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2.2 Quando /cuando como termo relativizador

2.2.2 Espanhol

No que diz respeito aos trabalhos do espanhol, para Martínez García (1989), a oração de cuando, caso tenha um termo antecedente, se converte em oração adjetiva. Caso não possua, capacita-se para funcionar como oração subordinada substantiva ou

oração subordinada adverbial. Para Le Men (1992), cuando remete a um lexema concreto que indica tempo. Segundo o autor, o termo é o resultado de que mais o lexema tempo. O antecedente, quando há, deve também ter valor temporal e, na maioria dos casos, por se tornar redundante o aparecimento concomitante dos dois termos, a tendência é a de que o antecedente explícito apareça menos frequentemente. No entendimento de Alarcos Llorach (1994), cuando é advérbio relativo em razão de cumprir a função de elemento adjacente circunstancial. Em seu conteúdo, o termo acumula referência léxica temporal, também denotada pelo seu antecedente, se presente. O autor ressalta que o advérbio relativo é substituível por uma construção preposicionada, como en que. Uma informação relevante, segundo ele, é que, dada a redundância do conteúdo semântico do antecedente em relação ao relativo cuando, ambos expressam temporalidade, costuma-se omiti-lo e a oração, apesar de substantivada, atua como oração circunstancial. Le Men (1992) igualmente notou essa possibilidade.

Segundo Alarcos Llorach, as orações adverbiais no espanhol são divididas em adverbiais próprias e adverbiais impróprias. O primeiro tipo manifesta noções temporais, locativas e modais e pode ser substituído por um advérbio que denote a mesma função (Cf. (93) para o caso das temporais). O segundo tipo engloba as orações de causa, finalidade, concessão e condição e não pode ser substituído por um advérbio devido ao fato de, no inventário dos advérbios, não existir outro termo que denote as mesmas funções.64

a. Yo lo hice [cuando me avisaste]. (93)

b. Yo lo hice [entonces].

c. Yo lo hice [en aquel momento].

(ALARCOS LLORACH, 1994, p. 358)

De acordo com Di Tullio (1997), cuando no espanhol pode aparecer em todos os contextos de relativas, com antecedente (restritivas e explicativas) e relativas livres. O termo antecedente, se houver, deve conter o traço [+temporal]:

64 Apesar de as adverbiais impróprias não poderem ser substituídas por um advérbio, como as adverbiais

próprias, podem ser substituídas por expressão de valor circunstancial (ALARCOS LLORACH, 1994, p. 358):

(i) Lo haré [porque me conviene].

a. Nos veremos el día cuando termine el informe. (94)

b. Nos veremos cuando termine el informe. (Di TULLIO, 1997, p. 228)

Di Tullio também separa os nexos que unem as orações adverbiais em dois grupos: o dos advérbios relativos, que introduzem adverbiais próprias, e o das conjunções/locuções conjuntivas, que introduzem os outros casos de sentenças adverbiais. Uma ressalva feita pela autora refere-se ao fato de que pode haver uma recategorização desses termos. O advérbio relativo cuando pode converter-se em conjunção e ser equivalente a expressão quantificada todas las veces que. Como conjunção, introduz oração adverbial imprópria condicional, (95):

[Cuando lo dice tan convencido], tendrá más datos que nosotros. (95)

(Di TULLIO, 1997, p. 238)

De acordo com Alcina e Blecua (1998), cuando pode fazer referência a um termo antecedente, especificando-o ou explicando-o. De acordo com os autores, no uso moderno de cuando, a realização de construções relativas restritivas tem retrocedido em razão do avanço do uso de que. Apenas nas relativas explicativas esse uso se manteria, inclusive em detrimento de que. Os dados que os autores trazem são extraídos da literatura:

a. Salió luego a la playa [...] a tiempo cuando don Quijote volvia las (96)

riendas a Rocinante para tornar del campo lo necesário.

