• Nenhum resultado encontrado

5. OS NÚMEROS OFICIAIS DA VIOLÊNCIA ESCOLAR

5.2 A ESCOLA CARACTERIZAÇÃO GLOBAL

5.2.4 Espaços de recreio

A EB 2/3 de Miragaia possui um razoável espaço físico exterior, com campo de jogos que inclui quatro tabelas de basket e um campo de futebol. No interior possui um refeitório que nas horas de recreio funciona como sala de convívio, equipado com uma mesa de ping-pong e diversos jogos. Para os funcionários a principal lacuna fica a dever-se à inexistência de um bar bem equipado para os alunos e de mais espaço coberto de recreio no Inverno.

Recreio não falta para brincar e saltar. Falta um bocadinho a nível de recreio coberto, porque eles no Inverno não têm muito onde se expandir, é um aspecto negativo e o bufete também acho um aspecto negativo. É pequenininho, não tem condições nenhumas. Esqueceram-se no projecto do bufete. (Auxiliar, Entrevista n.º 2)

Recreios vazios, sem equipamentos didácticos e sem a vigilância de um supervisor são normalmente mais propensos a situações de violência entre alunos do que os espaços em que estes elementos estão reunidos. Esta é uma das principais conclusões dos estudos que nos últimos anos têm sido desenvolvidos

pelo Instituto de Estudos da Criança (IEC) da Universidade do Minho, tendo como referência estabelecimentos de ensino do 1.º e 2.º ciclos da Zona Norte do País (Educare, 01/03/05).

A maioria dos alunos entrevistados revela satisfação relativamente aos espaços de recreio exterior bem como em relação aos jogos lúdicos disponibilizados na improvisada sala de convívio.

Tá, tá, puseram lá em baixo uma mesa de ping-pong, foi bom para conservar mais os alunos cá dentro, para não fazerem mais asneiras, um passatempo nos intervalos. (Pedro, aluno, 9.º ano)

São bons, tem uma área assim muito elevada até, tem dois recreios, um para jogar futebol, um bom ginásio e sítios para pessoas que querem estar com a turma. Tem boa segurança lá em baixo. É uma escola boa, razoável até, melhor que as outras, que as pessoas têm a mania… mas não, é melhor a minha. (Rui, aluno, 6.º ano)

Recreio, tem bom espaço, a cantina tem ping pong, é bom. (Daniel, aluno, 7.º ano)

No entanto, são os mais novos que afirmam “não terem muito para fazer”. Os jogos de ping-pong e o campo de futebol são normalmente ocupados pelos alunos mais velhos, daí serem os do 5.º e 6.º ano os que se revelam mais insatisfeitos com a oferta.

Por exemplo, aqui o campo de futebol é só para os grandes. (João, aluno, 5.º ano)

Aqui, quando se está na hora do recreio não se faz nada. (…) Sei lá, podiam inventar aí actividades e isso. (Tomás, aluno, 5.º ano)

No que toca a actividades realizadas pela escola como os clubes, visitas de estudo e festas, os alunos revelaram alguma insatisfação e em alguns casos desconhecimento da oferta, o que evidencia uma fraca divulgação das poucas

actividades que a escola organizou. No ano lectivo 2005/2006, funcionou apenas o clube de artes plásticas (num espaço improvisado no bufete) e inicialmente o clube da rádio.

Dos dez alunos entrevistados, quatro declararam não conhecer nenhum clube na escola e nunca terem participado em qualquer actividade temática nos anos anteriores. No entanto, dois alunos indicaram como positivas as actividades realizadas em anos lectivos anteriores como é o caso da jardinagem, do clube de fotografia e de aulas de dança. Esporadicamente alguns professores solicitam ajuda aos alunos para outras actividades de recreio, como referiu um aluno do 5.º ano.

Não, há professores que pedem às vezes ajuda aos alunos para ir para ali trabalhar, mas é raro. (…) Já fui três vezes. (…) Aquilo tudo que está ali, fomos nós que plantámos. (Tomás, aluno, 5.º ano)

João Teixeira Lopes na sua obra “Tristes Escolas” analisou as práticas culturais dos estudantes do ensino secundário do Porto e concluiu que existe: “um desinteresse fortíssimo pela produção cultural organizada no espaço escola, mesmo quando esta, apesar de permanecer como esporádica, mal programada e deficientemente divulgada, responde de alguma forma aos seus desejos e aspirações. Basta a sua localização e associação aos cenários escolares, para um afastamento difuso e generalizado por parte dos estudantes” (Lopes, 1996:177). Duas professoras justificaram a inexistência de clubes, como consequência das “aulas de substituição” implementadas este ano lectivo pelo Ministério da Educação, mas todos reconhecem a importância destas actividades extra- curriculares para os alunos.

A escola o ano passado tinha muitos clubes e depois acabou por desistir por causa das aulas de substituição, tínhamos o clube da informática, da matemática, de cinema, de artes, de música…o de artes ainda chegou a funcionar cá em baixo e da rádio também, mas deixou de funcionar porque nessas horas dos clubes os professores estavam era nas aulas de substituição e a pouco e pouco foi acabando. (Professora, Entrevista n.º 3)

E depois há rádio também, eu acho que este ano com as substituições estas coisas ficaram prejudicadas. Esses alunos conflituosos, eles tinham por exemplo a rádio e eram impecáveis. (Professora, Entrevista n.º 1)

A presidente do conselho executivo confirmou que as aulas de substituição desviaram os docentes dessas actividades e justifica que a falta de salas também contribui para o mesmo efeito. Propôs que se realizassem actividades temáticas depois do período de aulas terminar (16:30), proposta que não obteve resultados, como se pode verificar pelas palavras da presidente:

Pronto, é assim, as coisas ou funcionam paralelamente com as actividades ou depois das actividades lectivas ninguém vem à escola para nada, nem alunos, nem professores. Ou as coisas funcionam em paralelo, porque nós dizemos: “podem funcionar depois das 16:30h!” – e elas: “mas depois os alunos não vêm!”, ninguém vem depois das aulas estarem encerradas, ninguém vem. (PCE)

O envolvimento dos alunos entrevistados em actividades organizadas pela escola limitou-se à participação em actividades desportivas como os torneios inter- turmas de futebol e de basket. A reduzida oferta de actividades extra-curriculares evidencia uma má organização por parte dos órgãos executivos, bem como um fraco envolvimento dos professores no planeamento destas actividades, tendo em conta a importância dessas actividades já referidas noutros estudos (Sampaio, 1999; Pereira, 2002) para prevenir situações de conflito e violência.

A este propósito, Daniel Sampaio considera que “a organização dos tempos livres constitui também um factor preventivo das situações de indisciplina. (…) É necessário que os estabelecimentos de ensino estabeleçam protocolos com as autarquias e organizações do bairro para a cedência de instalações” (Sampaio, 1999:129).