelar da realidade arqueológica a que dariam forma. De qualquer modo, se atendermos à indicação do achado de cerca de “200 vasilhas de barro” (DEUS, LOURO & VIANA, p. 574), e tivermos em conta, quer a provável diacronia de utilização daquele espaço funerário, quer os hábitos funerários comummente associados ao período alto-imperial (referimo-nos, em particular, à presença de espólio funerário acompanhando o enterramento), somos levados a reiterar a hipótese, já

defendida por ALARCÃO (1988b, p. 152, 6/156) e CARNEIRO (2014, II, p. 86), de que o arqueossítio em questão possa ter correspondido a uma necrópole de dimensões consideráveis.

Dada o nosso desconhecimento da data de intervenção em A-do-Rico, há que ponderar a hipótese de poder tratar-se de uma das estações intervencionadas antes do início da colaboração do arqueólogo com o funcionário da Colónia Correcional, isto é, antes de meados de 1949, contando eventualmente com a colaboração do Padre Henrique da Silva Louro. A aparente ausência de registos sobre o arqueossítio nas fontes documentais disponíveis (com exceção para os dois desenhos de peças provenientes de A-do-Rico, datados de 1953 e constantes do caderno de desenhos intitulado «Elvas» – AFCB) parece reforçar esta ideia. Porém, a referência à necrópole de A-do-Rico num dos opúsculos publicados em 1955 por VIANA & DEUS (1955b, p. 265, Fig. 8), no qual se inclui a indicação dos conjuntos funerários das duas sepulturas escavadas, leva-nos igualmente a considerar a possibilidade de se ter tratado de uma intervenção conjunta dos dois autores ou, pelo menos, de uma intervenção levada a cabo por A. Dias de Deus mas já segundo as orientações do arqueólogo vianense. Em função do exposto, a data e os agentes desta intervenção permanecem uma questão em aberto. IV.3.2. Caracterização do espaço e práticas funerárias

No caso da necrópole de A-do-Rico não nos é possível proceder à caracterização do espaço funerário e reconstituição das práticas funerárias, em virtude da escassa informação conhecida sobre o arqueossítio. À vulnerabilidade natural do sítio (exposto ao leito de cheia de um curso de água) e à parcial destruição das evidências arqueológicas em fase ainda anterior à intervenção de A. Dias de Deus e Abel Viana, acresce o facto de os mencionados autores apenas terem procedido à escavação de duas sepulturas, condicionando assim, de forma irremediável, o estudo desta necrópole. Para além disso, a ausência de evidências arqueológicas atualmente visíveis no terreno impossibilitam quaisquer inferências da nossa parte. Sem dados relativos à extensão e eventual organização da área funerária, ou ao número total de enterramentos e respetiva morfologia (estrutura tumular, orientação, posição do espólio e distribuição no espaço funerário), somente nos é possível considerar a identificação das duas pequenas sepulturas de incineração exploradas (VIANA & DEUS, 1955b, p. 265). A prática do rito da incineração, a confirmar-se comum a toda a necrópole, afigurar-se-ia consentânea com o âmbito cronológico proposto ao longo do presente subcapítulo.

IV.3.3. Espólio funerário e limites cronológicos propostos

Da nossa amostra de estudo constam somente três peças atribuídas ao arqueossítio de A-do-Rico. Trata-se de espólio cerâmico e vítreo que comporia o conjunto funerário da sepultura 1 explorada por A. Dias de Deus e Abel Viana (VIANA & DEUS, 1955b, p. 265) e que se encontra já devidamente estudado e publicado por Jeannette Nolen (1985) e por Adília e Jorge Alarcão (1967). No conjunto de espólio observado não nos foi possível identificar e localizar quaisquer outros materiais atribuídos a A- do-Rico, apesar das fontes documentais mencionarem um “púcaro de barro amarelado com traços”, aparentemente também proveniente daquela necrópole (MRB: DEUS, [s.d.]c, f. 17, p. 1)154. Em nosso entender, tal situação prende-se, à semelhança do que se verifica para várias das outras ‘necrópoles céltico-romanas elvenses’, com as graves lacunas de informação quanto à origem das peças recolhidas pelo funcionário da Colónia Penal de Vila Fernando e seus parceiros de ‘pesquisas’, e com os parcos dados publicados sobre o sítio e respetivo espólio.

