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A delimitação do objecto de estudo e a observação detalhada de um contexto escolar pretendem contribuir para uma análise em profundidade e relacionar diferentes dimensões de análise na escola com domínios sociais mais vastos, assente numa análise de carácter intensivo e qualitativo.

Assim, optou-se por uma escola de 2º e 3º ciclo do ensino básico porque os estudos realizados sobre esta temática indicam que é nestes ciclos de ensino que surgem mais problemas relacionados com violência e indisciplina.

A escolha da escola foi feita a partir de um conjunto de informações obtidas através de notícias publicadas na imprensa, bem como de contactos informais com docentes de outras escolas que fui contactando no âmbito de projectos em que estava envolvida profissionalmente. A EB 2/3 de Miragaia não era a única opção, mas dois critérios ditaram a escolha: por ser uma escola marcadamente urbana e por ter a indicação de que as situações de violência nesta escola estavam a diminuir18. Para o objectivo da pesquisa era um aspecto bastante relevante, dado que se pretendia identificar as estratégias levadas a cabo pela escola para dar resposta ao problema da violência.

No primeiro contacto com o conselho executivo da EB 2/3 de Miragaia, os órgãos executivos não confirmaram redução das situações de violência na escola, e adiantaram que não tinham evidências dessa redução, pelo contrário, continuava a ser uma preocupação da escola. Contudo, optou-se por avançar o pedido, uma vez que a questão central do estudo não estava em causa, pois a escola mostrou-se preocupada e aberta a compreender um pouco melhor o problema que tem em mãos. Após a autorização dada pelos órgãos de gestão da escola para a realização do estudo, a recolha de informação empírica teve início em Março de 2006, final do 2.º período do ano lectivo, e prolongou-se até finais de Julho, altura de férias escolares para os alunos, mas de trabalho para a maioria dos professores.

O trabalho de campo mobilizou diferentes técnicas para captar o ponto de vista do informador. Assim, foram realizadas 19 entrevistas semi-directivas19 aos diferentes actores da escola básica 2/3 de Miragaia: 10 alunos20, 4 professores21, 3 funcionários22, a presidente do conselho executivo e o presidente da associação de pais.

Importa explicar que cheguei aos entrevistados de duas formas, na maioria dos casos a partir dos contactos iniciais, pedia que me sugerissem outros colegas e a esses voltava a pedir outros nomes, recorrendo assim à técnica da “bola de neve”. Apenas em dois casos que implicavam a escolha de alunos, senti maior resistência por parte dos professores em indicar possíveis entrevistados e nestas situações a escolha foi aleatória, isto é, dirigi-me às turmas, apresentei-me e perguntei quem se disponibilizava para colaborar no estudo. É também importante referir a óbvia utilização de nomes fictícios para os entrevistados, de forma a garantir o anonimato e a confidencialidade dos depoimentos recolhidos.

Foram utilizados cinco guiões de entrevista: aos alunos; professores; funcionários, presidente do conselho executivo e presidente da associação de pais, organizados por dimensões em análise, sustentadas teoricamente. As entrevistas foram gravadas, transcritas e posteriormente a informação foi trabalhada segundo dimensões, com o recurso a grelhas de análise e feita a análise de conteúdo das mesmas.

De acordo com a teoria que orientou esta pesquisa, foram consideradas nos guiões de entrevista dimensões de análise relacionadas a caracterização dos aspectos

19 As entrevistas foram realizadas com o recurso a informantes privilegiados, quer professores, alunos e funcionários e em alguns casos de forma aleatória.

20 Dos dez alunos entrevistados, sete residem nas freguesias do núcleo histórico do Porto, dois

noutras freguesias da cidade do Porto e um numa freguesia de Vila Nova de Gaia. Com idades compreendidas entre os 10 e os 16 anos, sete são do sexo masculino e três do sexo feminino, distribuídos por diferentes anos de escolaridade (do 5.º ao 9.º ano).

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Dos quatro docentes entrevistados, apenas um é do sexo masculino, têm idades compreendidas entre os 45 e os 58 anos, todos com mais de 15 anos de serviço e com situação contratual de efectividade. Duas professoras estão ao serviço na escola desde a sua inauguração (1999). Três são directores de turma e uma é coordenadora dos directores de turma.

