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O espaço Bolles e Wilson valorizam o espaço, mas como outros arquitetos seus contemporâneos, acres-

No documento Olhar (-se): pela poética na arquitetura (páginas 60-62)

centam-lhe novos valores: a ausência da monumentalidade do espaço público, a teatralidade, os acontecimentos, o abandono do enquadramento perspectivista, em favor de enquadramentos se- melhantes aos cinematográficos.

No Teatro Luxor, por exemplo, os visitantes também têm o seu papel, podem sentir-se bastante impor- tantes nesse espaço, inclusive podem chegar a pensar que são o próprio protagonista do espaço. Nesse

(...) Da paisagem, o que me interessa é uma seqüência épica – como um filme de Wim Wenders – em que a câmera realiza lentamente uma panorâmica, a partir da janela de um carro, adotando, assim, uma visão inclusiva – que inclui o espectador – e não a do enquadramento perspectivista. Freqüentemente tento capturar esse “perto e longe” em uma só imagem, e quase sempre fracasso. Atualmente encontramo-nos num momento de evolução visual em que estão se desenvolvendo novos paradigmas perceptivos. Agora, todos nós aplicamos essa capacidade fílmica de afastamento e aproximação para, ao mesmo tempo, ter a visão completa e os pequenos detalhes.

A poética

A sua poética envolve, em primeiro lugar, alguns procedimentos para dotar de novos signi- ficados as tipologias e as funções herdadas e para realçar tanto o caráter público de um edifício, como o urbano.

Do ponto de vista semântico, os painéis sobrepostos (no teatro Luxor) são como um gigantesco barco de madeira, uma referência ao posto de Rotterdam e aos teatros feitos com madeira: o Globe de Shakespeare e os teatros romanos descritos por Vitrúvio. No seu começo, o teatro era provisório e subversivo e ficava longe da cidade, como o Luxor. Nossos painéis vermelhos estão na metade do caminho entre o vermelho da cortina do palco e esse protótipo arcaico.

Em segundo lugar, a adoção da imagem da paisagem artificializada, contínua e homogênea da Europa como inspiração para forma do edifício e da cidade contemporâneos.

A europaisagem é um dos principais novos temas que surgiram desde que mudamos para a Alemanha. A Biblioteca de Münster está impregnada de pensamento urbano, de contexturalismo e de compreensão da sintaxe da cidade. Paralelamente à Biblioteca, trabalhamos no novo Centro de Investigação Tecnológica de Münster. Era uma situação com muito pouco contexto e cenário urbano, uma espécie de ambiente nebuloso e desfocado. Por isso tivemos de desenvolver uma estratégia diferente e também uma lingua- gem formal diferente, para enfrentar essa situação flutuante: um tipo de edifício muito mais auto-referente e mais desconectado do seu contexto. Começamos também a observar a europaisagem de outro ponto de vista: o do espectador em movimento...

Agora mesmo, estamos sentados no centro de uma preciosa cidade medieval (Münster), que, na realidade, foi reconstruída nos anos 50 e 60, após a guerra. Se nos afastarmos um pouco, encontramos um entorno interconectado que se estende por toda a Europa, desde o Mediterrâneo até o Mar do Norte, de uma potência mais ou menos visível. Essa paisagem está conectada fisicamente por redes de auto-estradas, mas também por fluxos invisíveis de comunicação e informação. A Randstad na Holanda ou a Ruhrgehiet, ou bacia do Ruhr, na Alemanha, são concretizações extremas da situação da europaisagem. Já não podemos dizer se estamos dentro ou fora da cidade: tudo está dentro, inclusive a natureza vegetal.

A situação européia é uma versão menos densa da Tóquio descrita por Roland Barthes: uma rede de episódios, todos autônomos e sem hierarquia. A imagem da rede descreve as condições em que vivemos atualmente melhor que uma do tipo figura-fundo da cidade tradicional.

A europaisagem é inclusiva. A cidade mercado, concêntrica e magnética, perdeu sua autoridade a favor de uma

Julia B. Bolles e Peter L. Wilson_ Biblioteca Municipal Münster [1987] Julia B. Bolles e Peter L. Wilson_ Centro Comercial Brink [1996]

grande quantidade de conexões menores: as estruturas interconectadas que funcionam em diferentes níveis, superpostas e freqüentemente baseadas no tempo. Quando se insere um edifício nessa rede ou traça-se uma estratégia urbanística, é preciso ter em conta outras camadas existentes.

Embora a paisagem européia seja uma inspiração para a sua arquitetura, eles são contra a idéia de uma paisagem sem especificidade, conseqüência de uma teoria universalizante:

O edifício completamente transparente é um paradigma interessante, mas na realidade a transparência fica melhor nas fotografias espetaculares. Quando estamos dentro do edifício, descobrimos que o vidro também tem seu peso, suja-se ou reflete o próprio interior. A superfície contínua é a “Cidade sem fim” imaginada por Archizoom nos anos setenta. Não estamos particularmente interessados nessas edificações universais, desligadas de um lugar concreto, da paisagem modelo, nem no didatismo dos dados congela- dos. Olhamos com freqüência para a escala e a duração da paisagem, sua textura, seu caráter específico. O edifício Luxor foi chamado de edifício paisagem. Subir suas escadas íngremes é como escalar uma monta- nha. Mas essa não foi a lógica geradora original.

Poderíamos perguntar como poderia a especificidade conviver com a uma forma sem hie- rarquia. Talvez isso fosse possível sob a forma de especificidades locais equivalentes, interligadas homogeneamente no conjunto.

Eles falam ainda de estruturas superpostas e camadas, o que nos remete à passagem do tempo. A cidade, portanto, cresce em espessura, por sobreposição – não substituição – do novo sobre o velho.

A paisagem artificializada, sem hierarquia, contendo camadas, parece uma imagem impor- tante para a sua poética, carregada de significados não revelados na entrevista, que precisariam de uma verificação em outros textos e na sua obra.

MVRDV: Nathalie de Vries, Winy Maas

No documento Olhar (-se): pela poética na arquitetura (páginas 60-62)

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