Assim, em função dos dados disponíveis, apenas nos é possível reconstituir parcialmente o conjunto funerário da designada sepultura 1 de A-do-Rico. Com exceção de um púcaro de cerâmica comum biansado, encontram-se identificadas as restantes três peças que comporiam o conjunto em causa, conforme descrito em VIANA & DEUS, 1955b (p. 265): “Sepultura 1. – Ajuar: cántaro de barro fino, que

tiene incisa en la panza la leyenda: “FRONDICOMVS” (121); urna de barro grosero (118), urna de barro más fino (120), lacrimatorio de vidrio (119). Todas estas piezas, muy fragmentadas”. De

assinalar que as peças (Catál. ADR.cc.001_1, ADR.cc.002_1 e ADR.vi.001_1) se encontram devidamente restauradas e em bom estado de conservação. O facto de o espólio se apresentar muito fragmentado à data da intervenção arqueológica poderá estar relacionado, não tanto com o momento da deposição das peças em contexto funerário (e eventual inutilização intencional das mesmas), mas sim com fenómenos pós-deposicionais potenciados pela implantação topográfica da necrópole.

Não nos foi possível identificar o espólio atribuído à segunda sepultura escavada. A informação constante de VIANA & DEUS (1955b, p. 265) afigura-se demasiado vaga: “Sepultura 2. – Apenas dió

pequeños fragmentos de cerâmica, algunos clavos y bastantes cardas de hierro”, e a ausência de

ilustração ou representação gráfica dos materiais referenciados torna ainda mais escassa a possibilidade de uma identificação entre o espólio genericamente atribuído às recolhas dos funcionários da Colónia Correcional e Abel Viana. Deste modo, e em relação ao segundo conjunto

154 No documento citado, descrevem-se sumariamente três peças atribuídas à designada “Spt.1 [de] Degolados”, sendo

que as duas peças para além da acima mencionada correspondem às peças identificadas ao longo do presente trabalho como ADR.cc.2 e ADR.vi.1. Por sua vez, a peça designada como ADR.cc.1 é igualmente referida no documento em causa, mas sem indicação de proveniência (MRB: DEUS, [s.d.]c p. 19, f. 2).

funerário de A-do-Rico, não podemos deixar de colocar duas questões. Em primeiro lugar, questionamo-nos se o espólio descrito terá sido efetivamente recolhido (recorde-se que em situações de estado de conservação muito precário das peças não se procedia à exumação das mesmas, deixando portanto de ser passível de identificação e localização a totalidade do espólio identificado em contexto de escavação, e posteriormente mencionado nas publicações dos autores citados). Em segundo lugar, a ter-se verificado a recolha do conjunto de materiais em questão, questionamo-nos se a referência genérica a “fragmentos de cerâmica” poderá (ou não) ser entendida como designando exclusivamente cerâmica comum, à semelhança do que se verifica na amostra cerâmica do conjunto funerário da sepultura 1. Em relação ao espólio metálico (pregos e cardas), e com base dos dados conhecidos, não nos é possível apurar o número mínimo de indivíduos identificados, condicionando assim eventuais leituras interpretativas da presença destes materiais no contexto funerário em estudo. Em função do exposto, os limites cronológicos propostos para o espaço funerário de A-do-Rico baseiam-se exclusivamente no espólio da sepultura 1. Tais limites devem, por isso, ser considerados com as devidas reservas, uma vez que o âmbito cronológico definido para o contexto particular daquele enterramento pode não ser representativo da diacronia de utilização do espaço funerário no seu todo. Para a definição das balizas cronológicas da sepultura 1 de A-do-Rico assume fundamental importância o unguentário de vidro correspondente à forma Isings 82 B2 (ISINGS, 1957, p. 99), única peça datante do conjunto funerário. De um modo geral, reitera-se o âmbito cronológico proposto por NOLEN (1985, p. 155; 1995-1997, p. 352). Atendendo à cronologia lata atribuída à forma da peça vítrea, sugere-se para o enterramento em análise um terminus post quem de meados/ finais do séc. I d.C. e um terminus ante quem extensível a inícios/ meados do séc. III d.C.. De assinalar que, a confirmar-se a cronologia de fabrico e utilização proposta para os púcaros de tipo Nolen 1-b (NOLEN, 1995-1997, p. 370) poderíamos, conforme ressalva a autora citada (ibidem, p. 352), ser levados a recuar o t.a.q. para finais do séc. II d.C.. Ressalve-se, uma vez mais, que os limites cronológicos propostos para a sepultura 1 de A-do-Rico são, à falta de dados adicionais, os limites genericamente assumidos para a necrópole.