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Dos três funcionários entrevistados, duas são auxiliares de acção educativa e um é segurança reformado afecto ao programa escola segura, com a função de fazer a vigilância no interior da escola.

contextuais dos alunos em estudo (características sociais dos alunos entrevistados, mais especificamente a sua origem social, as trajectórias e expectativas escolares dos alunos e as expectativas dos pais em relação à escolaridade dos filhos), bem como as dimensões que remetem para as práticas e representações dos actores na escola (a sua relação com as regras escolares e situações de violência e a avaliação que fazem das respostas à violência na escola que foram desenvolvidas).

Para além das entrevistas, foram realizadas conversas informais com os diversos interlocutores (alunos, professores, auxiliares de acção educativa, funcionárias da junta de freguesia de Miragaia) que forneceram informações igualmente relevantes para a pesquisa.

Privilegiou-se a observação directa, tendo em conta que se tratava de um contexto social específico no qual só a presença mais sistemática permitiria o registo de informações acerca dos modos de pensar, sentir e agir dos actores escolares. A presença implicou contactos regulares com diversos elementos da comunidade escolar e outros interlocutores fora da escola, no caso concreto dos funcionários da junta de freguesia local que disponibilizaram alguns materiais informativos da freguesia de Miragaia, nomeadamente a listagem dos equipamentos sociais disponíveis para os jovens, artigos de jornais publicados sobre a freguesia, e informações diversas sobre a caracterização da população da freguesia já trabalhadas noutros estudos.

Também a elaboração de um “diário de campo” foi uma técnica bastante útil na recolha dessas impressões que decorreram da observação no terreno e permitiu o registo de informações antes e depois das entrevistas e em todos os momentos de presença na escola. Muitas vezes no final das entrevistas, depois do gravador estar desligado, os entrevistados acrescentavam aspectos que no decorrer da entrevista não se sentiram à vontade para relatarem. As horas de espera pelos interlocutores e algumas faltas de comparência para a data marcada foram também momentos que aproveitei e me permitiram observar directamente os actores escolares nos diversos espaços físicos da escola (corredores, recreio, salas de aula, sala dos professores, entrada da escola). Permitiram, mais do que observar, trocar impressões com

diversos alunos e professores que apesar de não serem formalmente entrevistados, foram dando pistas e elementos interessantes para a análise.

As entrevistas decorreram entre Maio e Julho na própria escola. Apenas duas entrevistas foram realizadas fora do contexto escolar a pedido dos entrevistados, o caso de um professor que indicou um centro comercial e de uma aluna que insistiu que fosse num banco de jardim, no horto que fica em frente à escola, por se sentirem mais à vontade. O mês de Abril, depois das férias da Páscoa, foi o período inicial que aproveitei para estabelecer contactos com professores e funcionários e a pouco e pouco ir conhecendo os “cantos à escola”.

O trabalho empírico contemplou também a análise documental dos textos elaborados pela escola, dos seus objectivos e projectos, nomeadamente, o projecto educativo, o projecto curricular de escola e o regulamento interno de escola. O projecto educativo da escola, na medida em que é um “documento que consagra a orientação educativa da escola, elaborado e aprovado pelos seus órgãos de administração e gestão para um horizonte de três anos, no qual se explicitam os princípios, os valores, as metas e as estratégias segundo os quais a escola se propõe cumprir a sua função educativa» 23 e no qual compete ao Conselho Pedagógico “apresentar propostas para a elaboração do projecto educativo e do Plano de Actividades e pronunciar-se sobre os respectivos projectos”.24

Outro elemento de análise foi Regulamento Interno de escola para perceber valores e comportamentos que a comunidade educativa destaca e valoriza e como se posiciona face aos direitos e deveres dos diversos actores escolares.

Foram ainda recolhidos na escola dados estatísticos da população escolar referentes ao ano lectivo em análise, por exemplo, o número de alunos, professores, funcionários, bem como os cursos a funcionar e os apoios sociais que os alunos beneficiam).

Por último, foram analisados e trabalhados dados estatísticos do último recenseamento – censos de 2001 – comparativamente aos de 1991, procurando enquadrar socialmente as freguesias do centro histórico da cidade do Porto de onde

são oriundos a maioria dos alunos que frequentam a escola em estudo e analisados os dados oficiais do Ministério da Educação sobre a violência escolar a nível nacional e regional, relativos ao ano lectivo de 2004/2005.