(Cervantes, Quijote, II, p. 64)

b. En el silencio de la noche, cuando ocupa el dulce sueño a los mortales,/ la pobre cuenta de mis ricos males/ estoy al cielo [...].

(Cervantes, Quijote, I, p. 34) (ALCINA; BLECUA, 1998, p. 1105)

Os autores também observam que o termo antecedente de cuando é um nome com ideia de tempo (como momento, hora, día, año, etc.) ou o que chamam de advérbio locativo de tempo, como entonces, ahora, luego, hoy, etc.:

a. Entonces es la caza más gustosa, cuando se hace a costa ajena. (97)

(Cervantes, Quijote, II, p. 13)

b. Cuando más Lotario le deshonraba, entonces le decía que estaba más honrado. (Cervantes, Quijote, I, p. 34) (ALCINA; BLECUA, 1998, p. 1105)

Nos exemplos sem antecedente nominal explícito, pode-se pensar no caso de um antecedente envuelto – os autores também o denominam antecedente extratextual.65

Conforme Alcina e Blecua (Op. cit., p. 1106, tradução nossa), “de fato, o termo relativo parece gramaticalizado e expressa uma ideia de tempo que se concentra em sua relação com a oração principal. A proposição que introduz traduz uma ação que serve como referência temporal.”66 Ou seja, a oração de cuando marca acima de tudo

circunstancialidade temporal, o tempo de realização dos eventos:

Cuando el viento silbaba en las alturas, las piedras del abismo se

(98)

derrumbaban y caían al mar.

(P. Baroja, El laberinto de las sirenas, p. 253) (ALCINA; BLECUA, 1998, p. 1105)

Segundo Brucart (1999, p. 508), donde (e a variante adonde), cuando e como compartilham características de pronomes e adjetivos relativos.67 Acrescenta que um termo antecedente pode estar explícito com estes termos, ainda que atuem mais amplamente em relativas livres. O autor defende o caráter adverbial de cuando mesmo nas sentenças com o antecedente (que poderiam ser taxadas de adjetivas).

65 Caso de sentenças como (i). Outros casos estão em (ii) e (iii)

Antecedente encoberto

(i) Sé quién ha venido. / Sei quem veio.

Antecedente implícito

(ii) Estalla en coraje cuando menos se espera. / Explode de coragem quando menos se espera.

Antecedente generalizado

(iii) Quien pregunta, va a Roma. / Quem tem boca, vai a Roma. (ALCINA; BLECUA, 1998, p. 693)

66 Tradução livre do original: De hecho, el relativo parece gramaticalizado y expresa una idea de tiempo

que se concreta en su relación con la oración principal. La proposición que introduce expresa una acción que sirve como referencia temporal.

67 O autor menciona que a essa lista se pode incluir o advérbio temporal mientras e os modais según e

De acordo com ele, cuando é, então, um advérbio relativo com valor temporal cujo comportamento sintático é semelhante ao de donde – ainda que apresente menos possibilidades de aparecer com antecedentes lexicalmente realizados. Os elementos que permitem tal função devem conter traços lexicais compatíveis com o caráter temporal de cuando (como momento, hora, día, período, etc.). Nesses contextos, afirma que cuando pode ser substituído por que, en (el) que ou en (el) cual:

a. Todavía recuerdo el día cuando dimitió Suárez. (99)

b. Todavía recuerdo el día que dimitió Suárez.

c. Todavía recuerdo el día en (el) que dimitió Suárez.

(BRUCART, 1999, p. 510)

Brucart enfatiza que cuando também pode aparecer com advérbios pronominais, em suas palavras, como hoy, ahora ou entonces, porém apenas em sentenças explicativas, posto que nas restritivas haveria o uso exclusivo de que.

Hoy, cuando consigas el permiso, podrás volver a tu tierra.