IV.4. EIRA DO PERAL (Santo Aleixo, Monforte, Portalegre. CNS 11940.155 CMP 398. N 38° 57’ 38.2’’/ W 7°26’ 06.8’’)

IV.4.1. O sítio, as intervenções arqueológicas e os dados conhecidos

A Herdade do Peral localiza-se a cerca de 7 km, para nascente, da povoação de Veiros, e a aproximadamente 11 km, para sul, da vila de Monforte. Insere-se numa paisagem de relevo ondulado (ligeiramente mais acidentado à medida que se avança para este-nordeste), pontuada por pequenas elevações e encostas de suave declive, e atravessada pela Ribeira de Almuro e pela confluência desta com a Ribeira Velha. Para além da abundância de recursos hídricos, trata-se de uma área onde predominam solos mediterrâneos e solos litólicos (não húmicos) de natureza granítica, de diferente potencial agrícola (classes B, C, D e E). Os solos com maior capacidade de uso concentram-se numa mancha que se estende, no sentido NW-SE, sensivelmente entre o Monte do Peral e o Poço do Mesquita, ladeando (pelo lado oeste) o Monte do Outeiro, e numa estreita faixa ao longo da margem direita da Ribeira Velha.O antigo Monte do Peral, actualmente em ruínas, situa-se a menos de 500 metros de distância da área onde se supõe a localização da antiga eira, e onde terão sido identificados vestígios de edifícios romanos e um sarcófago (CARNEIRO, 2014, II, p. 352, 13.38; DEUS, LOURO & VIANA, 1955, p. 576). O sítio da Eira do Peral encontra-se implantado a uma cota de aproximadamente 292 metros de altitude, numa plataforma delimitada a oeste e a sul pela passagem da Ribeira de Almuro e da Ribeira Velha. Ocupa o topo aplanado de uma pequena elevação, de solos mediterrâneos pardos de fraco potencial agrícola (classes D e E), enquadrada por linhas de água subsidiárias das ribeiras já mencionadas.156

Da informação publicada por Abel Viana e A. Dias de Deus constam, para além da descrição dos trabalhos realizados nos três dólmens da Herdade do Peral (VIANA & DEUS, 1955c, pp. 11-12, Fig. 1, n.ºs 8-10, Fig. 2, n.º 5, Fig. 5, n.º 2), duas referências a evidências arqueológicas de natureza funerária que nos interessam em especial. Referimo-nos, em primeiro lugar, à identificação de um conjunto de sepulturas de incineração ocorrida na sequência da exploração da anta 3 do Peral - “Em Agosto de

1952 tornamos a visitá-la (anta 3 do Peral) e fizemos nela uma ligeira escavação. (...)// Ao sondarmos

