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Conforme mencionado, nosso foco de estudo neste capítulo são as sentenças temporais-condicionais que denotam uma relação de causa e efeito. Em tais casos, quando/cuando poderia ser substituído por se/si, sem que a sentença sofra mudança substancial. Supomos que essas sentenças sejam genéricas e possam indicar também uma habitualidade.

Parece, entretanto, que podemos falar em tipos ou subclassificações de orações temporais-condicionais. Carlson (1979) notou, por exemplo, que as sentenças que denotam propriedades de nomes interpretados como espécie (bebês, cães, atletas, etc.) também podem ser parafraseadas por relativas restritivas salva veritate, (297)a-c, (298)a-c e (299)a-c.262 O autor analisou exclusivamente as orações-quando restritivas (restrictive when-clauses), que, para ele, são parafraseáveis por orações-se restritivas (restrictive if-clause).263 Carlson trata essas sentenças como atemporais, afirmando ainda que as orações-quando restritivas se comportam semanticamente como orações relativas e sintaticamente como orações adverbiais (LEWIS, 1975; FARKAS; SUGIOKA, 1983). As contrapartes em (297)d/e, (298)d/e e (299)d/e também são possíveis.

Português

a. Bebês quando são recém-nascidos choram muito durante a noite. (297)

b. Bebês se são recém-nascidos choram muito durante a noite. c. Bebês que são recém-nascidos choram muito durante a noite.

262 Sentenças salva veritate ou de intersubstitutividade denotam uma condição lógica em que duas

expressões podem ser intercambiadas sem alterar o valor de verdade das declarações em que essas expressões ocorrem.

263 Para alguns falantes, as sentenças são boas apenas com uma interpretação explicativa ou se a sentença-

d. Bebês recém-nascidos choram muito durante a noite.

e. Quando bebês são recém-nascidos, choram muito durante a noite.

a. Cães quando são de raça valem muito dinheiro. (298)

b. Cães se são de raça valem muito dinheiro. c. Cães que são de raça valem muito dinheiro. d. Cães de raça valem muito dinheiro.

e. Quando cães são de raça, valem muito dinheiro.

Espanhol

a. Los perros cuando son de raza valen mucho dinero. (299)

b. Los perros si son de raza valen mucho dinero. c. Los perros que son de raza valen mucho dinero. d. Los perros de raza valen mucho dinero.

e. Cuando los perros son de raza, valen mucho dinero.

Sentenças médias, (300)a e (301)a, que fazem uma generalização sobre o argumento interno, relatando uma propriedade inerente, igualmente são parafraseáveis pelas orações-quando/cuando e orações-se/si, (300)b/c e (301)b/c:

Português

a. Vaso de cristal quebra fácil. (300)

b. Vaso quando é de cristal quebra fácil. c. Vaso se é de cristal quebra fácil.264

Espanhol

a. Los jarrones de cristal se rompen fácilmente. (301)

b. Los jarrones cuando son de cristal se rompen fácilmente. c. Los jarrones si son de cristal se rompen fácilmente.

Fernández (2000) também destaca a diferença entre as sentenças temporais- condicionais em (302) e (303). O autor argumenta que aquilo que se diz em (302) é

sempre verdade e o que se diz em (303) é uma generalização. As mesmas interpretações são captadas nas versões em português das sentenças, (304).265

Alguien es huérfano cuando sus padres han muerto. (302)

La gente no puede ser feliz cuando no tiene empleo. (303)

(FERNÁNDEZ, 2000, pp. 207-208)

a. Alguém é órfão quando os pais estão mortos. (304)

b. As pessoas não podem ser felizes quando não têm emprego.

Existe ainda um tipo que esboça tanto uma leitura condicional quanto temporal, mas também um viés concessivo. Em (305)a, (306)a e (307)a, há a descrição de uma situação genérica e a possibilidade da formação da paráfrase, trocando quando por se, (305)b, (306)b e (307)b. Uma paráfrase com embora/aunque, termos concessivos em português e espanhol, respectivamente, também caberia, com ligeiras mudanças nas sentenças, como nos tempos verbais. Todos esses matizes interpretativos aparentam decorrer da composicionalidade da sentença.266

a. Não sei por que a Mariana me chama para sair sábado à noite quando (305)

ela sabe que eu não posso.

b. Não sei por que a Mariana me chama para sair sábado à noite se ela sabe que eu não posso.

a. Por que faz tantas perguntas quando não se tem uma resposta sincera? (306)

b. Por que faz tantas perguntas se não se tem uma resposta sincera? (dados nossos)

a. ¿Por qué tengo yo que aguantar sus caprichos cuando nunca ha (307)

movido un dedo por mí?

(FERNÁNDEZ, 2000, p. 209)

265 Nas sentenças em (302) e (304)a, cuando/quando parecem ter interpretação de se e somente se, mas

não em (303) e (304)b.

266 Conferir Traugott e König (1991, p. 200), que apontam que além de aspectos temporais, fatores de

b. ¿Por qué tengo yo que aguantar sus caprichos si nunca ha movido un dedo por mí?

(dado nosso)

Por último, as sentenças temporais-condicionais, além de admitir paráfrase com se, parecem manter também a sua genericidade/relação causa-efeito ao estarem em uma estrutura de gerúndio ou terem a sentença iniciada por quem ou aquele que, conforme (308):

a. Quando cala, consente. (308)

b. Se cala, consente. c. Calando, consente. d. Quem cala, consente.267

Conforme explicitado acima, há alguns tipos ou formas de expressar sentenças temporais-condicionais: há as que generalizam sobre nomes que denotam espécies, as que, além de temporalidade e condicionalidade, também possuem um viés concessivo, etc. Este trabalho se debruça, especificamente, sobre as que denotam noção de causa e efeito, que parece ser a forma mais comum do fenômeno. Ressaltamos que as propriedades dos demais tipos de sentenças devem ser mais bem exploradas, uma vez que elas não necessariamente podem ter as mesmas características das sentenças que são nosso objeto de estudo.

267 Orações condicionais universais proverbiais no PB foram estudadas por Jesus (2003). Com efeito, as

orações-quem são usadas para expressar situações genéricas dentro do universo que descrevem. A leitura, nesse caso, é genérica/universal. Em (i), entre todos aqueles que se casam, todos desejam uma casa; entre todos que semeiam vento, todos colhem tempestade, etc. Esse tipo de construção não é comum apenas em provérbios, como mostram os dados em (ii).

(i) a. Quem casa, quer casa.

b. Quem semeia vento, colhe tempestade. c. Quem tem boca, vai a Roma.

d. Quem bate cartão, não vota em patrão. e. Quem desdenha, quer comprar.

(ii) a. Quem publica algo do gênero precisa assumir as consequências de suas escolhas. (F. de SP., LAUB, 2014, p. E12)

b. Quem viveu o pesadelo de deixar tudo para trás por ordem do tráfico, revela que as lideranças criminosas no setor têm menos de 18 anos. (ARAÚJO, S. Tráfico dominado por adolescentes, CB, Cidades, publicado em 18 de agosto de 2014, p. 19)