(100)

(BRUCART, 1999, p. 510)

Para o autor, cuando, na maiorias da vezes, encabeza uma relativa livre, (101)a. Ele explica que entre os estudiosos do tema, grande parte defende que cuando tem caráter adverbial, com exceção dos casos das sentenças substantivas, (101)b. No entanto, é frequente que no espanhol sintagmas nominais tenham funções adverbiais com valor temporal, (101)c. Desse modo, conclui que tal fato permitiria que se interpretasse todas essas construções como relativas livres sem a necessidade de estabelecer entre elas distinções categoriais (Op. cit., p. 508).

a. Cuando consigas el permiso, podrás volver a tu tierra. (101)

b. Cuando llegó fue el mejor momento de su vida. c. El jueves podrás volver a tu casa.

(BRUCART, 1999, p. 510)

Outra observação para a qual o autor atenta, diz respeito ao termo cuando entrar em correlação com outros advérbios, como entonces, (102). Embora algumas análises

aleguem que tal advérbio deva ser entendido como um termo antecedente, Brucart julga que se trata, na verdade, de uma sentença relativa livre devido à disposição dos elementos dentro da frase.

Cuando me hayas pedido, entonces hablaremos.

(102)

(BRUCART, 1999, p. 510-11)

Por fim, o autor considera que cuando deva ser tratado como advérbio relativo e prevê que haja restrições para seu aparecimento em relativas com antecedente nominal, sendo seu uso mais comum em relativas livres.

Matte Bon (2013) descreve cuando como pronome relativo. O autor separa os pronomes relativos segundo o tipo de antecedente que introduzem. Para os casos em que o antecedente é um elemento temporal, afirma que a oração relativa é iniciada por en que e cuando. Se se trata de uma sentença restritiva, diz que geralmente se usa en que e que o uso de cuando é, geralmente, limitado nesses casos. No entanto, se a sentença é explicativa, tende-se a usar o operador cuando, (103).

Explicativa

a. Nos conocimos el 22 de abril, cuando se casó mi hermana. (103)

(MATTE BON, 2013, I, p. 323) b. Y en mayo de 1968, cuando empezó la protesta estudiantil, yo ya no estaba en París.

(MATTE BON, 2013, II, p. 140)

Para o autor, portanto, as relativas com um antecedente seguido de cuando seriam mais comuns nas sentenças explicativas. Alcina e Blecua, entre outros autores, já tinham atentado para isso.

Gutiérrez Araus (2014) trata cuando como advérbio relativo que pode ter um termo antecedente semanticamente restringido, nesse caso com sentido de tiempo. A autora considera que (104) é uma oração adjetiva porque tem a função sintática de ser adjacente de um nome e afirma que la época cuando é equivalente a la época en la que.

Era dura la época cuando había problemas económicos. (104)

No entanto, se a oração não possui antecedente, a autora considera que cuando é o que chama de transpositor adverbial e que sua oração desempenhará a função de complemento circunstancial de tempo.

Ellos eran simpáticos [cuando querían CC de tempo].

(105)

(GUTIÉRREZ ARAUS, 2014, p. 243)

Em síntese, comparando-se as análises para o português e para o espanhol, constata-se que os autores concordam que quando, pode ser considerado um termo introdutor da oração relativa livre. No entanto, mostram variabilidade de julgamentos quanto à possibilidade de a oração-quando aparecer em sentenças relativas de núcleo nominal. Para o espanhol, cuando parece sempre ter sido considerado um termo relativizador na formação tanto de sentenças relativas de núcleo nominal quanto de relativas livres, embora haja também restrições à formação da sentença de núcleo nominal (os autores concordam que ela aparece mais amplamente em sentenças relativas livres). Consoante os autores, o uso do antecedente pode ser dispensável ou ainda ter seu uso reservado às relativas explicativas. Isso se deveria à maior utilização de que nas relativas restritivas e à redundância de ocorrência de dois termos com igual valor (temporal). Retomaremos essa questão após a análise das relativas livres em comparação com orações interrogativas introduzidas por quando.