155 Eira do Peral/ Peral 4 (DGPC, Portal do Arqueólogo).

156 Segundo a definição de J. da Silva Picão, entenda-se por ‘eira’ “(...) o terrado em que se debulha e limpa toda a casta

de cereaes e legumes. Fica geralmente a curta distancia do monte, n’uma das colinas proximas mais varridas do vento oeste, ou seja «bem lavada de travessia», (...).” (PICÃO, 1903, p. 28). De acordo com o autor citado, as eiras poderiam

o terreno, a dois metros do lado sul do dólmen, deparou-se-nos uma série de sepulturas de inceneração [sic], formadas com lajes, pertencentes a época muito posterior à do megálito, mas provavelmente pré-romanas.” (VIANA & DEUS, 1957, p. 93). A ausência de mais informações sobre

este conjunto de enterramentos leva-nos a crer que este espaço funerário não terá chegado a ser intervencionado pelos autores citados. Na consulta da base de dados da DGPC também não foi possível apurar qualquer referência ao mencionado conjunto de sepulturas de incineração identificado na Herdade do Peral. Em segundo lugar, referimo-nos ao “túmulo romano, de mármore, com tampa

também de mármore” doado por A. Dias de Deus ao antigo Museu Municipal de Elvas, a 14 de

Novembro de 1949 (Inv. CME/MME)157, mencionado por DEUS, LOURO & VIANA (1955, p. 576, Est. III, n.ºs 14 e 15). As condições da descoberta deste sarcófago parecem ser descritas numa curta notícia do periódico regional Brados do Alentejo, de 18 de Setembro de 1949, na qual se dá conta da descoberta na Herdade do Peral, então propriedade da “Casa Agrícola dos srs. Corte & Irmão”, de “um

túmulo de mármore branco, contendo uma ossada humana que, pelo avançado estado de deterioração, deve datar de mais de 100 anos” (apud CARNEIRO, 2014, II, p. 352). Desconhecem-se,

porém, as circunstâncias que associam A. Dias de Deus a este achado, uma vez que a referida notícia é omissa quanto à intervenção do funcionário da Colónia Penal de Vila Fernando. Coloca-se a hipótese de, à semelhança do que terá ocorrido noutras ocasiões, A. Dias de Deus ter sido avisado deste achado na sequência da descoberta feita pelos trabalhadores rurais. Em carta da autoria de Domingos Lavadinho para o preceptor da Colónia, o então diretor da Biblioteca e Museu Municipal de Elvas declarava: “A descoberta do tumulo [sic] romano é notavel [sic]. Vou escrever ao sr. Córtes, que

não conheço, pedindo-lhe a oferta a este Museu. Conto também com a sua influencia [sic]” (MRB:

LAVADINHO, 10/04/1949, p. 1). Tendo em conta a data da notícia publicada no periódico Brados do

Alentejo, a data de entrada do sarcófago no antigo Museu Municipal de Elvas, bem como a data da

carta supra-citada e a referência ao proprietário da dita herdade à época, parece-nos seguro afirmar que o túmulo romano mencionado por Domingos Lavadinho corresponderia ao sarcófago descoberto no sítio da Eira do Peral.

Na visita efetuada ao território da herdade não nos foi possível localizar vestígios da necrópole de incineração identificada nas proximidades da anta, ou do local, no espaço da dita eira, onde terá sido recolhido o sarcófago romano.No terreno somente nos foi possível confirmar a existência de material de construção romano, nomeadamente fragmentos de cerâmica de construção e silhares de granito,

157 No registo de entrada do sarcófago de Eira do Peral no antigo Museu Municipal de Elvas, o arqueossítio em questão é

atribuído à freguesia de Orada, concelho de Borba, e não ao concelho de Monforte, freguesia de Santo Aleixo, conforme acima indicado.

bem como algumas lajes de xisto, integradas num moroiço resultante da despedrega dos campos.158 Aliás, é com base na identificação de diverso material cerâmico e material de construção decronologia romana, incluindo material reaproveitado nas edificações mais recentes (CARNEIRO, 2014, II, p. 352),