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ESPECIALIZAÇÃO DOS ESCRAVOS NA IMPERIAL VILA DA VITÓRIA (UM TOTAL DE 1.260 ESCRAVOS)

SERTÃO DA RESSACA DEPOIS DE

ESPECIALIZAÇÃO DOS ESCRAVOS NA IMPERIAL VILA DA VITÓRIA (UM TOTAL DE 1.260 ESCRAVOS)

Fonte: AFJM OFÍCIOS QUANTIDADE % LAVOURA 68 5,4 VAQUEIRO 13 1,1 DOMÉSTICO 42 3,3 COZINHEIRA 02 0,1 FIADEIRA 02 0,1 COSTUREIRA 02 0,1 PEDREIRO 01 0,07 TELHEIRO 01 0,07 OFICIAL DE FERREIRO 03 0,2 OFICIAL DE OURIVES 01 0,07 OFICIAL DE SAPATEIRO 01 0,07 OFICIAL DE CARPINA 07 0,6 APRENDIZ DE CARPINA 01 0,07 QUALQUER SERVIÇO 37 2,9 SEM CLASSIFICAÇÃO 1.079 85,6 TOTAL 1.260 100

Na Tabela IV, podemos observar várias especialidades dos escravos ma Imperial Vila da Vitória, descritos nos 207 inventários analisados. Por se tratar de uma região onde a criação de gado foi a principal atividade econômica, somente 1,1% dos escravos eram vaqueiros. Para a lavoura, aparecem 5,4% dos escravos destinados a este trabalho, 3,3 % para o serviço doméstico e 2,9% para qualquer serviço. Infelizmente 85,6% dos cativos arrolados nos autos dos inventários não foram classificados de acordo com a especialização que exerciam o que não nos possibilita fazer uma análise mais minuciosa das profissões dos escravos. Essas especializações nos permite concluir que havia na região uma espécie de produção artesanal de tecidos e roupas exercidas pelas fiandeiras e costureira, de móveis e objetos e madeira fabricados pelos oficiais e aprendiz de carpina, além da existência de oficiais de ferreiro e de sapateiro e até oficial de ourives. Os pedreiros e telheiros também foram encontrados.

Além dos Inventários, o livro de matrícula oferece dados importantes para um conhecimento mais detalhado sobre os escravos. Através da correspondência entre a Câmara Municipal da Imperial Vila da Vitória e o Governo da Província verificamos a existência do livro de matrícula da vila. Os vereadores afirmavam nas cartas que o livro não era devidamente preenchido, pois apresentava vários espaços em branco, além dos nomes de fazendeiros e escravos rasurados, folhas soltas, “notando-se enfim, que as

avaliações e observações não se achão de modo claras que possam esclarecer a qualquer junta”. Assim, a Câmara Legislativa enviava uma relação de itens que deveriam constar no livro de matrícula para um melhor mapeamento dos escravos. Dessa forma, o mapa deveria abranger todos os cativos do município e que sua classificação deveria ter informações sobre o nome, cor, idade, estado civil, profissão, aptidão para o trabalho, moradia e nome do senhor e se tinha algum parente, número de filhos, seguidos do número da matrícula e de observações133.

No livro de matrícula de 1871 foram matriculados 1590 escravos. Mesmo com classificação contendo alguns espaços em branco, principalmente em relação aos dados sobre a especialização do escravo, encontramos profissões que não foram descritas nos inventários como: lavadeira, jardineiro, carreiro, hortelão (sic), mucama, cocheiro, carpinteiro, além de serviço doméstico, lavoura, agrícola, cozinheira, pedreiro, sapateiro e costureira134.

Os grandes fazendeiros tinham o escravo como principal mão-de-obra. Mesmo assim, as fazendas da Imperial Vila da Vitória utilizavam também os braços do homem livre juntamente com o trabalho escravo para efetuarem serviços nas suas propriedades, como mostra o documento abaixo, onde um dos grandes fazendeiros e proprietário de trinta e cinco escravos contratou o trabalho de três trabalhadores livres135.

133

APEB. Seção Colonial e Provincial. Série Correspondências. Maço 1464. 1860-1889.

134

APEB. Seção Colonial e Provincial. Série Correspondências. Maço 1464. 1860-1889.

135

Fonte: AFJM, Recibo: Vitória 1º de agosto de 1882. Recebemos do Senhor Capitão Paulino Fernandes de Oliveira, testa dos órfãos João, José, Manoel e Joaquim, filhos do falecido Capitão Fernandes de Oliveira a quantia de trezentos e dez mil réis (310$000) por quanto com o mesmo Senhor contratamos o concerto das mangas e currais pertencentes aos mesmos órfãos, e por termos recebido a mesma quantia, pedimos a Joaquim de Oliveira Freitas Primo, que este por nós passasse, e o nosso rogo assinasse. Por não sabermos ler nem escrever. A e a dos senhores Theodorio Rodrigues do Nascimento, Pedro Ribeiro do (?) e Manoel Rodrigues de Souza. Joaquim de oliveira Freitas Primo. Testemunha Manoel Fernandes Santos

Silva, José Correia de Mello Freitas.Vitória, 1º de Agosto de 1882136.

Como se vê no documento citado, havia a coexistência do trabalho livre com o trabalho escravo. Porém, como afirma Maria Lúcia Laumonier, havia certa “divisão técnica do trabalho”. Assim, geralmente as tarefas que requeriam supervisão eram destinadas ao trabalho escravo137.

Já os médios e pequenos fazendeiros geralmente possuíam um ou nenhum escravo. Assim 12,6% dos inventariados possuíam somente um escravo e 18,7% não possuíam nenhum, o que nos permite afirmar que a mão-de-obra livre era muito utilizada na Imperial Vila da Vitória. Assim é o caso de Guintiliano José Gonçalves, proprietário de um único escravo, homem e velho138 e de duas fazendas com criação de gado e plantação da cana-de-açúcar, mandioca, uma chácara com plantação de café, bananeira e laranjeira, um engenho. É evidente que um único escravo não era suficiente para atender a demanda de trabalho de duas fazendas policultoras e criatórias, o que nos leva a concluir que parte da mão-de-obra empregada era livre.

136

AFJM, Caixa de Inventário 1875-1876: Inventário de Manoel Fernandes de Oliveira, 07/1876.

137

LAMOUNIER, Maria Lucia. Da Escravidão ao Trabalho Livre: A lei de locação de serviços de 1879. Campinas, SP: Papirus, 1988. p. 32.

138

O casal Hedivirgens Alves Barreiras e Manoel Diogo Vera Cruz, possuía um escravo, ainda criança, e uma fazenda onde plantava cana-de-açúcar e mantimentos, poucas cabeças de gado e um engenho onde produzia açúcar e rapadura com a mão-de- obra livre uma vez que os três filhos do casal haviam falecido139. Manoel Cláudio da Santa Ana, fazendeiro com sete propriedades onde criava gado e plantava mandioca e outros mantimentos, possuía um escravo avaliado em 500$000, que trabalhava

provavelmente ao lado da mão-de-obra livre140. De acordo com os exemplos acima,

podemos afirmar que nas médias e pequenas propriedades haviam a presença da mão- de-obra escrava concomitante com a livre e familiar.

Os proprietários de terra sem escravos, constantes na Tabela V, possivelmente eram donos de pequenas fazendas e pequenos e médios rebanhos e constituíam 18,7% do universo inventariado. A ausência de escravos indica que esses proprietários utilizavam a mão-de-obra livre remunerada ou familiar. O código de postura também nos dá uma indicação da presença de trabalho livre, onde no artigo 26 diz “que todo o escravo ou agregado dos ditos proprietários”141 deveriam cumprir as normas referentes a produção.

139

AFJM, Caixa Diversos 1870: Inventário de Hedivirgens Alves Barreiras, 07/1870.

140

AFJM, Caixa Diversos 1877-1879: Inventário de Manoel Cláudio de Santa Ana, 11/1877.

141

TABELA V